Confundida pelo clássico AM/PM acreditei por alguns dias que iriamos passar a virada do ano dentro de um avião da American Airlines. Felizmente percebi a tempo que nosso voo sairia de São Paulo às 12:15am do dia 31 de dezembro de 2013, o que me proporcionou tempo de sobra para chegar em Woodland, tomar um banho, ir ao supermercado comprar ingredientes, preparar uma panela de lentilhas com linguiça e servir com pão fresquinho e queijos e uvas brancas de sobremesa. Essa foi a nossa ceia de reveillon, que foi devorada às seis da tarde. Não somos tão fortes como pensamos, pois às oito horas já estavamos dormindo e só fomos acordados uns minutos antes da meia noite pela festa dos vizinhos e o som de alguns rojões pipocando no horizonte, nos beijamos e abraçamos deitados mesmo, desejamos “feliz ano novo” um pro outro, eu lembro de ter dito “esse vai ser um ano MUITO BOM”, viramos para o lado e continuamos a dormir. No dia seguinte, já mais revigorada, fiz o almoço do ano novo que consistiu de uma salada de alface e um gratinado de bacalhau. Mas não foi qualquer salada, nem qualquer bacalhau, foi algo especial. E devoramos com gosto. Vai ser muito bom este ano de 2014, não vai? Sim, vai ser um ano incrívelmente bom!
[»em seguida, as receitas]
Autor: Fer GuimaraesRosa
batata doce assada
[com pimenta & limão]
Desde 2009 que eu tenho The Flavor Bible na minha estante e vira e mexe eu o uso para me inspirar com idéias de como casar diferentes ingredientes. Esse livro é ótimo ajudante na composição de saladas, como essa de batata doce. Assei as batatas sem pensar e planejar nada antes e fiquei olhando pra elas sem saber que direção tomar.
The Flavor Bible then came to the rescue! E me deu a ideia de temperar as batatas assadas e já frias com flocos de pimenta vermelha, raspinhas da casca e suco de um limão tahiti. Para finalizar, uma pitada de sal Maldon, um fio de azeite e tchandan—essa combinação ficou simplesmente o fino da Bossa!
mini berinjelas com missô
Me entusiasmei exageradamente quando vi um monte de mini berinjelas na banquinha de uma familia de produtores asiáticos no Farmers Market de Woodland e comprei mais do que deveria e precisava. Sorte a minha que achei essa receita que acabou funcionando muito bem com essas berinjelas minúsculas. Depois refiz essa mesma receita depois usando as longuetes berinjelas japonesas.
1/2 xícara de azeite de oliva
6 dentes de alho cortados em fatias finas
500 gr de missô moro [feito de cevada— eu usei o feito de arroz integral]
2 berinjelas japonesas grandes cortadas em pedaços
Óleo vegetal para fritar
Suco de limão
Coloque o azeite e o alho em fatias em uma panela. Coloque em fogo médio-alto e frite, agitando panela ocasionalmente até que o alho fique dourado. Retire do fogo e transfira para uma tigela. Adicione o missô, misture bem com o alho frito e reserve.
Corte as berinjelas em pedaços enviesados. Adicione um dedo de óleo vegetal numa panela grande, aqueça em fogo médio-alto e adicione berinjela. Frite até elas ficarem meio crocantes por fora e macias no centro, por 1 a 2 minutos. Transfira para um prato forrado com uma toalha de papel para escorrer.
Esprema suco de limão sobre berinjela e transfira para uma tigela grande. Adicione 3 colheres de sopa da mistura de missô com o alho [guarde o restante do misô restante em um recipiente hermético e em local refrigerado] Misture. Sirva imediatamente.
panna cotta de chocolate branco [com pickles de nectarina]
Dei apenas uma bocadinha na sobremesa que o Uriel pediu no restaurante Lincoln em Portland e fiquei obstinada em tentar fazer a receita em casa. Assim que cheguei de viagem fui pra cozinha e fiz. Para a panna cotta eu apenas preparei uma receita básica e acrescentei o chocolate branco. Para o pickles de nectarina achei uma receita bem fácil na web e mandei bala. Só omiti a saba porque não deu tempo de correr atrás. Apesar disso a minha sobremesa-cópia ficou idêntica à original. Absolutamente deliciosa!
