sexta no mexicano

Eu já comentei que o fato de Davis ser uma cidade universitária faz com que abundem restaurantes medíocres, que servem comida barata e farta para a estudantada. Nós temos uma linha divisória entre os restaurantes frequentáveis e os forgetaboutit. Tem um aqui atrás da minha casa que serve saladas com carne e que é o paraíso do pessoal com pouca grana, e a comida é bem gostosa. Vamos lá, quando a fila não está virando a esquina. Mas tem outros que simplesmente não dá. Ontem tive certeza de que estou ficando deveras chatonilda com escolhas de comida. Eu morta de fome, ele com uma pressa danada de voltar ao trabalho e terminar de escrever um paper com deadline chegando, fui sugerir jantarmos num mexicano honesto que fica perto de um dos cinemas. Não é um lugar ruim, já fui lá outras vezes, eles têm as melhores e mais variadas salsas, dá pra ver que toda a família trabalha lá, não é um fast-food qualquer. Mas peloamordeus que porções são aquelas: pratos gigantes, com mil ingredientes, uma mistureba amedrontadora. Pedimos duas prawns quesadillas, porque elas sempre são menores, duas tortillas recheadas com queijo e alguma outra coisa, mais molhinhos. Essa veio num pratão, tortillas verdes gigantescas com queijo e camarões, mais um molho de tomate picado, e guacamole, e sour cream, e feijão preto, tudo meio misturado, você não conseguia nem separar nada. E mais um tantão de nachos. Cruzcredo! Saí de lá me sentindo empanturrada, pensando que não quero mais comer nesses lugares que parecem que intencionam alimentar boiadas, não gente! Ficamos olhando o pessoal no restaurante, que estava lotado e com filas. Tudo é bem simples, com reproduções do Diego Rivera e ampliações de cenas de filmes mexicanos nas paredes. Muitos estudantes e famílias. O Uriel deu risada e me cochichou – ali na mesa do lado está um ex-aluno meu, que agora trabalha numa empresa de engenharia, e lá na fila está um meu colega professor, que tem sala ao lado da minha. Bom, menos mal. Seria pior se o lugar estivesse cheio só de estudantes, e nós lá, devorando uma quesadilla do tamanho de uma pizza XLL!

as pessoas nos restaurantes

Fomos jantar no grego que faz a salada mais honesta da cidade. Chegamos cedo e enquanto caminhávamos no estacionamento vimos duas senhoras entrando no restaurante. Uma delas era bem velhinha, ou a menos parecia, toda curvadinha. Meu marido brincou dizendo, olha a velhinha já passou na nossa frente, vamos correr! Nesse restaurante a gente sempre espera um pouquinho pra sentar, especialmente nos finais de semana. Até que não esperamos nada para sentar, mas esperamos muito para alguém finalmente pegar nosso pedido e a comida chegar. Com a volta das aulas, os restaurantes voltam a encher e ontem o grego estava particularmente lotado! Ao nosso lado uma mesa com um pessoal falando extremamente alto, tão alto que estava nos incomodando. E discutiam política. Troço mais chato, discutir num tom tão elevado um assunto que gera tanta controvérsia. Do outro lado uma família enorme com vários adolescentes comendo muito. Virava e mexia ouvíamos uma comoçao, um woooowww geral, viámos um clarão de chamas e sentíamos um cheiro bom de queijo derretido – era um prato de queijo flambado com uma bebida álcoolica que da próxima vez que formos lá eu vou pedir. O restaurante estava aconchegante, pedi um vinho super gostoso, a salada que eu adoro, a comida estava muito boa. Quando as mesas que nos rodeavam finalmente se esvaziaram, eu pude ver as duas senhoras que chegaram na nossa frente. Fiquei observando as duas quietinhas comendo, a mais velhinha ainda vestindo seu casaco de capuz, toda curvadinha e mirradinha pediu pra garçonete colocar o resto do seu prato numa caixinha, a mais nova depois olhava a conta, examinava tirando e colocando os óculos bem séria, enquanto a outra falava umas coisinhas. Fiquei hipnotizada pela visão das duas e de repente meus olhos começaram a encher de lágrimas, e tive que pegar o guardanapo para secá-las, disfaçadamente para ninguém perceber que eu estava chorando – e chorando sei lá por que. Estou sempre pagando esses micos em público e por motivos geralmente inexplicáveis.

