aquele do tomatão

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O supermercado que eu mais frequento e que mais gosto aqui em Davis é o Food Co-op. Eu vou lá mais ou menos duas vezes por semana, mas eu conheço gente que vai todo dia. É muito difícil não gostar daquele lugar. Assim que cheguei em Davis, enquanto esperava a burocracia da minha papelada para poder trabalhar, fiz voluntariado no Co-op. Por dois meses trabalhei recebendo como pagamento um bom desconto nas compras. Eu tirava a poeira das prateleiras, re-arranjava os produtos, deixava tudo bonitinho. Foi uma experiência interessante e desde então, passei a ser apenas consumidora.

Adoro ir lá por causa do ambiente. Não é um supermercado grande, nem chique, mas tem uma vibração super legal e é frequentado por pessoas bacanas de todas as tribos. Os funcionários são de uma gentileza ímpar e percebe-se que é uma coisa genuína, não é reflexo de um treinamento de marketing. Outro dia fiz uma pergunta pra um cara altão que estava enchendo alguns containers de bulk com produtos e ele—sem parar de falar um minuto, me levou pra cá e pra lá, me mostrando as opções. Difícil sair insatisfeito de lá.

No Co-op eu sempre encontro amigos e faço sucesso com minha sacola e-correta. Os caixas e empacotadores revezam, mas sempre puxam conversa, agradecem quando você toma a iniciativa e coloca as coisas na sacola. E tem sempre gente interessante nos corredores e nas filas. Outro dia um rapaz completamente out there comprava várias garrafas de cerveja. A cena estava engraçada, porque ele não estava com os dois pés completamente seguros no chão do planeta. No final ele saiu com umas garrafas enfiadas em sacos de papel e esqueceu uma pra trás. E ontem mesmo no caixa atrás de mim, um casal estrangeiro, que achei que deveriam ser filipinos, não falava UMA palavra de inglês e ria muito, de tudo, tentando se comunicar com a caixa, que tinha o rosto completamente vermelho e não sabia mais o que fazer para explicar que a sacola de papel era DE GRAÇA!

Além das coisas deliciosas que o Co-op vende e que muitas vezes só se encontra lá, ainda temos a vantagem lúdica de sermos recepcionados na entrada por um tomate. A estátua ostensiva e acolhedora faz parte do tratamento diferenciado que nenhum outro supermercado tem.

* foto da escultura do tomate tirada DAQUI

saindo à francesa

Você de repente reparou que eu não estou mais presente, que saí de fininho e ninguém nem viu, que decidi não participar, que não sou dessa tribo, que prefiro não saber, que eu quero paz e tranqüilidade, que eu fiquei perplexa e não quero mais compactuar, que sumi do mapa, você nunca mais me viu, nem ouviu falar de mim, nem ouviu de mim. É assim mesmo, vai se acostumando, pois eu sempre saio à francesa quando não me sinto mais confortável para ficar.
*textinho publicado originalmente em maio de 2005 no The Chatterbox.

o dia de pegar na enxada

Parou de chover e deu uma esquentada, o que me motivou a sair para uma vistoria no quintal. Saí principalmente para checar o estado da horta. Duas horas depois eu já tinha capinado uma das beds, removido um monte de mato e muitas folhas mortas acumuladas que cairam da minha árvore ancestral no outono, arranquei também raizes da menta hortelã, porque ela já está rebrotando e se não ficar de olho ela avança em tudo. Deu até pra suar um pouquinho. Enxada, pá, ancinho, luvas de borracha, cheiro de terra, de folhas decompostas—eu não sei por que tudo isso me atraí tanto, já que sou uma péssima jardineira, não tenho os dedos verdes e sou notória por conseguir fazer com que todas as plantas em vasinhos morram quando estão sob os meus cuidados. Mas na horta eu não preciso fazer muito, pois a terra é ótima, cheia de minhocas, bate sol suficiente e tem sistema de irrigação. Fiz uma avaliação geral do que sobrou do final do verão. As rúculas estão reaparecendo, perfumando tudo com o cheiro delicioso que elas tem. Parte do orégano e do tomilho sobreviveu, apesar de não estarem nem um pouco vistosos. Também a salsinha está lá, meio tímida ainda. E um raminho curto de cibouletes. Tudo o mais padeceu com a chuva e o frio. Infelizmente eu não tenho disposição para fazer horta de inverno. Mas no verão eu realmente me animo, apesar de me concentrar basicamente nas ervas e nos tomates. Para este ano tenho uma estratégia diferente para os pés de tomate, que já fiquei no maior entusiasmo de plantar.
*esse ritual de sair no quintal quando o inverno dá um tempinho, é repetido rotineiramente no meio de fevereiro ano após ano.
** a estrategia deste ano eh apenas uma—espaco. vou plantar apenas duas plantas por canteiro, ou apenas uma por canteiro, pois tomates, like Brazilians, need space!! 😉
***tem uma foto da minha horta AQUI.