para a panna cotta:
1 xícara de creme de leite fresco
1 xícara de leite integral
1 fava de baunilha
1 envelope [7g] de gelatina em pó sem sabor
1 barra de 120 gr de chocolate branco
1 colher de sopa de açúcar
Numa panelinha coloque o creme de leite, a fava de baunilha e as sementes [corte a fava ao meio, raspe as sementes com uma faca], 1 colher de sopa de açúcar e o chocolate branco picado. Leve ao fogo médio e mexa até o chocolate derreter completamente. Enquanto isso coloque o leite numa outra vasilha e salpique a gelatina por cima. Despeje o creme de leite quente por cma do leite com a gelatina. Bata com um batedor de arame até a gelatina dissolver completamente. Coloque numa forma molhada ou em ramequins e leve à geladeira até firmar.
para o pickles:
1/2 xícara de vinagre de vinho branco
3/4 xícara de açúcar
1 pau de canela
1/4 colher de chá de sementes de cominho
1/4 colher de chá de sal
4 nectarinas cortadas em fatias
Coloque todos os ingredientes, exceto as nectarinas, para ferver em uma panela média. Coloque as nectarinas num recipiente resistente ao calor e despeje sobre elas a mistura quente de vinagre. Deixe esfriar, cubra e leve à geladeira até a hora de servir.
cobbler de tomate & cheddar
Na volta da nossa viagem ao Oregon, paramos já na Califórnia para almoçar num restaurante super gostoso em Redding. Lá peguei a edição da Edible do condado do Shasta-Butte. Nela tinha essa receita, que fiz para o final de semana quando enchi novamente a minha cozinha com tomates. A receita original pedia queijo gruyère, mas eu troquei pelo cheddar. Usei uma mistura de tomates coloridos. Ficou muito bom!
para a massa:
1 e 1/4 xícaras de farinha de trigo
1/2 colher de chá de sal
1/2 colher de chá de açúcar
1/2 xícara de queijo cheddar [ou gruyère] ralado
8 colheres de sopa de manteiga sem sal, gelada e cortada em pedaços pequenos
2 a 3 colheres de água gelada
Em um processador de alimentos, misture a farinha, sal, açúcar, queijo e manteiga. Pulse até formar uma farofa grossa. Adicione água gelada um pouco de cada vez até que formar uma massa . Amasse em uma bola, depois achate num disco. Leve à geladeira e deixe gelar por meia hora.
para o recheio:
1 quilo de tomates cerejas ou tomates grandes cortados em cubos
[* eu fiz uma mistura de vários tipos de tomates]
1/3 xícara de farinha de trigo
1 colher de chá de sal
1e 1/2 colheres de chá de açúcar
Pimenta do reino moída na hora a gosto
1/2 xícara de manjericão picado
2 colheres de sopa de azeite
1 cebola descascada e cortadas em cubos
3 dentes de alho descascados e fatiados
1/4 xícara de queijo ralado
Em uma tigela grande, misture os tomates, farinha, sal, pimenta, açúcar e manjericão. Em uma panela refogue em fogo médio a cebola e o alho no azeite por cerca de 4 minutos, em seguida, adicione aos tomates. Despeje essa a mistura em um refratário fundo. Estenda a massa no tamanho da forma que for usar. Coloque sobre a forma com os tomates dentro e sele bem as bordas. Faça cortes na massa para sair o ar quente durante o cozimento, coloque sobre uma assadeira. Polvilhe com o queijo e leve ao forno pré-aquecido a 375ºF/ 190ºC por cerca de 30 minutos. Remova do forno e deixe descansar por 10 minutos antes de servir.
Bunk Sandwiches — Portland
O Bunk sandwiches foi outra dica que peguei da revista Sunset e que talvez não tivesse encontrado ou me tocado, se não soubesse de antemão que era um lugar legal. É um pequeno corredor, um “hole in the wall” que não oferece nenhum atrativo a primeira vista. É um bom lugar para um lanche rápido. Escolhe-se o sanduiche e se quiser alguns acompanhamentos de um menu escrevinhado no alto da parede, senta e espera a bandeja chegar—forrada com papel, contendo o sanduiche e chips de batata. Nós pedimos uma salada de folhas verdes também. Me senti muito audaciosa nesse dia e pedi um sanduiche cubano de barriga de porco, presunto, queijo suiço, pickles e mostarda, que estava bom. Mas invejei muito a escolha vegana do Uriel, que veio com hummus de cenoura assada, pimentão vermelho chamuscado, azeitonas, pepino e molho tzatziki e que estava delicioso. Pena que não deu pra voltar e experimentar outros recheios. Não dá pra se exigir tal façanha num passeio como esse limitado pelo tempo.
