Nossos primos de Atlanta estavam a caminho de férias no Havai e deram uma parada na Califórnia para passar dois dias conosco. Fazia uns três anos que não nos encontrávamos, então gastamos muito tempo conversando. Dividimos o grupo em dois, os adultos na nossa casa em Woodland e os adolescentes na casa do Gabriel em Davis. Na organização do tempo com todo mundo acordando tarde e estendendo a conversa na mesa do café da manhã, mais os banhos e agrupamentos saindo de uma única cidade, acabamos chegando tarde para os nossos dois passeios. O do primeiro dia no Napa Valley, chegamos à uma da tarde e tivemos que condensar a programação ao máximo porque as vinícolas fecham entre 5 e 6 pm. Decidimos visitar apenas duas—a Mondavi, por razões óbvias e a Beringer, porque é uma das mais bonitas e fica bem no centro do vale. Dois clássicos do Napa. Na Mondavi fizemos o tasting dos vinhos vintages e reserve. Na Beringer fizemos o tour com tasting. Para um almoço rápido entre as vinícolas pegamos sanduíches, bebidas e chocolates no Dean & Deluca e depois de visitar a cidadezinha de Calistoga, voltamos para St Helena onde jantamos no Tra Vigne. Fizemos esse passeio com a cachorra Boo que está hospedada neste mês de agosto na casa do meu filho. Na vinícola Mondavi ela teve que ficar no carro, mas na Beringer as moças da recepção ficaram alegremente cuidando dela e no Tra Vigne ela não somente foi bem-vinda como recebeu um pote com água pra se refrescar. Até ela aproveitou muito o nosso passeio expresso.
Categoria: Califórnia
sunflower fields forever
Este ano eu estava estranhando não ter visto nenhum campo de girassóis no meu caminho. Mas quando fui buscar comida nepalesa para o jantar de uma sexta-feira, atravessei a ponte que passa por cima da estrada principal que corta a cidade e vi um campo enorme e todo florido dentro do perímetro urbano. Daí comecei a ver outros campos, mais próximos ou um pouco afastados da cidade. O negócio é que os campos mudam de lugar, ou melhor, os campos são os mesmos mas a lavoura é rotativa. Então onde estavam os girassóis no ano passado, neste ano estão os tomates ou o trigo. E onde estavam os tomates estão os girassóis ou o trigo ou o milho. Sou daquelas que acha todo esse cenário agrícola uma lindeza absoluta. Sou daquelas que encomprida o caminho pra casa só pra poder olhar os tomates já brilhando nos campos ou sentir o cheiro do feno recém colhido. Sou daquelas que para o carro no meio do poeirão e vai fotografar campo de tomate ou girassol até mesmo quando está fazendo quarenta graus. Sou daquelas que enfrenta as abelhas pra poder chegar mais perto das flores gigantes e laranjas. Sou daquelas que transpassa propriedade alheia pra poder tirar uma foto, mesmo que seja com o celular. Sou daquelas que comprimenta os trabalhadores do campo dando tchauzinho pro pessopal nos tratores. Na última foto da direita eu sou aquela bolhinha cor-de-rosa, que é como o google maps me identificou no dia em que parei no meio dos campos agrícolas para tirar essas fotos dos girassóis.
The Gibson house
Um dos melhores passeios pra mim é visitar casas antigas transformadas em museus. Na semana passada conhecemos a Gibson mansion que pertenceu a um fazendeiro que chegou em Woodland na metade do século 19. Ele chegou com uma mão na frente e outra atrás e foi progredindo. A casa, que inicialmente tinha apenas um cômodo, foi progredindo também até virar uma construção imponente de dois andares. Hoje ela fica praticamente no meio da cidade, mas no inicio aquela localização era considerada longe de tudo, no meio do campo. Na imensa propriedade o Sr Gibson criava gado, cavalos, cabras, ovelhas e veados [sim, veados, mas esse empreendimento não deu certo]. Hoje a casa foi transformada num museu daqueles que eu mais amo, porque você pode entrar em todos os comôdos, ver e tocar [com cuidado] todos os objetos, abrir gavetas, portas, tirar fotos. Como essa área teve uma grande imigração asiática durante o período da corrida do ouro, o museu recebeu muitas doações das famílias chinesas e tem muita coisa intertessante, desde porcelana até trajes típicos da época feitos de seda e bordados. Adorei visitar a casa da família Gibson e no dia em que fomos estava tendo uma festa da cidade e muitos voluntários estavam disponíveis e animados para contar histórias e responder perguntas. Essa casa em Woodland é bem parecida com essa pensão que visitamos no Colorado uns anos atrás. É realmente sensacional a maneira como o passado é cuidadosamente preservado, mesmo nos detalhes rotineiros e que parecem não ter muita importância histórica.
