bem acompanhada

Meu marido estava voltando de uma viagem de trabalho ao sul da Califórnia e eu fui camelar em downtown pois precisava comprar um presente pra uma amiga. Lá pelas tantas, me deu aquela tonteira de fome. Eu não gosto de comer sozinha em lugares públicos. É uma bobeira e eu sempre acabo comendo sozinha de qualquer maneira, mas faço minhas tentativas para evitar. Entrei num lugar onde poderia rapidamente pegar uma salada com picanha grelhada para levar para casa. Mas o lugar estava lotado, com uma filona pra pegar o pedido, ah, não tive paciência. Atravessei a rua e fui ao Seasons, um restaurante refinadinho que tem uma comida interessante. Entrei e disse pra hostess – sou só eu! Ela ofereceu o balcão do bar, que era o que eu planejava. Nada de mesa, esperando solitariamente pela comida.

Como nunca tinha comido sozinha sentada no bar de um restaurante, me surpreendi. O serviço foi impecável, rápido e gentilíssimo. Comi exatamente como se estivesse sentada na mesa, só que com mais discrição e atenção. O bartender cuidou de mim como se eu fosse uma princesa. Não deixou o meu copo vazio nem um minuto e me desejou bom apetite, logo depois veio perguntar como estava a comida, não deixou eu me sentir uma coitada sentada num bar de um restaurante cheio de gente numa sexta-feira à noite.

Comi um Gnocchi fortíssimo, com pancetta, asparagus, mushrooms, parmesan cream e truffle oil, acompanhado de pão italiano quentinho e água Pellegrino.

minha pequena roça

Todo ano, mais ou menos nessa época, eu pego na enxada. Neste ano um pouco mais tarde, por causa da chuvarada incessante. Mas tenho feito minha horta anualmente, embora perdendo um pouco do entusiasmo a cada ano que passa, mas faço assim mesmo. Todo ano eu também digo que vou fazer a horta no inverno e falho miseravelmente. Com chuva e frio não dá. Eu fico meses sem por as caras no quintal, e quando ponho está aquele matagal, que eu que tenho que lidar.

Luvas, instrumentos, um pouco de disposição, e coloco tudo nos eixos – bem, mais ou menos nos eixos, em alguns dias. Já fiz avaliação do que sobrou do outro ano, ou melhor, do que sobreviveu. Ainda tenho garlic chives [cebolinha fina], muito tomilho, muito orégano e um mundaréu de hortelã chocolate. A terra das caixas está bem compactada e tem um pouco de mato, que tem que ser retirado manualmente – afê. Tenho que revirar a terra, pra arejar e só depois posso plantar. Essa terra da minha horta é muito boa, cheia de minhocas, não ponho nem um pingo de fertilizante, nada. Tudo que cresce ali é cem por cento orgânico. Eu plantava muita coisa, acompanhando os inevitáveis tomates – vários tipos de pimentão, variedades de berinjela japonesa e branca, pepino-limão, melão, ervilhas. Já plantei até batatas – no pun intended. Mas neste ano estou decidida a plantar apenas tomates.

Tomates crescem e frutificam como praga aqui nesta região onde u vivo, por causa dos verões extremamente quentes e secos. Os tomates adoram. Não é a toa que essa área é a maior produtora de tomates do país. Eu planto os pézinhos, de vários típos – heirlooms, orgânicos, verdes, amarelos, vermelhos, bicolores, minúsculos, médios, gigantes. Todos eles vingam e todos os pés se alastram e produzem muitas frutas. Eu gosto porque não preciso fazer NADA! Tirar um pouco de mato de vez em quando, irrigar [temos um sistema de sprinklers], vigiar as pragas, colher e comer!

O que me anima a pegar na enxada todo ano é a visão dos tomates na minha cozinha. Por eles, eu viro até jardineira!

quanta comida boa neste mundão de meudeus!

Eu adoro os blogs portugueses. Descobri hoje esse maravilhoso Fogão do Kuka.

