Categoria: amigos
the high tea
Numa quinta-feira recebi o convite via sms para me juntar à um cházinho no sábado com Victoria e Bridget num lugarzinho super gostoso aqui em Davis. Eu já tinha ido ao Tea List beber chá, primeiro com o Uriel e depois com meu irmão Carlos e o Gabriel. Adorei o tea cake que eles servem lá e pirei numa infusão de gengibre com limão, que até já reproduzi em casa. O lugar é super pequeno e aconchegante e quem recebe e serve os clientes é a proprietária, que fala inglês com um sotaque estrangeiro que ainda não consegui identificar a origem.
No sábado, segui caminhando para o Tea List achando que iríamos apenas beber um chá e papear. A grande surpresa foi encontrar a mesa preparada para um high tea—o chá da tarde típico inglês, com a mesa toda arrumada, xícaras e pratos de porcelana, várias rodadas de bules de chá e travessas de três andares recheadas de sanduichinhos, bolinhos, scones, madeleines, frutas frescas, mais creme e geléia para acompanhar.
Na companhia de duas pessoas super queridas e fofas, o papo se alongou por horas, E apesar de eu ter ido ao encontro exatamente após ter almoçado, não resisti e gulosamente comi muitas coisinhas. Tudo lá é caprichadíssimo, delicado, delicioso. A atmosfera do high tea é a melhor parte. O charme do chá inglês, quem não curte?
restaurante Tordesilhas
Demorei tanto pra escrever sobre a minha visita ao restaurante Tordesilhas em São Paulo, que agora vou ter que espremer a memória e torcer pra não ter esquecido nenhum detalhe. O plano inicial, sugerido pela Neide Rigo e acatado alegremente por mim, era ir conhecer o famoso restaurante Mocotó que conquistou a cidade com seus quitutes nordestinos. Mas o dia em que me encontrei com a Neide era o meu último em São Paulo e no Brasil. Naquele mesmo dia eu iria direto pro aeroporto e fiquei um pouco nervosa com a localização meio distante do Mocotó. Quando a Neide sugeriu o Tordesilhas como segunda opção, escolhi fazer a troca na hora. Não me arrependi. O Mocotó ficou para a próxima.
Voltando no tempo um pouco, tenho que registrar aqui o meu nervoso e a minha caipirice com o tamanho da cidade e as distâncias dentro de São Paulo e como é meu costume fazer, esquentei a moringa à beça pensando e planejando como eu iria me locomover de um lugar pro outro por lá. Eu não contava com a generosidade e gentileza das queridas amigas com quem me encontrei e que se ofereceram de me dirigir pra lá e prá cá. Assim acabei chegando na casa da Neide antes das oito da manhã, sem nenhum esforço, só no papo gourmet com a minha amiga Daniela, que bondosamente me dirigiu do Itaim-Bibi até a Lapa numa piscada.
Com a Neide então, nem vi por onde estava indo nem onde estava pisando, porque só queria saber de ouvir ela falar e papear. Fomos de trem até o Mercado da Lapa e depois de ônibus até o centro da cidade, onde fui conhecer o Marcos, marido dela e depois fomos caminhando até o Tordesilhas.
O ambiente do restaurante é uma delícia, com uma decoração cheia de detalhes folclóricos, uma bancada com frutas e legumes logo na entrada, tudo colorido, super fotogênico e aconchegante. Chegamos cedo e o lugar ainda estava bem vazio. O serviço foi extremamente cortês e teve uns salamaleques extras, por conta da presença da Neide na mesa. Então toda hora passava um e parava para cumprimentá-la. Andar com gente famosa é assim mesmo, né?
