bonitezas [efêmeras] da estação

prima_chega_3S.jpg
prima_chega_1S.jpg prima_chega_2S.jpg
prima_chega_4S.jpg

Essas florezinhas roxinhas são as primeiras que aparecem no meu quintal—resplandecentes e faceiras—quando a primavera aponta na esquina de março. Não sei que flor é essa, mas a planta é trepadeira, como o jasmim que vai florescer um pouco mais tarde. Essas não têm cheiro, mas como o jasmim têm uma existência breve. Logo todas as florzinhas caem e ficam só as folhas verdes, que produzem uma sombra muito boa numa pequena varanda onde fazemos algumas refeições nos dias de temperatura agradável.

esse vai-e-vem que nunca enjoa

Todo ano eu faço uma caminhada pelo Arboretum para fotografar a beleza do outono. Todo ano eu publico essas fotos do outono nos meus blogs. Quem me acompanha há um certo tempo já notou, e eu fico pensando em dúvida se alguém ainda quer ver fotos de folhas? Folhas de outono de novo? Mas não parece que foi ontem que publiquei fotos idênticas? Será o benedito que todo ano vou fazer sempre igual?
Com toda sinceridade, me agrada muito esses ciclos que regulam as nossas vidas, mesmo que isso signifique que vou escrever sobre os mesmos assuntos e registrar as mesmas imagens, entra ano, sai ano. Quantas fotos de tomates, flores, pêssegos, abóboras e folhas de outono já publiquei nesses últimos anos? Quantos verões, quantos outonos, invernos e primaveras? Algumas viagens, novos amigos, mudanças de hábitos ou de rotina. Felizmente está tudo documentado, para se lembrar e relembrar. Como se estivessemos folheando um álbum de fotos de família, com as mesmas caras habituais, um pouco mais velhas, com cortes de cabelo e roupas diferentes, alguns acréscimos, outras subtrações, mas todos sempre presentes nas mesmas celebrações, os aniversários, as viagens de férias, os natais.
Por aqui todo ano começa a esfriar e as folhas das árvores ficam amarelas, vermelhas, douradas e caem, coloco meias nos pés, acendemos a lareira, um gato quase queima os bigodes, alguém assa um peru que dividimos com a família no dia de agradecer, ficamos com dor no lombo varrendo e empilhando folhas no quintal, começa a chover, tiro fotos dos enfeites de Natal que ajeito pela casa de véspera, publico um cartão e desejo tudo de bom para todos, depois de tantas celebrações fico aliviada quando o ano se inicia, como nove sementes de romã, reclamo que não pára de chover, reciclo, recrio, me animo com a chegada da primavera, encho o saco da humanidade com as minhas fotos de flores e, principalmente, das rosas. O jasmim abre e o cheiro das suas flores perfumadas impregna o ar, capino a horta, planto tomates, as pestes chegam devagarzinho. O Gabe faz aniversário, faço o meu próprio breakfast no dia das mães, reclamo que está ficando muito quente, ando descalça, arranco mais mato da horta, detono algumas pestes e colho tomates, o Uriel viaja, viaja, viaja e eu reclamo mais um pouco de estar sozinha e do calor, as aulas e o ano recomeçam na UC Davis, eu aguardo ansiosamente uma brisa de outono, faço compras, combino uma social com os amigos, vou dançar o Blues, reflito sobre o envelhecimento quando meu aniversário aponta na esquina, comemoro mais um ano de vida, e mais um ano de blogagens, compro doces pras crianças, começa a esfriar, troco as roupas leves pelas quentes no armário, coloco meias nos pés, fecho as janelas, vejo as folhas amarelas entupindo as calhas da casa, lembro que preciso ir fotografar o outono no Arboretum, vou caminhar e encontro os limões cravo, publico as fotos das folhas, mais uma vez, mais um ano, mais um outono.

tomate heirloom

heirloom_tomatos_1S.jpg
Os tomates heirloom são uma categoria especial de tomates e ganham essa denominação por serem tomates que têm uma tradição. Os heirloom são frutos naturais e especiais pois nunca foram manipulados pelo homem. Eles têm polinação natural, através do vento, dos pássaros ou da replantagem das suas próprias sementes. Diferentes dos hibridos, que foram engendrados para serem uniformes, terem o mesmo aspecto e, sobretudo, serem mais resistentes às pestes, os heirloom são espíritos livres, tomates hippies dançando descalços ao som dos tambores sobre a luz da lua. Eles nascem, crescem sem compromisso e não têm nenhuma preocupação estética de agradar, mas mesmo assim eles viram tomates lindos, justamente por não serem tomates massificados, um igual ao outro. Eles podem ficar enormes e às vezes se apresentar em formatos deveras interessantes. Os heirloom são muito comuns por aqui, eu mesma planto deles na minha horta. Os tomates gigantes que as ratazanas devoraram num verão no passado eram heirloom. Eu muitas vezes compro os tomates heirloom só por causa das suas cores e formas. Mas eles ainda têm outra vantagem sobre os tomates hibridos: são doces, suculentos, deliciosos, imbatíveis em sabor e textura. Alguns heirloom que já abafaram na passarela do Chucrute foram os rajados e os pitangas e os zebra.

benditos frutos

As árvores estão assim, como uma mulher grávida de quadrigêmeos no último mês de gestação, curvadas pelo peso dos delicados frutos. O pé de nectarina já estava amparado com dois suportes de madeira há algum tempo. Ela é uma árvore mais madura, com um tronco mais robusto. O pessegueiro não. É uma arvorezinha mirrada, plantada num barril de plástico, mesmo assim está carregada de frutos e ontem o Uriel teve que colocar um suporte, porque queremos deixar as frutas amadurecendo lá por mais uns dias e não confiamos que o tronquinho magrelo fosse aguentar. No processo de amparar os galhinhos, dois pêssegos se soltaram. O Uriel comeu um e eu trouxe o outro cortado em fatias para comer durante a manhã no trabalho. Que maravilha de fruta doce e delicada! Acho que já podemos colher todos eles neste final de semana e dar um descanso para a árvorezinha!
»Imagens do lindo processo de transformação que todo ano nos encanta com FLORES , FLORES e mais FLORES e depois os FRUTOS, que ADOÇAM o nosso verão.

o primeiro da estação

o_primeiro_08_1S.jpg

Minha surpresa nesta semana foi encontrar muitos tomates já bem grandes, mas ainda verdes, nos pés de tomate que plantei este ano na minha horta. Surpresa maior foi ver vários tomates cerejas vermelhinhos pendurados num galho. O negócio é que eu não plantei nenhum pé de tomate cereja este ano, pois já vem muitos deles na cesta orgânica e eu sempre acabo com um surplus enorme. Esses nasceram espontaneamente, fruto das sementinhas dos tomatinhos que cairam na terra no final do último verão. Então tá, pelo jeito não tenho escolha, né? Vou ter tomates cerejas abundando na horta e na cozinha mais uma vez!