“São nostálgicas memórias de infância,minha avó peneirando a farinha de trigo,saída de um dos dois moinhos da aldeia,separava assim,a alva e pura farinha,(com a qual confeccionava em forno de lenha,o delicioso e precioso pão semanal)do farelo,que amassado com figos e água,complementava a alimentação do bácoro que engordava num pequeno pocilgo,ao fundo do quintal.Por alturas do mês da “Festa”(assim se chama ao Natal,por estas bandas)era o porquito,protagonista de um acontecimento para ele irrepetivel,que era,o”espectáculo”da sua própria morte.Depois de esquartejado e feito em pedaços,eram os nacos de carne com osso,e as morcelas grossas,salgados em grandes e vermelhuscos potes de barro,onde permaneciam durante largos meses.Chouriços e morcelas depois de enfiados em canas da ribeira,encimavam o lar onde crepitavam os retorcidos troncos de enegrecidas estevas,sob tisnadas panelas de ferro.Assim,os enchidos recebiam o fumo que as conservava durante muito tempo,por vezes até à próxima matança.Mas havia aquilo que fazia as minhas delicias gastronómicas.Os “piques”que noutras paragens,chamar-se-ão:”rojões”.Permaneciam escondidos na banha,feita das gorduras derretidas do “pórque”(é assim que se pronuncia no Algarve,exactamente como em inglês),que os conservava durante largos meses.Hoje não se conserva durante tanto tempo,penso que devido á alimentação dos animais.”

give me the chocolate and nobody gets hurt

Eu gosto, é claro, mas não sou viciada, nem louca por chocolate. Também não sou uma formiga, sempre atrás do açúcar. Mas todo mundo tem seus dias, quando acontecem coisas inesperadas, que nos fazem agir de maneira pouco comum. Ontem foi um desses dias pra mim.

Fui ao dentista para a minha limpeza semestral. Eu tenho uma história com dentista. Não é uma história feliz, apesar de eu ter uma dentista fenomenal, com uma equipe fenomenal. O problema é que eu nasci assim, com essa propensão para ter problemas dentários. Never mind, isso não interessa. O que interessa é que eu fico toda tensa e estressada quando visito minha dentista. Ontem não foi diferente, tive até uma dor de cabeça.

Quando voltei pro trabalho o inusitado aconteceu. Me deu um desejo incontrolável de comer chocolate. Podia ser qualquer um, bad American chocolate, cheio de caramelo e peanut butter, eu encarava qualquer coisa. Catei 3 mangos e corri pra maquininha de tranqueiras mais próxima. Peguei uma barra de Crunch [dark, edição especial!], um pacote de M&Ms de amendoim e um saco de sour gummy bears!! Eu ADORO tudo o que é sour, isso é uma fraqueza que não posso negar. Mas M&M e Crunch foi novidade. Nem preciso dizer que devorei tudo enlouquecidamente e depois bebi água pra digerir a culpa.

Acontece…. Hoje já estou mais tranquila e voltei pro chá branco, frutas desidratadas, iogurt e barrinhas de cereal!

quem quer bacalhau?

A Páscoa é um feriado muito mal comemorado aqui, onde não se destacam as celebrações religiosas. Falei de bacalhau no meu trabalho tantas vezes—hoje é dia de bacalhau, hoje é dia de bacalhau, que até me dei um beliscão. Até parece… Eu não como bacalhau na Sexta-feira Santa há quase duas décadas. Mas por que ainda falo nisso? Porque passei uma boa parte da minha vida ouvindo—bacalhau, bacalhau, bacalhau, e comendo o peixe, é claro. Aqui tem bacalhau pra vender, mas eu raramente me animo a comprar. No Co-op ou no Nugget se encontra uma pequeníssima caixinha de madeira, com bacalhau canadense suficiente para duas pessoas. Mas como a Sexta-feira Santa nem é feriado nem nada, quem se importa.

