As compras de sábado—erva-doce, pepino, cebola, coentro, tangerina, geléia de limão com baunilha, pão preto com nozes, filés de bacalhau fresco. Tudo usado durante a semana!
California Poppies
As California poppies crescem como mato por todo canto por aqui—estão pelos canteiros, estradas, parques, jardins. Elas sao lindinhas e delicadas, abrem-se ao sol, e têm essa cor que as fazem facilmente reconhecíveis. Nunca colhi essas poppies, nem coloquei em vasos, porque elas não tem jeito que duram muito tempo depois de colhidas. E para fazer volume, tem que colher muitas. Não vale a pena. Mas porque estou falando dessa florzinha? Hm? É porque essa poppy, na sua simplicidade e delicadeza, foi a escolhida em 1903, para ser a flor simbolo da Califórnia. Sabe ser chique e importante, essa queridinha. Move over, orquideas!
*as poppies dessas fotos ficam ao lado da minha casa, num canteiro público bem comprido e renascem todo ano, com a chegada da primavera.
duas saladinhas faceiras
Durante a semana eu fico deveras cansada à noite, então os rangos precisam ser fáceis, rápidos, saborosos e nutritivos. Como já não está aquele frio de tiritar ossos, as saladas entram em cena, substituindo as sopas.
Salada de grão de bico com feta cheese e coentro
Essa salada linda e deliciosa, tirei do livro Falling Cloudberries da Tessa Kiros, presente da Valentina, e que já estava esperando um dia especial pra acontecer. Não tem como ser mais simples, e apesar de ser bem leve, é um prato substancioso por causa do grão de bico. Eu simplesmente adoro esse ingrediente, que comeria todos os dias, em pratos quentes ou frios.
Fiz uma quantidade para duas pessoas. Cozinhe o grão de bico em bastante água, ou use um de lata de boa qualidade. Numa panelinha refogue meia cebola roxa numa colher de sopa de azeite. Quando a cebola estiver bem macia, acrescente um dente de alho picado e pimenta verde picada [eu usei pimenta vermelha em flocos]. Refogue mais um pouquinho, desligue o fogo e deixe esfriar. Separadamente tempere o grão-de-bico com bastante coentro picado, salsinha, ceboulette, raspinhas e suco de meio limão. Acrescente o molhinho de azeite, cebola e alho. Misture bem. Acrescente mais azeite a gosto e misture bastante feta cheese picadinho. Eu coloquei um pouquinho de sal, porque gosto de tudo mais salgado, mas não é realmente necessário, pois o sal do queijo se incumbe do serviço. Sirva com pita bread ou com fatias de pão italiano tostadas na frigideira de ferro, como eu fiz.
Salada Niçoise – uma variação
A famosa salada de Nice, numa variação bem interessante, que eu vi na revista Everyday Food. Fica uma refeição completa, pois tem um pouquinho de tudo. Nessa receita não ia ovo cozido, mas eu acrescentei, porque o Uriel adora.
Pique umas batatas em cubinhos, ponha numa forma coberta com papel alumínio, regue com azeite e ponha no forno alto por uns 15 minutos, até elas ficarem crocantes por fora, macias por dentro. No meio tempo das batatas acrescente tomates cerejas na forma, regue com azeite e deixe assar, ate eles ficarem molinhos – eu não tinha tomates frescos, usei uns secos bem macios que tinha, comprados no Farmers Market. Cozinhe os ovos, descasque e corte. Monte a salada com: atum de boa qualidade escorrido – eu temperei o atum com suco de limão e azeite aromatizado, folhas de rúcula, azeitonas pretas, os ovos cozidos, as batatas assadas e os tomates. Regue tudo com um molho vinagrete de limão e sirva.
*vinagrete de limão: suco de um limão amarelo, raspas do mesmo limão, vinagre de vinho branco, azeite, sal marinho, pimenta do reino e uma ervinha fresca – usei orégano. Misture bem com um batedor de arame e use. Guarde as sobras, se houver, na geladeira.
tempo de jasmim
Agora é a vez do jasmim. Meu quintal e meu jardim rescendem a flores! Não só pelo jasmim, mas pelas centenas de rosas, e pelas flores do limoeiro, que têm atraido um bocado de abelhas. Fica tudo lindo, se você olhar do lado de dentro da casa, através do vidro da porta. Além do incômodo das abelhas, o jasmim exala um cheiro que vai enjoando—eu pelo menos fico nauseada, e as rosas ficam cheias de pulgões, que eu combato com jatos de água quando tenho tempo. O jasmim tem vida curta, logo vai secar, cair, fazer aquela sujeirada ecológica e bye bye. As roseiras vão continuar produzindo rosas por muitos meses, com menos intensidade e menos pulgões, mas elas duram até novembro. Eu vou tirando proveito dessa beleza, fotografando e enchendo os vasinhos.