Pittock Mansion — Portland
No segundo dia em Portland fomos visitar uma mansão histórica que fica numa linda área de mata em cima de um morro. A Pittock Mansion foi contruída em 1914 pelo pioneiro e enpreendedor Henry Pittock. Nascido na Inglaterra, Pittock imigrou para a Pennsylvania e em 1853 com 19 aos pegou uma daquelas carruagens que levava famílias e aventureiros para desbravar o oeste. Pittock chegou ao Oregon, onde começou a trabalhar num jornal do qual acabou dono depois de alguns anos. A casa super moderna, apresentando uma mistura dos estilos inglês, francês e turco, dá uma visão panorâmica maravilhosa da cidade de Portland, com vista para todas as montanhas ao redor. Não posso negar que uma das coisas que eu mais gosto de fazer e que mais me entretem é visitar casas antigas. Essa me fez voltar na sala de jantar e cozinha ums mil vezes. Não é uma casa ostensiva, mas é bem ampla e confortável, com um engenhoso sistema de aquecimento e de intercom. Eles não mantinham muitos empregados e contratavam diaristas. Dá pra ver a lavanderia, a area de geladeira que era separada da cozinha, a despensa, a área do mordomo com ármários com as louças. Nem tudo na casa é original da família, pois quando a casa foi vendida na década de 60 muita coisa se perdeu. Mas quando um objeto ou móvel é original tem um pequeno cartãozinho com o logo da mansão alertando. No andar de cima fiquei muito impressionada com o quarto montado numa espécie de varanda, arejado o suficiente para ajudar os enfermos com a tuberculose, uma doença bem comum na época. E com os banheiros, absolutamente modernésimos, com chuveiros super high-tech. Não fotografei a casa por fora, porque ela estava em obras. Visitamos também a casinha do caseiros [últimas duas fileiras de fotos] que achei uma gracinha, com a cozinha mais fofa do mundo. A casinha tem dois andares e está também cuidadosamente preservada. Seguindo o guia você aprende não somentes fatos sobre a família que viveu lá, mas também sobre a cidade. Os jardins da mansão são maravilhosos e dá pra passar muitas horas lá, dentro e fora, também num pequeno museu montado no subsolo da casa, onde se faziam as festas e hoje mantém um acervo de rádios, vitrolas, gramofones, fonógrafos, televisões e outras fontes de entretenimento audio-visuais.
Pok Pok — Portland
Não sou muito boa planejando passeios e viagens, mas dessa vez fui um pouco mais organizada e usei como guia de Portland este pdf disponibilizado pela revista Sunset e algumas dicas da revista Food & Wine. Nem é necessário dizer isso, mas se você for fazer uma pesquisa rápida de onde comer em Portland, o comentadíssimo, bacaníssimo e modernérrimo Pok Pok vai estar sempre entre os primeiros. E com toda razão. No nosso primeiro dia saímos da Powell’s Books e fomos almoçar nesse pequeno restaurante tailandês, que era um dos lugares que eu queria e precisava checar na cidade. O restaurante começou numa pequena casinha e foi ampliado por causa do sucesso e demanda. A paixão do chef Andy Ricker pela cozinha tailandesa elevou o pequeno lugar à categoria cult & melhor do país. Além do Pok Pok original em Portland, hoje o restaurante tem uma filial em New York. Chegamos já era mais de 2pm e ainda tivemos que esperar 30 minutos. Você chega, dá seu nome para a recepcionista e espera. Há um bar, mesas fora e dentro. Fiquei torcendo para sentarmos fora, pois achei tudo lá dentro muito escuro apesar do ar condicionado, ausente no lado de fora.
