as vantagens de ser popular

[no Farmers Market de Woodland]
moça dos ovos:
baseado nos ingredientes que vejo você comprar aqui, você deve cozinhar muitíssimo bem e sua comida deve ser uma delicia! sorte da sua família, que deve ser bem paparicada.
moça das berinjelas:
leva todas essas berinjelas bebês, porque sei que você gosta dessas pequenininhas!
moça dos tomates:
fiz gazpacho na semana passada, inspirada por você.
moço dos tomates, abobrinhas, pepinos:
leva uns tomates extras, de cortesia.
moça da geléia de uva cabernet:
—me paga outro dia, eu confio em você.
moça dos figos:
te guardei umas cestinhas dos figos que você gosta.

♥ ovos de FelizBertas ♥

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No farmers market de Woodland, depois de uma semana de calorão:
posso ter uma duzia de ovos?
não tenho ovos hoje. as meninas resolveram não botar nada essa semana.
é o calorão!

[ quando faz muito calor as meninas descansam. tive que entrar na lista de espera pra conseguir comprar essa dúzia, que estou usando com muita parcimônia. ]

o doce é o figo

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Esses lindos figos já aparecerem algumas vezes por aqui. Não sei que variedade é essa, mas posso afirmar que é a mais doce, suculenta e deliciosa. Eu compro de um pequeno produtor que tem uma banquinha bem pequena no Farmers Market de Woodland. No ano passado era a filha que vinha vender os produtos aos sábados [e guardava figos pra mim]. Este ano é o pai, que mal fala inglês, mas está sempre sorridente. Eles são uma familia mexicana da cidade de Esparto, a uma meia hora daqui. Quando eu vejo esses figos, que normalmente aparecem na segunda rodada da estação, em agosto, eu compro todos! E devoro assim puro, porque eles não precisam de nada. O doce já é o próprio figo.

o doce que vem no figo

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Parti figo ao meio e a polpa era o doce mais doce dos doces. Neste verão posso dizer que me esbaldei de comer figos. Comi de todas as variedades que achei pra comprar. Só não tive ânimo de me enfiar debaixo daquela árvore de ninguém onde todo ano me aventuro colhendo uns figos diferentes, verde claro por fora e um marrom pálido por dentro. Esses super doces comprei da mocinha que vem de Esparto vender os produtos mais bonitos no Farmers Market de Woodland. Ela já me conhece de outros carnavais e este ano teve até a audácia de guardar figos pra mim, na certeza de que eu compraria. E eu comprei. Voltei lá depois de comer os figos com doce dentro e mostrei essa foto para ela. Disse—seus figos vêm com doce de figo dentro. Ela riu com uma cara de bocó, porque muitos dos produtores do nosso pequeno Farmers Market parecem ser pegos de surpresa pelas coisas que eu falo pra eles. Sem mencionar a complexidade inovadora do discurso que vem sempre acompanhado de material ilustrativo. Saco o telefone da bolsa, mostro as fotos e falo coisas elogiosas, como se eu estivesse falando dos filhos deles, dizendo como são bonitos, inteligentes e talentosos. Eles sorriem agradecidos ou ficam com cara de abobalhados, com certeza pensando de onde saiu essa mulher que vem toda semana aqui com esse papo. Outro dia fui mostrar umas fotos dos figos pra um casal de quem eu sempre compro frutas e com quem sempre converso um bocado. Eles se entreolharam estupefatos. Num outro dia mostrei a foto das peras e das maçãs. E ainda no outro a das berinjelas rajadas. Nesse dia o moço não se aguentou e me disse entusiasmadamente—você deveria estar aqui deste lado junto com a gente, ajudando a vender nossos produtos. Ele falou isso num impulso, mas não parecia estar brincando.

sim, eu sou uma locavore!

