dá pra pôr num marmitex?

Essa história já foi contada e recontada na minha família zilhões de vezes. Virou uma fábula.
Quando eu ia ao Rio, ou ela ia a Campinas era comum passarmos as noites em claro conversando. Como a gente conversava, e como curtíamos a companhia uma da outra. Na última vez que fui ao Rio visitar a minha prima Helô, os nossos convercês atravessaram as madrugadas, o que era um tantinho sacrificante para os nossos filhos – o meu Gabriel com uns seis anos, e o Pedro dela, com uns quatro. Acordávamos tarde, tomávamos aquele café da manhã longo e ficávamos na mesa conversando, conversando… Íamos jantar super tarde, era uma bagunça geral. Pobres crianças, filhos inocentes de duas malucas.

Num belo domingo, levantamos super tarde, tomamos café e ficamos na mesa até tardão, nem pensamos em almoço nem nada, até que alguém sugeriu irmos comer numa churrascaria rodízio. O marido da minha prima era amigo do dono do lugar, então o cara ofereceu um desconto para a nossa mesa. Beleza pura! Sentamos para comer e o Gabriel simplesmente desembestou. Encheu o prato com tudo que era possível e toda carne que era oferecida ele aceitava. Ficamos de olhos esbugalhados olhando o guri comer. E como ele comeu! Na hora de pagar, o dono da churrascaria falou – olha, vou dar o desconto como prometi, mas vou ter que cobrar aquele menino como adulto, pelo tanto que ele comeu.

O marido da minha prima pagou a conta e voltou rindo, inconformado, nos contando o ocorrido. Começamos a rir também, quando vimos um garçon se aproximar do Gabriel e ouvimos ele pedir – dá pra você pôr os restos num MARMITEX que eu vou levar pra casa?

Pobre guri, filho de uma mãe desnaturada, estava tentando se prevenir. Vai que não tivesse almoço no dia seguinte! Até hoje não me conformo – que dóóóó!!!!

O café, o café!

Eu me considero uma excelente anfitriã. Recebo meus hóspedes muito bem, com conforto e salamaleques. Preparo o quarto, a cama fofinha, ponho um vaso de flores na mesa de cabeceira, barrinhas de chocolate, toalhas macias no banheiro, carafe com água fresquinha, roupão e pantufas felpudas. Faço café da manhã caprichado, sempre procurando agradar – ovos mexidos e café para uns, chá e presunto com tomate e mostarda para outros. Mas todo mundo está sujeito a cometer aquela gafe histórica. A minha aconteceu na primeira vez que eu hospedei a sogra do meu filho. Ela não podia ficar com o Gabriel e a Marianne porque eles ainda moravam na minha guest house – que embora seja uma guest house, naquele momento não servia para acomodar nenhum guest.

Tudo bonitinho, arrumado, a sogreta instalada e confortável, fomos dormir. No dia seguinte acordei com o som da voz da minha hóspede – ela fala alto e acorda cedíssimo. Pensei, vou levantar e descer pra fazer o café. Mas juro – J-U-R-O – que ouvi a voz do Uriel no meio do blábláblá. Fechei os olhos e resolvi dormir por mais alguns minutos, reconfortada pela idéia de que ele estava na cozinha e iria pelo menos fazer o café, colocar as xícaras na mesa, me daria um tempo extra curtindo a cama. Quando finalmente levantei e desci, crente que a minha hóspede já estava bebendo o seu sagrado café preto, encontrei as duas – mãe e filha, conversando na cozinha e combinando um lugar para sair e tomar o café da manhã. Não era o Uriel dialogando com ela, pois ele tinha acordado mais cedo que todo mundo e já tinha saído. Quase enfartei de vergonha!! Preparei um super café e aprendi a minha lição – anfitriões TÊM que levantar ANTES dos hóspedes.

