para ler e comentar

pollan_jones1.jpg

Mais dois livros novos, que vão me entreter um bocado nas minhas horinhas antes de dormir e talvez me inspirem para algum papo firme por aqui. O novo do Michael Pollan, que já é figurinha carimbada e a biografia da editora Judith Jones, que foi o livro que realmente me encantou—sorry, Mr. Pollan.

Judith tem hoje 83 anos e ainda trabalha para a editora Knopf, que na década de 60 publicou o revolucionário Mastering the Art of French Cooking e colocou Julia Child nos livros de história da gastronomia norte-americana. Amiga de Julia Child, James Beard, M.F.K. Fisher, Marcella Hazan, Claudia Roden, Edna Lewis e Marion Cunningham, entre muitos outros grandes nomes do mundo culinário, Jones é um ícone, a mulher que publicou os grandes livros de receitas nos EUA.

Em The Tenth Muse: My Life in Food, ela vai contar todas as histórias dos seus cinquenta anos trabalhando com publicações culinárias. No primeiro capítulo, que já devorei, Judith descreve os hábitos alimentares e comidas da sua infância na década de 20 e 30. As histórias de Judith me fizeram lembrar um pouco as da infância da Margaret Rudkin, ainda no século 19, mas com algumas similaridades, senão apenas pelo encanto de nos propiciar uma viagem pelas cozinhas e salas de jantar de antigamente.

[mais uma] sopa de abóbora

maisuma_sopadeabobora.jpg

Assei uma kabocha [abóbora japonesa] cortada ao meio e sem as sementes em forno alto, até a polpa ficar bem cozida. Removi a polpa com uma colher e misturei com pedacinhos de um queijo cremoso, estilo camembert [ainda sobras do Natal]. Reservei. Numa panela, refoguei cebolinha verde picadinha no azeite. Acrescentei a mistura de abóbora e queijo e joguei logo em seguida um litro de caldo de galinha [na verdade, caldo de peru—sobras do Natal que não têm fim]. Deixei ferver até engrossar, temperei com sal a gosto e servi.

salada de legumes

salada_legumes_maionese.jpg

Uma das vantagens de não escolher os produtos que eu recebo semanalmente na cesta orgânica é o fato disso me forçar a comer coisas que normalmente eu nunca compraria e também exercitar a criatividade. Eu olho para o lote de legumes e verduras da semana e TENHO que criar algo legal. No inverno o desafio é ainda maior, porque chegam muitos legumes de raizes, muitas folhas verdes. Nem sempre saem receitas maravilhosas, mas o trivial também é bom. Para essa salada, usei um kohlrabi, cenouras e brócolis—tudo cru. Cozinhei quatro ovos gigantes da galinha feliz. As claras eu piquei e coloquei junto com os legumes. As gemas foram pra maionese básica, onde também acrescentei mostarda dijon e folhas de manjericão fresco.

alguma coisa está fora da ordem

7:30!!!!
Cacilda, o relógio não tocou!
Carvalho, eu não armei o relógio!

Meu mau humor matinal é conhecido e notável. Por causa dele eu acordo muito mais cedo do que precisava, para ter tempo de me recompor e chegar no trabalho com uma cara apresentável e um ânimo mais apropriado para me integrar civilizadamente com outros humanos. Eu não faço nada antes de beber uma xicarazona de café com leite morno e sem açúcar, depois ler e-mails, mordiscar uma bolacha, tudo feito no escuro e em silêncio. Só depois desse período de reajustamento no planeta dos acordados, com os neurônios re-conectados, é que eu vou tomar banho, decidir roupa, depois fazer a lancheira, porque meu café da manhã não é suficientemente robusto para me sustentar até a hora do almoço. Meu ritual matinal leva quase uma hora e meia, até que eu finalmente possa montar na minha bicicleta e pedalar pelo campus para iniciar o meu dia.

O que acontece quando a rotina é interrompida e invertida, numa fatídica manhã quando o relógio não tocou, porque o cabeção esqueceu de armá-lo na noite anterior? Correria, pânico, caos, incredulidade, amargura! Invés de descer pra beber tranquilamente o meu café, entrei no chuveiro e depois desci correndo para preparar a lacheira—e donde estava a lancheira? ela tinha passado a noite na bicicleta, com um pote de iogurte dentro e a casca da banana congelada—pra poder tomar café no trabalho. Montei na minha bicicleta e pedalei pela neblina densa e gelada, de cara amassada, estômago vazio, um humor que já tinha apodrecido de tão amargo, os olhos lacrimejantes de estupor e insatisfação. Não sei como cheguei no trabalho, não sei como estacionei a bike, não sei como consegui articular um good morning pros meus colegas, não sei como lembrei da senha para entrar no meu sistema, não sei como encontrei uma caneca maior no armário, não sei como enchi ela de água quente e fiz o café com leite morno e sem açúcar. Não sei como desembrulhei e mordi as torradas—eu consegui colocar duas fatias de pão de passas com canela na torradeira e embrulhar em papel alumínio?

