O café, o café!

Eu me considero uma excelente anfitriã. Recebo meus hóspedes muito bem, com conforto e salamaleques. Preparo o quarto, a cama fofinha, ponho um vaso de flores na mesa de cabeceira, barrinhas de chocolate, toalhas macias no banheiro, carafe com água fresquinha, roupão e pantufas felpudas. Faço café da manhã caprichado, sempre procurando agradar – ovos mexidos e café para uns, chá e presunto com tomate e mostarda para outros. Mas todo mundo está sujeito a cometer aquela gafe histórica. A minha aconteceu na primeira vez que eu hospedei a sogra do meu filho. Ela não podia ficar com o Gabriel e a Marianne porque eles ainda moravam na minha guest house – que embora seja uma guest house, naquele momento não servia para acomodar nenhum guest.

Tudo bonitinho, arrumado, a sogreta instalada e confortável, fomos dormir. No dia seguinte acordei com o som da voz da minha hóspede – ela fala alto e acorda cedíssimo. Pensei, vou levantar e descer pra fazer o café. Mas juro – J-U-R-O – que ouvi a voz do Uriel no meio do blábláblá. Fechei os olhos e resolvi dormir por mais alguns minutos, reconfortada pela idéia de que ele estava na cozinha e iria pelo menos fazer o café, colocar as xícaras na mesa, me daria um tempo extra curtindo a cama. Quando finalmente levantei e desci, crente que a minha hóspede já estava bebendo o seu sagrado café preto, encontrei as duas – mãe e filha, conversando na cozinha e combinando um lugar para sair e tomar o café da manhã. Não era o Uriel dialogando com ela, pois ele tinha acordado mais cedo que todo mundo e já tinha saído. Quase enfartei de vergonha!! Preparei um super café e aprendi a minha lição – anfitriões TÊM que levantar ANTES dos hóspedes.

Mas a história não acabou aí. A gafe teve repercussão, pois da próxima vez que a sogra do meu filho veio passar a noite na minha casa, ela trouxe uma GARRAFA TÉRMICA CHEIA DE CAFÉ na mala. Pra se garantir na manhã seguinte.

no quintal

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» abri um livro de receitas que eu não abria há anos e encontrei esta foto marcando uma página. que fofurice! sou eu, com uns cinco anos, já banguela e rindo sem mostrar os dentes [que acabou virando uma caracteristica minha] e meus irmãos, Paulo Eduardo [com a cabeça deitada na mesa] e Carlos Augusto. a Leandra, minha irmã, devia ser um bebê, nem apareceu na foto. eu me lembro dessa mesinha, pintada de azul clarinho, que usávamos pra tudo. neste dia estávamos fazendo algum artesanato. talvez não dê pra ver muito bem, mas eu tenho um curativo, com esparadrapo e gase, num dos pés. eu era a rainha dos acidentes e machucados. ainda sou, né?
* post reciclado do The Chatterbox.

pelo menos uma coisa nós não temos em comum

Li que a França vai proibir que se fume em lugares públicos a partir de 2007. Estou muito mal acostumada com as leis anti-fumo super restritas da Califórnia, onde não se pode fumar quase que em lugar nenhum. No campus da universidade, por exemplo, só se pode fumar pra fora e afastado vinte yards [18 metros] de qualquer prédio, porta ou janela. Os fumantes são realmente marginalizados. Isso pra mim é o paraíso, já que cresci e vivi uma parte da minha vida adulta dividindo carros, ônibus, elevadores, salas, restaurantes com seres baforantes – e que baforavam na sua cara sem o menor constrangimento. Pra mim, ver essas medidas serem adotadas mundialmente é como se eu estivesse me vingando pessoalmente de cada fumante sem educação que nunca pensou que eu não tinha escolhido – como ele – fumar. No ano passado em Montpellier, na França, fomos à uma pizzaria e sentamos isolados na nossa mesinha rodeados por mesas ocupadas por pessoas fumando. E elas fumavam ANTES, DURANTE e DEPOIS da refeição. Me senti viajando no tempo, direto pros meus anos de criança e adolescente no Brasil e realmente me deu raiva. Meu pai – um ser fumante – uma vez elogiou os CINZEIROS que ele viu nos ELEVADORES em Portugal. Eu me imaginei num pesadelo presa num deles, com alguém fumegando, fumegando… Felizmente aqui nem se acha mais cinzeiros pra comprar!

