O linguado [sole] é vendido geralmente em filés bem finos, bom para fazer frito, como nesta receita que preparei um tempo atrás. Mas desta vez quis fazer o peixe assado embrulhado no papel, pra não fazer sujeirada. Fiz uma cama de cebolas e abobrinhas em rodelas, temperei os filés com sal marinho e pimenta do reino e cobri com uma manteiga temperada com alcaparras e salsinha picada. Salpiquei com as amêndoas e tasquei no forno por vinte minutos. Singelo e deleitoso.
Mês: agosto 2007
o gato verde
Um amigo português, estudante aqui na UC Davis, foi a Portugal de férias e me trouxe de presente um vinho verde. Eu tinha levado uma garrafa do néctar refrescante para dividir no último picnic que tivemos e matraquei tanto sobre a minha mais nova paixão, que ele se comoveu e disse—vou te trazer uma garrafa de lá! E trouxe mesmo, oh gajo simpático!
J’aime les cocottes
Um pulinho na loja de fábrica da Le Creuset, que fica aqui pertinho. Toda a linha cor de kiwi estava com vinte por cento de desconto. Os preços dessa loja são mais em conta, pois muita coisa é second choice ou itens que estão saindo de linha, o que não é absolutamente um problema. Eu dei uma olhada geral na loja que cheirava à maçã com canela, mas me segurei firme pra não comprar nada. Não dessa vez.
Bem-vindos à Tomatolândia!
Até o final do verão, a qualquer hora do dia ou da noite, quem pegar a state route one thirteen—a estrada que liga Davis à Woodland, vai poder ver os caminhões com carreta dupla transportando toneladas de tomates. É um vai e vem típico do verão na região do estado que mais produz tomates no país. Até setembro os acostamentos vão estar avermelhados com os tomates que escaparão das carretas e se espatifarão pela estrada. O cheiro doce dos tomate maduros vai estar infestando o ar. A colheita corre solta, as processadoras de tomate à todo vapor, muitos estudantes aproveitam para ganhar uma grana extra dirigindo os caminhões ou trabalhando nas enlatadoras.
No final da década de 90 o Uriel tinha um projeto com tomates e testava sua maquininha durante a colheita na fazenda do maior produtor de tomate dos EUA. O dono da fazenda, que meu marido chamava apenas de Tony, é responsável por suprir a demanda de catchup do país—imaginem a enormidade disso: catchup pra molhar a batatinha de trezentos milhões de americanos. Numa linda noite de verão em plena colheita dos tomates, quando muitas vezes os pesquisadores passavam a noite no campo junto com os colhedores, eu acabei numa situação bizarríssima.
Fui caminhar e não levei a chave. Quando voltei o Uriel tinha regressado apressadamente para o campo de tomates e me deixou trancada pra fora de casa. Foi aí que eu descobri a verdadeira extensão da fazenda do tal Tony. Dois amigos se aventuraram pela noite na tentativa de encontrar o meu marido, para eu poder entrar em casa, e voltaram horas depois de mãos vazias. A fazenda do Tony não tinha UM campo de tomates, mas VÁRIOS, espalhados pela região. Achar o Uriel iria ser como achar uma agulha num palheiro. Naquela época nós achávamos desnecessário ter um aparelho de telefone celular. Eram outros tempos, outra mentalidade, outro século.
Eu costumava propagandear em tom jocoso que vivia na tomatolândia, porque passava o verão atolada nas frutinhas vermelhas. Todo ano elas apareciam insistentemente em quantidades absurdas na minha cozinha. Hoje isso não acontece mais, já que os atuais projetos do Uriel se concentram nos pistaches e nas azeitonas. Mas continuo vivendo no centro da região tomateira e não posso deixar de aproveitar a variedade imensa desses frutos, que chegam à nossa mesa todo verão numa profusão de cores e sabores. Agosto é o mês mais pululante para os tomates no Farmers Market. E quando vou à Woodland passo por caminhões e mais caminhões lotados de tomates. O cheiro dos tomates, as cores dos tomates, os sabores dos tomates, as infinitas receitas com tomates, tomates, tomates, tomates, tomates!!!