Eu detesto escrever pra esculhambar, mas muitas vezes é impossível evitar. E a Susan pediu pra levar chibatadas. Desculpa, Susan, mas você merece todas as palavras duras e todo o escracho, sinto muito.
Chegamos em Sutter Creek já passado do horário do almoço. Caminhamos pela rua principal até o information center, onde pegamos folhetos e conversamos com uma senhora que nos deu algumas dicas de visitas às minas, que era o passeio que o Uriel estava doido pra fazer. Sutter Creek e Jackson são as cidades principais naquela área do condado de Amador, que é famoso pela intensa corrida do ouro que trouxe gente à beça para a Califórnia em 1849.
Olhamos o panfleto dos restaurantes e enquanto eu fui encaroçar numa lojinha de antiguidades, o Uriel ficou analisando as possibilidades. Finalmente decidimos que deveríamos tentar um lugar chamado Susan’s Place, que servia Mediterranean/California cuisine. Ficamos animados. O restaurante fica num beco bem charmoso, numa construção antiga que nos pareceu ser um pequeno hotel. A entrada, apesar de emperequetada demais pro meu gosto, não nos assustou. Muitos comensais almoçavam no páteo, mas fomos levados para uma das partes internas do restaurante. Sentamos e fomos muito bem atendidos por uma garçonete gentil que me trouxe diversos samples de vinho até eu decidir por um Zinfandel da região. O condado do Amador tem muitas vinícolas e produz vinho de excelente qualidade. Eu quis beber o vinho da região. O Zinfandel não decepcionou. Mas o resto…..
Quando olhamos o cardápio percebemos que o rango californiano mediterrâneo era bem fraquinho. Pedimos juntos uma entrada de bruschettas, eu uma saladona e o Uriel um prato com frango. Dai começamos a observar a decoração do lugar. Sintetizando, tudo ali era OVER THE TOP. Muita luzinha, muitas plantas e flores falsas, um guarda-sol em cada mesa na parte interna, uma cafonice total com cortininha, abajour e livros antigos—realmente, um restaurante-biblioteca com livros de matemática de 1942 era tudo o que queríamos da vida. Havia também muitos quadros cafonildos nas paredes pintadas de roxo-lilás. As portas eram também pintadas de roxo e deu logo pra perceber que a Susan tinha uma preferência exagerada por essa cor, que abundava por todo o restaurante, entremeada pelo verde e o dourado, numa mistura extremamente cansativa. Pra completar, a cereja no topo do bolo, o fundo musical tocando no restaurante era música de elevador cantada, tipo Berry Manilow. Eu já estava quase chorando de arrependimento e antecipando o pior quando a comida chegou…
A bruschetta veio quente e com uma camada de pesto por cima da torrada. Comemos meio assim, achando que aquilo era muita invencionice e já começamos a ficar preocupados com o que viria dali pra frente. O prato do Uriel era uma coisa indecífravel. Eu perguntei umas dez vezes—mas você não pediu frango? Porque o que víamos ali era uma carne moída muito estranha por cima de um arroz, uma visão tenebrosa. A cara do Uriel demonstrava um horrível descontentamento. E a minha salada era a coisa mais buffet do Fresh Choice que eu já vi na vida! Tudo sem graça e coroado com muitas azeitonas DE LATA! Azeitona de lata é o fundo do poço, o fim da picada da baixa qualidade e total ausência de sabor. Fiquei revoltada, só conseguia balbuciar inconformada—AZEITONA DE LATA, AZEITONA DE LATA, AZEITONA DE LATA! E o molho da salada era ardido de tanto alho, daquele que deixa um gosto ruim na boca por 48 horas. Tudo horrípilesco, grotesco, monstruoso, pra combinar com a decoração. Só salvou-se o vinho e a delicadeza da garçonete, que no final me levou até a adega do restaurante para eu ver a garrafa do vinho que havia bebido. Lá estava, debruçada no balcão do bar, a Susan, uma loiraça de meia idade com um suéter beige de cashmere. Au revoir, Susan! Só queremos desesperadamente te esquecer.