American Market Café

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Outro dia voltaremos para almoçar ou jantar no Julia’s Kitchen, pois essa será a visita principal. Mas ontem comemos no American Market Café ao lado do restaurante, onde se pode pedir pratos mais simples preparados no Julia’s Kitchen, sanduiches, sopas ou fazer uma comprinha básica de queijos, pães, quitutes e preparar um picnic para se devorar sentado na grama dos jardins do Copia. Nós escolhemos pratos do restaurante e sentamos nas mesinhas do jardim. Eu quis tentar o mini hamburguer, que era mini mesmo! Três mordidas – gone! Veio num mini pãozinho de batata, acompanhado por fritas com limão e tomilho e um molho chipotle. A salada era de espinafre, três tipos de vagens e amêndoas. Eu gostei, apesar de não ser super fã das vagens. O Uriel sempre prevenildo pediu um fettucini com legumes. Tudo vem da horta e pomar orgânicos mantido lá mesmo no Copia—o edible gardens.

quem não arrisca não petisca

Cansada e esgotada, fui à Sacramento depois do trabalho para uma shopping therapy. Nada exagerado, mas eu queria ir à uma loja especifica comprar umas roupitchas. Eu vou rarissimamente à malls, porque não temos nenhum aqui em Davis. Tenho que ir até Sacramento e não gosto muito do ambiente dos malls. Faço minhas compras em outlets, lojas de fábrica, pontas de estoque e lojinhas da cidade. Sou super thrifty com roupas, porque enjôo delas facinho, além de ser uma desastrada e manchar tudo, rasgar tudo. E gosto de ter MUITA roupa, então não pago preço regular. Mas ontem fui no de downtown Sacramento, que é o mais próximo pra mim. Ele é um típico mall californiano, todo aberto, até que bonito. Mas por que, perguntam-se vocês, eu estaria escrevendo sobre isso? Outra vez um post off topic? Nãnanina! É que eu preciso dizer o quanto eu ABOMINO comida de shopping. Eu tenho nojo, asco, revolta. Não consigo comer aquelas porcarias fast-food, simplesmente. Então camelei onde queria, comprei o que queria e dirigi correndo, faminta, de volta para Davis.

Atrás da minha casa tem uma pequena área de comércio, com algumas lojas, alguns restaurantes com mesinhas na área externa, um imenso gramado onde as crianças correm, os adultos se esparramam deitados, e um jardim de plantas típicas da região, que faz parte do Arboretum da UC Davis, com mesinhas, cadeiras e bancos para o pessoal se aconchegar. Nem preciso fazer a comparação desse shoppingzinho vizinho com um mall qualquer em outro lugar… Mil vezes aqui! Então voltei decidida que iria jantar – sozinha mesmo – num dos restaurantes dali. É só atravessar a rua, super tranquilo.

Fui ao Fuzio um franchise que abunda aqui na Califórnia. Uma mistura de cozinha italiana com oriental. É esquisito mesmo… O ambiente é modernex, o serviço é simpático e atencioso, mas a comida deixa um tanto a desejar. Sentei no bar, porque assim não me sinto tão deslocada por estar sozinha. Pedi um ravioli recheado com tomate seco e queijo, com molho de cogumelos grelhados, que não estava totalmente ruim, só a massa que estava um pouquinho dura. E bebi uma taça de Chardonnay [sempre californianos] que supostamente teria um leve sabor de melão. Não estava mau, mas também não impressionou. Se o Fuzio fosse um bom restaurante, com um menu mais variado, eu seria uma frequentadora mais assídua nos meus dias solitários de final de verão. Mas nem tudo pode ser perfeito….

uma boa e honesta salada

Eu gosto de ir à um restaurante grego aqui em Davis, o Symposium quase que somente por causa das saladas que eles servem. Não é nada especial, não tem ingredientes sofisticados, são saladas super simples, mas com um tempero honesto, que eu valorizo muito.

Pra mim o que estraga as saladas servidas na maioria dos restaurantes aqui nos EUA é o molho. Eu DETESTO molho pronto, molho de vidro, desses cheios de coisas dentro e preservativos. Sou adepta da simples e eficiente mistura de azeite, vinagre e sal. Gosto de usar vinagres diferentes, ervas, detalhes interessantes para deixar o molho mais caprichado. Uso muito mostarda em pó ou preparada nos meus molhos. Ou iogurte. Ou sour cream. Mas eu gosto de misturar, não gosto de usar molhos preparados.