consumismo e invencionices

O último final de semana foi prolongado, com o feriado do dia dos veteranos – aqui só tem feriado cívico, com exceção do Natal. Então tive tempo para ir às compras. Precisava ir ao Trader Joe’s e terminar minhas compras da viagem. Fiz todas as coisas de loja que tinha que fazer – incruzive consegui catucar e sangrar o zóio enquanto experimentava casualmente uns óculos escuros numa loja. Por causa desse trancetê todo, não exercitei minhas fascinantes e refinadas técnicas culinárias. Mas inventei bastante moda.
Na sexta-feira, um Farfalle com molho de Roquefort.
Cozinhei os farfalles na água e sal. Fiz um molho branco, receita de um livrinho antigo de comida italiana. Numa panela derreta uma colher de sopa de manteiga. Acrescente uma colher de sopa de farinha de trigo e mexa bem com o batedor de arame. Junte 1 xícara de leite, vai batendo bem rápido para não encaroçar. Pode colocar uma colher de chá de noz moscada ralada. Cozinhe mexendo sempre até engrossar. Desligue o fogo e acrescente um triangulo grande de queijo roquefort picadinho, mexa bem até o queijo derreter completamente e o molho ficar bem grosso. Misture ao Farfalle cozido e sirva com uma salada verde, que foi o que eu fiz.
No domingo um Purê de Abóbora e Batata Doce, que acompanhou um lombinho assado.
Cozinhe a abóbora e batata num pouquinho de água. Quando elas estiverem bem molinhas, escorra a água, amasse bem com um amassador perfurado. Acrescente meia xícara de creme de leite fresco, uma colher de sopa de queijo parmesão ralado, sal e pimenta do reino a gosto e ciboulette picadinha. Misture meia xícara de queijo Gouda – ou qualquer queijo de consistência firme e sabor forte. Misture bem até o queijo derreter e sirva.

Outono ou inverno?

Muita gente diz brincando que Davis tem duas estações—verão e inverno. A primavera até que é longuinha, mas o outono, não sei, passa voando. Um dia estamos com uma jaqueta leve, um xale ou uma echarpe esvoaçante e de repente – pumba – já estamos embrulhados em mil camadas, casacos, luvas, cachecol, touca. Hoje vesti uma touca de lã voltando do almoço, pois estava duro de bicicletar no chuvisco gelado. O cara que cantou que iria pra Califórnia viver a vida sobre as ondas certamente rumou para o sul e não aqui para o norte, onde não dá pra pegar praia nem no verão e o inverno é chuvoso e cheio de nevoeiros. Mas temos San Francisco, Napa Valley e Lake Tahoe pra compensar!

Todo ano eu demoro mesmo é pra acostumar com a noite chegando às 4:30 da tarde, como hoje. Vou buscar a minha cesta orgânica à noite! É demais. Parece que já é muito tarde e dá um desânimo ter que lavar aquele monte de verduras—porque com o frio chegam as folhas verdes—swiss chard, espinafre, alface lisa e crespa, rúcula, red russian kale, bok choy, acelga, repolhos, collards, chicória. E aí é um tal de lava, lava, lava, lava, lava, lava….

Gourmet – 1941

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A técnica precisava fazer alguma coisa no meu computador e me mandou passear por quinze minutos. Eu corri pra biblioteca da universidade, pra aquelas prateleiras da seção TX, no terceiro andar. Fui olhar os livros de culinária. Parei numas encadernações cor de laranja e ali fiquei – exemplares da revista Gourmet da década de 40 até hoje. Peguei o volume de 1941, que fui ler em casa, à noite. Comparada com a revista de hoje, aquelas eram realmente simples, pra não dizer simplérrimas. Pouquíssimas fotos, muitas ilustrações e as receitas inseridas no meio dos textos, o que dificulta muito a seleção e mesmo a execução. Uma revista bem textual, o que hoje seria completamente irreal, já que as revistas de gastronomia pecam pelo exagero visual. Mas pra compensar, a Gourmet de 1941 tinha textos da M.F.K. Fisher – e seu livro anunciado por $2! Manual para domésticas, presentes para gourmets, muita propaganda de bebida e muitas páginas com texto, texto, texto. Interessante comparar como muita coisa mudou – melhorou ou piorou. Agora quero pegar os volumes de 1943, 44 e 45, quando os EUA já estavam na guerra, pra ver como as restrições impostas pelo conflito refletiu nas páginas da revista.

chegamos pra ficar!

Pelo menos agora as pessoas já sabem o que é um blog. Ou pelo menos têm uma idéia. Blogs de culinária formam um segmento muito especial, e são realmente uma delícia. Já estava mais que na hora de começarmos a aparecer. Então a Renata teve a idéia e a colocou em prática, escrevendo uma super simpática reportagem sobre os food blogs para o jornal O Estado de São Paulo. Estão lá as Rainhas do Lar, a Tatu do Mixirica, a Dadivosa e esta persona Chucrute com Salsicha, of course!