enquanto cozinho a sopa

Eu sempre fui encanada com comer direito e natural. Passei uns quinze anos da minha vida, entre a infância e a adolescência, lutando contra um nojo que tomava conta de mim e que não me deixava comer carne, frango, peixe, ovos ou leite….. Do jeito que eu comia, praticamente obrigada pela minha desesperada mãe, nem sei como cresci e fiquei alta. E de repente, durante os últimos anos da minha adolescência, me deu o cinco minutos e eu virei natureba. Era uma saída para a minha repugnância com relação à toda comida derivada de animais. Virei uma comedora de pão, cenoura, sopa de missô e macarrão alho e óleo. Só depois de muitos anos, já mãe do Gabriel, é que fui devagarzinho voltando a comer os bifes da vida. Hoje eu como de tudo, menos coisas muito exdrúxulas é claro, mas não perdi a mania de comer natural, orgânico, evitar óleos, açúcares, ler maníacamente rótulos de qualquer produto para ver o conteúdo.

Por causa disso, toda segunda-feira eu encosto a barriga na beira da pia e fico com dor nas costas lavando verduras e legumes. Isso é coisa que só os naturebas freaks fazem aqui neste país, onde tudo é industrializado e muito mais fácil e prático, pois ninguém tem tempo de nada, muito menos de ficar lavando folhas de salada. Mas eu arranjo um tempo e faço questão de comer o máximo que puder sem aditivos químicos.

Hoje tive que fazer um sopão e vou congelar brócolis e couve-flor cozidos, porque tava acumulando tanto desses legumes dentro da geladeira que já estava dando dó. E toda semana eu jogo fora umas verduras que nem tenho mais idéias de como cozinhá-las. Esse desperdício involuntário e cheio de sentimento de culpa é a consequência de querer ter uma vida além da minha capacidade. Sem falar que além da lavação ainda tem os sustos de achar bichos estranhissímos residindo nas alfaces e repolhos. Um dia eu desisto dessa história, mas até esse dia chegar, vamos comendo nossas saladinhas, refogados e sopas com verduras e legumes fresquinhos.

O duro é meus amigos me aturarem, pois toda vez que eu sirvo alguma coisa, lá vem a frasezinha – “é orgânico!” – como se alguém desse a mínima!

bravo!

Fico imaginando um programa de culinária onde eu seria a apresentadora. Primeiro que eu não ficaria falando, falando, como na maioria dos shows culinários. Eu ficaria ouvindo música, como realmente faço na minha cozinha, às vezes cantando, outras vezes falando com os gatos, rindo sozinha e praguejando quando as coisas dessem errado. E tudo iria dar errado, como é normal acontecer. Eu iria cortar o dedo, esquecer o prato no forno, queimar o molho de tomate, não iria conseguir achar a tal forma ou um utensílio qualquer. Iria perder a paciência, cortar tudo grossão, acrescentar ingredientes à olho, inventar receitas, espirrar, derrubar, contornar. Assim seria o meu show e tenho certeza que seria um sucesso!

chá das cinco

Ficamos sem aquecimento na casa o domingo inteirinho, então à noitezinha [depois das cinco já é noite] fiz um bule cheio de chá. Nós tomamos chá nas noites de domingo, mas ontem o tal chá serviu também pra esquentar. Falei para o Senhor Urso, vai ver é por isso que na Inglaterra, por exemplo, se bebe tanto chá…. brrr!

Eu não sou muito exigente com chá e faço desde os de ervas frescas, ou chá solto até os de saquinho. Mas gosto de fazer no bule e antes de fazer o chá nele, sempre dou uma escaldada com água fervendo. O melhor chá é o que você bebe com as mãos frias. Pisc!

comida & história

[*repeteco]

Livros de receitas também são literatura e história. Eu adoro ler sobre os hábitos alimentares do passado e como as pessoas cozinhavam e se alimentavam. Sem querer, encontrei três livros diferentes, de autores diferentes e de épocas diferentes, que fazem essa viagem ao passado. Ler essas histórias é uma atividade extremamente deliciosa, quem diria poder experimentar todas as receitas descritas pelos autores.

O primeiro livro, que comprei usado numa loja em Novato, é o relato de Margaret Rudkin, hoje famosa por ter sido a fundadora da marca Pepperidge Farm, que começou vendendo pães e hoje tem uma variedade interessante de bolachas finas. Margaret escreveu o The Pepperidge Farm Cookbook no inicio da década de sessenta, relatando toda a sua experiência dentro de uma cozinha, que se iniciou quando ela ainda era uma criança, no início do século vinte. O relato da cozinha da infância de Margaret é simplesmente delicioso. Como eles conservavam os alimentos no basement, sem o auxílio de freezers e geladeiras, como os alimentos que seguiam a regra da ‘temporada’ eram preparados em cozinhas simples, sem grandes tecnologias, mais muito eficientes.

