Gazpacho

gazpacho_1S.jpg
Depois de fazer o Ajo Blanco, quis fazer também o Gazpacho. Dei uma olhadela no 1080 Recipes, onde me inspirei para fazer a minha versão.
Bati no liquidificador 4 tomates orgânicos maduríssimos, 1 pimentão vermelho pequeno, uma cebola bem pequena, 4 azeitonas pretas, um punhado de salsinha fresca picada e duas fatias de pão francês de ontem amolecidas em água gelada. Bati bem, acrescentei uma xícara de água gelada, pimenta do reino moída, flor de sal a gosto e bastante azeite de oliva. Coloquei tudo numa jarra e deixei gelar. Servi com croutons simples, feitos com fatias finas de pão francês cortadas em cubinhos e tostados na frigideira de ferro, e regados com um fio de azeite.

Ajo Blanco

ajoblanco_1aS.jpg

Uma deliciosa sopa fria típica da Andalucia, na Espanha. Usei esta receita, dando umas adaptadas aqui e ali. Achamos o resultado bem interessante, um prato ideal para dias super tórridos, quando não se pode ou quer usar o fogão.

1 xícara de amêndoas sem pele
4 fatias de pão branco sem a casca imersas em água gelada
3 dentes de alho em fatias
5 colheres de sopa de azeite de oliva
2 1/2 xícaras de água gelada
2 colheres de sopa de Jerez, vinagre de sherry
Sal a gosto
Uvas brancas sem sementes
Salsinha picadinha para decorar

Numa panela coloque as amêndoas e o alho, cubra com água e dê uma fervida. Coe e coloque no processador com o pão molhado. Bata bem, vá adicionando o azeite aos poucos. Adicione a água gelada e o vinagre. Processe até a mistura ficar bem cremosa. Adicione sal a gosto. Coloque a sopa numa vasilha e leve à geladeira para gelar. Sirva com as uvas, decorado com a salsinha picada e algumas fatias de amêndoas tostadas se quiser. A adição das uvas brancas realmente faz uma diferença e adiciona um plus nesta versão branquela do gaspacho.

Nada se cria, tudo se copia

A internet é um espelho virtual da nossa sociedade real, cheia de gente de bem, trabalhadora, gente legal, honesta, construtiva, criativa, mas também superpopulada com a bandidagem, os trambiqueiros, gente que não tem o menor escrúpulo, que acha que está numa terra de ninguém vestindo um traje invisível.
Não sei onde foi parar as regras da Netiqueta, que se usava no inicio da internet e hoje parece ter sido enterrada a sete palmos, ninguém quer saber, nem se importa mais com nada. Vê-se de tudo por ai. É um mar de boçalidade e cretinice aterrador.
Fiquei realmente chocada em descobrir receitas e fotos de pessoas idôneas que eu conheco sendo repassadas de mão em mão, ou melhor, de e-mail em e-mail, como se elas não fossem de ninguém, não tivessem saído de uma cozinha, onde uma pessoa se empenhou em inventar ou adaptar a receita, teve o trabalho de deixar tudo bonito e tirou fotos para colocar online. Os gatunos oportunistas apenas passam agarrando o que vêem pela frente, como num saqueamento virtual, pra depois repassar para outros repassarem e depois esses repassarem mais uma vez, e assim sucessivamente até não se saber mais de onde veio aquilo, porque para eles nada parece mesmo ter dono. Eu testemunhei esse passa-passa meio sem querer, quando aportei por acaso numa lista de culinária aberta, onde entravam todos os dias várias receitas e fotos de muitos amigos blogueiros, sem nenhuma menção de crédito.
E agora me avisaram que uma criatura está colocando MINHAS FOTOS e MEUS TEXTOS num grupo de culinária no Flickr, como se fossem dela, sem link, sem crédito, sem nada! O que essa gente está pensando da vida? Me choca profundamente perceber a maneira desrespeitosa com que o trabalho do outro é tratado. Se está na internet, é livre, pode pegar! Eu estou imensamente desanimada, pois realmente me dedico ao que faço, capricho nas minhas fotos, me empenho escrevendo meus textos, que refletem a minha personalidade e a minha vida, para depois ver o fruto desse trabalho acabar tristemente em bocas de Matildes….

