Autor: Fer GuimaraesRosa
potluck
Eu gosto dessa palavra—potluck—cada um leva um prato e todos dividem. Às vezes a divisão não traz muita sorte pra uns ou outros, pois nunca se sabe que tipo de comida vai aparecer na mesa. Ainda mais quando o potluck envolve uma turma internacional. Eu já fui num potluck onde não consegui comer quase nada, pois tudo era estranho demais pra mim. Era uma confraternização entre os estudantes chineses do meu professor de inglês canadense. Eu sempre metida em tudo, me danei. Não lembro o que levei, mas tenho certeza que não fez o menor sucesso. Nosso gosto ocidental nem sempre agrada aos orientais. Mas eu lembro vivamente de um peixe com molho de feijão preto que me assustou pacas. E os ovos de pato esverdeados. Eu não como ovo nem normal, quem dera um que ficou “estragando” envolto em ervas e folhas. Bom, eu também já tive minha comida rejeitada em potlucks, como nos banquetes internacionais da U of S, no Canadá, quando eu preparava a minha maravilhosa feijoada brasileira e muita gente torcia o nariz e dizia no thanks! enquanto eu oferecia sorridente os brazilian black beans. Uma vez eu levei refresco de guaraná num potluck, desses de pacotinho da TANG, que misturei com água gasosa e acrescentei gelo e rodelas de limão. Quando eu falei que era guaraná, alguém me perguntou se a bebida era apropriada pra crianças. Nem todo mundo tem a obrigação de saber desses detalhes culturais, né? Mas essas situações são ótimas pra gente contar no blog e dar bastante risada. Pode ser que a minha cara de nojo e susto olhando pro peixe no molho de feijão tenha virado uma história divertidíssima, contada em cantonês ou em mandarin, entre gargalhadas de desprezo pelas babaconas ocidentais cheias de nojinho.
branco
Cookie básico
Para a Fê, que me pediu receitas de cookies. Eu não sou exatamente uma “cookie person” e posso passar meses sem colocar um na boca. Para um cookie me fazer esticar a mão e apanhá-lo , ele precisa ser muito especial e eu não me impressiono fácil.
E o que mais se vê pelo hemisfério norte nessa época do ano são cookies. Eu vou à uma reunião de trabalho e tem uma bandeja de cookies em cima da mesa. Eu nem olho, mas sinto o cheiro. Recuso comê-los, pois não quero ficar com os dentes cheios de farofa enquanto falo de coisas importantes. No Canadá eu conheci uma suiça que tinha como tradição todo Natal fazer uns cookies realmente deliciosos – esses eu comia – colocar em caixinhas enfeitadas e dar de presente para os amigos. Todo ano eu recebia a minha com um sorrisão na cara. Mas nunca pedi as receitas. Cookie não é a minha praia – ou melhor, it’s not my cup of tea!
Mas fui olhar umas receitas de cookies da Martha Stewart, pois tudo que ela ensina é exaustivamente testado e quando a receita é publicada nas revistas dela, é certeza que vai dar certo. Na Everyday Food de dezembro tem uma receita de massa básica para cookies, que depois você pode cortar com moldes, enrolar e cortar, decorar e até congelar. Boa para fazer enfeites comestíveis para a árvore – isto é, se você faz árvore e gosta de assar cookies.
A receita:
Massa básica para biscoitos amanteigados
* Faz 30 cookies
3 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de açúcar de confeiteiro
1 xícara [ou 2 tabletes] de manteiga sem sal e gelada cortada em pedacinhos pequenos
1/2 colher de chá de sal
1 colher de chá de extrato de baunilha
4 gemas grandes
mistura de ovo para pincelar – opcional – 1 clara de um ovo grande batida com 2 colheres de chá de água
Coloque a farinha, o açúcar, a manteiga e o sal no food processor e misture até ficar com uma textura grossa. Numa vasilha separada misture as gemas levemente batidas com a baunilha. Com o motor do food processor ligado, adicione essa mistura de gema à massa. Misture bem até formar uma massa uniforme. Prepare os cookies com a massa, que é melhor trabalhada se descansar enrolada em filme plástico na geladeira por pelo menos uma hora.
difícil não gostar dela!
Nigella Lawson na capa do suplemento Life desta semana, onde ela dá uma receita facílima de costelas assadas e algumas dicas para receber em casa, começando por – NUNCA tente uma receita nova para uma festa grande, fique sempre com o que você já sabe fazer e que tem certeza que dá certo. Ela também afirma que acredita em trabalho infantil e sempre coloca as crianças para arrumar as mesas. E os amigos são sempre convocados para ajudar, misturando os cocktails ou abrindo os vinhos. Nigella também adverte: a anfitriã nunca deve usar sapatos novos no dia da festa – uma metáfora para o fato de que a anfitriã não deve exagerar na roupa, nem fazer seus convidados se sentirem mal vestidos perto dela. Ela conta que nas festividades do ano passado, recebeu amigos e família com os pés descalços. “Vista-se e aja da maneira mais confortável e seus convidados vão seguir o seu exemplo e se sentirão confortáveis também.”
