Outra sopa? Sim, outra sopa!
Felizmente existem sopas e saladas para alimentar pessoas preguiçosas e eternamente cansadas como eu. Tem dias—e esses dias parecem ser quase todos os dias—que só dá ânimo pra coisas fáceis, rápidas e de preferência feitas numa só panela. E na noite em que o minestrone figurou no menu, eu tive vontade de mastigar, de comer algo quente e pedaçudo. Nada mais prático então do que essa sopa super versátil, que não precisa de receita, ajuda a dar cabo de legumes e verduras acumulados e ainda fica reconfortante e deliciosa.
Nessa versão eu usei algumas fatias de um ótimo bacon, que cortei em cubinhos e fritei numa panela de ferro robusta. Depois acrescentei cebola picada, cenoura em cubinhos, abóbora em cubinhos, uma lata de feijão mulatinho cozido [pinto beans], alguns quiabos cortados em rodelas e um pequeno pimentão. Juntei um litro de caldo de cogumelos, um pouco de água e um outro pouco de vinho brano. Deixei cozinhar até engrossar, daí acrescentei um punhado de ORZO e sal a gosto. Deixei fervei, desliguei e acrescentei bastante salsinha fresca picada. Servi com fatias de pão rústico sweet batard.
Categoria: sopas
sopa de berinjela e tomate
No domingo eu empilhei várias berinjelas, pimentões e pimentas numa vasilha imensa e pedi para o Uriel tostar na churrasqueira. Essa foi a única maneira que encontrei de tentar salvar os tais legumes que acumulavam na geladeira. Quando ele trouxe a vasilha de volta cheia dos tais legumes chamuscados, despelei tudo e guardei em containers na geladeira. Por isso pude facilmente fazer uma sopa na segunda-feira, com a polpa da berinjela assada. Procurei por receitas de sopa de berinjela e a maioria que encontrei levava tomate. Os tomates ainda estão chegando na cesta orgânica, mas não têm mais nem a sombra da beleza, sabor e exuberância que exibem durante o verão, pois chegam queimados pelas temperaturas baixas das noites frias de outono. Esses tomates só servem para molho, não dão mais pra serem comidos crus. Então bati alguns tomates feiosos no liquidificador com um pouco de água e depois passei pela peneira. Voltei o purê para o copo do liquidificador e acrescentei a polpa de duas berinjelas pequenas assadas. Bati bem. Numa panela fritei uns três dentes de alho picadinhos num tantinho de azeite. Acrescentei a mistura batida de tomate e berinjela, adicionei uma pitada cuidadosa de pimenta chipotle—a jalapeño seca e defumada. Salguei a gosto. Deixei ferver, desliguei o fogo e servi logo em seguida.
multitasking
[i’m only human]
Cheguei em casa com o pacote do Adobe Creative Suite e queria pular da tarefa de fazer o jantar e ir direto para a tarefa de fazer a instalação dos programas no meu computador. Eu me dei de presente de aniversário um iMac novo, já que o velho estava quase aposentado e fazia uns três anos que eu praticamente só usava o laptop. Mas o computador novo veio praticamente pelado de programas úteis e os que eu tenho em versões mais antigas não rodam bem no sistema novo. Então aproveitei o meu desconto educacional e comprei na livraria da universidade esse pacotão por um preço bem razoável.
Mas jantar era preciso, então me apressei. No interim chegou revistas, DVD e livros, tinha uns tapetes de molho na máquina de lavar, umas toalhas de banho e lençóis esperando um segundo ciclo na máquina de secar e tive que enfrentar a desorganização básica de sempre na cozinha. Mas dessa vez me surpreendi, pois nunca estive tão afinada numa coreografia de fazer o jantar coordenado com outras atividades domésticas. Fiz uma sopa de lentilha vermelha, que era a que eu tinha na despensa.
Numa panela refoguei alho picadinho num fio de azeite. Adicionei a lentilha lavada e maçãzinhas lady cortadas em pequenos cubinhos. Refoguei, refoguei, juntei água suficiente para cobrir tudo, cozinhei, cozinhei até a lentilha quase derreter. Usei o mixer de mão para transformar tudo num creme espesso, adicionei sal a gosto e umas pitadas bem cautelosas de curry. Deixei ferver e desliguei o fogo.