Mas a história não acabou aí. A gafe teve repercussão, pois da próxima vez que a sogra do meu filho veio passar a noite na minha casa, ela trouxe uma GARRAFA TÉRMICA CHEIA DE CAFÉ na mala. Pra se garantir na manhã seguinte.

trick-or-treating

Quando nos mudamos para o Canadá em 1992, meu filho tinha dez anos e estava entusiasmadíssimo com cada novidade que o novo país lhe oferecia. Nos nossos anos no Brasil não havia ainda o aculturamento do Halloween, então o Gabriel nunca tinha feito o trick-or-treating. Final de outubro chegou e ele estava realmente animado—ganhar balas dos vizinhos, quantas ele quisesse, era para o guri natureba um ticket só de ida para o paraíso. Então no 31 de outubro ele estava todo preparado. Até se fantasiou, o pobre, e tentamos planejar como ele iria fazer o tar do trick-or-treating. Vendo a nossa inexperiência canuca, uns vizinhos se apiedaram e convidaram o Gabriel pra acompanhá-los no Halloween dos filhos deles. Não tínhamos sacado o detalhe mais importante da noite das bruxas naquele país— já estava um frio dos demônios com possibilidade de nevasca. Os vizinhos sabiam das coisas e como iria nevar—e realmente nevou—eles levaram os meninos pra pedir balas de carro. Fantasia? Forget about it! Todas as crianças vestiam casacão, luvas, mittens, touca e cachecol por cima dos super-heróis, astronautas, princesas, bailarinas. Ninguém via nada. E saiam do carro, faziam o blinblon trick or treat na porta das casas decoradas com abóboras e corriam de volta para o carro. Foi assim o primeiro Halloween do meu filho.

Nos anos seguintes ele já estava mais experiente e tinha uma turma de amigos que fazia absolutamente tudo juntos. Mesmo se o tempo não ajudasse, eles saiam trick-or-treating à pé, usando a técnica da fronha de travesseiro. Eles levavam uma fronha, que enchiam de doces e faziam pit stops em casa para esvaziar e voltar para as ruas para pedir mais. O Gabriel acumulava uma verdadeira montanha de doces todo ano, que durava quase que até a primavera! Eu me resignava, apenas lembrando dos bons tempos, quando açúcar não fazia parte da dieta do meu filho. Ele e os amigos nem se preocupavam em se fantasiar, voltavam pra casa com as caras vermelhas, as pestanas cheias de gelo e um excitamento que só uma tonelada de açúcar pode provocar. Quando viemos pra Califórnia, onde o clima permite que as crianças se fantasiem e saiam pelas ruas pedindo doces sem perigo de congelar os ossos, o Gabriel já tinha perdido o interesse por essa maratona. Eu continuo firme, todo ano decoro a minha porta e dou docinhos pros visitantes. Não tenho pena mais das crianças, que aqui não ficam congeladas, mas ainda penso nos pobres canadensezinhos – será que vai nevar esta noite em Saskatoon?

Farofa a bordo

Assim que o comandante avisou que teríamos que esperar por pelo menos uma hora e meia, até os mecânicos terminarem o conserto do problema no avião, eu ouvi o barulho de desembrulhar de pacotes de papel e plástico nas cadeiras atrás de nós, onde sentava um casal de americanos. Senti cheiro de pão sendo cortado e barulhinho de vinho enchendo copos. Pensei, essa gente trouxe um farnel? Sim, trouxeram! Não olhei pra trás, é claro, mas fiquei invejando a idéia. Estamos acostumados com a falta de rango nos vôos domésticos, quando sempre garantimos comendo antes ou levando alguma coisinhas na mala de mão, mas para esse vôo internacional atravessando o Atlântico, eu só tinha trazido o básico: água, bolacha e umas barras de chocolate—o que não era nada comparado ao que eu ainda iria ver.

Eu ainda estava inebriada pelo cheiro do pão e vinho dos americanos, quando um espanhol que sentava com a esposa na fileira ao nosso lado se levantou. O fulano era uma figuraça de calça Calvin Kline e camiseta do sindicato Solidariedade. Tira coisa dali, tira coisa de lá, se vira, se revira e então eu comecei a sentir um cheiro maravilhoso de pão com queijo e presunto. Virei a cabeça e vi com meus dois olhões esbugalhados os espanhóis devorando enormes sanduiches embrulhados em papel branco. Em seguida os vi brindando com copos cheios de vinho tinto. Eu salivava de inveja. E pra completar a farra gastronômica, o espanhol começou a descascar laranjonas suculentas com um cortador de unha. Picnic completo! Levantei pra esticar as pernas e vi os americanos sentados atrás de nós guardando uma caixa de plástico com presunto cru e retirando do farnel uvas gigantonas verdes e potinhos com algum creme de sobremesa, que eles comiam com uma colherzinha descartável—gente organizadíssima! A mulher me ofereceu umas uvas, que eu recusei gentilmente por educação. Eu já tinha dado bandeira suficiente da minha dor de cotovelo por não ter tido essa idéia também.
Quando o avião finalmente decolou—quatro horas mais tarde, eu já tinha bebido toda a água, perdido todo o meu humor, estava descabelada e quase a beira de ter um dos meus ataques claustrofóbicos de avião, mas os sabidos americanos e espanhóis estavam felizões, dormindo refastelados de bucho cheio. Da próxima vez que eu fizer uma viagem internacional, vou ser esperta como esse pessoal e levar uma farofinha. Comida de avião é uma droga mesmo e pelo que eu percebi ninguém regula a entrada de comida clandestina a bordo!