Pedimos a comida, que pra mim foi um processo de extrema dificuldade, pois eu queria provar TUDO! Escolhemos um caldinho de feijão com torresminho e uma renda de couve frita, cubinhos de queijo de coalho fresco com mel de rapadura e uma saladinha caipira, feita com almeirão, tomate, cebola e farelo de torresmo. Eu pedi um medalhão de carne de sol com risoto de pupunha e a Neide um galeto assado com curau de milho verde e arroz de abobrinha com pequi [provei o pequi pela primeira vez na vida e ele tem gosto de perfume!]. De sobremesa pedimos os três sorvetes de frutas amazônicas [açaí, cupuaçú e tapioca] sobre bandeira de jambu com biju. Só bebemos água, porque eu ainda tinha que arrumar mala, ir pro aeroporto, pegar aquele avião.
A comida do Tordesilhas estava deliciosa, mas o fato de eu estar lá almoçando com a querida Neide me trouxe um presente extra, que foi conhecer a chefe Mara Salles e a mãe dela, dona Dega. A Mara chegou na mesa e conversou muito, especialmente sobre um evento de gastronomia e sustentabilidade que estava acontecendo na cidade naquela semana. Um dos meus assuntos favoritos. Fiquei ouvindo tudo o que ela falava e só balançando a cabeça em concordância. Ela fez algumas criticas ultra sensatas e falou muita coisa legal. Adorei ouvir de uma chefe brasileira o que ela pensa sobre culinária sustentável num país tão rico de ingredientes e com estações climáticas tão produtivas, como o Brasil. Depois a dona Dega juntou-se à nós e bebericamos um licor de Baru—uma castanha do cerrado e conversamos sobre muitas coisas. A mais interessante e que me deixou boquiaberta foi sobre a abobrinha brasileira. Comi essa abobrinha verde e amarela por tantos e tantos anos e nunca soube que ela é a versão jovem da butternut squash tão abundante por essas terras onde vivo agora. Essa informação de que a abobrinha que refogamos no Brasil é a versão imatura da butternut squash que assamos aqui, me pegou realmente de surpresa. A Mara serviu um acepipe que ela faz com a abobrinha e trouxe uma abobrinha inteira até a mesa, que ela cortou no meio e me mostrou a polpa e sementes. Fiquei boba! Tão boba que até posei pra uma foto com a Mara e segurando a abobrinha na mão [foto da Neide]. Foi uma experiência ímpar e um privilégio passar umas horas naquele restaurante, papeando com pessoas tão bacanas e com tanto conhecimento. Queria ter ficado pro jantar, mas eu tinha que tomar banho, arrumar mala, rumar para o aeroporto e pegar aquele avião.
Lá da Venda
Ainda queria escrever sobre dois lugares bacanas que conheci quando estive no Brasil em outubro e um deles é o Lá da Venda da chefe Heloisa Bacellar. Já tinha lido tanto sobre esse lugar e me senti realmente feliz por ter conseguido dar um pulinho lá e provar a comidinha super deliciosa e brejeira que é servida no restaurante. O espaço tenta reproduzir a atmosfera de uma vendinha antiga, cheia de badulaques para vender. Me falaram que o pão de queijo deles é o melhor que existe—feito com queijo da Serra da Canastra. Mas infelizmente não provei. Comi os pasteizinhos caipiras feitos com massa de milho e bebi a nostalgica Tubaína. Também provei a picanha com purê de banana da terra, simplesmente deliciosa e depois duas bolotas de sorvete de pintanga. Tudo estava uma delícia e o ambiente é acolhedor, mas o mais gostoso mesmo foi ter dividido a minha mesa com duas queridas—minhas amigas Roberta Fabbri e Maria Rê. E ainda de lambuja conheci a Heloisa Bacellar, cuja simpatia foi capaz de desarmar minha horrível timidez e me fazer pedir pra sair numa foto com ela. [olha lá—XIS—click!]
5 anos fechados
[com chave de ouro]
Festanças não são muito a minha praia. Mas eu gosto de marcar e relembrar as datas, principalmente as comemorativas. E este ano juntaram-se várias numa curta sequência. Quando me toquei que o aniversário de cinco anos do Chucrute com Salsicha estava se aproximando, nem esquentei a cachola pensando no que iria fazer para celebrar. Eu iria estar no Brasil, mais precisamente em São Paulo e com amigas blogueiras, exatamente no primeiro de novembro—o dia auspicioso em que iniciei este promitente blog.