na vínicola Clos Du Val
[um picnic na chuva]
Quando sugeri um picnic numa vinícola no Napa Valley para um encontro com Maryanne, Heguiberto & Steve, e Priscila, essa pareceu a melhor ideia do mundo já que o tempo estava lindo—florido e ensolarado. Três semanas depois as nuvens se acumulavam assustadoramente no céu do norte da Califórnia. Decidimos seguir em frente com nossos planos, no melhor estilo Keep Calm [Smile] and Carry On. Marcamos um tasting e um picnic na vinícola Clos Du Val para um sábado. No dia amanheceu cinzento e choveu canivetes por muitas horas. Pegamos muita chuva na estrada e apesar da perspectiva desanimadora, eu não esmoreci. Mantive um sorriso na cara e o espirito de antecipação no coração, também porque finalmente eu iria conhecer o Hegui e o Steve, meus vizinhos blogueiros, depois de praticamente três anos de enrolação [da minha parte, admito humildemente].
Fizemos um tasting super animado, mais pro bate-papo do que para o vinho, já que todo mundo queria conversar e se conhecer melhor. Eu escolhi fazer a prova dos brancos e bebi um Sauvignon Blanc, um Rosé de Pinot Noir e dois Chardonnays, um de barril de metal e outro de madeira. Meu favorito foi o Sauvignon e comprei uma garrafa para acompanhar o nosso picnic.
Assim que entrei na vinícola fui olhar a área de picnic—com mesinhas e cadeiras espalhadas sob um pomar de oliveiras. Super lindo! E ali vi um grupo de moças comendo e bebendo, cada uma segurando um guarda-chuva. Fiquei mais conformada, que não éramos os únicos enfrentando bravamente o mau tempo. Quando saímos do tasting, o tempo parecia ter firmado. Arrumamos alegremente nossa mesa, com nossos pratinhos, talheres, toalha, a vinícola emprestou taças par o vinho. No menu tínhamos uma broa de fubá com molho de goiabada e uma salada panzanella de aspargos feitas por mim. o Hegui trouxe uma salada de pasta com broccoli rabe, a Maryanne muitos queijos deliciosos do Cheeseboard, e a Priscila trouxe três caixas de pães maravilhosos, doces e salgados, que ela mesma fez no curso de bakery que ela esta fazendo no SFBI em San Francisco. Um banquete!
Quando a mesa estava pronta, a comida servida, os estômagos roncando, a fome apertando, começou a chover novamente—primeiro de leve, depois no estilo chuveiro. Por uns minutos ficamos lá, de capa e guarda-chuva, tentando comer nos pratos que estavam simplesmente alagando. Tivemos que pensar numa solução rápida e mudamos a mesa para um lugar um pouco mais seco. Nunca fiz um picnic assim tão molhado, mas a comida estava deliciosa, a companhia super agradável, o vinho tem sempre o dom de deixar tudo lindo e a conversa fluiu muito animada. No final parou de chover e voltamos para o pomar de oliveiras, onde comemos a sobremesa e conversamos bastante até a hora de nos despedir, fazendo planos para outros encontros.
uma tarde em Sonoma
A Califórnia não é só abençoada com um clima bom, mas tem também uma diversidade de paisagens incrível. Temos um pouco de tudo—montanhas com ou sem neve, praias geladas e algumas não tão geladas, florestas, milhares de campos agricolas e outros milhares de vinhedos, cidades grandes carismáticas e chamosas e incontáveis cidadezinhas históricas cheias de personalidade e coisas bonitas e divertidas para ver e fazer. Pode-se passar uma vida visitando e revisitando lugares legais sem nunca cruzar nenhuma fronteira. Um dos lugares charmosos que adoro visitar é a cidadezinha de Sonoma, vizinha do Napa e também com o seu respectivo vale dos vinhos. Desta vez fomos apenas almoçar e bater perna pela cidadezinha histórica, o que já é entretenimento suficiente para um dia. Os vinhedos já estavam lindos, forrados ou salpicados com flores de mostarda. Pra o almoço escolhi voltar ao The Girl & The Fig onde já tínhamos ido em 2007. Desta vez o restaurante estava absurdamente apinhado de gente. Esperamos trinta minutos e sentamos para um almoço tardio, às 2pm num páteo externo super gostosinho. A comida estava toda correta, apesar do serviço estar um tantinho devagar. Mas isso não foi problema, pois estávamos confortáveis debaixo de um aquecedor, bebendo vinho e conversando. Depois caminhamos pelo centro histórico, encaroçamos pelas lojinhas da cidade e visitamos uma missão e uns museus. Tudo muito bem cuidadinho e agradável de visitar, como é o padrão aqui neste lindo estado onde eu vivo.