quatro musas

M.F.K. FISHER — o melhor texto de gastronomia em língua inglesa, produzido por uma mulher linda demais e que escrevia bem demais, as melhores histórias, todo blogueiro que gosta de escrever quer, insolentemente ou discretamente, ser um pouquinho como ela, viajada, sabida, charmosa, glamourosa, não nasceu na Califórnia, mas se considerava uma californiana, assim como eu.
JULIA CHILD — danem-se as receitas francesas! eu gosto mesmo é do jeitão bonachão dessa mulher gigante em muitos sentidos, desengonçada, grandona de corpo e com uma voz pequenininha, que nunca pareceu se incomodar por não ser um padrão de beleza, desabrochou tarde, teve uma vida plena, uma californiana que conquistou o mundo, sem planejar, nem se afobar, apenas sendo o que ela sempre foi, insistente e perfeccionista, sem nunca se furtar de admitir que derrubou sim o pernil no chão da cozinha.
ALICE WATERS — ingenua e romanticamente inspirada, um gênio obcecado, iniciou uma revolução, que hoje é parte da história do resgate do simples e do natural, e todo mundo deveria pretender ser um pouco como ela, correndo atrás do que acredita, fazendo sonhos virarem realidade.
JUDITH JONES — antenada, trabalhando sempre quietinha e nos bastidores para nos dar acesso à criaturas fascinantes e criativas, cujos livros hoje enchem nossas estantes e enriquecem a nossa vida cotidiana, com tantas mil histórias, cardápios e receitas, sem o trabalho dela, muitos outros não teriam sido revelados.

prove aqui o novo sabor

sample_copia

Não sei como é no resto do mundo, mas aqui os distribuídores de amostra de comida e bebida estão por todos os cantos. Acho que deve fazer parte da cultura essa satisfação de poder provar, sem precisar pagar, antes de decidir se vai ou não comprar. E eu acho isso ótimo, muito justo, nada mais prático, afinal não tem nada pior do que se decepcionar com aquele produto pelo qual você pagou uma baba. Mas eu nunca me senti à vontade com esse hábito. Vou ao Farmers Market e tem amostra de tudo, das frutas, dos pães, dos queijos, do azeite. E alguns até oferecem seus produtos de uma maneira um pouco agressiva, como na barraca de bolanis onde os moçoilos bonitos e simpáticos do Afeganistão usam aquelas manjadas técnicas machistas para conquistar as clientes do sexo feminino. E em qualquer supermercado estão lá as senhorazinhas sorridentes, e até as não muito sorridentes, te oferecendo pedaços de linguiça frita, bolachinhas com patê, quiches e tortas, cremes, queijos, sorvetes, sucos, leites, refrigerantes, gororobas variadas, numa lista interminável de produtos novos ou já conhecidos, tentando te convencer a comprar, ali mesmo ou num futuro bem próximo.

Eu vejo a aglomeração de pessoas e carrinhos e passo reto, às vezes dou até uma desviada. Obrigada, não quero. Não consegui ainda adquirir esse hábito de pegar pedacinhos disso ou daquilo em publico e comer equilibrando o copinho e o garfinho ao mesmo tempo que empurro o carrinho de compras. Não gosto de comer assim, andando, beliscando, comida oferecida com o único propósito de te convencer a comprar o produto.

Alguns eventos servem comida e bebida de graça. Eu curto beber uma taça de vinho ou mesmo provar algo comestível, desde que não tenha que enfrentar uma muvuca, me acotovelar pra pegar um pedaço de queijo, driblar a malta para agarrar uma lasca de pão e depois passar o resto do tempo preocupada se não fiquei uma semente de gergelim no meio dos dentes, ou com aquela sensação de dedos engordurados sem opção de poder lavá-los.

Além dos entusiasmadinhos e famintos de sempre, quem realmente curte esses eventos distribuidores de comida são as crianças. No Copia, a voluntária dando amostras de um sorvete sabor morango fazia um sucesso incrível com a gurizada. Sem nem um segundo sequer de descanso, ela só conseguia suspirar, respirar fundo e continuar firme. No copinho ou na casquinha? Na casquinha, of course!

gelado de milho

sorvete_de_milho_S.jpg

Fiz novamente o famoso sorvete da pamonha, que pra mim é uma das coisas mais deliciosas desse mundo. Eu perco a pose de moça fina, pois não consigo parar de comer essa gostosura com sabor de roça! Já estou com uma abundância de espigas na geladeira e estou feliz, pois este ano a fazenda plantou da variedade amarela, que é a que mais gosto. Esse milho é de uma doçura ímpar. A receita é quase a mesma, só substituí o buttermilk por creme de leite fresco e o açúcar demerara por néctar de agave.

Blanc Mange

blanc_mange

Essa foi a primeira receita que marquei no The Taste of Country Cooking da Edna Lewis. É uma receita de primavera, quando a abundância de grama fresca significava um lote extra de leite, creme de leite e manteiga. Nessa estação do ano fazia-se muitas receitas com esses ingredientes, uma delas o Blanc Mange.