* quando escrevi esse texto, em outubro de 2005, dava pra contrabandear garrafas de vinho para o avião. fosse hoje, com todas essas medidas extremas de segurança, essa turma iria ter que comer os sanduíches à seco.

cooking for one

Finalmente acabou a colheita da azeitona e do pistacho, e meu marido volta para Davis e para suas atividades normais – que não exclui correria, mas pelo menos é por aqui! Foram algumas semanas de omeletes, saladas, sanduíche de queijo com tomate, macarrão e outras improvisações. Eu não tenho motivação para cozinhar só para mim. Ontem fui pintar minha cabeleira mariabetânica descabelada, que estava lindamente multicolorida. Fiquei no salão, lendo revistas da Oprah até tarde. Saí de lá com tanta fome! Já tinha me decidido parar num restaurante no caminho de casa – eu faço tudo à pé aqui em downtown, mas depois que me vi no espelho com uma kanekalon NEGRA, parecendo um corvo corcunda gigante, resolvi só passar no lugar das saladas e pegar uma to-go. Mas da esquina já vi a fila dentro do lugar e desanimei total. Corri pra casa e preparei o famigerado alho e óleo com uma massa integral, e temperei uma salada de rúcula com tomates secos. Um copo de vinho e voalá – melhor do que qualquer restaurante. Mas com a volta do Uriel, vou poder retomar às minhas excursões culinárias, sem falar que ele está trazendo da fazenda uma tonelada de azeitonas fresquinhas, e já falou – procura uma receita para prepará-las. Azeitonas verders virgens, alguém sabe como processar as ditas?

um camarão frito de bar

A Raquel fez a pergunta que não quer calar — o que você comeu na sua lua de mel?
Bom, minha memória é péssima, e já são quase vinte e cinco anos, então não lembro muito bem que comi na minha lua de mel em Ilha Bela. Quer dizer, lembro que bebi o café com leite com mosca no hotel, e que voltei muitas vezes num tipo de um boteco, desses onde a frente da casa tinha sido transformada num bar onde o marido servia as pingas e cervejas, enquanto a esposa preparava uns aperitivos comestíveis. Não lembro como fomos parar lá, mas comi um camarão frito que nunca me esqueci, possívelmente temperado com alho e pimentão vermelho. Uma coisa maravilhosa! E porque na minha lua de mel eu estava grávida de seis meses, aquele camarão virou uma obsessão e eu só pensava e só queria comer aquilo! Tentei reproduzir o tal camarão em casa por anos, mas nunca consegui.

eu, a fer e o bob

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Ele vem sempre em outubro, e eu considero isso um presente. Sou fã dele desde que eu tinha uns quinze anos e nem entendia o que ele cantava. Sempre detestei línguas e digo pra quem quiser ouvir que uma das minhas motivações para aprender o inglês foi para entender o que Bob Dylan cantava. Sou uma mulher realizada! Hoje vou vê-lo em Sacramento, pela quinta vez. Só que vai ser um pouco diferente, pois o Uriel não vai comigo. Ele está na fazenda e eu convidei uma amiga para ir ao show comigo. Eu e o Uriel temos muitas histórias com o Dylan. Apesar de que eu já era uma fanzoca do Mr. Zimmerman antes de conhecê-lo, foi com ele que vi o Dylan pela primeira vez, sem contar que considero o meu marido my private Bob Dylan. Ele detesta quando eu falo isso, mas eu tinha essa foto do Dylan colada na parede do meu quarto, e um dia olhei pra ela e tive uma luz—eu conheço esse cara! Era o Uriel! Ele nega, recusa, abomina, rejeita. Eu acho que minha vida não seria a mesma sem os meus dois Bobs. Hoje vou sentir falta dele falando as coisas engraçadas, tentando me distrair, demonstrando ciúmes de um cara completamente inatingível e que não tem a menor idéia que eu existo. A melhor história que tenho com o Uriel e o Bob foi na nossa lua de mel. Fomos pra Ilha Bela com a Caravan do meu pai—éramos dois pirralhos e estudantes pobres—e eu levei todos os meus k7s do Dylan, que tocaram sem parar no tape do carro. Na volta, um amigo do Uriel fez uma pergunta bem cretina—e ai, Uriel, como foi a Lua de Mel? E ele respondeu prontamente—ah, foi ótima, eu, a Fer e o Bob!