Corri abrir dois peitos de frango caipira com a faca, deixando-os bem largos e finos. Fiz a mesma receita do frango recheado com espinafre e queijo brie, só que dessa vez usei folhas frescas de espinafre. Coloquei os dois peitos recheados para assar em forno médio e subi correndo para fazer o que tinha que fazer no meu novo iMac.
Demorou a beça pra instalar o Suite e durante a espera tive tempo de arrumar o meu semi-abandonado e hiper-bagunçado escritório, que agora está frequentável novamente.
Foi uma noite proveitosa. A sopa ficou uma delicia, o frango ficou super saboroso e macio, os programas foram instalados com sucesso, e ainda consegui dobrar e guardar as toalhas e lençóis lavados, folhear os livros novos e terminar de ver um filme!
sopa de feijão branco
Uma sopa muito simples e muito boa, feita com feijões brancos do tipo Great Northern que ficaram de molho durante uma noite e depois foram cozidos na panela terracota junto com dentes de alho e folhas de sálvia em fogo baixo, até ficarem bem macios. Depois é só bater tudo no liquidificador, passar por uma peneira, adicionar mais água se necessário e salgar a gosto. Na hora de servir, temperar com bastante azeite bacanudo, do melhor que você tiver na sua despensa.
sopa de abóbora e manjericão
Relendo depois de vinte anos O Melhor da Festa da Sonia Hirsch, rememorei algumas das suas boas idéias. Uma delas, misturar abóbora com manjericão, que segundo ela é uma das combinações mais perfumadas da história da culinária. Não posso discordar. Usei uma abóbora japonesa, a kabocha, que já estava previamente assada. Eu tenho o costume de assar coisas de véspera ou quando estou usando o forno ou a churrasqueira pra fazer outras coisas. Essa abóbora tem uma casca grossa que não é fácil, precisa ter muito muque para descascá-la e como muque é o que eu não tenho, apenas cortei ao meio, removi as sementes, embrulhei no papel alumínio e assei. Na hora de fazer a sopa, removi toda a polpa com uma colher, coloquei no liquidificador com bastante folhas de manjericão fresco e um tanto de água—ia usar caldo de legumes, mas resolvi que não deveria interferir no sabor da abóbora e do manjericão. Bati bem a mistura. Numa panela refoguei cubinhos micros de cebola no azeite, acrescentei o creme de abóbora, temperei com sal e pimenta branca moída, deixei levantar fervura e desliguei o fogo. Servi a sopa com pedaços de queijo fresco e um fio de azeite super-extra-especial.
sopa de fungo de milho
Eu nunca tinha colocado nenhuma atenção nesse fungo até ler sobre ele no Come-se da Neide. Foi uma surpresa, porque já tinha passado o olho por uns tumores acinzentados quando atualizei páginas das pragas do milho no meu trabalho, mas nunca imaginei que aquela coisa de aparência monstruosa fosse algo comestível. Temos que admitir, sem provocar engasgos, que muita coisa que se come por aí não tem aparência apetitosa apesar de muitas vezes ser. E esse fungo, conhecido aqui nos EUA como smut e no México como huitlacoche, é uma dessas iguarias com cara de monstro de Halloween.
Outro dia chegaram algumas espigas de milho muito feias de fim de estação na cesta orgânica. Quando desfolhei uma delas, encontrei duas ocorrências do fungo. Guardei na geladeira, pensando em fazer alguma coisa com eles. Coincidentemente fazendo compras no Co-op vi os huitlacoche pra vender e comprei um punhadinho. Nem pisquei pra decidir fazer a receita da sopa que a Neide publicou. Fiz no olhômetro e usei mais huitlacoche que batata, adicionei uma pimenta jalapeño e substituí o caldo galinha pelo de legumes. Decorei somente com salsinha na falta da epazote. Esqueci de salpicar com queijo, mas devorei um pratão. Me lembrou um pouco a sopa de feijão, com uma cor acinzentada bem escura. Um pouco assustadora, concordo, mas muito saborosa.
