está tudo [quase] pronto

A minha rotina de Natal é sempre a mesma, entra ano, sai ano. Neste ano a festa vai ser mais tranquila, porque não vem tanta gente. Mas é sempre cansativo. A única coisa que eu não faço é limpar a casa, pois tenho um serviço que faz isso com perfeicão uma vez por semana. O restante é meu trabalho. Eu faço as compras, decido o cardápio, cozinho, preparo, sirvo, entretenho os convivas. Só não lavo a louça final, que é trabalho do Uriel e Gabe. Sexta-feira, saí do trabalho às 3pm e comprei todos os presentes de Natal, além de queijos, panetones e alguns enfeites. No sábado, fiz as compras de comida—e fui á quatro lugares diferentes, dois em Sacramento, dois em Davis. Isso tudo enquanto lutava contra uma crise de enxaqueca morfética. Saí do último supermercado e quando estava na esquina lembrei: não comprei isso, aquilo e aquele outro! E tinha feito lista. Dor de cabeça é uma desgraceira. Domingo, estou um pouco melhor. Organizei o cardápio, que vai ser simplérrimo, mas com os ingredientes da mais alta qualidade. Minha homenagem à Alice Waters. Com tudo escrito, fiquei mais tranquila por me senti mais organizada. Como é feito nas revistas, dividi tudo ém partes, no que poderei fazer hoje, e o que só pode ser feito no dia ou na hora. Não posso contar muito com o Uriel, pois ele trabalha até o último minuto possível. Mas o Gabe já foi convocado para ajudar, pois quando eu tenho essas dores de cabeça, elas duram três dias cravados. Lord have mercy! Espero sobreviver à esse Natal para depois poder curtir minhas pequenas férias!

educando fezoca

enxuga-enxuga.jpg

Eu odiava quando a minha mãe me punha pra ajudar a enxugar a louça. Essa era a única tarefa que ela me dava na cozinha e tinha o intuíto de educar. Numa sociedade, como a brasileira, onde as famílias ainda contam com empregados para fazer quase todos os serviços domésticos, é importante que se ensine o valor desse trabalho. Minha mãe pensava nisso. Eu também pensei e meu filho sempre teve suas responsabilidades. Muito mais do que eu tive. Acho que ele também não gostava, afinal ninguém gosta. Mas é importante aprender e fazer.

foi um sonho? apenas um sonho?

Não tenho certeza se foi um sonho ou se eu realmente acordei no meio da noite e sentenciei decidida—já tenho o menu do Natal todo resolvido: será peito de peru recheado e acompanhado de quinoa com frutas secas e nozes, e bacalhoada acompanhada de arroz branco [eureca!].

Mas não consigo lembrar se também defini os acompanhamentos como salada ou legumes e as sobremesas. Sonho ou não sonho, vou pensar sériamente nessa idéia da quinoa e do bacalhau.

salada de frutas [outono-inverno]

salada_frutas_outonais2.jpg

Use o que tiver à sua disposição. Salada de frutas não é sinônimo de verão e pode ser feita em qualquer época do ano, com qualquer tipo de fruta. Essas de outono-inverno se combinaram maravilhosamente bem nessa salada, que ficou vigorosa, refrescante, doce, azedinha e crocante. Eu usei: caqui fuyu, sementes de romã, laranja, figos secos e nozes tostadas. Temperei com pingos de limão meyer e um fio de maple syrup.

o suplício inevitável da estação

Eu não curto nem um pouco essas festinhas obrigatórias que pipocam todo final de ano. Não é só a festa em si, mas tudo o que é decorrente e inerente à ela. Na festa de Natal do meu grupo de trabalho tem sempre comidas, bebidas, música, conversinhas pra boi dormir e jogos e brincadeiras animadas.

Tudo é tolerável, menos os jogos e brincadeiras, que geralmente vêm acompanhados de prêmios, que nem sempre têm caracteristicas de recompensa, mas sim de punição. Quem quer ganhar um buquê feito de pirulitos coloridos? Ou uma caixa com cubos de chocolates com gosto de parafina pintados de cor-de-rosa? Eu passo. Queria passar os joguinhos também, mas não quero ganhar o título de chatonilda do mês, então participo—bocejando, com uma cara de blasé, sem me esforçar nada, não fazendo a mínima questão. Eu detesto qualquer tipo de brincadeira ou jogo coletivo, principalmente em ambiente de trabalho.