Então você vai a um restaurante mediano e pede uma salada. Ela vem encharcada, inundada, afogada num molho pronto. Eles listam pra você – italian, ranch, balsamic, honey mustard, thousand island, vinagrete… Muito raro um desses molhos enriquecerem a salada. Normalmente eles destroem tudo… Eu aprendi a pedir sem molho ou com o molho separado, assim uso só um pouquinho.

Mas no Symposium, não tenho problemas com salada. Geralmente peço uma com alface picadinha, batata cozida, ovos cozidos, tomates, azeitonas kalamata, alcaparras, cebolinha verde. E o molho – só pode ser vinagre de vinho, azeite, sal e pimenta. Tudo na medida certa – 1/3 de vinagre ou suco de limão, ou os dois misturados e 2/3 de azeite.

Meus molhos são os mais variados. Mas aprendi a fazer um molho coringa com uma amiga suíça – uma perfeccionista, que também me ensinou um truque que eu uso até hoje para levar saladas em potluck parties: colocar os ingredientes para o molho no fundo de uma saladeira. Bater bem com o batedor manual. Colocar os ingredientes da salada por cima do molho. Não misturar. Cobrir com filme plástico e guardar. Na hora de servir, misturar bem o molho com a salada. É uma técnica perfeita, especialmente se você quiser levar uma salada de folhas, que certamente vai murchar se for misturada com o molho com antecedência. Isso evita que você tenha que levar o molho numa vasilha separada e que faça sujeirada na hora de misturar.

Este é o molho clássico para saladas da Annemarie:
Misture bem:
Vinagre de maçã
Azeite de oliva extra-virgem
sal/pimenta moída na hora
mostarda preparada
ervas frescas ou desidratadas [* eu uso muito o dill e as chives]
Esse molho dura muitos dias guardado na geladeira.

Aioli Bodega Española

Fomos celebrar a minha estabilidade profissional num pequeno restaurante espanhol, que tomou o lugar do simpático Café California, onde estivemos algumas vezes saboreando a simples e saborosa California cuisine. Eu tinha ouvido que não se deveria atrever a chegar no Aioli Bodega Española sem uma reserva, já que o restaurante estava atraindo pencas de gente. Fizemos reserva, mas não achamos que fosse imprescindível, pois o lugar não estava lotado.
A reforma transformou o ensolarado café numa escura bodega. Ficou legal, um ambiente aconchegante. Taças de vinho com velinhas penduradas em arames de cobre, faziam a iluminação. Toalhas de saco de batata rústico cobertas por papel marrom nas mesas. No menu uma extensa lista de tapas frios e quentes. Muitos pratos com peixes e frutos do mar, e é claro, a sempre presente paella – regular e vegetariana, pois estamos em solo californiano.
Pedi uma taça de um vinho português, coisa raríssima por aqui. Fomos de salada de endivas com queijo e amendoas tostadas, e bistecas de carneiro, acompanhadas de espinafre refogado e batatas com um molho vermelho de paprica picante. Na sobremesa, pedimos um creme de laranja muito parecido com um crème brûlée. Um jantar bem agradável, e ainda ouvimos um “muchas gracias” na despedida. Ambientação perfeita, quase pensei que iríamos sair para alguma ruela medieval na Espanha, e não na moderninha calçada de downtown de Davis.