Algumas coisas estão bem diferentes na minha vida depois da minha mudança de casa e cidade. E tudo que eu achava que iria acontecer, não aconteceu da maneira como eu previa. Eu tinha certeza absoluta de que iria fazer muita coisa em Davis, além de trabalhar no campus durante a semana. Achava que iria continuar com as aulas de pilates naquele studio hiponga modernete frequentado pelas cheer leaders, continuar visitando a thrift store do SPCA regularmente, e nadando na mesma piscina de sempre com os Masters e que não perderia nenhum Farmers Market aos sábados. Well….

Mudei e comecei a olhar tudo em volta de mim. Achei uma piscina pra nadar perto de casa, comecei a visitar a lojinha de antiguidades da Main Street, achei um outro lugar pra fazer aula de pilates e praticamente não coloco mais o nariz em Davis nos finais de semana. No primeiro sábado em Woodland fui checar o pequeno Farmers Market da cidade. Foi um grande choque, porque o FM de Woodland é uma ervilha se comparado com o de Davis. São poucas bancas, não tem o peixeiro, nem a florista, nem o japonês dos cogumelos, nem a carne grass-fed, nem o frango caipira. São praticamente pequenos fazendeiros da região fazendo um esforço fora do comum para manter o mercado funcionando. Uma vez, conversando com a administradora, ouvi ela reclamar amargamente dos habitantes de Woodland que não tem o hábito de frequentar esse tipo de feira. O que eu faço com esse povo, ela me perguntou desgostosa. Respondi que ela precisava fazer umas promoções, divulgar mais, que tudo é uma questão de informação. Mas sei que não é nada fácil.

Nos últimos meses fui freguesa assídua do FM de Woodland. Frequentei as versões das manhãs de sábado e as da terça-feira à tarde. Fiz amizade com a maioria dos produtores, com quem bati ótimos papos, fiquei sabendo onde eles plantam, o que plantam, como plantam, por que plantam. Todo sábado eu voltava pra casa com a cesta lotada de delícias fresquinhas e com um sorriso na cara, porque as conversas eram as mais bacanas e variadas. Isso me deixava imensamente feliz, pela impagável oportunidade de socializar com a pessoa que tinha plantado, colhido e agora estava me vendendo o produto que iria virar minha refeição. Me encantei!

Quando fiquei sabendo que o mercado de Woodland era sazonal e iria fechar durante o outono e inverno, me desmanchei de tristeza. Peguei cartão de endereço com todos os fazendeiros, perguntei se eles vendiam direto da fazenda, se tinham frutas durante o inverno, me preveni. No primeiro sábado depois do encerramento das atividades do FM de Woodland, eu e o Uriel fomos ao de Davis. Fiz as compras no mercado lotado, muita gente comprando, outros só aproveitando a manhã e consumindo as comidas étnicas que são vendidas lá, muita gente fotografando as lindas abóboras. O Farmers Market de Davis está em atividade há 30 anos. Tem uma estrutura apropriada, construída pela prefeitura e que permite que tudo funcione mesmo durante os dias frios e chuvosos. É um mercado bacanérrimo, cheio de variedades e novidades, tem tudo o que você precisa e um pouco mais, a localização é excelente bem ao lado de um parque enorme, é realmente tudo o que falam dele, merece a fama de ser um dos melhores Farmers Markets do país.

Mas eu agora quero um pouco mais—ou melhor, um pouco menos. Porque adorei a oportunidade de chegar mais perto dos fazendeiros e das suas fazendas, mais perto das colheitas, observar as atividades no background de todo esse sistema que termina quando estou cortando um tomate para fazer uma salada na minha cozinha. Vejo os campos, os pomares e as atividades agrícolas diárias, de acordo com a estação. Me encantei com os campos de girassóis, com a colheita dos tomates e agora estou de olho num pomar de nozes com o chão todo salpicado de frutos, que estão prontos para serem colhidos, depois que as cascas racham e se abrem.

