O homem do garfo

Me contaram que ele adora comer. Mas não parece, quer dizer, eu não vejo ele comendo, nem andando pelo local com bolachinhas nas mãos e a boca cheia de farelo. Vejo sim ele segurando uma caneca de cerâmica artesanal sempre cheia de café com leite. Mas a caracteristica principal dele é ser engraçado pacas! Me contaram também que ele é o “punster” do local, tem sido por mais de vinte e cinco anos. Eu saquei isso rapidinho, antes mesmo de alguém me dizer qualquer coisa, pois toda vez que ele aparece na minha frente eu começo a rir. É a entonação da voz, as palavras usadas e, é claro, o humor peculiar. Isso é uma coisa que já vem embutida no DNA, ninguém se transforma numa pessoa espirituosa e sagaz, tem que ter nascido com os genes.

Então noutro dia, no meio de uma reunião, ele começou a contar o causo mais delirantemente divertido que eu já ouvi nos últimos meses. Era um roteiro de filme pastelão, totalmente Buster Keaton, onde ele fica preso na biblioteca pública à noite. Foi depois de um encontro mensal do clube dos aviadores da região. Quando tudo terminou ele resolveu ir ao banheiro. Ninguém notou a ausência dele e foram embora, trancaram a porta e jogaram a chave na caixa do correio. E ele ficou lá dentro. Todo mundo chorava de rir com o jeito que ele contou a história, que mesmo se tivesse sido contada por uma pessoa comum teria sido engraçada. Eu ria em dobro, pois tinha notado um detalhe extra que ninguém notou: enquanto ele falava empolgadamente segurando a tal xícara de café com leite, UM GARFO de metal prateado saltava à vista, sobressaindo-se enquanto fazia companhia para algumas canetas e lápis, no bolso da camisa.

be a local hero

Jantávamos no quintal à noite, com uma brisa fresquinha soprando, as luzinhas do arraial acesas e admirávamos nossa árvore de nectarinas tão apinhada de frutas que envergou e tivemos que colocar dois suportes de madeira para que o galho não se quebrassem. Essa visão do nosso quintal com grilos cricando, luz de vela de citronela, céu salpicado de estrelas e comida fresca, boa e saudável na mesa é a nossa realidade, mas não é a realidade do mundo.

Posso parecer um pouco panfletária quando comento repetidamente minhas reflexões sobre alimentação, mas ando incrívelmente assustada, pessimista e desiludida, especialmente quando leio uma notícia abismante como esta. Cheia de pesar e incredulidade fico conjecturando onde vamos parar. Se a situação já está desanimadora hoje, imaginem o que estaremos comendo em alguns anos ou décadas?

Quando leio essas notícias horrorosas, tento avaliar a extensão do estrago causado pelos nossos maus hábitos de alimentação, quando a comida parece ser apenas um enche-bucho irracional e que ainda traz de brinde uma sentença de vida miserável e de morte lenta e sofrida. A solução mais simples e efetiva que me ocorre no momento é diminuir meu raio de visão e me concentrar no espaço onde eu vivo, que se resume à minha casa, minha vizinhança, minha cidade e se estendendo um pouco, pelo meu estado. Comer comida local, que já é um slogan bem divulgado por muitos movimentos de resgate da nossa alimentação. Com certeza teremos menos problemas, e mais soluções viáveis e ao nosso alcançe se tivermos problemas, se a nossa comida vier da região onde vivemos. Não dá pra evitar cem por cento os produtos industrializados, mas pelo menos podemos fazer uma opção nas frutas, verduras, legumes, carnes, ovos, pão, leite, queijo. Quando peguei as amoras das mãos manchadas pelo sumo roxo do fazendeiro que as plantou, colheu e agora as está vendendo, sinto um alívio imenso. As amoras doces não tem gosto de papelão imerso em essência de fruta. São reais e me dão um bocado de esperança, que podemos comer como gente, se essa for a nossa vontade.

bolo de figos secos

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Não tinha como não fazer essa receita extraordinária da querida Elvira que tinha tudo pra ser um hit na parada de sucessos. Me atrapalhei um pouco com as medidas, principalmente com o “1,5 dl” que eu nunca tinha visto, mas na Elvira mesmo tem uma página de equivalências e tudo acabou bem. Dá um bolão, então na próxima vez vou tentar fazer metade da receita. Como eu tinha um evento no domingo de manhã, levei o bolo e quase cansei de tanto ouvir elogios. Participei de uma yard sale com mais seis garotas. Eu vendi para arrecadar uma graninha extra pra Brazil in Davis. Como chegamos bem cedo no local, tivemos café, mimosas, donuts e o meu maravilhoso bolo de figos secos, que sem dúvida alguma deixou os donuts com complexo de inferioridade. Delicioso!