Cache Creek lavender fields
Visitamos outra região que não conhecíamos, aqui no norte da Califórnia, ainda no nosso condado deo Yolo. São tantos lugares legais, cidadezinhas, mercados, vinhedos, vinícolas. O Capay Valley é bem conhecido pela sua riqueza agrícola. No caminho vimos muitos campos de arroz, alguns de tomates alternados com trigo e os indefectíveis pomares de amêndoas e nozes. Nosso destino era a pequeníssima cidade de Rumsay, com 95 habitantes, onde ficava os campos de lavanda orgânica do Cache Creek. O lugar é bem pequeno, pelo menos a parte que nós visitamos. O Uriel insistiu na tese de que aquile sítio era uma ex-comuna hippie. O ambiente era todo zen. Os pequenos campos de lavanda, uma casinha simpática, uma green house, um pomar de frutas salpicado com mesinhas e bancos para picnic. No dia do festival vendia-se perfumes, produtos de beleza e culinário feitos com lavanda. E por quatro patacas você podia colher o seu próprio bouquet. Também vendia-se um pacote com pão, queijo e morangos para picnicar e havia a opção de comprar a caixa de vinhos produzidos no Capay Valley. Nos compramos o ranguinho, nos servimos da limonada e dos brownies com lavanda que eram gentileza da casa e nos sentamos numa mesa decorada com vaso de flores embaixo de uma macieira. Coloquei atenção especial nos detalhes zen que enfeitavam o pomar e nos ramos de lavanda secando na beira do riacho. Enquanto comíamos nosso lanchinho, escutamos a banda que tocava, uma mistura de new age com ritmos indianos. O rapaz que tocava a cítara parecia importado da India. E assim passamos umas horas muito agradáveis do sábado, visitando um perfumado campo de lavandas.
Murphys – Calaveras county
Fazia um tempão que estávamos querendo visitar uma cidadezinha do tempo da corrida do ouro no pé da serra chamada Murphys. Esperamos o inverno terminar, pois tempo de chuva aqui, significa neve por lá e queríamos aproveitar a visita, caminhar, visitar as vinícolas. A primavera foi uma ótima escolha. Aproveitamos o feriado do Memorial Day e zarpamos. O lugar é muito charmoso, como todas as cidades da corrida do ouro, com a rua histórica, os bares, restaurantes, hotel antigo, lojinhas de antiguidades e modernidades e as vinícolas. Comemos em três restaurantes diferentes e achei tudo normal, nada excepcional. Já os vinhos que bebi, da região de Calaveras, foram todos ótimos. Posso dizer que gostei muito de tudo o que bebi e até trouxe uma garrafa de uma variedade que não conhecia—pinotage, uma mistura das uvas pinot noir e cinsaut. Murphys está localizada na parte central da Sierra Nevada, entre Lake Tahoe e o Yosemite National Park. Uma região linda com florestas, muitos rios e lagos. Subimos até o topo da montanha para ver o lago Alpine, que ainda estava congelado. Valeu a pena a viagem na estradinha cheia de curvas ladeada por pinheiros. E no dia seguinte fomos conhecer as Big Trees no Vale dos Ursos, que foi uma experiência fascinante. No caminho entre o parque das árvores e Murphys paramos numa casinha que vendia produtos feitos com maçã. Adoramos tanto, que paramos de novo na volta. Compramos cidra, geléias, tortinhas e donuts, tudo feito ali na hora pela família. Adoro fazer esses passeios bucólicos por essas cidadezinhas californianas, olhar lojinhas de antiguidades, beber vinho, descobrir lindezas da natureza, ziguezaguear por estradinhas e passar horas olhando para paisagens singelas. Mas o mais gostoso é poder fazer tudo isso com a melhor, a mais querida e a mais divertida das companhias—vocês sabem quem!
Shenandoah valley
Passamos uma tarde deliciosa de sábado passeando pelas vinícolas do Shenandoah Valley, no condado de Amador. São muitas vinícolas pequenas onde às vezes o próprio dono te recebe na porta e te serve o vinho acompanhado de muitos dedos de prosa. Gostamos de sair do circuitão turístico do Napa/Sonoma e descobrir verdadeiras preciosidades encravadas em propriedades praticamente escondidas, com acesso por estradinhas de terra, curvas, curvas e mais curvas. Bebi muito vinho bom e saí um pouco da minha rotina de zinfandel, pinot noir, cabernet, merlot. Algumas das vinícolas produzem variedades de uvas italianas, que eu não conhecia. Outras tem as famosas barbera e tempranillo. Também gostei imensamente da adocicada orange muscat. Acho que aprendi um pouquinho mais sobre vinhos. Ou ao menos espero ter aprendido. Queremos agora explorar outras áreas menos afamadas, mas tão ricas e interessantes, como a região do condado de Calaveras, El Dorado, Lodi e a cidade de Clarksburg, que produz vinhos excelentes. E isso só por aqui no Central Valley, que é a região onde eu vivo. A Califórnia é muito mais que Napa e Sonoma. Só precisa pegar a estrada e sair com animação para explorar.
