Essa primeira versão de Waterloo Bridge é a minha favorita. No dramalhão da segunda versão de 1940, tudo é muito esterilizado e embelezado. Os protagonistas Vivien Leigh e Robert Taylor são lindos, arrumadinhos e limpinhos com cara de superstar. Se alguém for um pouquinho avoado, capaz de nem perceber que a boneca de porcelana Vivien Leigh cai na vida, isto é, se prostitui, quando pensa que o engomadinho Robert Taylor passou desta para melhor.
No Waterloo Bridge de 1931 todas as cartas são colocadas com franqueza na mesa, a realidade é nua e crua, sem firulas, sem cortina de fumaça ou idéias subjetivas. A personagem de Mae Clarke é pobre, se prostitui quando não está trabalhando como corista, é amarfanhada e suja e está faminta. O jovem soldado ingênuo, Douglass Montgomery, conhece a mocinha durante um bombardeio. Eles vão para o apartamento dela, que é um muquifo. Ela não tem nem uma moeda para colocar na máquina de gás e acender o fogão e ele oferece, não só a moeda, como também de buscar comida. Na Londres bombardeada durante a Primeira Grande Guerra, o “take out” era peixe frito e batata frita embrulhados em folhas de jornal. Ele traz o rango, ela arruma a mesa, colocam o peixe e as batatas numa travessa, ela faz um chá, ele traz também um filão de pão, que corta enquanto conversa com ela. É uma cena longa, ela dividida entre o encantamento pelo soldado e a prevenção natural de quem tem uma vida dura nas ruas. Eles comem, ela mastiga de boca aberta. Ele é muito singelo e fofo e se oferece para pagar o aluguel atrasado dela e comprar um vestido que ela queria. Ela se ofende. Assim nasce um romance, que só quem assistir ao filme vai poder saber como vai terminar.
* Bette Davis também dá as caras nesse filme, numa reles ponta. Nada com um dia depois do outro, hein?
aquela torta de maçã
Todo sábado, quando vou para minhas comprinhas no Farmers Market, eu passo por uma banquinha que vende pães, sopas e vejo umas tortas de maçã. Eu não costumo parar nessa banca, cuja vendedora é uma americana que já viveu em Paris, França. Ela faz uns pães bonitos, as sopas são sempre populares nos dias frios e na época do Thanksgiving ela faz umas tortas lindas que parecem ter saido de um desenho animado. No resto do ano, as tortas que ela vende são bem simples. Mesmo assim eu sempre olho pra elas com olhos purpurinantes, porque elas me parecem tão bem feitas e tão deliciosas. Só que até hoje eu nunca tinha comprado nenhuma, porque sempre penso—ohwell, essas tortas são ridiculamente fáceis de se fazer em casa!
Mas fazer que é bom, nada. Então neste último sábado extremamente baforento, que não abria a menor possibilidade nem de pensar em assar nada em forno nenhum, não tive a desculpinha de sempre para seguir em frente e esnobar as lindas tortas. Comprei uma!
Engraçado como criamos receitas imaginárias para comidas que vemos por ai. Nessa torta eu jurava que tinha uma camada de creme entre a massa e a fruta. Que nada, é só mesmo uma massinha bem fina, com as fatias grossas de maçã por cima. Deu pra perceber que as frutas tinham sido regadas com limão e salpicadas com açúcar, pois estavam um bocado doces. Muito mais fácil de fazer do que a minha imaginação tinha fantasiado. Isso se um dia eu realmente chegar a fazer.
dip de feijão preto
O plano original era fazer o black beans hummus da Ana. Mas quando eu comecei a colocar os ingredientes no food processor, um espírito Pepe Legal baixou na minha cozinha e na sequência o hummus foi se transformando num dip com requebros de mariachi.
Feijão preto, raspinhas e suco de um limão verde [a lima], chives-cibouletes picadinhas, flocos de pimenta vermelha, sal marinho grosso e alho picadinho refogado no azeite—usei o alho e um pouquinho do azeite. O resultado ficou bem interessante. Servi o dip com umas chips feitas com feijão e azeitonas que comprei no Co-op. A marca me chamou a atenção imediatamente e a qualidade e sabor das chips realmente comprovou que a proposta do Food Should Taste Good é legítima.