A receita das costelas assadas:
4 ou 5 quilos de costela
1 colher de sopa de azeite
2 colheres de sopa de sal
1 colher de sopa de pimenta do reino moída na hora
Aqueça o forno em 450ºF [220ºC]. Passe o azeite nas costelas, salpique com sal e pimenta, ponha numa forma larga e coloque no forno. São quinze minutos de forno para cada meio quilo de carne. Deixe assando por uma hora e 45 minutos. Retire a costela do forno e deixe descansar por uns minutos. Transfira para uma travessa e cubra com papel alumínio. Deixe descansar por no mínimo 15 minutos. 35 minutos é o tempo ideal de descanso. Retire o papel alumínio, corte e sirva.
Limonada Suiça
Todo ano, nessa época, eu tenho a minha ‘safra’ de limões verdes no limoeiro do meu quintal. É quando eu começo a fazer jarras e jarras de limonada suíça. É uma bebida refrescante, cremosa, deliciosa e nostálgica da minha infância.
Descasque os limões com uma faca afiada. Tire tudo, a casca verde e pele branca. Deixe só a polpa. Bata no liquidificador com água gelada. Passe por uma peneira. Acrescente açúcar e gelo à gosto. Sirva em copos altos!
* o que nós chamamos de limão no Brasil, não é o mesmo limão dos americanos. o limão deles é o amarelo. o verde eles chamam de lime. portanto essa bebida pra eles é uma limeade e não lemonade.
sabor de Natal II
hum, yummy!
Todos os chefs celebridades do Food Network não economizam humns e ohs enquanto preparam suas gororobas – simples ou sofisticadas – em seus shows diários. São auto-elogios incessantes, tudo é lindo, maravilhoso, uma delícia, fantástico, saborosissimo, incrível, sensacional, espetacular, yummy!!!
Como na minha cozinha de dona de casa comum, muita coisa queima, fica salgada, incomível, muito apimentada, com um gosto estranho, engororobada, insípido, amargo, aguado, duro demais, mole demais, encaroçado, azedo, torrado, começo a pensar se a propaganda não é mesmo a alma do negócio.
Resolvi mudar a minha estratégia derrotista, que está sempre pedindo desculpa pelos meus erros culinários. Sentamos para jantar e na primeira garfada fiz uma cara de prazer intenso e comecei a murmurar – hmmmm, hmmmmmmm, que delícia de comida, nossa, muito bom, muito bom mesmo!
Não mudou o sabor da gororoba, mas certamente impressionou o Ursão, que comeu com muito mais entusiasmo.
sabor de Natal
I summon the Iron Chefs!
De vez em quando – ou melhor, deixa eu ser honesta, quase sempre – eu vicio em algum canal ou programa de televisão. Nos últimos meses minha atenção anda colada nos Iron Chefs do programa japonês retransmitido pelo Food Network. The Iron Chef começa às onze da noite e eu nem sempre vejo até o final, pois às vezes acabo dormindo antes. Mas nem por isso a experiência de assistir à batalha dos chefs japoneses deixa de ser interessante. No kitchen stadium, dois chefs se confrontam todas as noites. Um dos quatro Iron Chefs – Iron Chef Japonese, Chinese, Italian e French – e um desafiante. Há um moderador, um comentarista e dois convidados, entre eles sempre uma atriz ou um cantor famosos no Japão. A competição é acirrada, com um ingrediente secreto que vai ter que ser utilizado em todos os pratos. Os chefs têm uma hora para preparar no mínimo três pratos, que serão analisados, provados e julgados. O chef que vencer ganha todas as honras. O mais legal desse programa, além das comidas estranhíssimas, é o estilo desportivo que eles dão à competição, que parece uma mistura de luta de boxe com jogo de baseball. O comentarista analisa os movimentos dos chefs e câmeras espalhadas pela kitchen stadium filmam todos os detalhes. Ontem, por exemplo, se via pingos de suor cair da testa do desafiante [eca!]. Os ingredientes, animais ou vegetais, são sempre da melhor qualidade. Quando eles são peixes ou frutos do mar, geralmente ainda estão vivos – e eu fico em total horror vendo os chefs decepando-os ou cozinhando-os vivos! O resultado final é sempre pratos que agradam mais ao gosto oriental, nem sempre muito atraentes para a minha maneira ocidental de me alimentar. Muitas vezes eu fico enojada por pratos com melecas cruas tiradas da barriga de um peixe raro ou com a textura ou cor das comidas. Mas nessa batalha de chefs o que interessa mesmo é ver como eles trabalham na cozinha. E para mim é interessantíssimo observar a seriedade e o respeito, tão comuns na cultura japonesa e que ficam bem expostos durante a batalha dos chefs.