O segundo livro é um original, reproduzido exatamente como foi publicado pela primeira vez em 1913. Escrito em linguagem literária e em sequência, como se fosse um romance, por Martha McCulloch-Williams, uma nativa do estado do Tennesse, que tornou-se uma pioneira dos livros de receita. McCulloch-Williams ensina receitas básicas consumidas no sul do país em seu livro Dishes & Beverages of the Old South. Muitas receitas são difíceis de serem preparadas hoje, pois se usava outras maneiras de assar e fritar, em utilitários domésticas que já não existem mais.

O terceiro livro é mais recente, mas o autor Victor M. Valle, um americano descendente de mexicanos, volta muito mais no tempo, republicando receitas de suas avós e bisavós, datadas do meio do século dezenove. Receitas mexicanas maravilhosas, porém difíceis de serem replicadas, tanto por causa dos ingredientes quanto pelas técnicas antiquadas de processar os alimentos. Valle descreve como a avó Delfina matou dois coelhos com uma só cajadada, livrando-se de uma imensidão de pombos que infestava o sótão da casa e ao mesmo tempo reunindo a família para um farto almoço onde prato principal era sopa de pichones [filhotes de pombo no arroz de açafrão]. Todas as receitas das mulheres da família foram preservadas na memória dos que trabalhavam na cozinha. O livro, publicado em 1995, tem o sugestivo título de Recipe of Memory e já me deixou com vontade de fazer uma viagem histórico-gastronômica ao México.

velhos cadernos de receitas

Resolvi fazer uma cata de posts culinários no meu blog ancião, o The Chatterbox , e achei coisas incríveis. Eu já escrevia sobre comida lá desde os tempos em que tinha apenas dez leitores e praticamente não me importava em publicar um monte de tontices. Hoje já não escrevo dessa maneira, mas vale a pena ler de novo um post de dois mil e um onde eu faço comentários sobre comida e até dou uma receita ótima de salada ayurvedica.
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January 22, 2001 – Several hours of sun…
Mais receitas [ow,no!]: pegue um pentelhudo bem maduro, adicione flash-trash, uma pitada de x-files, um dedinho de technomusic e voilá…… EnJoYiT! …. Blurp!!! 🙂
“Do vegetarians eat animal crackers?”
[placa na frente de uma igreja em Los Angeles]
Será que comer muito tofu faz mal? Eu adoro tofu! Como derivados de soja várias vezes por semana. Faço sopa de missô, que eu adoro, com tofu frito, tofu defumado, tofu fresco, tofu barbecue, tofutofutofu! 🙂 Aprendi a fazer a tradicional hot & sour soup dos restaurantes chineses, que eu faço com cenouras, cogumelos e TOFU! 🙂 E tem os noodles de arroz, que eu faço com o que tiver de vegetais mais TOFU! 🙂 E quando eu faço sushi, se sobra arroz eu recheio aqueles deliciosos quadradinhos de TOFU frito! 😉 E como um trail mix malasiano, onde eu misturei grãos de soja torrados [a soja não é muito saborosa sozinha] e devoro yorgut feito de leite de soja, porque eles são ótimos! A Iri disse que soja é muito boa para a mulher… Mas será que comer demais….. hum…
E eu como animal crackers quando tenho a oportunidade. Eles têm gosto de bolacha de maizena…. And I like it! 🙂
Às vezes eu penso que deveria fazer um curso de Chef [no Napa Valley, aqui pertinho, tem um hotel que forma cozinheiros(as)] porque eu curto tanto falar de comida! Não curto tanto cozinhar e comer quanto ficar procurando receitas, lendo, comprando ingredientes e falando de comida! Já me disseram que cozinhar seria uma ótima atividade pra mim, porque ela preencheria as minhas necessidades de FOGO [eu tenho 1 de fogo no meu chart… e 10 de terra, o que explica as minhas medronices…] e da lua em câncer na VI, que adora ficar cuidando dos outros. Eu tenho pensado seriamente nessa possibilidade…..
Outro dia experimentei uma salada nova num jantar aqui em casa [ah, não posso esquecer de mencionar que sou uma soberba misturadora de saladas!] e ela fez um sucesso. É uma salada ayurvedica. Quer provar?
Fennel Cole Slaw with Pecan Dressing
Misture 1 1⁄2 xic de repolho picado fininho, 1 1⁄2 xic de erva doce picada fininha, 1 1⁄2 xic de cenoura ralada, 1/3 xic de gengibre cristalizado picadinho, 1 colher de sopa de sementes de erva doce torradas, 3⁄4 xic de coentro fresco picado.
Para o molho: bata no liquidificador ou no mixer 1/3 de óleo de gergelim [misture com um pouco de azeite de oliva, pois o óleo de gergelim tem um sabor muito forte], 1/3 xic de nozes pecan, 3 colheres de sopa de suco de limão, 2 colheres de sopa de mel e sal à gosto.
Tempere a salada com o molho e salpique com um pouco de pimenta do reino moída. Sirva!

Era só o que faltava!

