o doce que vem no figo

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Parti figo ao meio e a polpa era o doce mais doce dos doces. Neste verão posso dizer que me esbaldei de comer figos. Comi de todas as variedades que achei pra comprar. Só não tive ânimo de me enfiar debaixo daquela árvore de ninguém onde todo ano me aventuro colhendo uns figos diferentes, verde claro por fora e um marrom pálido por dentro. Esses super doces comprei da mocinha que vem de Esparto vender os produtos mais bonitos no Farmers Market de Woodland. Ela já me conhece de outros carnavais e este ano teve até a audácia de guardar figos pra mim, na certeza de que eu compraria. E eu comprei. Voltei lá depois de comer os figos com doce dentro e mostrei essa foto para ela. Disse—seus figos vêm com doce de figo dentro. Ela riu com uma cara de bocó, porque muitos dos produtores do nosso pequeno Farmers Market parecem ser pegos de surpresa pelas coisas que eu falo pra eles. Sem mencionar a complexidade inovadora do discurso que vem sempre acompanhado de material ilustrativo. Saco o telefone da bolsa, mostro as fotos e falo coisas elogiosas, como se eu estivesse falando dos filhos deles, dizendo como são bonitos, inteligentes e talentosos. Eles sorriem agradecidos ou ficam com cara de abobalhados, com certeza pensando de onde saiu essa mulher que vem toda semana aqui com esse papo. Outro dia fui mostrar umas fotos dos figos pra um casal de quem eu sempre compro frutas e com quem sempre converso um bocado. Eles se entreolharam estupefatos. Num outro dia mostrei a foto das peras e das maçãs. E ainda no outro a das berinjelas rajadas. Nesse dia o moço não se aguentou e me disse entusiasmadamente—você deveria estar aqui deste lado junto com a gente, ajudando a vender nossos produtos. Ele falou isso num impulso, mas não parecia estar brincando.

clafoutis de tomate assado

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É triste ver os tomates desaparecendo lentamente do mercado. Nas últimas edições do Farmers Market de Woodland, cada vez menos produtores trazem tomates para vender e alguns já encerraram sua participação neste evento sazonal. Por isso estou aproveitando enquanto posso, pois só irei comer tomate fresco novamente no próximo verão. Com os pequenos e doces tomates cerejas fiz esse clafoutis baseado numa receita da revista Whole Living.

700 gr de tomates cerejas [orgânicos]
2 dentes de alho cortados em fatias finas
2 colheres de sopa de azeite de oliva extra-virgem
2 colheres de sopa de folhas de tomilho fresco
Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto
5 ovos caipiras grandes
1/4 xícara de amido de milho [maizena]
3/4 de xícara de leite
30 gr de queijo Manchego
Folhas de manjericão fresco

Pré-aqueça o forno em 400ºF/ 205ºC. Numa assadeira coloque os tomates e tempere com o alho em fatias, o azeite, as folhas de tomilho e o sal e pimenta. Leve ao forno por uns 30 minutos u até os tomates ficarem meio caramelizados. Remova do forno e deixe esfriar um pouco. Abaixe a temperatura do forno para 350ºF/ 176ºC. Numa vasilha coloque os ovos, o amido de milho, o leite, o queijo manchego, uma pitada de sal e as folhas de manjericão e bata bem com um batedor de arame. Despeje essa mistura sobre os tomates assados e retorne ao forno. Asse até a superfície ficar bem dourada, por uns 35 ou 40 minutos. Remova do forno e sirva morno ou em temperatura ambiente.

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paletas de noz pecã

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Essa foi minha primeira paleta mexicana feita com receita do livro da Fany Gerson. Usei as pecans que vieram diretamente do sul dos EUA, trazidas pelos nossos primos que vivem em Atlanta. Achei a paleta gostosa mas um pouco doce demais pro meu paladar, talvez por causa do uso do leite condensado.

3 xícaras de half and half*
[*metade leite integral, metade creme de leite fresco]
1 lata de leite condensado
2 colheres de chá de extrato puro de baunilha
1/4 colher de chá de sal
2 xícaras de nozes pecans quebradas

Misture todos os ingredientes numa vasilha e deixe macerando por uma meia hora. Bata tudo no liquidificador e passe por uma peneira. Coloque o líquido numa jarra para facilitar e despeje nas forminhas de fazer picolé. Coloque os palitos e leve ao congelador por no mínimo seis horas. Para desenformar é só molhar a base das formas em água quente e voilá.

the spice rack

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A minha casa tem inúmeros detalhes incomuns. Algumas coisas te deixam pensando pra que será que serve [serviu] isso? Certamente o detalhe mais intrigante é o cômodo com porta de ferro construído num dos cantos do basement. Muita gente já palpitou—é um bomb shelter, é compartimento para guardar munição, é câmera fria para guardar mantimentos, eteceterá eteceterá. Mas ainda não esclarecemos o mistério.