As outras datas celebrativas que precederam brevemente o aniversário do Chucrute e que determinaram que eu entrasse num avião e mudasse de hemisfério, foram o aniversário de 80 anos do meu pai e o de 50 anos de casamento dele com a minha mãe. Toda família compareceu, tivemos festa, festão e festinha na comemoração de duas datas importantíssimas para nós. Passei uma semana e meia aproveitando a companhia de todos da família e revendo e conhecendo novos amigos. Conheci a querida blogueira Luciana Betenson que veio encontrar-se comigo em Campinas, ri muito com minha irmã e o amigão dela, o Calil, revi a Sandra, minha alma gêmea ativista dos orgânicos, bebi cházinho com bolo de azeite e alecrim feito para mim pela minha irmã, comi feijoada, galinha caipira com quirera, goiaba, pitanga, todas as bananas que pude engolfar, laranja lima, manga, pizza do Bráz, pão de queijo assado na folha de bananeira e linguiça feita em casa pela minha prendada cunhada Patrícia, comi requeijão, goiabada, doce de figo, bebi drinks sem alcool com minha mãe, ouvi meu pai falar de política, visitei a fazenda orgânica Yamaguishi com minha mãe e meu irmão, curti todos os meus sobrinhos, desde os que sobem em árvore, fazem tricô, curtem futebol, tocam música, dançam balé, me preparam deliciosos bolos, até os que adoram salada e plantam hortinha na varanda. Também convivi com todos os cachorros da família e dos amigos. Fui aos supermercados convencionais e orgânicos, hortifruti, mercearia, vendinha, padaria, açougue, peixaria.
Me despedi da minha família um pouco mais cedo, para poder passar três dias em São Paulo, revendo e conhecendo amigos, experienciando um pouco da diversidade da cultura gastronômica da cidade. Fui recepcionada pela minha querida amiga Roberta, que me tratou como uma rainha—nunca vou conseguir agradecer o suficiente tanto carinho e cuidado! Com ela e o Antônio, mais minha irmã, meu cunhado e sobrinhos, comi comida mineira levinha, pastelzinho recheado com carne seca, bolinho de mandioquinha com queijo, couve refogada, caldinho de feijão e uma farofa de maracujá que nunca vou esquecer. Também com a Roberta fui encontrar com o queridíssimo Gui Bracco no restaurante Moinho de Pedra, onde também conheci a chef Tatiana Cardoso [e ganhei o livro dela autografado]. Depois passamos na chocolateria Valrhona, onde papeamos muito mais e também encontramos a Beth V. À noite brindamos os cinco anos do Chucrute informalmente num jantar encantadoramente Dadivoso na casa da Fernanda Zacchi e na companhia da Mariana Newlands, Roberta, Mr. Dadivoso e a linda cachorra Frida. No dia seguinte passamos no Lá da Venda, onde conheci a simpatica chef Heloisa Barcelar, bebi Turbaína e almoçei pastelzinho de massa de milho e picanha com purê de banana da terra na companhia da Roberta e da fofíssima Maria Rê. Passamos a tarde num papo tão bom, que nem vimos as horas passarem. À noite jantei no sofisticado restaurante Maní com as amigas Lena Gasparetto, Faby Zanelati e Daniela Fonseca. E meu último dia em São Paulo passei com a querida Neide Rigo, que me serviu suco de bacuri da Ilha do Marajó, me levou de trem para o Mercado da Lapa, onde comi açaí com banana e creme de cupuaçú, depois fomos de ônibus até o centro da cidade, onde almoçamos no restaurante Tordesilhas. Esse lugar foi para mim no mínimo, o máximo, pelo ambiente, decoração e comida especialíssima, mas também por causa da chef Mara Salles, que juntou-se à nós, na companhia da sua mãe e me ensinou sobre a abobrinha brasileira, falou um bocado de coisas legais sobre sustentabilidade e ainda nos serviu um delicioso licor de Baru. Saí do Tordesilhas encantada com o que vi, ouvi e comi e de lá segui tristemente para o aeroporto, acompanhada e guiada mais uma vez pelas queridas Roberta, Maria Rê e Neide Rigo que ficaram comigo até quase a hora do embarque.
