cozinhas – Zaida Siqueira

As fotos de cozinhas da fotógrafa Zaida Siqueira são literalmente uma viagem. O website tem uma navegação não muito amigável—clique em fotos e depois na primeira foto cortada da esquerda. Clique então nos quadradinhos para ver as fotos grandes. Clique na foto grande para voltar ao menu de quadradinhos. Veja todas as fotos, porque elas são maravilhosas. Eu fiquei hipnotizada pela beleza e familiaridade de muitas daquelas cenas.

at the greenmarket

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Descobri abismada que tenho muita coisa em comum com a Alice Waters. Fazemos nossas compras no farmers market da mesma maneira metódica. Eu chego e caminho olhando todas as bancas, esquerda e direita, vou até o final do mercado, analisando o que está na estação, traçando uma estratégia, escolhendo mentalmente o que vou comprar, o que me agrada mais, o que me chama atenção, tentando pensar no que fazer com os ingredientes. Também como a Alice, eu sempre converso com os fazendeiros, comento e pergunto o nome das coisas, e sempre encontro amigos pelo mercado. No caso dela são fãs. Vamos comprando os ingredientes mais frescos da estação ou aquele um que está dando o seu último ar da graça, o último suspiro. Hoje fiz a minha caminhada pelo mercado, observando a chegada das inúmeras variedades de pêras e das romãs, pensando feliz que tenho esse hábito em comum com o mito da culinária californiana. Eu e Alice Waters, quem poderia imaginar uma coisa dessas?

fatos históricos que adoramos aprender

O restaurante Chez Panisse em Berkeley, Califórnia, serviu o seu primeiro jantar inaugural em 28 de agosto de 1971. O menu único teve pâté en croûte como entrada, canard aux olives e uma salada como prato principal, uma torta de ameixas de sobremesa e café. O preço, também fixo, era de $3.95. Alice Waters ainda estava martelando um tapete na escada quando os primeiros comensais começaram a chegar. Eram na maioria amigos e ela os recepcionou naquele dia usando um vestido antigo de renda beige. Um enorme vaso com flores decorava a entrada. Cinco garçons passaram a noite trombando entre si, enquanto tentavam servir os clientes jantando no pequeno salão, com poucas mesas arranjadas com toalhas xadrez de vermelho e branco, louça e talheres de segunda-mão descombinados. Os vinhos servidos naquela noite foram Mondavi Fumé Blanc, Mondavi Gamay e um Sauternes, Château Suduiraut, vendido por copo. A caótica cozinha foi comandada pela chef Victoria Kroyer. Antes de ser contratada por Alice, Victoria fazia pós-graduação em filosofia na UC Berkeley e nunca tinha trabalhado num restaurante. Sua única experiencia com culinária era os jantares que ela preparava na sua própria cozinha. No final da noite, 120 refeições foram servidas, nem todas foram pagas. Clientes aguardavam na calçada, quando Alice avisou—desculpem, mas não temos mais comida, voltem amanhã. Faltou talheres e no dia seguinte Alice percorreu todos os flea markets da cidade, buscando por mais talheres antigos e o número de garçons baixou para três, o que tornou o serviço mais eficiente. O nome Chez Panisse foi uma homenagem ao personagem Honoré Panisse da trilogia Marius, Fanny, and César do diretor francês Marcel Pagnol, de quem Alice era fanzoca.

Got Guts?

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Toda vez que eu ia ao Co-op ou ao Nugget comprar meu leitinho orgânico, via na prateleira as garrafinhas do raw milk–leite cru. O Gabriel já tinha me contado que um casal amigo dele só comprava esse leite, mas eu não fiquei muito interessada, pois estava bem claro que se eu comprasse esse leite, teria que fervê-lo. Mas quando eu li a reportagem do New York Times [Should This Milk Be Legal? infelizmente já fechada], comentando o frenesi do leite cru aqui nos EUA, fiquei com as minhocas de experimentá-lo. A reportagem do jornal explica que esse leite, não pausterizado, é proibido de ser vendido em quase todos os estados do país. A Califórnia é uma das exceções. Mas o pessoal dos estados onde a venda desse leite é proíbida, fazem das tripas coraçào para conseguir o leite clandestinamente, direto de alguma fazenda, sem comprar, mas fazendo trocas, para não infringir as leis. O debate é até onde vale a pena o risco de contrair salmonela, e.coli ou listeria, ficar doente e morrer ou ficar com gravíssimas sequelas, só pelo prazer de beber um leite mais saboroso, que contém umas enzimas a mais que o leite pausterizado.
Quando eu cheguei do supermercado com a garrafa de raw milk na cesta, o Uriel despirocou. Entrou correndo na internet e achou um pdf do USDA [Departamento de Agrícultura dos EUA] e me mandou ler o artigo com título em letras garrafais: The Dangers of Raw Milk. Eu até que tinha pensado em dar um golinho no leite, só pra ver se era assim tão mais saboroso. Mas com todo aquele escândalo perpetrado pelo meu marido, amarelei e FERVI o leite.