fotografando com Penny De Los Santos
Passar um dia na companhia da fotógrafa Penny De Los Santos em San Francisco, fotografando e aprendendo, foi uma oportunidade de ouro que eu agarrei rapidinho, dando um salto triplo de ninja. Nunca fui tão rápida tomando uma decisão e me registrando para um evento. Dez minutos depois da Elise Bauer anunciar que a Penny estaria dando um workshop em SF , eu já estava com o meu espaço garantido. E minha rapidez e destreza valeram a pena! Eu já conhecia a Penny, dos seus trabalhos pra revista Saveur, de outros workshops que eu invejei e já era leitora do seu blog Appetite. No dia do evento, sai de Davis super adiantada, porque não queria pagar mico de chegar atrasada e acabei chegando na cidade uma hora e vinte antes do inicio do workshop. Andei pela Castro Street, comi outro breakfast, enrolei ouvindo gospel no rádio do carro , quando vi a Penny chegando com a Tara do blog Tea & Cookies, que a ajudou a organizar o evento. Fui a primeirona a entrar no restaurante Contigo, onde parte do workshop iria acontecer.
Penny é uma simpatia e uma simplicidade. Veio me receber, o que já me fez inaugurar o primeiro mico do dia. Pra quem ainda não sabe, sou a maior produtora de gafes do oeste norte-americano. Aos pouquinhos os outros participantes foram chegando e infelizmente eu não conhecia ninguém, com exceção da Elise. Na primeira fase do evento, Penny contou um pouco da trajetória dela, mostrou muitas fotos, cada uma com uma história bacana, numa aula de fotografia e de vida. Depois tivemos a oportunidade de fotografar a comida preparada pelo time fabuloso do restaurante Contigo. Também ganhamos permissão para comer todos os “modelos”. Durante o workshop Penny circulou pelo restaurante, conversando e dando dicas, dando até pra esquecer por micro segundos que ela era aquela fotografa super fantástica que ilustrava com imagens magnificas as páginas das revistas Saveur e National Geographic.
Na segunda parte do workshop saímos para as ruas da cidade, primeiro para almoçar, o que eu acabei não fazendo. Encontramos com a Penny na esquina da Mission Street, onde faríamos a segunda parte da nossa tarefa fotográfica. Ali mesmo comi o um saquinho de manga fresca, vendida por um mocinho num carrinho que também oferecia abacaxi e papaya. Dali partimos em dois grupos para fotografar perspectivas, pessoas e comida. A parte mais difícil para mim é fotografar pessoas. Pedi, muito sem graça, para fotografar o cachorrinho de uma moça e ela avisou—só o cachorro, pois eu não estou vestida apropriadamente. Tive que obedecer. O Mission District é um gueto latino em San Francisco, cheio de cores e figuras interessantes. Era domingo, então as famílias estavam passeando e almoçando nos inúmeros restaurantes da região. Eu e a Elise entramos num que vendia pupusas e eu pedi licença para fotografar, o dono consentiu, mas a senhora que moldava as pupusas não gostou. Fez cara feia, virou as costas pra mim e ainda reclamou. Tivemos que pedir desculpas e cascar fora.
Depois das duas horas pra cima e pra baixo na Mission, nos encontramos no 18 Reasons, um espaço para eventos relacionados à gastronomia, onde conectamos nossos laptops, escolhemos 12 fotos e fizemos um slide show com fotos de todos os participantes. Me senti invariavelmente frustrada, pois sempre acho que não dei o melhor de mim, que minha timidez é uma pedra no sapato, me atrapalhando muito, eteceterá. Mas minhas fotos não foram vaiadas! Terminando o dia na companhia de uma fotografa tão talentosa e outros vinte e quatro blogueiros, escritores e fotógrafos, me senti flutuando no ar. Como se milhares de portas tivessem sido abertas na minha consciência. A identificação que senti com o trabalho lindo e orgânico da fotografa Penny De Los Santos me deu certeza de que estou no caminho certo. Só falta um pouquinho mais de tempo para fotografar e uma boa dose de coragem e firmeza.
[**fotos dos outros participantes do evento no album do Flickr — Penny in SF]