O diretor do programa para o qual eu trabalho falou, quase como que me dando uma rasteira, que os portugueses simplesmente dizimaram com os bacalhaus da costa de New Foundland séculos atrás, por isso agora a opção virou a Noruega. Eu não sei de nada, só sei que comer bacalhau na Sexta-feira Santa é parte da minha cultura, como a daqueles índios lá de Washington é de comer baleia.

Como o dia do bacalhau foi um dia normal de trabalho por aqui, almoçei um “já-te-vi” de espagueti que preparei na noite anterior, com essas lingüiças finas recheadas que estão na moda. À noite fomos à um restaurante tailandês, onde pedimos o trivial—sopa vegetariana com leite de coco, won-ton fritos recheados de camarão e porco, salada e pepino, arroz e camarões com cogumelos exóticos ao molho de gengibre.

Macarrão com lingüiça
Cozinhe uma porção de espagueti em bastante água com sal. Cozinhe a lingüiça na água – eu usei uma recheada de queijo asiago e cogumelos. Corte em rodelas e refogue no azeite e alho. Acrescente bastante tomate seco picado e aspargos cortados ao meio. Refogue tudo por um minutinho, coloque sal e pimenta do reino à gosto. Misture o macarrão cozido e sirva com bastante queijo parmesão fresco, ralado na hora.

You can get anything you want at Alice’s Restaurant

O vinho é francês, o queijo é irlandês, o chá é inglês, os biscoitos holandeses, o azeite espanhol, as azeitonas são gregas, o arroz é indiano, o macarrão italiano, o peixe norueguês, as castanhas portuguesas, o chocolate é belga, a cerveja é mexicana, o molho de salada é libanês, os snacks japoneses, o palmito costa riquenho, leite de coco tailandês. Estou na América.

Full of baloney

Baloney poderia ser comparado com uma mortadela muito da vagaba. É cortado em fatias grossas, tem uma cor estranha, uma textura estranha, um cheiro e um gosto, hmm, estranhos. Mas é um frio muito popular, especialmente entre os membros da classe trabalhadora. E as crianças também gostam. Eu comi uma vez de curiosa que sou. Eca, bleargh! Deve ter tanto corante, anabolizante, preservativos… nem quero saber!

Mas a palavra Baloney é também parte de uma expressão que eu ouvia muito mais no Canadá, do que ouço aqui. “Full of Baloney”, quer dizer cheio de porcaria, cheio de coisa que não presta, ou não vale nada, não acrescenta nada, que não diz nada, como deve ser o valor nutritivo desse frio usado como recheio de sanduíche.

um engenheiro na cozinha

Meu marido não sabe fritar um ovo. É uma situação frustrante, e irritante às vezes. Eu sinto muito a falta de domínio dele na cozinha quando fico doente. Já houve episódios memoráveis, que até hoje são contados em minha defesa. Como aquela vez no Canadá, quando peguei uma desgraceira de um stomach flu e fiquei totalmente dismilingüida na cama, coisa pesada mesmo, incapaz de me levantar e ele cheio de trabalho no PhD dele, saiu e me deixou lá tremendo e suando, com remédios na cabeceira da cama e UMA LATA DE SOPA CAMPBELL’S com o ABRIDOR DE LATA ao lado, na bancada da cozinha. Hoje ele não ousa mais fazer isso, porque pegou SUPER mal…. Ele perdeu muitos pontos comigo, minha família e amigos. Mas mesmo ele se esforçando não tem jeito. Caí de cama no sábado e à noite ele comprou uma pizza congelada de caixa e deixou torrar. Não dava nem pra cortar com a faca, comi uma fatia como se fosse uma bolacha e voltei pra cama. No domingo, hora do almoço, um frio da cacilda, eu doente e desejando uma sopa quente e o que ele traz? Uma caixa com SALADA. Comi a salada tremendo e praguejando. Carvalho! Será o benê que a pessoa não se toca que doente quer conforto, quentura? Quando ele ficou doente duas semanas atrás, eu fiz uma sopa substanciosa. Mas no meu caso, tô ferrada.