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O leite que eu fervi, com uma nata grossona boiando na superfície, me lembrou a minha infância, quando o leiteiro entregava o leite em casa, vindo numa carroça e colocando o leite do galão de metal na jarra. Todo santo dia se fervia o leite e guardava-se as natas para depois fazer biscoitinho com ela. Eu não guardei a nata, pois não sei se vou me tornar freguesa desse leite que precisa ferver.

Comida em movimento

Vi uma cena que achei que nunca veria: um rapaz pedalando uma bicicleta pelo campus e almoçando ao mesmo tempo—prato numa mão, garfo na outra, pés pedalando, pedalando, boca mastigando, mastigando.

Posso considerar isso uma evolução no campo da fast food e um aperfeiçoamento nas habilidades dos praticantes do prato ambulante. Antes só precisava ser capaz de caminhar com um certo equilibrio para manter o prato e o garfo em posição e seguir em frente, e isso até eu faço. Mas comer em cima de uma bicicleta em movimento exige um talento notável, coisa pra profissionais do circo.

já viu um pé de alcachofra?

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Eu nunca tinha visto um, apesar de comer alcachofra desde que criança. Minha mãe fazia em ocasiões especiais, recheadas com pão e imersas no molho de tomate e eu amava raspar a “carninha” das folhinhas com os dentes. Quando vi o pé de alcachofra na horta da Alison, com algumas não-colhidas transformadas em lindas flores roxas, fiquei abismada. Que lindas, não? Nunca imaginei que elas pudessem florir.

Domo Arigato!!

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Toda vez que eu vou ao mercadinho asiático da minha cidade eu volto pra casa carregada de belezuras e gostozuras. O tipo de biscoitinho de polvilho que eu amava no Brasil, encontro lá. Desta vez dei de cara com essa pipocona, que confesso sem nenhuma vergonha ser uma das grandes delicias da vida pra mim. No Brasil eu comprava aquelas de pacote cor-de-rosão. Fiz o Moa comprar um pacote no semáforo, quando estávamos voltando pra casa de taxi no Rio de Janeiro. Minha mãe uma vez fez um estoque delas, porque o Gabriel também é fanzoco dessas pipoconas. Quando ele ficar sabendo que essa japonesa é idêntica à brasileira, vai ter um treco!
Comprei uma bento box de laca linda de presente de aniversário para a Marianne. Essa comprei pra mim. É uma mini-bento box—the cutest little thing! Ainda não sei o que vou fazer com ela. Talvez carregar meus sushis até o parque? Ah, não, vou guardar meus saquinhos de chá no meu escritório. Tantas possibilidades para essa linda coisinha vermelha cravada de borboletinhas!

completando…

Depois que abri minha geladeira para o público, fiquei pensando na dinâmica dessa nossa função de guardar/preservar alimentos. Olhei as fotos que tirei da minha ice box naquela particular segunda-feira e concluí que ela nunca teve exatamente esse conteúdo, nessa determinada combinação e composição, e nunca terá novamente. Porque o que eu coloco na minha geladeira depende de fatores variados, sendo o mais importante a estação do ano. São as estações que definem basicamente o cardápio e consequentemente os ingredientes. Uma geladeira no inverno é bem diferente da geladeira de verão, com exceção daqueles produtos que nunca saem de lá—porque são sempre úteis ou porque são esquecidos mesmo.
Outro exemplo é a marca dos produtos, que nem sempre são as mesmas. Nessa específica segunda-feira, a minha geladeira não continha algumas coisas que ela sempre contém, como o meu iogurte favorito “european style”, a caixinha de buttermilk, a lata de ameixas secas do Uriel, entre outras pequenas coisinhas. Os sucos variam, os containers com restinhos variam, até o tamanho das embalagens de leite variam, pois às vezes eu compro leite de galão.
Três coisas pra se notar nessas fotos: Um: não há frutas na geladeira, pois eu nunca coloco nenhuma fruta lá, incluindo também os tomates, que não devem ser refrigerados de maneira alguma, a não ser que você não se importe de comer tomate com sabor de nada. Dois: nós consumimos latícinios a beça. queijos e mais queijos, cremes, etc. Três: eu quase não congelo produtos como carnes, peixe e frango. compro geralmente o que vou usar na semana. por isso sobra tanto espaço no congelador magrelo pra tanto sorvete—outra coisa que consumimos muito no verão.
Uma coisa que não mostrei, portanto ninguém viu, é que essa geladeira não é filha única! Tenho outra geladeira na garagem, onde guardo bebidas—vinhos que precisam gelar, cerveja, algum refrigerante pra minha nora. Uso muito essa geladeira extra quando tem festa aqui, ou recebo convidados e visitas.

a verdade, nua, crua e fria

Olhei com curiosidade o conteúdo de algumas geladeiras de blogs bacanas e apesar de ter achado a idéia legal, ponderei um bocado até decidir se iria abrir a minha também. Sou bem relutante com questões de seguir trends, mas esse eu achei tão divertido, então — what the heck — resolvi aderir! Minha geladeira é bem abarrotada, não deu pra condensar tudo numa foto. Fiz um set com todas as prateleiras e micro-detalhes. O que será que a minha geladeira revela sobre a minha personalidade? Boa oportunidade também pros guris observarem as marcas dos produtos.