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O Dilema do Onívoro de Michael Pollan é um livro impressionante, cuja leitura com certeza vai causar algum tipo de mudança na vida de quem estiver predisposto. Pra mim, o efeito foi devastador na minha rotina de semi-carnívora.
Eu sempre acreditei que não nasci carnívora, pois desde as minhas mais tenras lembranças eu olhava para a dieta com carnes de animais com uma certa repulsa. Mas também não posso afirmar que sou uma vegetariana. Fico ali em cima do muro, me equilibrando entre ascos de nojo e comendo animais com uma certa desconfiança. Nunca pensei em adotar uma dieta vegetariana, embora tenha passado por longos períodos de abstinência. Não foi decisão, foi só acontecendo.
Ainda não tenho intenção de adotar uma dieta cem por cento vegetariana, mas a leitura do livro do Pollan me fez ver claramente um fato que eu sempre soube que existia, mas nunca fui buscar informação sobre detalhes: a brutalidade e a crueldade na indústria de criação de animais para consumo. Sempre pensei nas galinhas e nas vacas, mas nunca soube, ou quis saber, exatamente o que acontecia com elas. Mas agora eu tenho um pouco de informação, que é apenas uma olhadela no horror dos criadouros e abatedouros, mas pra mim já foi suficiente.
Chorei de desidratar em muitas partes do livro. O único livro que tinha me feito chorar desse jeito foi o Ensaio sobre a Cegueira, do José Saramago, que li há muitos anos e que me impressionou muito. Depois dele veio O Dilema do Onívoro.
Quando Pollan revelou a chocante informação de que os porcos são TÃO ou MAIS inteligentes que os cachorros, eu desfaleci de tristeza… Se você tem ou teve um cachorro, sabe como eles reagem ao sofrimento. Pois o porco, confinado num campo de concentração sem espaço, estressado ao ponto de comer o rabo do outro porco que está na sua frente, também estressado e sem espaço, nunca vai ter a vida de um cachorro. Poderia ser um filme de terror, mas não é.
O que acontece comigo agora é que eu não consigo tolerar nem olhar pra aquelas bandejinhas com cortes de carne no supermercado. Sinceramente, não dá. Eu continuo comprando carne, mas eu preciso ter certeza que estou comprando um produto decente, que fez o animal passar pelo processo todo com um mínimo de humanidade, com um pouco de respeito, porque eu não acho completamente errado que animais morram pra nos alimentar, mas tudo tem que ser feito com dignidade e com compaixão.
Pollan discute o fato de que um animal criado em condições melhores vai encarecer o produto final, mas a verdade é que ninguém precisa comer carne todo santo dia. Assim, quando comêssemos carne—diz Pollan—faríamos com consciência, com cerimonia e com o respeito que os animais merecem.