Os cinco anos do Chucrute com Salsicha não teve [nem vai ter] comemoração formal, com bolo, fogos de artificio, relatos nostálgicos. Este blog é o que é, porque eu sou quem eu sou. E tudo o que fiz até hoje resultou numa rede de amizades inestimáveis, que me faz sentir privilegiada por ter tido a oportunidade de manter e estreitar esses laços. Não consegui ver e rever muitas outras gentes queridas, mas sei que não irão faltar oportunidades num futuro breve. Mais visitas virão com certeza, mas por enquando vou ficando por aqui, dando continuidade à este convercê que iniciei há cinco anos e que parece estar bem longe de se encerrar.
[»todas as fotos tiradas com meu companheiro de viagem iPhone4; a foto com a Mara Salles e a abobrinha é de autoria da Neide Rigo.]
um chá com a Valentina
Marcamos de nos encontrar na saída do metrô em Notting Hill. Foi a primeira vez que fui me encontrar com uma amiga blogueira totalmente às cegas, pois apesar de conhecer a Valentina e o Trem Bom há anos, nunca tinha visto uma foto dela. Por alguns minutos fiquei lá parada com aquela expectativa estranha, olhando para cada rosto que se aproximava pensando, será ela? Mas quando ela chegou, sorridente e já de braços abertos para um abraço, não me surpreendi. A Valentina é exatamente o que ela nos passa pelo blog. Nem precisa mesmo de foto!
Fomos caminhando pela noite gelada pelas ruas de Notting Hill, conversando sem parar, até que encontramos um lugarzinho simpático para beber um chá. Eu não vou saber dizer onde fica exatamente, mas era uma loja, com coisas lindas de decoração, uma boutique de roupas no subsolo e um restaurantezinho no fundo da loja. Ainda não eram nem 6pm, apesar da escuridão, e portanto ainda poderíamos oficialmente pedir um chá da tarde.
A Valentina que me orientou nos pedidos, pois eu queria provar algo tradicional inglês. Pedimos então duas tortas—pra mim a banoffee pie com banana fresca e pra ela uma treacle tart com custard. Bebemos chá, of course, eu fui de hortelã fresco e a Valentina de lapsang souchon, um chá bem aromático, que ela mesma disse que não é todo mundo que gosta. Achei o aroma bem defumado, mas não provei.
Conversamos tanto, tanto, que até constrangimos o garçon. Fomos caminhando novamente pelas ruas de Notting Hill, paramos numa livraria para olhar livros de culinária e depois a Valentina me acompanhou até a minha estação, pra não ter perigo de eu pegar o lado errado da linha às nove da noite. Foi de uma delicadeza ímpar.
Tivemos um encontro de duas dinossauras da velha guarda dos blogs de culinária brasileiros. Já fizemos e vimos muita coisa e continuamos firmes, ou quase. Esses são laços importantes, que eu gosto de preservar. Valentina, muito obrigada pela noite tão agradável! e espero um dia poder retribuir toda a sua gentileza, quando você for me visitar lá do outro lado do mundo!
cenas de um Thanksgiving
[nunca te vi, sempre te amei]
É possível que San Diego nunca entrasse na minha lista de cidades para visitar, caso minha amiga Brisa Carter não morasse lá. Temos conversado, conversas longas, já há muitos anos e embora estejamos separadas fisicamente por uma mera viagem de avião de uma hora de duraçao, nunca tivemos uma oportunidade de nos encontrar. Mas um dia a oportunidade finalmente apareceu, quando o Uriel me convidou para acompanhá-lo numa viagem para um congresso em San Diego. Fui sem nenhum plano ou expectativa de grandes turistagens pela cidade. Deixei tudo nas mãos da Bri.
