Sempre que passo pelo dispositivo com toalhinhas desinfetantes que fica na porta de alguns supermercados, meu super-ego dominador e maníaco sente-se completamente vitorioso e realizado. Confesso aqui publicamente que aprovo essa idéia das pessoas poderem desinfetar seus carrinhos e cestinhas.
Anos atrás eu convivi com uma germ free freak. Ela era obcecada ao ponto do irracional. Para descrevê-la exatamente, eu teria que caricatura-la vestida de super herói com um tubo de toalhinhas e outro de spray desinfetante pendurados um de cada lado do seu cinto de super-utilidades. Ela era a paladina da limpeza, a líder na incansável guerra contra os germes e bactérias. Ela me irritava. Eu sempre pensava—onde vamos chegar com isso? à uma sociedade totalmente esterilizada, todos vestindo roupas anti-germes, luvas, máscaras, espirrando desinfetante em tudo? como vamos sobreviver à uma simples gripe num mundo imaculado como esse?
Apesar disso, eu tenho as minhas neuras. E uma delas é a de lavar as mãos frequentemente. Pode ser um pouco exagerado, mas não é por medo de germes, é simplesmente por nojo. Vocês já pensaram na quantidade de fluído corporal que é espalhado copiosamente a cada segundo nos ambientes de uso público? Maçanetas e puxadores de portas, barras de ferro nos ónibus e metrô, portas de banheiros, bancos de sala de espera, telefones, eteceterá? Eu penso nisso e me previno. Lavo minhas mãos quando posso. E acredito que esse hábito meio exagerado me ajuda a não ficar sempre doente, com gripes e resfriados, como acontece com meio mundo que eu conheço.
Por isso aplaudo silenciosamente a fabulosa idéia de poder limpar o guidão do carrinho ou a cestinha que vou carregar no supermercado. Não aprovo de maneira alguma essa tendência histérica de nos transformar em obcecados, mergulhando tudo o que tocamos em baldes com cloro. Mas putsz grila, você já pensou na imensidade de fluídos corporais alheios, ressecados e praticamente invisíveis, com que convivemos desavisados e insuspeitos todo santo-dia?