Foi mais ou menos como decidir alegremente pregar um prego na parede para pendurar um lindo quadro e de repente ver que a parede tinha furos e precisava de massa pra remendar aqui e ali, e depois perceber que precisava de pintura e logo em seguida sacar que a situação estava muito pior do que se imaginava, que seria necessário realmente derrubar paredes, trocar os canos, o teto, e os fios elétricos, e no final das contas ver que a situação era realmente dramática e que iria precisar mesmo derrubar a casa toda e construir tudo novo, do zero.
Desde 2001 que eu uso nos meus blogs o publicador Movable Type, do qual sempre gostei muito e como sou fiel, nunca nem cogitei trocá-lo pelo programa mais usado do momento, o WordPress. Só que a minha versão do MT estava completamente obsoleta. Eu realmente precisava fazer uma atualização, mas nem pensava muito no assunto, pois afinal de contas estava tudo funcionando muito bem. A única questão que me importunava era a da segurança. As versões atualizadas de qualquer programa lidam melhor com problemas e ninguém quer arriscar ter um furacão destruindo a casa. Melhor construir uma boa estrutura e de quebra ainda fazer um bom seguro, né?
Com a ajuda do meu filho, que é um excelente programador, finalmente atualizei minha versão do MT. Só que a mudança foi profunda e mexeu com toda a estrutura de todos os meus blogs. De repente, oito anos de escrevinhações ficaram ilegíveis. Gabriel colocou suas habilidades em ação, e eu e ele ficamos todos esses dias tentando consertar os mil furos, até eu sacar que vou ter mesmo é que reajustar e refazer aos poucos todos os códigos de todos os blogs. Os comentários ficaram inacessíveis e agora já funcionam, mas não abrem mais na caixinha. Não entendi ainda se é o esquema dessa versão do MT [como é no WordPress], ou se eu ainda não pesquei como é que a caixinha funciona. Nesse meio tempo o Uriel viajou, naquele esquema descabelado, correndo com a roupa amarfanhada e com papéis voando pra fora da pasta, uma visão de desenho animado que descreve exatamente como tudo acontece com ele. O Gabriel também viajou. E amigos viajaram, mas antes ficaram hospedados comigo. Além daquelas coisas da vida normal que urgem, reclamam e correm—trabalhar, dormir, comer. Comer comida? Mas que comida? Tenho devorado toneladas de frutas e feito alguns rangos improvisados. Receitas seguirão.
Autor: Fer GuimaraesRosa
almoço
esse papo já tá qualquer coisa
Minha rotina depois do jantar é subir pro meu quarto, ligar a tevê sempre no mesmo canal e clicar no guia pra ver o que está passando ou o que vai passar e assim poder planejar se vou assistir algo no canal ou colocar um dvd. Depois entrar no banheiro, sempre acompanhada por um dos gatos—se for o Misty eu tenho que abrir a água de uma das pias, se for o Roux vou ter que ficar conversando um pouco com ele, que vai miar com uma voz esganiçada que nos faz dobrar em riso. Tomo o meu banho, faço toda a rotina de escovação de dentões e hidratação de corpão, volto para o quarto e vou ler meus livros e ver meus filmes. Ontem já tinha decidido que não iria ver o filme que estava passando no TCM, o meu canal vitalício—The Joy Luck Club. Eu já vi e revi esse filme, inteiro ou em partes, inúmeras vezes. E todas as vezes eu me debulho em lágrimas. Não tem jeito, o filme é um clássico tearjerker pra desopilar o fígado e lavar a alma. Então quando saí do banho, já pensando qual seria o dvd que iria escolher pra assistir e de olho no livro que estou lendo, sentei na cama ajeitando as costas nas muitas almofadas e pow—não consegui mais descravar o olho do filme, que já estava pra lá da metade. E lá fui eu outra vez, chorar de dar bafão, de assustar os gatos, daqueles choros com gemidos, dolorido, que parece que os dentes vão cair e a cara vai estourar, que me deixou esbugalhada, cansada, fungando e de olhos ardendo. Quando o filme terminou com o encontro das irmãs, meimei! meimei!, eu já estava um farrapo humano, suspirando com uma cara aparvalhada. Fui dormir.
O resultado do chororô da noite foi uma cara matinal de pinguça, agravada por uma dor de cabeça que veio galopante e me deu um baita de um coice no crânio. Estou acordada há quase quatro horas e ainda sinto as sequelas da miserável. Somente o Blues poderá salvar este famigerado dia. Escrever também ajuda.