quando nós fomos lá longe…

» Deixando um comentário no blog lindinho da Dani e Márcia sobre a lista de compras da Márcia que incluia Nescau, lembrei dessa história, que é velha e já foi publicada anos atrás no The Chatterbox. Ela fez muita gente sacudir a pança, porque não é todo dia que se pode ler um relato assim, de um autêntico passeio de indio!
update: está todo mundo comentando sobre acampamento, mas gentes, nós não acampamos, ficamos num hotel muito bom, muito confortável, com lareira nos quartos, banheiro limpinho, tudo normal. La Ronge é uma cidade como outra qualquer. aliás um erro muito comum é pensar que as reservas indígenas são acampamentos com tabas, chão de terra, pau a pique, essas coisas. não é nada disso, pelo menos nas reservas da América do Norte. só pra esclarecer…

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No inverno de 1994, minha irmã foi nos visitar em Saskatoon, Saskatchewan, Canadá. Foi uma delícia para nós – a parte da família que estava isolada lá nas planícies canadenses. Não sei se foi tão delícia pra ela, que escolheu a pior época do ano para um passeio por aquelas bandas. Mas mesmo assim nos divertimos com o que havia pra se divertir por lá durante o inverno: nadar nas piscinas internas da cidade, ir à biblioteca, patinar no gelo, visitar os amigos, ir ao teatro e ao cinema, sair pra comer, pra beber, pra ver shows e dançar. Até que a vida era bem agitada, mas fizemos tudo isso na cidade, não viajamos.
Então num belo dia, o Uriel ficou indignado – “Como? não levamos a Le pra viajar ainda? mas ela tem que viajar, conhecer outros lugares, ver outras paisagens!”. Mas viajar pra onde, se tudo lá era tri-longe e não tínhamos tempo, nem dinheiro para planejar uma viagem decente, pras Rocky Mountains, pro extremo oeste [Vancouver] ou pro extremo leste [Montreal ou Toronto]?

“Vamos para La Ronge!” foi a idéia brilhante do Urso, achando que estava abafando e fazendo um super agrado para a cunhada.

La Ronge é uma reserva indígena, mais para o norte de onde estávamos. Deixa eu explicar – mais norte do que onde estávamos, era exatamente a fronteira entre o mundo semi-normal e o desconhecido inabitável. Mas não conseguimos argumentar com o Urso e como minha irmã concordou, nos aboletamos no carro com o imprescíndivel kit de inverno [cobertores, chocolates, velas, isqueiros] e fomos para La Ronge.

Passamos por Prince Albert, uma cidadezinha a uma hora e meia de Saskatoon, ouvindo Bob Dylan no tape do carro, comendo snacks e conversando alegremente. Ainda não tínhamos saído da normalidade. De Prince Albert até La Ronge foram três horas de estrada deserta, ladeada de pinheiros e tudo mais coberto de neve. Nosso entusiasmo de desbravadores começou a arrefecer. Eu, que me transformo num monstro em viagens, já fui ficando calada e de mau humor.

Chegamos em La Ronge [que agora já chamávamos de Lá Longe] mortos de fome. Deixamos as malas no hotelzinho e fomos tentar achar um restaurante na rua principal da cidade, que parecia ser a única e era onde ficava tudo, o hotel, o posto de gasolina, o restaurante. Quando chegamos já estava escuro. E estava tremendamente frio…. Não vou lembrar quão frio, mas foi o suficiente pra assustar a minha irmã, que nunca imaginou que pudesse ter um frio mais frio do que aquele que ela enfrentou em Saskatoon.

Alguém nos disse que havia um restaurante do outro lado da rua. Ficamos animados. Mas atravessar a rua em La Ronge foi mais difícil que andar trinta quarteirões em San Francisco com vontade de fazer xixi. Parecía que estávamos atravessando um verdadeiro deserto de gelo….. e eram apenas alguns metros. E o restaurante estava fechado!! Voltamos, nos agarrando um nos outros, xingando, chorando, isso não é justo, que absurdo, minha retina está congelando, quem inventou essa merda de viagem imbecil?

