A grande abóbora já está na varanda avisando aos trick-or-treaters que nesta casa se oferecerá doces. Muita gente põe várias abóboras, eu acho um desperdício. A maioria faz jack-o-lanterns com as abóboras, removendo a polpa, cortando uma cara e colocando uma vela dentro. Eu acho legal, mas infelizmente não tenho as habilidades pra fazer isso sem destruir várias abóboras antes. Fico na simplicidade, onde a margem de erros é menor.
O ritual da noite do Halloween é um dos mais tradicionais aqui na América do Norte. E envolve toda a comunidade, é uma grande festança, que se inicia semanas antes em visitas à pumpkin patchs para se escolher as melhores abóboras para enfeitar a frente da casa e fazer os jack-o-lanterns. No dia do Halloween, onde quer que você vá, os lugares estão decorados e as pessoas estão fantasiadas: consultórios médicos, lojas, bancos. As casas que vão dar doces ficam todas enfeitadas. Essa é uma regra—se você não quiser dar doces, não enfeite a porta e não acenda a luz. Todo ano eu abro a minha caixa de apetrechos de Halloween, que não são muitos, mas eu enfeito a porta, pois adoro dar doces para as crianças.
Já comprei as balas. Outra regra: as crianças só devem aceitar doces industrializados, embalados. Nada de maçãs caramelizadas ou muffins. Nunca se sabe o monstro que pode estar atrás daquela fantasia de bruxa ou fantasma, entregando gostosuras feitas em casa. E uma regra particular: sempre compro doces que não me interessam, pois senão acabo comendo as sobras e isso é um no-no de Halloween pra mim.
Aqui as crianças fazem trick-or-treat pelas ruas, batendo de casa em casa. A função começa quando anoitece. Primeiro chegam os bem pequenininhos, sempre acompanhados dos pais, que ficam na calçada às vezes orientando—say thank you. Eles são a maior gracinha, muitos não sabem muito bem o que fazer e tem os olhos arregalados com a fartura de balas e pirulitos. Um pouco mais tarde chegam os mais velhos, que já têm mais malícia e nem sempre estão acompanhados dos pais. No cair da noite chegam os adolescentes e bem tarde chegam, às vezes, alguns adultos, nem sempre para pedir doces. A festa vai noite adentro, com festas pipocando por todo canto, nas fraternidades e sororidades também.
Nesta minha vizinhança não tem muitas crianças, então sempre sobra doces aqui em casa. Eu penduro um baldinho do lado de fora da porta, cheio de balas, mesmo assim fica um montão. Mas eu morei numa outra casa, numa vizinhança apinhada de crianças e a noite de Halloween lá era MUITO divertida. Às cinco da tarde já se ouvia a comoção dos grupinhos de crianças, todos fantasiados e carregando baldinhos ou sacolas. Naquela casa eu precisava comprar muita bala e muitas vezes a bala acabava e eu era obrigada a desligar a luz e não atender mais a porta, o que me chateava, mas fazer o quê?
Com a abóbora já na porta, as balas compradas, amanhã é só acender as velas e esperar pelos indefectíveis knock-knocks da noite das bruxas.