500 g de farinha para bolos com fermento
[* ou 500 g de farinha + 1 colher (sobremesa) de fermento em pó]
500 g de açúcar
400 g de figos secos [*misturei dois tipos, escuro e claro]
250 g de manteiga amolecida (ou margarina vegetal)
6 ovos
1,5 dl/ 150ml/ 5oz de leite
5-6 colheres (sopa) de aguardente [*usei brandy]
1 colher (sobremesa) de canela em pó
manteiga e farinha para a forma

Cortar os figos secos em cubinhos pequenos e colocá-los numa tigela. Regar com a aguardente, envolver e deixar macerar por 1 hora. Pré-aquecer o forno a 180ºC. Untar uma forma redonda de buraco com manteiga e polvilhar com farinha. Reservar. Numa tigela, bater muito bem a manteiga com o açúcar. Juntar os cubinhos de figo previamente escorridos (reservar a aguardente) e envolver. Adicionar os ovos, a canela, o leite e a aguardente reservada. Misturar muito bem. Incorporar a farinha previamente peneirada, sem parar de bater até a massa ficar lisa e homogénea. Transferir a massa para a forma e levar ao forno por aproximadamente 1 hora, a 180ºC. Verificar a cozedura da massa com um palito ou uma lámina fina. Desenformar o bolo e deixá-lo arrefecer sobre uma grelha.

vamos ver se tem chucrute

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Meu plano para a hora do almoço era chegar em casa, vestir um robe, um chinelo, improvisar um rango e relaxar um pouco. Mas o pessoal que limpa a minha casa toda sexta-feira estava atrasado e quando eu cheguei eles ainda estavam lá, um na cozinha, outro na sala. Resolvi pegar um rango ambulante no Fuzio e enquanto esperava meu linguini com calamari ficar pronto, dei um pulinho na Borders. Pra quê? Saí de lá com o livrão debaixo do braço. Esses não são bem livros de receitas, apesar de terem receitas. São mais livros dos detalhes gastronômicos de cada país e são muito interessantes de ler.

Ashima Ganguli fez o jantar

Contar sonho em blog é pior que fazer lista, o famoso enche linguiça. Mas nem todo sonho é cinematográfico ou tem um tema culinário, então vou deixar meus brios de lado e dizer que perdi hora pela manhã por causa de um sonho desses. Eu sonho muito, desde que era criança, e lembro de todos os micro detalhes quando acordo. Mas nem sempre meus sonhos são agradáveis ou pândegos, geralmente eles conseguem mudar o meu humor ou estragar o meu dia. Meu mundo onírico tem muitas semelhanças com filmes como os de Tim Burton ou do Terry Gilliam. Nesta manhã, porém, sonhei um misto de Woody Allen com Mira Nair. Na realidade o Uriel convidou um colega professor e sua esposa para jantar aqui em casa no próximo sábado. Eles são indianos e vegetarianos. O Uriel mencionou a possível presença de um dos filhos. São dois já adultos, génios da computação. Cogitamos convidar também o Gabriel. E fiquei pensando no que vou cozinhar, um cardápio brasileiro veggie. Fui dormir e sonhei que estávamos em casa num sábado qualquer, relaxados e despreocupados, quando de repente bateram na porta. Era o casal indiano, mais os dois filhos. Os filhos eram mini-adultos se comportando [horrívelmente] como crianças mimadas. O casal era Ashoke e Ashima Ganguli, personagens do filme The Namesake [Nome de Família] da Mira Nair. Pânico total, não por eles serem o Ashoke e a Ashima, mas por terem vindo jantar na nossa casa no dia errado! Eu fiquei paralisada, enquanto a Ashima tomava as rédeas e dizia, não te preocupas, eu te ajudo. E se pôs a cozinhar na minha cozinha, que ficou perfumada de cheiros indianos e cheia de fumacê de algumas frituras que ela fazia nas panelas. Vi ela dissolver um molho vermelho, fritar samosas, fazer chapatis. Eu estava envergonhadíssima, pelo fato de estar despreparada e não ter muitos ingredientes disponíveis. Mas Ashima nem tchuns, e continuou improvisando e fazendo rangos e mais rangos. Em breve corri desajeitadamente para arrumar a mesa e nos sentamos para degustar uma fartura de pratos feitos pela minha convidada. O resto do sonho se desenvolveu como sketches de programa humoristico, onde personagens que faziam vizinhos ou conhecidos riam da minha situação enternecedora: convidou Ashoke e Ashima Ganguli para jantar e foi Ashima quem cozinhou.

reusáveis

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Encantadoras as novas reusable totes do Trader Joe’s. Elas são feitas com um tipo de plástico trançado com tecido, muito resistentes. Parecem pequenas à primeira vista, mas quando você começa a empacotar, oh dear, cabe coisa que não acaba mais. Comprei duas, pra deixar no carro—$1,99 cada!
* lembrando que já discutimos as vantagens das sacolas de supermercado reusáveis neste post antigo.