Quem sabe se eu sugerir o cooking for engineers… Sei lá. Acho que quando o homem sai assim, com certeza deve ser culpa da mãe que não ensinou requisitos super básicos para a sobrevivência. Como saber cozinhar, por exemplo.

da boca pra fora

* post velho reciclado

Pra quem ainda não sabe, comida é um dos meus assuntos favoritos, logo depois de cinema, é claro! Mas eu falo muito mais do que cozinho ou como. Falar é mesmo o meu ponto fraco!

Eu tenho duas amigas com quem converso muito e sempre sobre comida. Trocamos receitas, dissecamos ingredientes. Uma delas é da área de ciência dos alimentos, então eu aprendo muito com ela. Outro dia nós passamos umas duas horas caminhando pelos corredores do Corti Brothers em Sacramento, olhando ingredientes e comentando sobre eles. No Corti Brothers tem tanta variedade de feijões e lentilhas, além das massas, das latarias, dos vinhos…. Oh, é bom demais! Outra coisa que eu amo é ler livros sobre comida, de receita ou de história. Nem uso muito os meus livros pra seguir receita passo-a-passo, mas eles são uma fonte inesgotável de inspiração. Minha fascinação por esse assunto fica bem clara quando você entra na minha cozinha e vê logo ali no canto a minha biblioteca culinária . Eu posso nem cozinhar muito bem, mas estou incrivelmente bem informada!

Queijo Duro com Vinho & Pão

Li na revista…

“Camponeses suíços criaram o fondue séculos atrás e transformaram numa refeição o queijo que ficou duro, misturado com o vinho de mesa. Já o fondue de chocolate foi uma invenção americana, que ficou muito popular nos anos sessenta.”

Essa é a prova de que nem todo prato servido hoje em restaurante caro ou que a plebe pensa que é chique teve suas origem em sofisticados salões das cortês reais. Muita coisa era comida de camponês, de gente pobre, pra aproveitar restos, usar os ingredientes da estação ou da ocasião – que nem sempre era de fartura.

Eu quase não faço fondue porque o Uriel detesta, mas de vez em quando no inverno até que me dá vontade. Nunca me esqueço de um fondue que fiz uma vez pra um casal de amigos, quando aconteceu um forrobodó inexplicável na hora de sentarmos, acho que alguém esbarrou na fonduzeira sem querer e ficamos olhando petrificados a toalha de mesa [novinha!!] PEGAR FOGO!! Eu acordei do transe letárgico de incredulidade à tempo de correr pra cozinha, encher uma vasilha com água e CHUÁÁÁ! Não consegui salvar a toalha, que foi pro lixo.

Eu acho fondue uma comida meio cafonona, apesar de ser inegavelmente gostosa. Acho que é porque aqui, onde ele virou moda nos anos sessenta, vemos e revemos ad nauseam os resquícios dessa moda em centenas de fonduzeiras cor de abóbora e verde oliva à venda nas garage sales e thrift stores. Parece que todo mundo quer se livrar dessas aberrações, mas ninguém consegue, então elas permanecem firmes e onipresentes na sua feiura e insistência. Eu já tive uma dessas quando éramos estudantes e pobres no reino canadense. Mas hoje tenho uma normal – preta, com cumbuquinhas de cerâmica. Mesmo assim continuo achando o business do fondue uma coisa um pouco over the top, quando todo mundo come demais, se lambuza, queima os beiços e põe fogo na toalha.

Eu tinha uma receita de salada que eu servia com o fondue, pra contrabalançar as zil calorias do queijo e todo aquele pão. Não tenho mais a receita, mas acho que consigo lembrar…..

Salada Alice
Um pé de Alface cortado em pedaços
Um bulbo de erva doce picadinho em fatias
Uma laranja em gomos cortados em quatro
Cenoura ralada em fitas
Fatias finas de maçã
Misture tudo e tempere com o seguinte molho:
Sal/pimenta do reino
Azeite
Suco de limão/suco de laranja
semente de erva doce
iogurte natural
Bater bem e temperar a salada.