O restaurante é bem simples e rústico, com pratos, travessas e copos de plástico, mesa forrada com oleado. O serviço é super gentil e eles respondem com a maior paciência a toda e qualquer pergunta. Eu tinha algumas, especialmente sobre as bebidas. Me apaixonei por uma bebida de fruta e vinagre. Experimentei a de ruibarbo e não consegui desviar meu foco dessa super ideia. Já tinha lido sobre os vinagres na bebida, mas nunca tinha provado. Fiquei louca e em breve escreverei mais sobre isso. A água que eles servem também é especial, vem numa jarrona e tem um gostinho diferente, pois é aromatizada com folhas de pandanus como é feito comumente na Tailândia. Tive um pouco de dificuldade para escolher o que comer no Pok Pok, porque sou uma picky eater de lascar a lenha e o menu tem coisas muito diferentes, ovo e carne de porco misturados com outros ingredientes. No final escolhi algo seguro [para mim] e gostei muito. Uma salada, uma linguiça com ervas. e arroz de coco O Uriel comeu um frango com vários molhinhos e salada de mamão verde. Não sei por que não pedimos sobremesa. Eu tinha planos de ir em outro lugar, mas não deu certo. Estávamos cansados e fazia muito calor. Acabamos indo para o hotel, mas o Pok Pok não saiu mais do meu pensamento, fiquei querendo voltar lá para me aventurar com outros pratos e ingredientes. »pok pok é a onomatopeia em versão tailandesa para o barulhinho que o amassador faz no pilão quando se esta moendo as ervas.
picolés de figo com balsâmico
e banana com peanut butter
Antes de sair para nossa viagem ao Oregon, passei um dia tentando usar todos os ingredientes, i.e. zilhões de frutas e legumes, que tinha na cozinha. Para usar uns figos frescos e umas bananas fiz esses picolés, que ficaram excepcionais!
figo com balsâmico
6 figos
1 colher sopa de manteiga
1 xícara de iogurte natural
Nectar de agave [ou outro adoçante] a gosto
1 splash de vinagre balsâmico—usei um de figo & tangerina
Numa frigideira derreta a manteiga e frite os figos cortados pela metade. Deixe os figos esfriarem e coloque no liquidificador com os outros ingredientes. Forma e congelador.
banana com peanut butter
2 bananas
1 colher sopa de manteiga
1 xícara de leite de amêndoas [ou outro leite]
2 colheres de sopa de manteiga de amendoim
Numa frigideira derreta a manteiga e frite as bananas cortadas de comprido. Deixe as bananas fritas esfriarem e coloque no liquidificador junto com os outros ingredientes. Forma e congelador.
Oregon — a costa do Pacífico
Para quem reparou [*pisc!] estive ausente por alguns dias daqui, mas asseguro antecipadamente que o fim justificará os meios pois terei algumas coisas bem bacanas pra contar e mostrar. É que depois de tantos anos morando na vizinhança do estado de Oregon, decidimos finalmente visitá-lo. Eu já estava querendo ir até Portland desde quando o meu filho foi e ficou me contando disso e daquilo. E também porque toda revista que eu assino que fala da costa oeste, fala das cidades do Oregon, do litoral, das vinícolas e de Portland e sua cultura peculiar, das tribos, da música, da comida. Finalmente achamos a época adequada e colocamos os pés na estrada. Num dos dias mais tórridos do ano subimos pela I5, a rodovia mais rápida que liga a Califórnia ao Oregon com vista panorâmica pelo Mt. Shasta, que ainda tinha neve no seu topo enquanto o termômetro no asfalto marcava 45ºC. A paisagem é linda, com pinheiros e montanhas. Fizemos um desvio em direção a Coos Bay no litoral sul e acabamos dirigindo umas duas horas vendo apenas dunas e florestas. Eu tinha levado um farnel para fazer um picnic na praia, com gaspacho e sopa fria de pepino nas garrafas térmicas, frutas, vinho e sanduíches de queijo. Mas acabamos comendo numa pequena clareira numa área lindíssima de floresta [nem pensei nos ursos]. Seguimos em frente até a primeira área onde se via o Pacifico, com penhascos como aqui na Califórnia, onde visitamos uma lighthouse linda, a Heceta Head. Conseguimos visitar apenas mais uma praia na cidade de Newport e decidimos seguir de uma vez rumo à Portland. A costa do Oregon é enorme e não deu para subir mais pro norte sem sacrificar nossos dias planejados para gastar nos outros lugares. Vamos ter que voltar uma outra vez só para fazer uma viagem pela costa, do centro do Oregon até Washington. [to be continued…]