Outra coisa que me intrigou foi esse armarinho numa das paredes da minha cozinha vintage. Pela cara da coisa acabei concluindo que fosse para se guardar temperos. Não consegui imaginar outra possibilidade de uso para esse espaço estreito e longo. E foi lá que ajeitei todos os meus vidrinhos de pozinhos, ervinhas e especiarias.

A questão foi clarificada quando uma amiga veio me visitar. Ela olhou para o armário e disse—Fer, isso aí é uma tábua de passar roupa embutida! Quer dizer, era. Ali tinha uma tábua, daquelas que abria e fechava. Como era muito comum nas casas dos tempos antigos. Passava-se roupa na cozinha, mas a tábua e o ferro ficavam escondidos nesse armarinho engenhoso. Fez todo o sentido, tem até uma tomada elétrica numa altura pouco comum e uma placa de metal para apoiar o ferro. Com o passar dos anos a tábua foi removida e acrescentaram umas madeiras extras para fazer as prateleiras. Bingo!

bircher-benner muesli

bircher-muesli

Não consigo me lembrar onde foi que vi a receita original do bircher-benner muesli, mas sei que foi há muitos anos, quase uns trinta, pois quando comecei a fazer esse cereal matinal meu filho ainda era um bebezinho. Lembro da pequena cozinha do meu primeiro apartamento e como eu colocava a aveia de molho na água numa pequena cumbuquinha e de manhã cedo ralava a maçã e preparava o muesli. Pra mim, que sou famosa por não ter apetite matinal, começar a comer esse cereal foi a epitome da mudança de hábitos. Hoje eu faço o muesli regularmente durante os meses em que encontro maçãs locais para comprar. Adoro levar para o meu snack matinal no trabalho. Não deixo mais a aveia de molho, mas costumo preparar o muesli na noite anterior e deixar guardado num potinho de vidro com tampa na geladeira.

Essa é a maneira como eu preparo o meu bircher-benner muesli, mais fiel à receita original possível: numa tigela coloque um pouco de aveia em flocos grossos, junte em camadas uma maçã ralada, suco de limão, leite condensado [prefiro normalmente o mel, ou nectar de agave, ou algum tipo de açucar mascavo], um pouco de iogurte natural e amêndoas tostadas por cima. Consuma imeditamente ou guarde num vidro para comer no dia seguinte.

bolo de avelã & chocolate

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Como posso resistir à moça da fazenda orgânica oferecendo ovos de pata caipira, dizendo que eles eram mais “cremosos” que os de galinha? Comprei meia dúzia e segui o conselho que ela me deu de fazer bolos com eles. Essa receita já estava engatilhada, eu apenas substituí os três ovos de galinha por dois de pata. O bolo com avelã e chocolate é algo especial, fica o fino da bossa com qualquer tipo de ovo. Só fazendo e comendo pra entender. Nem preciso dizer que não sobrou migalha.
180 gr de açúcar mascavo
3 ovos de galinha caipira [*usei 2 de pata]
250 gr de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
125 gr de manteiga
150 gr de avelãs
60g de chocolate amargo [70%]
Numa panelinha derreta a manteiga [pode fazer numa tigelinha no microondas]. No processador moa as avelãs. Pique o chocolate em pedacinhos pequenos. Na batedeira bata bem o açúcar com os ovos até ficar um creme. Adicione a farinha e o fermento em pó. Bata bem. Junte a manteiga derretida, misture bem e junte as avelãs e o chocolate. Unte uma forma de assar pão com um pouco de manteiga. Pré-aqueça o forno em 355°F /180°C. Coloque a massa na forma e leve ao forno por 15 minutos. Abaixe a temperatura do forno para 320°F /160°C e continue assando até o bolo ficar com uma crosta crocante por cima e totalmente cozido por dentro, mais uns 40 minutos. Remova do forno, deixe esfriar, desenforme numa travessa e sirva.
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[na colheita]

colheita tomate colheita tomate
colheita tomate colheita tomate
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Este verão foi um bom verão para os tomates. Não tivemos quase chuva no inverno e primavera, mas quando o calorão chegou, ficou estável por meses. Dias bem quentes, noites frescas. Imagino que tenha sido um ano de excelente safra. Os campos não estão tão pertos do meu caminho como no ano passado. Mas vi bastante colheita, desta vez um pouco mais de longe e sem muita vontade de ficar correndo pelo acostamento da estrada poeirenta tentando tirar fotos. Cliquei um caminhão aqui, outro ali, outro acolá no horizonte, cruzando a ponte do outro lado da pista. Vi muitos deles indo e vindo, completamente cheios e derrubando frutas pelas curvas ou já vazios voltando para pegar mais tomates nos campos. Vi muitas carretas cheias esperando os caminhões levá-las para as enlatadoras. As grandes plantações de tomates desta região são para enlatar e fazer catchup. São tomates comuns no formato, mas impressionantes na quantidade e qualidade. Diferentes dos vendidos para o consumo, que são um outro espetáculo—um caleidoscópio de cores, sabores e formatos que alegram os nossos olhos e paladares durante todo o verão.