*as fotos são da porta dos fundos da minha casa de hóspedes, emoldurada pelo pé de jasmim mais bonito.
bolo de azeite
Outra receitinha que garimpei no Chow quando procurava por uma sobremesa pra Páscoa. Vi esse bolo no menu de sobremesas do Restaurante Greystone, em St. Helena e achei interessantíssimo. O bolo fica macio e fofo, por causa do azeite, mas não fica oleoso, nem com um gosto forte. É um acompanhamento perfeito para qualquer geléia, especialmente para essa super duper marmalade de limão Meyer com favas de baunilha, que comprei no Farmers Market e ainda não tinha experimentado. Duas palavras: Hmummm Hmummm!!!
Olive Oil Cake
3 ovos
1 xícara de açúcar
1 xícara de azeite extra-virgem
1 1/2 xícaras de leite integral
1/4 xícara de licor Amaretto
Raspas de uma laranja média
1 1/2 xícara de farinha de trigo
1/2 xícara de cornmeal [um fubá mais grossinho]
1/2 colher de chá de fermento em pó
1/2 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 pitada de sal Kosher [um sal mais grosso]
Açúcar de confeiteiro pra enfeitar – eu não usei
Pré-aqueça o forno em 350°F/180ºC. Unte uma forma com manteiga e farinha.
Numa vasilha grande misture bem os ovos com o açúcar, usando um batedor de arame. Adicione o azeite, o leite, o Amaretto e as raspas de laranja. Misture bem. Numa outra vasilha, misture a farinha, o cornmeal, fermento, bicarbonato e sal. Misture e jogue a mistura de ingredientes secos na mistura liquida. Bata com o batedor até incorporar. Não bata muito. Coloque a massa na forma e asse por uns 40 minutos. Deixe esfriar antes de remover da forma.
receitas de família
As conversas sempre giraram em torno do assunto comida, mas agora com o blog elas se intensificaram. E nem sou eu quem puxa o papo. As pessoas ficam entusiasmadas com o fato de eu ter esse espaço, então os convercês culinários acabam tomando uma dimensão mais ampla. Além do prazer de ver as pessoas falando mais sobre um assunto que eu adoro, ainda tenho a liberdade e o privilégio de poder fotografar mais, sob o pretexto de ter um blog. Às vezes as pessoas me olham fotografando algo inusitado e eu vou logo dizendo—I have a food blog! É uma excelente desculpa.
Então foi super natural nosso bate-papo ter estacionado na cozinha e permanecido nos assuntos culinários. Não lembro sobre o que estávamos falando, quando a sogra do Gabe sacou esse pequeno arquivo de receitas de família de dentro de um dos armários. Eu despiroco total quando vejo uma coisa dessas. Esse tesouro, minuciosamente organizado por categorias, contém receitas do lado americano e do lado norueguês da família. Receitas da avó, da tia, da madrinha. Fiquei tão entusiasmada com aquilo tudo—ou teria sido também o efeito do vinho—que me excedi. Sugeri que a Marianne escaneasse as receitas e que iniciasse um blog. Ela foi bem direta, dizendo na lata—eu não quero ter um food blog! Mas bem que essas receitas de família mereciam a luz do spotlight e serem divulgadas pelo mundo.
flores para E.
cheesecake de pecans
[com caramelo & sal]
Eu ainda tenho muito feijão pra comer no quesito sobremesas, mas tenho tentado receitas novas e até ousado um pouco nas minhas tentativas de reproduzir doces mais sofisticados. Geralmente eu sou atraida por receitas que incluem frutas. Só que desta vez, para a Páscoa, eu quis fazer algo totalmente diferente e acabei gamando nessa receita de Pecan and Salt Caramel Cheesecake que vi no Chow.
Como não tenho prática com sobremesas, nem sou muito organizada, tenho que me concentrar num esforço maior para não me atrapalhar no percurso de preparar uma receita com muitos passos. Fui às compras e acabei esquecendo de comprar as graham cracker, e tive que improvisar com uns biscoitos champagne que tinha na despensa. Esses eram meio chocolate, meio branco e por incrivel que pareça, acabaram fazendo uma massinha super leve e delicada, muito mais discreta que as feitas com os tradicionais crackers.
Fiz uma receita e meia, que rendeu um cheesecake grande e um pequeno. O menor eu levei para um jantar no sábado à noite, quando pudemos testar a gostosura dessa sobremesa. O maior levei para o almoço de Páscoa na casa da sogra do Gabe e até eu me impressionei com o tanto que esse cheesecake ficou saboroso. Quando a sobremesa foi servida, uma onda de murmuros e exclamações de elogios rasgados invadiu a sala de jantar. Até a minha nora elogiou repetidamente e se serviu de duas belas fatias – ela é extremamente sincera, sem hipocrisias ou salamaleques pra agradar, falando sempre gostei/não gostei na buxa, sem medo de ofender ou magoar. Então receber um elogio dela vale muito, pois eu sei que é realmente verdadeiro.