gelado de cereja
Cereja combina com creme. Por isso arrisquei numa invencionice sem receita e chutei o balde usando 1/3 de creme fraiche, 2/3 de half-and-half [o creme de leite diluído] que bati no liquidificador com muitas, muitas cerejas frescas descaroçadas e mel a gosto. Não deixei bater muito, pra fruta ficar pedaçuda. Depois disso sorveteira por vinte minutos e grawngrawngrawn…
frogurt de manga e menta
Esse bafão descabelante fora de época tem me dado ganas descontroladas de ingerir sorvete. Por isso tirei a poeira da minha sorveteira e fiz esse frozen yogurt [frogurt] de manga e menta. Usei metade de iogurte natural, outra metade de kefir natural, um saquinho de manga congelada, mel a gosto e folhinhas de menta chocolate fresca, que já abunda na minha horta. Bater, jogar na sorveteira e devorar muitos copinhos. Sem brincadeira, nos devoramos mesmo, como dois trogloditas esbaforentados…
aprium
damasco & ameixa |
o que não é blogável
Preparei a mega salada, fotografando o passo-a-passo, que nem era necessário, mas achei legal mostrar o processo de montagem de um prato único e completo. Em seguida fotografei o resultado final e para isso movi algumas coisas aqui e ali. Depois olhei as duzentas fotos uma por uma, escolhi umas quinze, que cortei e preparei para publicação. Quando vi as fotos montadas, uma sensação de que aquilo iria dar em nada tomou conta de mim. Não senti firmeza, não só pelas fotos, mas pela salada em si. Isso não é blogável, afirmei. E assim abortei mais um ex-futuro post para o Chucrute com Salsicha.
Outro dia uma pessoa me perguntou por que eu tinha ido naquele evento, que era a mesma coisa sempre, todo ano. Porque tudo lá é muito blogável, respondi. No vocabulário dos blogueiros, o jargão blogável — não blogável já está ficando comum. Eu sempre gasto um minuto de análise antes de publicar algo, porque ladies & gentlemen nem tudo é realmente blogável. Como foi o caso da multi salada, que vai ficar somente na minha memória.
O Chucrute com Salsicha não é um blog partidário do radicalismo, aqui todo assunto é um bom assunto. Mas eu mantenho sempre ativa e alerta a percepção de que tem muita coisa que não é blogável, assim como outras tantas simplesmente não são fotografáveis. E a infotograbilidade é um fenômeno que interfere terrívelmente com a possível blogabilidade da situação. Portanto temos que aceitar estes fatos incontestáveis de que certas coisas não fotografam bem, como outras coisas não blogam bem. Conscientes disso, prossigamos então, avante—próximo post, por favor!
A taberna da Adelia
Em Nazaré, depois de passearmos pela linda praia, onde as criancas cataram pedras e conchinhas e o Fausto tomou um caldo, voltávamos para o estacionamento quando eu vi esse restaurante. Ele estava fechado, mas eu colei a minha cara nos vidros e fiquei simplesmente encantada com o que vi lá dentro. A oportunidade de registro era única. Micos à parte, o que importa é que fotografei o restaurante, que agora vai ficar gravado para sempre na minha memória, para no futuro, quem sabe, eu poder voltar à Narazé e jantar na Taberna da Adelia.
Pelo que me contaram da história de Nazaré, com sua população de pescadores vestidos de camisa xadrez e touca de meia de lã e as mulheres com as saias curtas—certamente para poder entrar na água e ajudar os maridos com mais destreza, a Taberna da Adelia reproduz todos esses simbolos da cidade. Com as cadeiras forradas de tecido xadrez, a foto da própria Adelia vestida a carater e todos os micro-detalhes das louças e tachos de metal. Um chame de lugar, onde eu não comi, mas isso realmente não importa.
não estou preparada pra hoje
É difícil alguém me pegar reclamando do frio. A não ser que chova muito e a umidade e falta de sol comece a mofar e cansar a beleza. Mas de maneira geral, eu encaro bem outono e inverno, nunca reclamei, nem mesmo quando morei em Alaskatoon. Mas o calor, lordhavemercy, esse me pega sempre com as calças na mão, tentando correr pra me esconder sem sucesso. Como eu abomino os dias infernais. Só não abomino mais os dias infernais daqui, do que a sauna do verão tropical. Sou uma pessoa temperada, não gosto de exageros.
Então me deu um siricotico histérico quando olhei a previsão do tempo para esta semana e vi lá na quinta-feira números inacreditáveis para esta época do ano. Hoje, 39ºC / 102ºF. O que significa isso??
Significa que preciso me vestir o mais confortável possível, com roupas que não apertem, não sufoquem, e beber muita água, andar devagar, não se abanar nem se afobar, fechar as janelas e cortinas da casa na hora do almoço—na verdade deveria ter fechado agora de manhã—evitar usar o forno e tentar usar o fogão o mínimo possível. Plantas irrigadas, gatos com suplemento extra de água, coragem pra pedalar para casa às 5 pm, quando o mercúrio do termómetro estiver batendo lá nos trinta e nove.
Essa ondaça de calor vai durar até domingo. A coisa boa é que está ventando muito. E ontem eu dormi com todas as janelas escancaradas e ouvindo uma deliciosa sinfonia de grilos, que pra mim é sempre um som nostalgico e reconfortante.
arroz de atum
A inspiração veio toda da Mariana e eu fiz exatamente como ela fez, usei até atum português! Arroz basmati, cenoura, ervilha, tomate, só omiti o alho. Ficou mesmo comida de comer na tigela, com colher. Pra comer enquanto se conversa sobre os assuntos do dia, encerrando o expediente. O bom é que deu uma quantidade pra servir umas quatro pessoas bem servidas, então tenho rango pro almoço de hoje. Hmmm!