Ninguém escapa da famigerada festa de Natal. Primeiro temos que responder uma survey online, até que os organizadores—voluntários, ainda vai chegar a minha vez—cheguem a uma resolução democrática, depois que todos deram suas opiniões, sobre onde, quando, como, que horas, com catering, potluck, aberto para famílias, eteceterá, eteceterá. Tudo decidido com relação ao local, horário, menu, vem então o turno da organização das brincadeiras.

Neste ano um dos joguinhos de adivinhação pedia a colaboração de cada indivíduo, que deveria enviar para a fulana de tal uma foto sua, de tempos longínquos, vestido em fraldas, ou fantasiado pro halloween, ou saltando de pára-quedas, ou fazendo qualquer coisa de maneira irreconhecível. Eu tinha acabado de publicar a foto reveladora de uma pequena bugrinha muito da mal humorada e resolvi que seria aquela mesma que iria ser enviada para a organizadora meticulosa da brincadeira mais sensacional da festa de Natal.

Ficou decidido que um serviço de catering seria contratado para providenciar a comida—um maravilhoso e variado cardápio de lasagna de legumes e lasagna de carne, mais salada e pão. A sobremesa seria potluck style, então eu fiz uma torta de limão, com uma massa congelada, mais o lemon curd da Alice Waters e um suspiro por cima. Chovia cântaros pela manhã quando ajeitei a torta bem enrolada em papel alumínio dentro de uma cesta e enfrentei o aguaceiro e o vento, que simplesmente destruiu o meu guarda-chuva.
A festinha decorreu naquela previsibilidade. Música sazonal tocando no fundo, sorteio de prêmio que foi abocanhado pela chefona, comida sem graça, sobremesas variadas e os célebres jogos de confraternização. Eu não reclamo de nada, engulo a gororoba banal, passo a manteiga artificial no pão, bebo até Fanta laranja, mas quando chega na hora de jogar o jogo, a mal humoradinha que mora dentro de mim se manifesta com um grunido de protesto. Todo mundo parece adorar os jogos, aplaude, vibra. Eu tenho ganas de ir lavar as mãos no banheiro e ficar sentada num banco no corredor, esperando a função terminar.

Na brincadeira de adivinhar quem era quem em tempos remotos, eu até arrisquei uns palpites com relação à algumas pessoas: o meu supervisor que continua com a mesma cara até hoje, a que posava com o uniforme do clube do Mickey Mouse e uma que eu jurava que era outra. No final quase todo mundo adivinhou quem era a bochechuda de cara amuada sentada numa rede com vestidinho de manga bufante da foto número um. Não mudei muito, não? Muita gente concordou.

sopa de salsão

sopa_de_salsao.jpg

O salsão é um legume injustiçado. É sempre usado no background das receitas, como base na preparação de algum prato. Raramente ele brilha sozinho no spotlight. Nem a cenoura e a cebola, que muitas vezes figuram de coadjuvantes, são tão ostracizadas. O salsão que comprei no Farmers Market tinha um perfume delicioso, precisava reinar sozinho numa receita. Fiz então uma sopa. Procurei por receitas, mas todas que encontrei combinava o salsão com outros legumes. Eu queria uma sopa apenas com o salsão e então fiz da minha cabeça.
Refogue bastante cebolinha picadinha no azeite. Junte um salsão inteiro picado, bulbo e folhas. Junte água o suficiente para cobrir todo o salsão—uns dois litros, no mínimo. Cozinhe, cozinhe, cozinhe, cozinhe. Quando o caldo estiver bem verde, bata tudo no liquidificador e passe por uma peneira. Melhor deixar esfriar antes de fazer isso—o seguro morreu de velho! Retorne a panela com o caldo de salsão para o fogo, salgue a gosto, adicione pimenta branca moída na hora e mais um fio de azeite. Deixe reduzir mais um pouco. Sirva com uma bolota de creme fraiche [ou um substituto] e alguns croutons de alho.

como assim, uma semana?