Uma hora depois, uma xícara de café com leite sorvida, duas torradas mastigadas, a amargura foi desaparecendo, fui abrindo os programas e iniciando minhas tarefas, liguei a música, olhei pela janela, vi as bicicletas passando, o sol que começava a despontar por detras dos prédios, a neblina finalmente tinha se dissipado, da cidade e da minha cabeça.

the bean experiment

“January 14, 2008
Dear Student Harvest Subscribers,
In you baskets last week you received a pound of Jacob’s Cattle Beans. They are part of a research project being done by Ann Prentiss and a number of Cooperative Extension researchers. This week there is a packet explaining the project that also includes recipes and other information about beans. Over the quarter you will receive a number of bean varieties and at some point there will be asked to fill out a survey about how you liked having beans as part of the CSA. This week in baskets we have kohlrabi, radicchio, red Russian kale, beets, a turnip, garlic, blood oranges (not organic, but grown on the Student Farm), basil, carrots, Carinata Kale and broccoli! Today’s baskets were picked and packed with love by Derek, Laura, Rachel, Raoul, Kobe, Lauren, and Catherine.

meu vinagrete para feijoada

vinagrete_feijoada.jpg

Usando os ingredientes que eu tinha em mãos, fiz uma vinagrete diferente para acompanhar a feijoada. Deu certo, pois todo mundo elogiou e não sobrou nadinha! Não usei tomates pois eles estão pálidos e sem gosto, por estarem fora de época. Usei shallots [echalotas] e salsinha picadinha, e coloquei uma pimenta jalapeño. Poderia ter colocado mais uma, mas tenho um medão dessas muchachas, então não ficou um molho super apimentado. Temperei com bastante suco de limão, um pouquinho de vinagre, sal a gosto e bastante azeite.

no caldeirão da bruxa

caldeiraodabruxaa.jpg

Para retribuir a deliciosa macarronada que ele fez para nós, eu prometi fazer uma feijoada. Demorou um pouco, porque ele viajou, outros amigos viajaram, mas finalmente arranjamos a data. Feijoada é um prato que todo mundo curte e é relativamente fácil de fazer. Só precisa ter um pouco de organização e amigos gentis que se ofereçam pra ajudar com os detalhes e cortar e picar. A preparação é que consome tempo. Coloquei o feijão de molho dois dias antes. Coloco de molho na panela de ferro grossa, onde ele vai cozinhar. No dia seguinte cozinho. Depois tempero com um refogado de alho, que eu fritei junto com bacon. Eu usei um bacon bem magro, que quase não soltou óleo. Depois juntei o feijão cozido, sal, pimenta, folhas de louro e as carnes cortadinhas—carne seca, paio, lingüiça calabresa, umas mini salsichas defumadas e ham hocks. Dai cozinha, cozinha, cozinha, cozinha, até o caldo ficar bem grosso. Os acompanhamentos foram arroz branco [basmati], farofa de farinha de mandioca [frita com cebola, manteiga e banana], couve [collard greens] refogada no azeite e alho, um molhinho vinagrete e fatias de laranja. Caipirinha, cerveja e vinho pra acompanhar. Em pleno inverno, a feijoada é uma comida extremamente reconfortante.

mesa_feijoada3.jpg
mesa_feijoada.jpg mesa_feijoada2.jpg

branco total

Porque estou atolada de trabalho e de repente me deu aquele vazio culinário-filosófico-existencial, convido todos para um passeio pelas catacumbas dos meus arquivos. Divirtam-se!

Homem que não sabe cozinhar é uma desgraça.
Um engenheiro na cozinha

Ainda não perdi o medo dessas coisinhas.
Peppers

As mazelas de uma sociedade globalizada.
Friday night fever

Presente para uma amiga querida.
Flores para E.

Uma das minhas saladas favoritas, que eu adapto e readapto.
Niçoise

Só porque muitas vezes eu me sinto exatamente assim.
Goin’ nowhere in particular