Foram quatro dias de conversas contínuas. Eu visitei a cidade sim, mas fomos fazendo as coisas enquanto batíamos aquele papo bom, completando todas as histórias que tivemos preguiça de contar por escrito. Um calorão absurdo engolfou a cidade e fizemos tudo sob um bafão úmido, que nos deixou suadas, descabeladas a amarfanhadas. Quem não viu, perdeu: as duas amigas matracas de chapelão e óculos escuros, saias molhadas de ficar sentadas por horas na grama orvalhada, bebendo vinho e água e tagarelando sem parar.
Achei San Diego linda, com muitas paisagens de cartão postal, praias de areia fofa, uma delas muito especial, onde os cachorros nadam. É uma cidade espalhada, com ruas largas, calçadas imensas, pouca sombra, mas muito bem cuidada, salpicada de esculturas de artistas locais, cheia de tradição e história.
Mas eu não vou escrever sobre a cidade, nem sobre os pontos turísticos ou paisagens lindas que vi. Quero escrever sobre nosso sábado à noite com Brisa e KC e de como nos arrumamos e combinamos de ir jantar fora, num restaurante italiano escolhido à dedo pelo KC. Sentamos no quintal, na companhia dos cachorros, bebericando drinks e engrenamos num bate-papo tão confortável e divertido que esquecemos da hora. Quando percebemos, os restaurantes já tinham fechado. Ainda tentamos pegar uma pizzaria aberta, mas não conseguimos. Decidiu-se então que o KC iria fazer um macarrãozinho e rumamos comprar alguns ingredientes. Antes paramos na praia de Ocean Beach, onde me encantei pelos muitos pontos iluminados pelas fogueiras de vários grupinhos fazendo luau. É tudo super mega organizado, as fogueiras são montadas num fire pit feito de concreto e não se pode fumar na praia. Mas o melhor ainda estava por vir. Tiramos os sapatos e fomos, pisando na areia macia, até a água. Eu nunca entrei nem nadei no oceano Pacífico, porque aqui no norte da Califórnia a água é tão absurdamente congelante que mal aguento mergulhar os pés. Se a água não dá caimbra, o vento faz doer os ouvidos. Praia aqui é pra ir de cachecol e casaco e ficar só apreciando a vista. Quando a onda na Ocean Beach finalmente alcançou meus pés, mal pude acreditar que aquela água agradável que refrescou meus dedinhos era a do Pacífico. Eu poderia nadar ali sem problema, como fazia uma menininha de maiô cor-de-rosa que pulava ondinhas bem ao nosso lado, naquela noite deliciosa de verão.
Com os pés croquetados pela água do mar e areia da praia, fomos ao supermercado pegar uma garrafa de licor Hpnotiq e alguns tomates frescos. Logo vi que não iria dar para vestir os sapatos, mas a Bri me tranquilizou—não tem problema, vamos descalças. Não me lembro qual foi a última vez que andei descalça pela rua, porque isso deve ter acontecido há muitos, muitos, muitos, muitos anos mesmo. Fizemos nossas compras, conversando e rindo pelos corredores do supermercado, com os pés descalços e ainda meio encroquetados. De todas as coisas que vi, senti, comi, bebi, de tudo o que fizemos, esse vai ser o momento da minha viagem a San Diego que vou guardar para sempre na minha caixinha em forma de coração: andar descalça com a Brisa, depois de pisar na areia e lavar os pés na água do mar.
com Maria e Franco, em Milão
Milão foi somente a nossa porta de entrada na Itália. Não planejamos ficar por lá, pois estávamos numa missão especial, que nos levaria à Veneza, Treviso e finalmente à San Zenone degli Ezzelini, a cidade de origem da família do meu marido. Mas o pouco tempo que tivemos em Milão foi precioso. Fomos recebidos pela Maria e Franco, que nos pegaram no aeroporto, nos levaram até o hotel e a Maria nos guiou num rolê à pé pelo centro da cidade. A Maria me deu tantas dicas—algumas nos salvaram de entrar no conto do turista. Nos ajudou a comprar as passagens de trem para Veneza, nos informou de todos os micro-detalhes de muita coisa que não tínhamos a menor idéia. Também fomos recepcionados com um jantar que foi sem dúvida o ponto alto da nossa visita à Itália. Não só pela comida deliciosa preparada pela Maria, mas também pelo papo super divertido que tivempos durante o jantar!