sopa de batatas com huitlacoche
2 colheres sopa de azeite de oliva
1 cebola roxa picada
40 g de huitlacoche picado
6 batatas médias descascadas e fatiadas
1 litro de caldo de frango caseiro quente
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes cortada
2 colheres (sopa) de salsa com epazote* picado
[*erva-de-santa-maria, mastruz/ mentruz-de-arbusto]
Sal a gosto
Aqueça o azeite de oliva numa panela grande, fogo alto, junte a cebola e refogue até amolecer. Acrescente o huitlacoche e as batatas e mexa por mais um minuto. Coloque o caldo de frango, a pimenta dedo-de-moça e salgue a gosto. Com a panela tampada e fogo baixo, cozinhe por cerca de 30 minutos ou até a batata estar bem macia. Se preferir mais suave, tire a pimenta. Se não, passe tudo pelo mixer ou liquidificador [neste caso, espere antes amornar um pouco]. Volte ao fogo, deixe ferver. Se estiver muito densa, junte mais água fervente para deixar a sopa com consistência cremosa e fluida. Junte as rodelinhas de pimenta e as ervas e sirva. Se quiser, espalhe sobre a sopa queijo fresco ralado.
sopa de tomate com páprica defumada
Toda semana tem chegado um pacote de tomatillos na cesta orgânica, além dos tomatões e tomatinhos. Minha cozinha está cintilante com tanto tomate. Mas os tomatillos são um pouco estorvo pra mim, pois não sei muito bem o que fazer com eles, além da famigerada salsa. Fui então apenas jogando os recém-chegados junto com os veteranos numa vasilha, que foi acumulando dezenas de tomatillos verdes e amarelos, todos ainda com sua casquinha fininha. Quando finalmente decidi usá-los da maneira menos criativa, fazendo a tal salsa, me deparei com o resultado desagradável de uma estocagem inconsequente. Os tomatillos mais velhos apodreceram no fundo da vasilha e o fedor pútrido que se desprendeu deles empesteou a cozinha de uma maneira absurda. Nunca, jamais, em tempo algum imaginei que tomatillos podres pudessem feder tanto. Era um cheiro tão nauseabundo que não pude suportar nem olhar para os tomatillos restantres e joguei tudo, muitos, todos no lixo.
Com o final trágico do capítulo dos tomatillos, voltei-me para confrontar a continuação da saga dos tomates, que têm vida mais curta que a dos tomatillos e ao contrário dos seus primos cascudos, não podem de maneira alguma ser desperdiçados.
Foram três dias comendo queijo, azeitonas e pão tostado com fatias de tomate temperadas com azeite, então resolvi que naquela noite sopa teríamos. Seria porém uma sopa fria. Gostei muito da idéia desta sopa, temperada somente com a páprica defumada espanhola. Ficou um prato bem interessante. Eu mudei o modo de fazer da receita e servi com cubos de pão torrado. Segue a receita original e logo abaixo as minhas modificações.
sopa de tomate com páprica defumada
[serve duas pessoas]
1 colher de sopa de azeite
2 dentes de alho em fatias finérrimas
5 tomates orgânicos bem maduros
3/4 colher de chá de sal grosso
1/2 colher de chá de páprica defumada espanhola
1/2 xícara de leite
Refogue o alho no azeite. Adicione os tomates cortados em cubos, o sal e a páprica. Cozinhe por uns 5 minutos mexendo de vez em quando. Coloque tudo no liquidificador com cuidado e bata bem. Passe tudo por uma peneira. Adicione o leite e sirva com pão ou sanduíche de queijo grelhado.
* eu dei uma adaptada bem dramática—refoguei o alho no azeite. Bati os tomates no liquidificador, passei pela peneira e juntei ao alho refogado. Juntei o sal e a páprica, deixei cozinhar uns 5 minutos, juntei o leite e deixei ferver. Desliguei o fogo e deixei esfriar. Servi a sopa morna, quase fria, com cubos de pão integral tostados com azeite numa frigideira.
cream of roasted jalapeños
Todo ano eu recebo dezenas de pimentas jalapenõ na minha cesta orgânica. Algumas vezes chegam também cayenne. Eu nunca sei o que fazer com elas, por medo ou falta de idéias mesmo. Mas este ano, depois de ter provado a sopa de chili no Duarte’s Tavern de Pescadero, concluí que assim não poderia ficar e decidi que este ano as pimentas vão entrar na roda e dançar um samba—ou rumba, ou conga, ou salsa.