17_12_07.jpg

Acho que eu sou uma pessoa óbvia, pois todo ano tem repeteco da mesma cena: a ficha caindo que faltam apenas alguns dias para o Natal e eu ainda não fiz nada, não pensei em nada. Talvez isso aconteça porque essa festa não é a minha favorita, não é a mais aguardada, não é a mais planejada. Eu somente vou com a onda e talvez seja por isso também que eu sempre tomo um caldo. Pois chegou o dia da ficha cair. Enquanto mantinha os olhos cravados no número 17 do calendário—que está exatamente em cima do 24, quer dizer daqui uma semana será Natal—tive meu chacoalhão, meu wake up call.

Não é novidade que eu sempre deixo tudo pra última hora e por isso mesmo preciso registrar o fato mais uma vez, para que fique bem claro para as gerações que nos seguirão que a grandma Fezoca não curtia muito os festejos do Natal. A casa não tem nenhum enfeite, nem árvore, nem luzinha, nem Bing Crosby cantando White Christmas, muito menos cookies de gengibre e canela assando no forno. O sambalelê vai começar agora, com aquela habitual procura histérica por receitas legais, a correria pelos supermercados da cidade em busca dos ingredientres, a esperança de que todas as sobremesas ficarão comíveis e a única certeza—que o esquema do peru vai ser o mesmo. Gingo-o-beus, gingo-o-beus!

cupcakes de baunilha & de chocolate

baunilha_chocolate1.jpg
baunilha_chocolate2.jpg

Fazia tempo que eu estava querendo trazer uns treats para os meus colegas no trabalho. Cupcakes são uma boa pedida, pois são fáceis de fazer, de carregar e de comer. Já tinha feito isso uma vez com os cupcakes de cranberry e pumpkin. Desta vez optei por duas receitas básicas—chocolate & baunilha.

Tenho uma insegurança enorme com relação à minha comida, principalmente com relação às coisas que não tenho muita prática, como bolos e sobremesas. Por isso providenciei uma sessão de degustação particular, quando provei um de cada bolinho e fiz o Uriel comer um de cada também, para poder dar o seu palpitezinho. Depois analisei intensivamente a questão dos ingredientes que eu normalmente uso. O cupcake de chocolate, por exemplo, foi feito com azeite e cacau orgânicos. O de baunilha com a melhor manteiga e açúcar, também orgânicos. O Uriel me aconselhou a não falar nada sobre isso—se você ficar falando que é tudo orgânico, é capaz de assustar o pessoal e eles ficarem com medo de comer os bolinhos. Meu marido, um cara ponderado e sábio! Ele também sugeriu que eu levasse uma geléia pra acompanhar os bolinhos, pois é fato público que meus colegas adoram coisas super doces, de preferência com bastante creme e sabores artificiais. Bom, eles pensam que isso é que é bom, já que não têm outra experiência pra comparar. Pois decidi que será meu papel de agora em diante providenciar essa experiência. Não fui ainda ver quantos cupcakes foram comidos. Estou aqui roendo as unhas—serão os meus bolinhos um sucesso ou um fracasso de publico? No decorrer do dia ficaremos sabendo.

As receitas:
mom’s chocolate cupcakes
1 1/2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de açúcar
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de sa;
1/3 xícara de cacau em pó
1/2 xícara de óleo – usei azeite
1 xícara de água
1 colher de chá de extrato de baunilha
1 colher de sopa de vinagre

Misture todos os ingredientes muito bem e coloque nas formas de cupcake. Asse por 20 minutos em forno pré-aquecido em 350º F/176º C.

simple vanilla cupcakes
2 xícaras de farinha de trigo
1/2 colher chá de sal
2 colheres de chá de fermento em pó
1/2 xícara – 113 gr de manteiga sem sal amolecida
3/4 xícara de açúcar
2 ovos
1 xícara de leite – usei egg nog
1 colher de chá de extrato de baunilha

Pré-aqueça o forno em 375ºF/ 176ºC. Forre as formas de cupcake com forminhas ou unte com manteiga. Bata bem a manteiga com o açúcar até formar um creme bem leve. Acrescente os ovos, um por vez. Adicione os outros ingredientes e a farinha e o leite alternadamente. Distribua a massa nas formas e asse por 20 minutos.

**update: 4:37 pm, passei pela cozinha e dos vinte e quatro cupcakes que eu coloquei lá às 8 am, restaram ZERO! ainda bem que eu não pronunciei a palavra orgânico—pisc!