a hora e a vez do bolo

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Quando me dá aquela vontade de comer algo gostoso lá pelas três da tarde, eu caminho até a Coffee House da UC Davis e invisto $1.25 numa fatia de bolo. Não é qualquer fatia de bolo, mas um bolo, aquele bolo, o bolo especial, que pra mim é bem parecido com o bolo feito em casa—feito por alguém com mão boa pra fazer bolo. Eles não têm nada de especial, são branco, com poppy seeds, ou com limão, com purê de maçã, de chocolate, receita especial da tia de alguém, sempre com uma cobertura de açúcar e manteiga, que eu cuidadosamente romovo com o garfo antes de comer. Eu adoro esses bolos, porque eles são feitos from scratch pelos estudantes que trabalham na Coffee House, com ingredientes locais e fresquinhos. Pra mim é sem dúvida o melhor bolo da cidade! A Coffee House tem um profile bem interessante, pois é administrada por estudantes, que fazem de tudo, desde organizar o cardápio, fazer a comida e vendê-la diáriamente para os milhares de outros estudantes que passam por lá. A CH consome toneladas de ingredientes fresquinhos adquiridos de business locais. A fazenda da UC Davis, onde eu pego meus legumes e verduras orgânicos semanalmente, é um dos fornecedores.
A hora do bolo é uma hora auspiciosa. Caminho até a Coffee House, escolho o bolo, volto caminhando, removendo a cobertura e devorando o bolo fofinho e macio, no mais popular estilo dos pratos ambulantes. Quando chego no meu prédio, com o prato vazio, apenas o garfo e o creme da cobertura amassarocado num canto, estou feliz, extremamente feliz!

mais ou menos normal

Foi uma recepção matinal muito mais simpática, com o meu novo IMac me esperando. Ele é um pouco maior que o meu velho-surrupiado, portanto vou poder me espalhar mais. O porém é que apesar de todos os files terem sido restaurados, algumas preferências se perderam e passei a manhã colocando tudo no lugar. Tive que trocar alguns passwords e foi mais trabalhinho chato. Eu sou daquele tipo acomodado, que deixa tudo salvo pra nãoo precisar me preocupar. Bom, hoje tive que rebolar um pouquinho. Felizmente tenho ajuda de uma técnica e de um programador, e aos poucos voltarei à rotinazinha de sempre.

para beber com os amigos

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Fomos ao restaurante italiano com os dois casais de professores espanhóis. Foi interessante ouvir os comentários deles sobre a comida. Sem empáfia nenhuma, somente com aquele conhecimento de quem viaja muito, por ter mais facilidade para viajar. Nós, habitantes do vasto continente americano, ficamos embasbacados com a possibilidade de dirigir por algumas horas e mudar de país. Aqui levamos o mesmo tempo para cruzar um estado. Os espanhóis podem facilmente comer comida italiana na Itália, o que é bem diferente de comer comida italiana aqui. Mas eles gostaram, overall. Eu sugeri um vinho zinfandel para acompanhar as massas, somente porque é uma variedade muito comum na Califórnia. Na hora da sobremesa, ao invés de pedir aqueles doces meia-boca de sempre, resolvemos pegar doces caprichados do Ciocolat e degustá-los em casa, acompanhado de alguma bebida. No meu esquemão, já fui sugerindo um café, um chá? As caras não disfarçaram um muxoxo. Ah, mas vamos tomar um Porto. As faces alegraram-se. Bebericaram Porto , Amarula e Pinga de Banana. Eu fui de Pastis e o Uriel de Ginger Beer [ele não bebe mais álcool]. Um encontro assim animado, no meio da semana, não é muito comum. Conversamos muito, o Roux tentou fazer amizade com todos, até com quem disse na bucha que não gostava de gatos [taí a prova de que ele é uma criatura não muito inteligente]. Falamos até de política. O casal mais velho chegou em Davis pra fazer seu doutorado durante o Summer of Love—quarenta anos atrás. Ele nos contou algumas coisas engraçadas. Depois confessou que tinha três detalhes no seu currículo acadêmico dos quais ele não se orgulhava muito.
—meu diploma de graduação assinado por Francisco Franco; meu diploma de mestrado assinado também pelo Francisco Franco; e meu diploma de doutorado assinado pelo Ronaldo Regan!
—Ha Ha Ha Ha!
—Salud! Tin-tin! Cheers!

ziriguidummmm

Cheguei no trabalho às oito da manhã e a policia já estava no prédio. Criminosos adentraram o recinto e levaram o meu computador, o da jornalista e o do estagiário—os três IMacs sem torre e portanto fáceis de carregar. Tudo meu lá dentro, trabalho e pessoal. Eu já tinha sido avisada que iria ganhar um computador novo, com monitor maior e mais memória, mas nao seria hoje. O roubo só apressou o processo. Estou usando um MacBook, onde não tenho nada e ainda estou completamente perdida. Até a tarde tudo estará resolvido, mas o gosto amargo de ter sido roubada permanecerá por um tempo. A Universidade da Califórnia está revendo e implementando medidas de segurança mais rígidas, porque esse tipo de roubo tem acontecido com certa frequência.
* amanhã cedo já terei meu computador novo, com tudo o que tinha e que preciso dentro. felizmente, os meliantes praticaram o furto depois do back up semanal do sistema, então tudo vai ser facilmente recuperado. senão eu teria perdido parte do trabalho que fiz nesta semana. isso sim iria ser um pêoherreerreêh.
** o mundo está se brutalizando e trancar virou imposição.