* comece com todos os ingredientes em temperatura ambiente – menos o creme de leite.
ingredientes:
para a massa:
1 1/4 xícaras de graham cracker [biscoito maizena/maria/ eu usei o champagne]
4 colheres de sopa (1/2 tablete) de manteiga sem sal derretida
3 colheres de sopa de açúcar
para o cheesecake:
1 quilo (4 pacotes de 250 gr) de cream cheese
1 xícara de açúcar
1 gema grande
3 ovos grandes inteiros
1 colher de chá de extrato de baunilha
para o caramelo:
1 xícara de açúcar
4 colheres de sopa (1/2 tablete) de manteiga sem sal
1/2 xícara de creme de leite fresco – heavy cream
1 xícara de nozes pecans em pedaços – eu tostei levemente
1 pitada generosa de sal marinho – eu usei a Flor de Sal
modo de fazer:
para a massa:
Pré-aqueça o forno em 350°F/180ºC. Numa vasilha de tamanho médio misture os biscoitos moídos com a manteiga derretida e o açúcar. Misture bem, até ficar uma farofa bem úmida. Pressione essa farofa no fundo de uma forma grande de torta – as de fundo removível.
para o cheesecake:
Na batedeira, bata o cream cheese com o açúcar até ficar bem leve e cremoso. Bata por bastante tempo. Vá adicionando os ovos um a um, sem parar de bater. Adicione a baunilha e bata mais um pouco. Quanto mais tempo bater, mais leve vai ficar o creme. Coloque essa mistura sobre a massa na forma e asse por uns 40 minutos, até a massa ficar bem fiirme – teste com um garfo, como se fosse um bolo. O garfo tem que sair limpo. Deixe esfriar completamente dentro da forma.
para o caramelo:
Numa panela misture o açúcar com 1 colher de sopa de água, mexa bem e leve ao fogo médio. Deixe o açúcar derreter e ferva até o liquido ficar com uma cor de ambar. Adicione a manteiga rapidamente, retire do fogo, mexa bem para incorporar e adicione o creme de leite. Mexa vigorosamente até formar um creme bem liso. Deixe esfriar em temperatura ambiente.
monte o cheesecake:
Retire o cheesecake da forma, coloque numa travessa, jogue o caramelo por cima e salpique com as pecans picadas e espalhe a pitada de sal sobre as pecans. Pode gelar e servir.
os espaçosos
Finlandeses Arabia vintage—nunca vi pratos tão pesados e tão grandes. Muito espaço para a comida. Nada de pratinho todo abarrotado, aquele amontoado de rango se misturando. Mara-valhosos!
No menu super simples—perna de carneiro cozida, purê de batata com alho, brócolis no vapor, salada de tomate e um cozido de legumes com uma farofinha de pão.
Julia comprando verduras
O nome dela é Joanne e ela é amiga antiquíssima da sogra do meu filho. Ela nos recebeu para um thanksgiving na casa dela já faz alguns anos. Naquela ocasião Joanne cozinhou um menu vintage dos anos 50, usando livros da época, que eu folheei numa linda biblioteca que ela tem na cozinha. No papo de hoje, também na cozinha, bebendo champagne e falando de comida, ela começou a contar que o marido tinha sido AMIGO da Julia Child e que tinha TODOS os livros dela. Como ele cozinhava muito e usava os livros o tempo todo, eles estavam todos manchados de vinho, molhos, e começaram a despencar. Ela então descobriu uma pessoa que fazia encadernação e mandou reformar os livros todos. Como surpresa para o marido, ela procurou a Julia Child e pediu que ela autografasse os livros com a dedicatória — “com carinho, para fulano de tal, o melhor cozinheiro do mundo!” e Julia replicou que nem pensar que ela iria escrever “o melhor cozinheiro do mundo”, e escreveu somente “com carinho, para o fulano”, afinal de contas não é qualquer um que pode ter esse título de melhor do mundo, além DELA e mais alguns privilegiados! Joanne também contou que apesar de viver no sul da Califórnia, Julia tinha uma irmã, que ainda está viva, morando em Sausalito e estava sempre aqui pelo norte, onde podia ser vista às vezes comprando legumes e verduras no supermercado local. Joanne também fofocou que Julia bebia, também em cena no seu programa de tevê, por isso ela fazia tanta trapalhice, como derrubar coisas no chão. Eu queria saber mais sobre a Julia Child, mas a conversa rumou pra outras direções, e não consegui mais retornar. Mas depois do almoço eu e a Joanne fomos xeretar a biblioteca da sogra do meu filho, e encontramos muitos exemplares dos livros da Julia, vários deles repetidos, em edições vintage e originais, publicadas nos anos 60, quando ela fazia o seu inovador programa culinário na televisão, The French Chef.