As primeiras jalapeños que chegaram já foram pra churrasqueira, onde foram tostadas, embrulhadas em folhas de papel toalha e quando esfriaram foram despeladas e abertas, as sementes removidas. Nem usei naquele dia, guardei na geladeira e fui buscar uma receita para fazer uma sopa com elas. Achei essa, que era exatamente o que eu procurava. Fiz e ficou bem interessante, não excepcional como a sopa do Duarte’s, mas pelo menos fiquei feliz por ter usado minhas pimentas.
cream of roasted jalapeño soup
12 jalapeños, assadas, removido peles e sementes
1 cebola pequena picada
1 xícara de creme de leite fresco
2 colheres de sopa de manteiga
2 colheres de sopa de farinha de trigo
4 xícaras de caldo de galinha * usei de legumes
Sal a gosto
Sour cream e tortillas chips para servir * opcional
Coloque as jalapenõs, a cebola e o creme de leite no processador e bata até formar um creme. Numa panela derreta a manteiga e junte a farinha, misturando bem até ficar uma mistura bem lisa. Devagar junte o creme de pimenta, mexendo constantemente para evitar que queime. Adicione o caldo de galinha ou legumes e o sal e continue mexendo até a sopa engrossar. Reduza o fogo e deixe cozinhar por 5 minutos, mexendo sempre. Remova do fogo e sirva quente ou deixe esfriar e sirva morna ou fria, com tortillas e sour cream se quiser.
sopa de milho [thai]
Fiz essa sopa numa porção individual, com sobra para o dia seguinte. Quis replicar mais ou menos a sopa tailandesa que eu adoro. Resolvi usar milho fresco. Fiz uma versão simplificada, que ficou exatamente como eu queria. Uma das coisas que eu gosto na cozinha tailandesa é que eles usam tomate em muitas receitas.
Grãos raspados de uma espiga de milho – mais ou menos 1 xícara
6 tomatinhos orgânicos e maduros
1/4 de uma cebola picada
Um pedacinho de gengibre fresco
Sal a gosto
1 folha de louro
Pimenta vermelha – usei a chipotle em pó e a cayenne em flocos
1/2 xícara de caldo de legumes – usei de cogumelos
1/2 xícara de leite de coco
Suco e raspas de um limão – usei o amarelo
Muitas folhas de manjericão fresco
Refogue a cebola e o gengibre ralado fininho no azeite. Quando a cebola estiver molinha, acrescente o milho. Deixe refogar uns minutos. Junte os tomates cortados em quatro. Coloque o caldo de legume, a folha de louro e deixe ferver. Acrescente a pimenta, o leite de coco, as raspas e suco de limão, salgue a gosto, deixe cozinhar um minuto, desligue o fogo e acrescente então as folhas frescas de manjericão. Sirva.
potage parmentier
Realmente, as batatas eram gigantes—gigantes! Não conseguimos comer tudo e eu guardei as sobras para pensar no que fazer com elas no dia seguinte. Era quase certeza que seria uma sopa. Foi só olhar pra geladeira e ver outro gigante, desta vez um imenso alho-poró, pra decidir que eu faria uma potage parmentier, ou em bom francês uma sopa de batata com alho-poró. Fiz tudo muito simples, porque tem dias que simplesmente não dá pra ficar inventando trelelês e rococós.
Refoguei o alho-poró gigante cortado em pedacinhos em três colheres de manteiga. Acrescentei a batata que já tinha sido assada no dia anterior, também picada em pedacinhos. Deu mais ou menos 1 1/2 xícara de alho-poró e 1 xícara de batata. Acrescentei um litro de caldo de legumes, mais uma xícara de água, salguei a gosto e deixei a mistura ferver. Bati tudo muito bem com o mixer de mão para formar um creme. Deixei encorpar e desliguei o fogo. Na hora de servir, polvilhei com salsinha fresca picada.
Adeus batata! Adeus alho-poró! Adeus fome! Até o Roux ficou animado com essa sopa e quando o Uriel levantou da cadeira pra ir pegar uma fatia de pão, questão de segundos, o bichonildo danado deu um super salto de felino ninja e enfiou o nariz na sopa que estava dando sopa. Jogamos aquela porção fora e o Uriel se serviu de outra, sem contaminação de nariz de gato enxerido.