roxo, da cor da violeta

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Foi um montão de blueberries, raspas de limão, Limoncello, o licor de limão italiano, açúcar demerara e creme de leite diluído, o half-and-half. Mesmo assim não empolgou. Por quê? Não sei. Pra mim pode ter sido as blueberries, porque não acho que elas são o fino da bossa, muito pelo contrário. Acho essas frutinhas muito das sem graça. Também pode ter sido o half-and-half, que não ajudou a dar corpo ao sorvete. Deu pra comer—como diz o meu marido, mas não nos arrebatou em entusiasmo, não nos fez murmurar hmmms e owhhhs. Houve um momento de silênco, mas foi de constrangimento: devo confessar que não gostei? Mas a cor ficou linda, uma coisa toda violeta, bem ornamental.

slap me out of it!

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Inspirada por um dos meus sabores favoritos do Aisu Pop—abacate com limão, meti as caras em mais uma aventura na terra da fruta congelada. Pois primeiro preciso dizer que tive um momento Alton Ego quando dei a primeira mordida naquele sorvete verde, naquele sábado ensolarado, enquanto caminhava pelo Farmers Market. O creme de abacate com leite ou limão é um dos sabores da minha infância. Virava e mexia, tínhamos o creminho de sobremesa. Eu gostava mais da versão com limão e mais tarde descobri que eu poderia misturar os dois. A cremosidade do leite com o azedinho do limão. E foi isso que fiz, bati um creme bem grosso com dos abatates da variedade Hass, leite integral, açúcar demerara e suco de um limão. Depois foi só colocar na sorveteira. Ficou ri-di-cu-la-men-te BOM. Desta vez ninguém reclamou nem botou defeito em nada. Apreciamos a sobremesa em total silêncio. Colheradas e mais colheradas de sorvete de abacate, até as lambidas finais. The End.
Assumo o fato de que estou ficando monótona e daqui a pouco vai ter gente rindo de mim lá no Rio de Janeiro. Mas tudo bem, estou mesmo aficionada por essa geringonça de fazer gelados. Tenham paciência, daqui a pouco começa a esfriar, eu compro outro badulaque, desvio a minha atenção e mudo finalmente de assunto. Por hora, firme na prancha, que tem mais ondas de sabores chegando!

que se revela pela distinção

Reunir é bom, aproxima mais os colegas de trabalho, especialmente porque estamos divididos em dois grupos e sitiados em locais diferentes. No meio do campus fica o pessoal da web, onde eu me incluo. E no que chamamos de fazenda, fica o pessoal da publicação, os escritores técnicos, que preparam todo o material que sustenta o website. Por isso temos uma reunião bimestral, que eu estou incumbida de organizar, quando podemos nos sentar para discutir os pequenos enroscos dessa transição do papel para a web. O negócio é que eu peguei uma total antipatia desse evento. Fico tremendamente exausta com os debates extra-super-micro-hiper minuciosos sobre coisas muitas vezes óbvio ululantes pro grupo da web, mas que pro pessoal da publicação é um bicho de sete cabeças. Uma das escritoras é especialmente chata. Ela me causa temor, porque é sempre a do contra, a que acha entrave nas situações já resolvidas e tem as dúvidas mais non sense. A reunião for desmarcada duas vezes por causa dela. Quando finalmente nos sentamos em volta da mesa da sala de conferências, ela já foi avisando que detestava esses encontros matinais e por ter madrugado, desculpava-se, mas teria que tomar seu café ali mesmo na nossa frente. Eu já fiquei de cabelo em pé—ela vai comer durante a reunião? Essa é uma atitude muito comum nos ambientes de trabalho aqui na norte América, mas eu não consigo tolerar nada mais que xícaras de chá, garrafas de água ou latinhas de diet Pepsi. Por ser uma estressadinha, já fui acumulando uma irritação extra, pela iminência dos sluuuurppp, sleeeerrp, crackcrokcrunck e shurrrllffppff durante as discussões infinitas. Meu ânimo, já sóbrio, submergiu num crescente e desgostoso pesar.

Acho que ninguém realmente reparou. Só mesmo eu, porque estava de olhão em cada movimento, me preparando para o pior. Ela tirou uma garrafa térmica enorme de dentro de uma bolsa que estava no chão e encheu uma caneca também térmica com café num movimento quase tão gracioso como o de um balé. Não se ouviu um “chi”. Depois, num movimento ainda mais discreto, que nem eu que estava olhando vi, uma vasilha de plástico apareceu sobre a mesa. Nela, uma boa quantidade do que eu concluí ser iogurte natural misturado com pedaços enormes do que me pareceu ser pêssego—eu tentava não encarar muito. Uma colher saiu de não sei onde e ela fez seu desjejum durante a reunião, sem chamar a atenção, sem fazer barulho, sem se lambuzar, sem sujar nem respingar nada, nem falar com a boca cheia de comida, nem mesmo o batom cor de chocolate perdeu o brilho. Tudo muito impecável, com muita classe e finesse, num comportamento exemplar de comer em público.

*Se outros pudessem seguir esse bom exemplo….