Usamos o telefone do hotel e descobrimos que um Kentuck Fried Chicken estava aberto na esquina da mesma rua. Fomos novamente, heróica e bravamente, caminhando até lá. Devoramos uns pedaços de frango frito morno e batatas fritas murchas num restaurante cheio de índios. Eles chegavam dirigindo ski-doos, vestidos em roupas de astronautas, que tiravam no meio do corredor, transformando-se novamente em seres humanos normais, com suas calças jeans, botas de cowboy e camisas de flanela xadrez. Nós, os quatro brasileiros comendo o menu requentado do almoço, éramos verdadeiros ETs ali…. Nunca me senti tão estrangeira, tão peixe fora d’água.
Voltamos pro Hotel, onde dormimos como pedras. No dia seguinte, eu e a minha irmã tivemos um desentendimento no breakfast. Olhando o menu do restaurante, com ovos, bacon e um monte de ítens que ela nem conhecia e nem queria conhecer, minha irmã reclamou e disse que só queria um café normal, será que era tão díficil arrumar um simples copo de leite com Nescau pra beber no café da manhã naquele país? Estávamos numa reserva indígena, no norte do nada, e ela queria um copo de leite com Nescau! Saímos do restaurante de cara virada, ficamos emburradas e choramos dentro do carro, enquanto o Gabriel dormia no banco de tras e o Uriel dirigia pra lá e pra cá, num passeio bucólico pela linda cidade de La Ronge.

“Olha que paisagem linda!”

[tudo branco, cheio de neve, um índio cruzando o lago congelado num ski-doo]

“Grmpfg”

Resolvemos voltar pra Saskatoon mais cedo, quatro horas numa viagem em total silêncio, secretamente felizes por estarmos voltando à civilização. Só podia ser coisa de Urso, inventar um passeio de índio desses…….

pizza é napolitana

Meu filho não visita o Brasil desde 1997. Novembro ele estará chegando em São Paulo com a namorada Marianne. Meu irmão irá buscá-los no aeroporto para levá-los para Campinas, onde a família com certeza estará aguardando com bandinha de música, bandeirinhas flamulantes, bexigas e serpentinas coloridas. Combinando com o tio os detalhes da chegada ele falou:

—quero que você pare na primeira pizzaria que passarmos pela frente, antes mesmo de chegar na casa do vovô.
—pizzaria, Gabriel?
—sim, quero comer uma pizza portuguesa, aquela com cebola, presunto, ovo cozido.

Ouvi esse diálogo e fiquei rindo com a boca aberta, mostrando todos os meus dentões. Pizza portuguesa, Gabriel?? Isso é um oximoro!

obladi oblada

Porque o dia vai ser cheio, o post vai ser Seinfeld style, sobre nada. Porque não pára de chover e o dia está escuro. Porque estou trabalhando em vários projetos e um deles – segredo – é muito especial. Porque fico triste que meus gatos não são amigos. Porque decidi comer uma maçã por dia, mesmo não curtindo muito essa fruta. Porque não mexi a bunda ainda para nada relativo ao Natal. Porque estou animada para ver o mar no inverno. Porque estou aceitando mais desafios. Porque admiro pessoas que tem classe. Porque desprezo gente babaca. Porque meu travesseiro cheira a sachê de açaí. Porque eu simplesmente amo filmes antigos. Porque tento cozinhar peixe uma vez por semana. Porque me falaram mais uma vez que eu pareço com a Nigella Lawson. Porque vou precisar pegar na vassoura em breve. Porque estou sempre ouvindo Blues tradicional. Porque eu não ligo pra modismos. Porque estamos sempre rindo. Porque eu sou desorganizada pacas. Porque ele também é. Porque a água me anima e me conforta. Porque quero assar um bolo. Porque os legumes e verduras deixam a geladeira colorida. Porque tudo aqui cheira a lavanda. Porque tenho muitas pilhas de revista. Porque estou sempre click-click-click. Porque gosto de inovar. Porque também gosto de tradição. Porque nunca vamos ser iguais. Porque eu não consigo parar de tricotar. Porque eu não gosto de falar com qualquer um no telefone. Porque eu gosto de papear com a minha irmã no telefone. Porque eu sou Esther Williams. Porque eu sonho muito, demais. Porque eu tenho amigos que eu adoro. Porque bebemos muita limonada. Porque não consigo parar de escrever, mesmo que eu só escreva sobre o nada.
*post reciclado do The Chatterbox, de 8 de dezembro de 2004.