Tommaso’s

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Pra compensar o nosso almoço meia-boca com visão panorâmica, e outros quiprocós chatos que se passaram durante o dia, sugeri que fossemos jantar no Tommaso’s em North Beach. Este é sem dúvida e nosso restaurante italiano favorito em San Francisco. Encontramos ele por acaso, num dia que procurávamos um lugar para jantar na cidade. Sei lá como fomos parar naquela quase esquina da Broadway com a Kearny Street, que é uma região meio suspeita, cheia de strip clubs e lojas de filmes x-rated. O Tommaso’s é apenas uma portinha verde, que só abre para o jantar. O que nos atraiu foi a placa dizendo que ali estava o primeiro forno a lenha da cidade, ainda funcionando. Forno a lenha – a palavra mágica! Nossa primeira experiência no restaurante foi meio bizzara, não por culpa do lugar, mas sim de um casal sem noção. O Tommaso’s tem os booths aconchegantes dos lados e uma fileira única de mesas no centro. As mesas são juntas, então não há muita privacidade. Mas quando se vai em dois, um casal, é bem raro de se sentar num booth. Já ficamos na longa mesa inúmeras vezes, mas até isso faz a atmosfera do Tommaso’s interessante.
Eu que reclamo o tempo todo da péssima qualidade da comida italiana aqui na Califórnia, calo totalmente a minha boca quando vou ao Tommaso’s, e só abro pra comer e dizer hmmmmmmmmmm! Tudo lá é bom. Tudo simples, ainda no mesmo estilo que se fazia na década de 30, quando o restaurante abriu. Eu adoro o meat antipasto, com três tipos de frios cortados finíssimo e uma cumbuca de alcachofras temperadas. O pão é bom, a pizza é ótima, as pastas são feitas lá. Amo o manicotti com molho marinara. E a berinjela a parmegiana. Vinho, água, salada caprese e de alface, nunca pedimos sobremesa, porque não cabe. Espresso com uma lasquinha de laranja e a conta!
O único problema do Tommaso’s é que está sempre lotado e tem-se sempre que esperar um tanto pra sentar. Enquanto esperamos bebemos vinho e lemos as muitas reviews pregadas nas paredes, algumas bem antigas. Com elas ficamos sabendo que o Tommaso que deu o nome ao restaurante não era um italiano, mas o cozinheiro chinês chamado Tommy. Também ficamos sabendo que na década de 70 o cineasta Francis Coppola costumava fechar o restaurante, convidar os amigos e ir pra cozinha, fazer ele mesmo as pizzas. Eu adoro o ambiente anos 30 do Tommaso’s, que pelo jeito só foi ganhando camadas de tinta, mas nunca foi reformado ou adaptado. A clientela que se adapta ao lugar pequeno, porque por aquela comida maravilhosa, se faz qualquer sacrifício!

The Beach Chalet

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A vista para a Ocean Beach era bonita no The Beach Chalet em San Francisco, mas a comida deixou bastante a desejar. O restaurante, lotado de famïliazinhas para o dia dos pais, era muito barulhento e tinha preços acima da qualidade do menu. Comemos um sanduiche de black forest ham com queijo gruyere, molho de mustard-honey, no pão acme dark rye, acompanhado de french fries, uma coleslaw murcha e uma metade de um pickles ressecado. Nunca mais voltaremos lá, nem mesmo pela vista.

Kathmandu Kitchen

Mal humorada e cansada, nada me apetecia. Os restaurantes do centro da cidade lotados na sexta-feira à noite, todo mundo sentado nas mesinhas das calçadas, nos patios dos restaurantes legais. Eu azeda, olhos ardendo. Decidimos ir à um tailandês inédito, onde nunca tínhamos ido antes – são muitos deles aqui em Davis. Mas estava acontecendo um show na praça exatamente em frente ao restaurante, uma muvuca total, então desistimos de ir lá. Acabamos por acaso no Kathmandu Kitchen, que é um restaurante nepalês. Já comi bem e mal lá. Acho que o truque é não pedir carne. Eles têm muitos pratos com carneiro, que é onde eu geralmente me dou mal. Decidi pedir um prato vegetariano, o vegan thali. Foi uma boa decisão.
Como pedimos o thali [dinner], eles retiraram os pratos da mesa. A refeição veio numa bandeja enorme de metal, tudo arrumadinho de forma assimétrica:
Uma porção generosa de arroz basmati alojada no meio;
Duas samosas, super crocantes rodeando o arroz;
Cinco momos, bolinhos recheados de legumes e cozidos no vapor que lembram um pouco os dumplings chineses;
Um naan [pão frito] bem largo, macio e saboroso, deitado em cima do arroz;
Três cumbuquinhas com molhos: um vermelho muito apimentado, outro adocicado e um chutney;
Um potinho com chana masala – um refogado de grão-de-bico que eu adoro;
Um potinho com um curry de ervilha.
Na bandeja do Uriel veio arroz e naan, curry de legumes, sopa de lentilha amarela, um molho de iogurte e palak paneer, um creme de espinafre com queijo paneer.
Ele bebeu um mango lassi e eu uma Himalayan Blue, uma cerveja indiana bem light, mas que vem numa garrafona de 650 ml e que eu simplesmente não consegui terminar. Foi uma refeição leve e farta, que infelizmente não ajudou a melhorar o meu humor, e me deixou um pouco mais cansada. Mas mesmo assim foi bom!