Decidi que vou tentar o máximo continuar consumindo os produtos dos fazendeiros de Woodland, vou mandar e-mail, combinar de passar pelas fazendas quando der. Uma das fazendas, que além de tudo é certificada orgânica, fica bem no meu caminho. Todo dia eu passo em frente e vejo um galpão onde a família arruma os produtos que serão vendidos durante o dia. Nao fica ninguém lá, apenas as abóboras, os melões e os tomates, uma lista de preços rabiscados numa lousa, uma balança para pesar os produtos e uma caixinha para a gente colocar o dinheiro. E eu gosto muito disso.

[*o que é um locavore?]

uma quitanda em Sousas

Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde
Quitanda Entre Verde

No meu Farmers Market nem todos os produtores são certificados orgânicos, mas os que não são declaram não usar nenhum tipo de spray ou pesticidas e passam na triagem que permite que eles vendam seus produtos para o público. Confiança é a palavra chave.

Eu entendi que no Brasil a certificação é um troço um pouco mais complexo, que ainda não é oferecida formalmente por um orgão governamental. Isso faz da confiança algo muito mais importante. Você saber de onde vem os produtos que consome. Confiar no produtor, na fazenda, no dono da horta e dos animais.

Essa quitandinha de beira de estrada com a horta e galinhas no fundo exemplificou tudo o que eu tento explicar sobre consumo e confiança. Indo da casa da minha irmã em Sousas para a casa da minha cunhada em Joaquim Egídio, paramos nessa quitandinha no meio do caminho para nos abastecer de frutas e legumes. Quando vi a horta lá atrás, despiroquei. Me explicaram que nem tudo que é vendido lá vem da horta, alguns produtos chegam de outros cantos e nem todos são orgânicos, mas é tudo de lugares de confiança. Conversei um pouquinho com a Isabel, a mocinha que atende o público na vendinha. E depois pedi licença para entrar na horta, onde bati um papinho com a Marlene, a moça que cuida dos legumes, verduras e das galinhas. Ela me falou que não usa nada quimico, que utiliza apenas esterco, uma outra substância para equilibrar [não me lembro se ela falou cal ou cálcio], casca de ovos das galinhas e deixa o mato crescer entre os canteiros, assim os insetos não atacam as verduras. Me encantei com a simplicidade de tudo aquilo. A Marlene também me contou que da horta também saem as bananas que elas vendem na quintanda. Cheguei até o galinheiro e provoquei um alvoroço nas penosas, que provalvelmente acharam que eu iria jogar lá uns milhos pra elas. Também acabei alvoroçando os cachorros e concluí que estava causando muito forfé, resolvi me retirar. Foi o tempo da minha cunhada fazer as comprinhas. Ela e a Isabel se conhecem, trocam sempre um dedo de prosa. Ela me contou que lá também você pode encomendar uma galinha pra comer. Eles esperam o tempo natural de amadurecimento do bicho e só então matam. E uma vez por ano rola o sacrificio de um porquinho—que se você quiser para o Natal precisa encomendar com antecedência, porque é tudo feito seguindo o ciclo natural das coisas. Como tudo realmente deveria ser.

[ se Maomé não vai até
a montanha… ]

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Desde 2007, toda quarta-feira durante primavera e outono, uma feira acontece no centro do campus da Universidade da Califórnia em Davis. É uma versão em tamanho reduzido do Farmers Market da cidade, com objetivo de servir a população de estudantes, acadêmicos e funcionários. Em especial aos estudantes, que tendem muito mais para o lado da dieta recheada de porcarias. O restaurante da universidade já mantém há muitas décadas um menu simples e nutritivo, todo feito do zero e usando produtos orgânicos vindos da fazenda do campus. Mas só isso não bastava. O East Quad Farmers Market educa e facilita o acesso aos ingredientes frescos, sazonais e orgânicos. E o pessoal compra. Toda quarta feira eu vejo gente carregando saquinhos com frutas. O mercado é bem pequeno, mas oferece uma ótima variedade de produtos. No último dei um pulo lá com meu chefe. Ele comprou uvas e eu um tanto de tomates heirloom, que viraram salada.