Pois é, eu nem sou aquela cozinheira de mão cheia que faz pratos maravilhosos e saborosos. Na cozinha eu sou aquela que se esforça. Queimo comida, salgo demais, substituo quantidades e ingredientes e enfrento as consequências, me queimo, me corto e tropeço no tapete com uma forma de caramelo quente na mão…..

Não sou perfeita, não sou gourmet, não freqüento restaurantes finos, mas ADOOORO falar de comida, ler sobre comida e até timidamente arriscar pratos e receitas mas elaboradas. Minha cozinha é inventiva, no sentido que eu invento um monte de modas. Às vezes dá certo, mas nem sempre. Gosto de comer orgânico, comprar ingredientes de qualidade, sou a rainha das novidades e das gadgets inúteis.

Há tempos olho sites de culinária e outro dia pensei, por que não ter um também? Escreverei as histórias mais bizarras e diferentes, ilustradas por fotos dos meus tomates e nectarinas. Me inspirei na maravilhosa receita de Chucrute com Salsichas que achei num dos cadernos de receitas da minha mãe. Ela, tão ocupada, mas sempre antenada, me mostrou que tudo é possível e tudo é valido. Então já vou colocando o meu avental e colocando as mãos na massa!

Comida!

Minha comida é frugal. Não tem nada de especial e não pode me tomar muito tempo, pois me condicionei a não fazer nada que leve mais de trinta minutos para ser preparado. Não vou dizer que minha comida não seja criativa – usando os legumes e verduras que eu compro da horta orgânica, ou mesmo saborosa – quando consigo não salgar muito, nem deixar queimar nada.

Mas quem vê a minha coleção de livros de cozinha com certeza pensa que eu sou aprendiz de chef ou uma sofisticada cozinheira, uma gourmet. Eu adoro livros de cozinha. Mas os coleciono muito mais por um prazer voyeur do que pelas suas qualidades práticas. Eu me inspiro nos livros, mas não cozinho baseada neles e raramente sigo uma receita ao pé da letra. Tenho uma tendência quase neurótica a mudar os ingredientes, as quantidades e depois ficar reclamando como uma ranzinza quando a receita vira uma gororoba incomível.

Pra não dizer que não uso receitas, até que andei fazendo algumas coisinhas da fantástica revista da senhora Martha Stewart, Everyday Food [que recomendo fortemente, apesar dos enroscos legais da sua criadora]. E quando me entusiasmo com um livro ou com um estilo de comida [como foi com a cozinha tailandesa], acabo seguindo algumas receitas. Mas tenho que fazer um esforço, também porque sempre falta um ingrediente ou esqueço de deixar a manteiga na temperatura ambiente ou de descongelar a carne, detalhes geralmente essenciais para o sucesso da empreitada.

Minhas aventuras na cozinha são mais divertidas do que saborosas. Como aquela inesquecível sobre a receita de chucrute com salsichas da minha mãe! Mesmo não sendo a cozinheira que gostaria de ser, continuo comprando livros, colecionando revistas e me deliciando com programas de culinária na tevê. Um dia, quem sabe, vou escrever o meu livro de receitas, que virão com certeza acompanhadas de muitas histórias.

Chucrute com Salsicha

Eu sou uma aficionada por livros e cadernos de receitas, apesar de não cozinhar tão bem quanto gostaria. Mas eu adoro tê-los e vivo a folheá-los! Especialmente se eles forem antigos, manuseados, cheios de historia.

Minha mãe tem um monte de cadernos assim. Uns são fichários, porque ela sempre foi uma mulher prática e trabalhou em banco por trinta anos. Eu adorava abrir o fichário e destacar a folha da receita que eu queria. Elas eram todas borradas de ingredientes respingados e cheiravam como a casa da minha infância. Sem falar na letra da minha mãe, que é bem definida e interessante, letra de mulher que não tem tempo, não tem saco, nem gosta de cozinha, mas quer ter todas as receitas.

Quando comprei meu primeiro computador pessoal em 1987, estava tão entusiasmada com a geringonça que resolvi que iria “passar a limpo” as receitas dos cadernos da minha mãe. Que audácia! Bom, a tarefa deu com os burros n’água por vários motivos. Um deles porque eu cato milho, o que deixa a digitação mais lenta que passo de tartaruga e a quantidade de receitas era enorme. Outro porque as receitas eram tão deliciosas, que eu digitava uma e corria pra cozinha pra preparar algo pra comer, em total desespero!

Uma dessas receitas me fez chorar de tanto rir. Eu não conseguia acreditar no que estava lendo. Minha mãe sempre trabalhou fora. Aposentou-se em 1982 e continua trabalhando até hoje. Ela é uma mulher realmente ativa e prática, uma pessoa que vai logo ao ponto. Então a receita que me fez rir muito e que eu nunca consegui esquecer estava assim:

Chucrute com Salsicha [da Maria José]
Compre o chucrute pronto e sirva com as salsichas.

Ha Ha Ha Ha! Me enche os olhos de lágrimas só de escrever isso! Essa receita é a CARA da minha mãe!!! Ha Ha Ha Ha Ha!!!!