Tosca cake

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Achei essa receita no Nordic Recipe Archive e ela estava guardada há um tempo. Tive a oportunidade perfeita para finalmente faze-lo quando combinei um chá das cinco com meus amigos. Fiz também a pissaladière, que já figurou aqui em outros carnavais. O chá foi um simples Earl Grey, com leite para quem quis leite e açúcar para quem quis açúcar. O bolo ficou bom, mas só na hora de traduzir a receita que eu percebi que troquei o mililitro pelo grama durante a leitura. Segundo o Uriel, eu simplesmente DOBREI a quantidade de farinha e por isso o bolo ficou mais massudo do que deveria. Ele me mandou comprar uma lupa para ler receitas. Acho que vou seguir esse conselho, porque assim não dá pra continuar…
Tosca cake
3 ovos grandes
200 ml de açúcar
300 ml farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
2 colher de chá de açúcar baunilhado
3 colheres de sopa de leite ou crème de leite fresco
150 gr de manteiga
Para a cobertura de amêndoa:
100 gr de manteiga
2 colheres de sopa de leite
6 colheres de sopa de açúcar
1 colher de chá de açúcar baunilhado
2 colheres de sopa de farinha de trigo
200 ml de amêndoas em fatias
Massa: derreta a manteiga e deixe esfriar. Numa outra vasilha peneire a farinha, o fermento e o açúcar de baunilha. Bata o açúcar com os ovos até obter um crème. Incorpore a mistura de farinha, alternando com o leite e a manteiga derretida. Misture gentilmente com uma espátula e coloque numa forma redonda larga e rasa untada. Asse em forno pré-aquecido em 175 °C/ 350ºF por 20 ou 30 minutos, até o bolo estar quase cozido e com a superfície ligeiramente dourada. Suba a temperatura do forno para 200 °C/400ªF e prepare a cobertura.
Cobertura: numa panela derreta a manteiga, adicione o leite, os açúcares, a farinha e as amêndoas. Misture bem e leve ao fogo, mexendo sempre até engrossar ligeiramente. Cuidado para não cozinhar demais. Despeje a cobertura sobre o bolo e asse por mais dez minutos. Retire do forno, deixe esfriar, transfira para uma grade e depois para um prato.

Casa Grande & Senzala

Fui ver o video indicado pelo Ricardo onde a tal de Ana Maria Braga ensina a fazer a carne-de-sol. Eu não conhecia o programa dessa moça, que nunca tinha assistido. No meu tempo de Brasil só existia a Ofélia cozinhando na tevê. Pra quem vive no Brasil, o que me chamou a atenção deve passar despercebido. Mas visto de fora é muito difícil não notar uma das características mais comuns da sociedade brasileira—a presença da Maria. Na cozinha do programa ela é meramente a serviçal, limpando, arrumando, fritando o bife, fazendo o serviço que a patroa não faz. A Maria sempre de uniforme, que nesse caso faz parecer o aparato de um chef, sem deixar de ser uniforme, pois a patroa não está usando um. Pobre Maria, até levou uma bronca em público da patroa, que disse—não é assim que faz, Maria, não faz assim, Maria. A Maria não retrucou nem a nem b. Aliás, até o irritante papagaio de plástico tem uma participação de mais destaque no programa. A Maria só é vista passando no fundo, abrindo o forno, carregando a bandeja, e ouvindo ordens. Será que foi assim somente nesse episódio? Será que em outros a Maria tem uma participação diferente?
Outra coisa que notei foram as luvinhas nas mãos da patroa. Acho horriveR a lambeção de dedos de celebridades como a Nigella, por exemplo. Mas num pais onde se faz carne-de-sol com carne podre comprada de abatedores clandestinos e ninguém fiscaliza, nem faz absolutamente nada pra mudar esse cenário tétrico, aquelas luvinhas me pareceram bem hipócritas. *está explicado o uso das luvas nos comentários, então removo minhas criticas.

cem por cento local

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Um almoço cem por cento local—norte da Califórnia. O peixe é um leopard shark pescado em Bodega Bay, temperado com sal, pimenta branca, envolto no fubá e frito no óleo, servido com um gomo de limão do meu quintal. A salada são folhas verdes dos meus produtores favoritos no Farmers Market com as passas dos fazendeiros de Sanger, temperada com limão, azeite, sal. Os cogumelos são também do Farmers Market, do produtor japonês de quem eu compro cogumelos orgânicos todo sábado, eles foram refogados com alho da cesta orgânica da fazenda da UC Davis e azeite orgânico do Napa Valley. Se quiser esticar mais um pouquinho o esquema eat local, os pratos também podem ser considerados locais, pois são feitos manualmente em Sausalito, pela Heath Ceramics. Nota final do crítico, depois dessa refeição: estava excelente. me senti almoçando no Chez Panisse. ha ha ha ha ha!