Estou pensando no futuro, no que vou fazer amanhã e em novembro. O dia vai ser quente, mas está nublado e esfumaçado, um ar pesado e poluído devido aos incêndios que se alastram pelo norte do estado. Isso tudo desanima, até de cozinhar e comer. Tenho me dedicado às receitas simples, rápidas e fáceis. Minha cozinha está cheia de produtos fresquinhos de verão, mas eu não ando entusiasmada. Os deliciosos tomates maduríssimos viram uma simples salada ou são combinados com alho e manjericão numa panela de pasta de rodelinha. Chegou um maço tão gigante de manjericão na cesta orgânica, que fui obrigada a fazer um pesto. Usei uma mistura de nozes e pecans, que era o que eu tinha, Torrei as nozes e as pecans e fiz como manda a receita clássica. Usei um pouco da água do cozimento da pasta pra diluir o pesto, dica da Marcella Hazan que já adotei. No outro dia fui às compras e fiz couscous com cranberries secas e pinoles. Mais um rango simples, servido com salada, porque não ando muito inspirada. E há muitas batatas. Batatas amarelas, brancas e roxas, que chegam toda semana, junto com as folhas verdes, que eu decidi impôr férias, então retiro da cesta lá mesmo na fazenda e coloco numa cesta onde acredito as pessoas doam o que não querem pra uma tal de Kara. A cesta de verão é realmente colorida, com muitos tipos de abobrinha, tomates e algumas frutas. Nesta semana chegaram figos, roxos e verdes, que foram devorados em minutos.
O website da UC Davis traz uma reportagem bacana sobre sustentabilidade e nela vocês poderão ver um pouquinho da fazenda orgânica dos estudantes, de onde vem a minha cesta semanal. Em Planting the Seeds of Change, clique no audio slideshow da direita, Student Farm lessons.
blue
pluots
um pau pra toda obra
Vocês já pararam pra pensar que alguns utensílios de cozinha são clássicos. Nós só precisamos ter um exemplar de cada e nem é absolutamente necessário que eles sejam bonitos, que estejam acompanhando o último grito da moda & design, que sejam feitos com o melhor material, talhados em modelos ultra-modernex e cheios de incrementações tecnológicas. Porque o trabalho que eles realizam independe de visual, de material, de luzinhas piscando e cores fosforescentes.
Outro dia tirei meu rolo de macarrão da jarra onde ele sempre fica e ao invés de só fazê-lo trabalhar desengonçadamente [mea culpa, admito], olhei pra ele com uma atenção incomum. Ele é um rolo de macarrão completamente sem glamour. Lembrei que ele foi uma das primeiras coisas que comprei para a minha casa californiana. E adquiri rapidamente porque é imprescindível que toda casa, mesmo as que ainda nem tenham panelas, tenha um rolo de macarrão. Comprei o meu numa garage sale que alguém nos levou. Comprei o rolo de macarrão, usado e meio rachado, junto com uma caneca rústica de cerâmica azul, que aindo tenho e que foi por anos a minha favorita. O rolo de macarrão vem trabalhando incansável por anos e anos, sem nunca dar problema, sem me deixar na mão, abrindo toda e qualquer massa para torta ou massa para pizza, com uma funcionalidade excepcional.
Meu rolo de macarrão é um utensílio de segunda mão, de madeira comum, com um pequeno racho, um pouco desengonçado no manuseio [mea culpa, admito], com uma cor desbotada, mas sempre botando pra quebrar eficientemente no serviço que lhe foi designado.
os reis da estação
os laranjas
arroz verde-amarelo
Para uma porção de arroz já cozido, restos de antontem, prepare um refogado no azeite com meia cebola pequena picada, uma espiga de milho, os grãos raspados com a faca, e um punhado de vagens verdes picadinhas. Deixe refogar até o milho e a vagem amolecerem, mas não muito, mantendo um pouco da sua crocância. Salgue a gosto. Junte cubinhos de queijo gorgonzola e deixe derreter, junte o arroz cozido, mexa bem, desligue o fogo, tampe, reserve. Deixe descansar por uns minutos e então sirva. Salpique queijo parmesão no prato se quiser, ou não salpique se não quiser. Eu não salpiquei, mas achei que deveria ter salpicado.
purple coleslaw


Se a vida [via fazenda orgânica] lhe oferecer um repolho, faça com ele um coleslaw. Se o repolho for roxo, faça então um purple coleslaw. Para realizar essa façanha você vai precisar de:
um repolho roxo ralado fininho no mandoline
uma maçã ralada fininha da mesma maneira
uma abobrinha amarela pequena idem
figos secos picados em cubinhos
um pouquinho de folhas de orégano fresco picadinhas
misture tudo e tempere com um molho feito com:
suco de um limão amarelo, flor de sal, azeite extra-virgem, mostarda dijon e creme fraiche
* esse coleslaw não ficou muito fotografável, mas passou pelo meu crivo de blogável, então aqui está!