A Maria é leitora do Chucrute de muito tempo—mais tempo do que eu imaginava. Quando eu respondi a um comentário dela, ela fez uma coisa muito legal, que nem todo mundo pensa em fazer: ela se apresentou pra mim. Contou um pouco dela, da sua história, onde vivia, e tals. Eu me identifiquei com muito do que ela me contou. Quando o Uriel me falou que iríamos dar um pulo na Itália, avisei a Maria, para que pudessemos nos encontrar. Mas não imaginei a recepção que ela iria nos oferecer. Foi aconchegante, foi divertido, foi delicioso!
O jantar, todo composto de iguarias italianas, foi fantástico. Tive que pedir pra Maria me mandar o menu por escrito, pois no dia não memorizei muitos detalhes.
De entrada tivemos prosciuto di parma, copa e salame di culatello, o maravilhoso parmigiano reggiano, servidos com pãezinhos fresquinhos, um enrolado com azeitonas que adoramos, e taças de prosecco.
Os pratos principais foram ravioli de berinjela com molho de pimentão vermelho, que estava divino [já pedi a receita do molho e vou reproduzir em breve!], carciofi trifolati [alcachofras preparadas com alho, salsinha e oleo oliva extra virgem], piimentões amarelos recheado com farinha de rosca, alho, salsinha, azeitonas, alici, alcaparras [muito parecido com a receita da minha tia Dirce] e uma torta de batatas e tartufo nero recheada de queijo castelmagno. Tudo isso regado com um vinho tinto maravilhoso, que o Franco deixou arejando por algumas horas. A Maria vai ter que dizer que vinho era, pois eu esqueci.
De sobremesa tivemos doces com massa de amêndoas e pistachios, tacinhas de um moscato licoroso e laranjas vermelhas da Sicilia, que foi para mim o encerramento com chave de ouro do jantar. Fiquei realmente encantada com o hábito de se servir frutas como sobremesa nos restaurantes da Espanha e Itália, coisa que aqui simplesmente não existe, apesar de termos tantas frutas frescas excepcionais. Fazemos isso em casa, porque pra mim, fruta é sobremesa.
Depois dessa comilança pantagruélica, a Maria e o Franco nos levaram de volta ao hotel, onde dormimos o sono dos anjos. Maria e Franco, nunca vou conseguir agradecer o suficiente pela gentileza, cuidado, carinho, amizade, sorrisos, hospitalidade e generosidade. Grazie mille, amici!
»o Edu Luz foi outro felizardo que recebeu a recepção da Maria em Milão, com mais tempo para aproveitar a companhia dela e a cidade.
en la casa de Sergio & Esther
Nossos anfitriões aqui na Espanha nos prepararam um jantarzinho com tapas bem tarde da noite. O orgulho da gastronomia espanhola é esse presunto ibérico. Segundo o Sérgio, o porco vive uma vida maravilhosa, comendo somente nozes e se refastelando ao sol. O pernil leva 18 meses de preparação e descanso, até poder ser consumido. Em todo canto se vê esse apetrecho de apoiar o presunto, que é cortado em fatias finíssimas com uma super faca afiada e por mãos habilidosas. Achei tudo muito bacana, mesmo frente àquela visão tenebrosa da pernoca com casco e tudo sendo dissecada. Só me assustei mesmo quando vi o ossão que sobra quanto de consome toda a carne—té-tri-co! Os espanhóis amam esse presunto, mas eu achei muito forte. Preferi comer a tortllla de patatas, os pimientos com atún, as croquetas de cosido, o queso manchego e as maravilhosas acetunas. O Sérgio também preparou um delicioso peixe grelhado, temperado somente com sal e o azeite especial feito pelo irmão dele. Bebemos um vinho branco andaluz.