1 xícara de amêndoas sem pele
1 1/3 xícara de água gelada
1/2 xícara de leite
1/2 xícara de creme de leite fresco [heavy cream]
2/3 xícara de açúcar
1 colher de chá de gelatina em pó sem sabor
1/4 xícara de água gelada
1 colher de chá de extrato de amêndoas
1 colher de chá de extrato de baunilha
2 colheres de chá de rum

Coloque as amêndoas no processador ou liquidificador e pulse até elas ficarem moídas. Acrescente 1 1/3 xícara de água gelada e continue moendo, até virar um purê bem liso. Misture o leite, o creme de leite e o açúcar e bata tudo mais uma vez. Aqui Edna recomenda coar a mistura por uma peneira, mas eu não fiz. Coloque a mistura numa panela. Dissolva a gelatina em 1/4 xícara de água e adicione ao creme na panela. Coloque em fogo médio e, mexendo sempre, deixe escaldar mas não deixe ferver. Desligue o fogo, adicione os extratos e o rum. Coloque numa forma e deixe esfriar. Leve à geladeira até ficar firme. Remova da forma e sirva com frutas frescas ou em molho. Eu servi com um molho de framboesa e laranja. Também servi com figos assados na churrasqueira. De todas as maneiras esse doce foi um sucesso.

The Taste of Country Cooking

edna_lewis edna_lewis
edna_lewis edna_lewis

Quando Judith Jones, editora da Knopf de New York que publicava os livros de Julia Child, conheceu Edna Lewis na década de 70, ficou completamente encantada e quis publicar um livro com suas memórias e receitas. Elas trabalharam juntas, com Judith ajudando Edna a se expressar da maneira mais natural e autêntica possível. O resultado dessa parceria se transformou num livro maravilhoso—The Taste of Country Cooking. Estou carregando esse livro comigo desde o inicio da primavera e agora entendo muito bem por que Judith Jones se encantou com Edna Lewis. Eu também estou encantada!

The Taste of Country Cooking é dividido por estações do ano. Eu li a primavera durante a primavera e agora acabei de ler a parte do verão. Vou ter mais duas estações para poder terminar de ler o livro. Esse esquema pode não fazer sentido nenhum para quem está de fora, mas se você pegar esse livro nas mãos, vai entender porque eu estou lendo com esse ritual sazonal.

Edna nasceu em Virginia em 1916, num vilarejo construído por ex-escravos libertados pela emancipação de 1865, batizado de Freetown. Ali ela cresceu numa família de fazendeiros, que plantavam, criavam animais, tinham uma economia própria, auto-sustentável. As histórias de Edna são do seus anos como criança e são uma delicia de ler. Ela conta com riqueza de detalhes o dia-a-dia da família, com as crianças indo pra escola e ajudando nos trabalhos domésticos e da fazenda, e como eles comiam de acordo com as estações. No capítulo da primavera ela descreve a excitação das crianças pelas novidades aparecendo nos estábulos, no pomar e na horta, e consequentemente na mesa da família.

No livro, Edna Lewis fornece as receitas exatamente como elas eram preparadas pela sua mãe, com ingredientes que hoje necessitam um pouco de adaptação. São receitas simples, mas preparadas com ingredientes fresquinhos, e que eram realmente apreciadas. As memórias de Edna revelam como as crianças comiam de tudo e como o mais simples prato era aguardado e recebido com alegria e entusiasmo.

O capítulo do verão é colorido como a estação, com as crianças em férias e participando mais intensamente do cotidiano da fazenda. Os menus dessa estação são fabulosos. O mais bacana é o do Sunday Revival Dinner, uma celebração da comunidade de Freetown, que segundo Edna era um tipo de Thanksgiving, com muita comida, incluindo todas as famílias do povoado, quando se comemorava a emancipação dos escravos. As receitas desse menu são fabulosas, mas mais fabuloso é o fato de que a mãe de Edna preparava tudo praticamente sozinha, durante a madrugada, enquanto as crianças dormiam. No dia seguinte o excitamento era geral, com a mesa da sala abarrotada de comidas saborosas, todos vestiam seus trajes novos, também costurados pela mãe—a super-mulher, e apesar do desconforto de terem que vestir sapatos novamente desde o inicio das férias, iam todos felizes para a igreja, onde a festa aconteceria. Depois chegava a mãe na caminhonete do pai, com a comida: presunto assado, uns seis frangos fritos, pudim de milho, cozido de batata-doce, vagens temperadas com pedacinhos crocantes de porco frito, pãezinhos quentinhos, picles de melancia, beterraba, pepino e pêssegos com especiarias, umas doze tortas de maçã e batata-doce, bolo de camadas recheado com caramelo e geléia, e uma jarrona de limonada.

Estou com o livro parado, ansiosa para recomeçar a ler quando o outono chegar e poder acompanhar, junto com a Edna Lewis, as delicias da próxima estação.