as frescas do sábado

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Quando passamos por ondas de calor com temperaturas chegando nos “triple-digits”, acima de 100ºF, ficamos completamente satisfeitos e descaradamente felizes quando voltamos ao nosso normal de 94, 96ºF. No calorão da quinta-feira minha respiração era pesada e meu globo ocular ardia enquanto eu voltava para casa do trabalho pedalando a minha bicicleta, mais ou menos protegida por um chapéu de palha. Na sexta-feira passei frio à noite, com vestido fresco de alcinha numa festa onde os convidados se puseram a conversar do lado de fora, pegando uma fresca. Sábado arrumei a mesa para jantar com amigos no quintal, mas a brisa fria nos convenceu a ficar dentro de casa. Isso é o nosso verão, cheio de altos e baixos, momentos dramáticos e períodos bucólicos. Aguardem os próximos capítulos.

minha cozinha social

Tenho memórias de muitas cozinhas, tanto nas diversas casas que morei durante a infância e adolescência, quanto nas minhas moradas de pessoa jovem casada com filho. Na minha primeira casa de pessoa jovem casada com filho, a geladeira era bem pequena, o chão era cor de ferrugem e as paredes tinham azulejos decorados com tons de beige e marrom. A pia tinha um tampo de mámore cor de gelo e era pequena e baixa para a minha altura. Eu sempre ficava com a barriga molhada enquanto lavava coisas. O fogão era o mais chique, presente de casamento que destoava de tudo mais. Nessa cozinha pequena eu fiz muita comida ruim, joguei muita comida fora, lembro de um frango inteiro indo pro lixo, pois achei que o cheiro estava estranho. Nessa cozinha eu fazia as papinhas de legumes sem carne pro Gabriel e ele comia sentado num cadeirão. Um dia eu fui pra universidade e esqueci no fogo uma leiteira com água esquentando uma mamadeira. Estava no meio da aula quando me deu um click. Voei aos passos triplos pelas ruas, correndo como uma enlouquecida. Cheguei em casa esbaforida e cega de pavor e encontrei a panela ainda no fogo, chiando. A base da mamadeira derreteu e a leiteira ficou imprestável, mas a casa não pegou fogo. Ali uma vez eu cozinhei feijão numa das centenas de infrutiferas tentativas de fazer um feijão bom. Deixei a vasilha esfriando em cima da mesa e o Gabriel foi lá e virou tudo no chão cor de ferrugem. Era tarde da noite, o guri acordado aprontando todas, um disco da Yoko Ono tocando e eu lavando o chão, louca da vida e rindo ao mesmo tempo, porque as crianças às vezes fazem a gente rir nas horas mais insólitas. Era um prédio de quatro apartamentos por andar, um de frente pro outro, as portas da frente e as cozinhas. Da janela da minha cozinha eu via a cozinha do vizinho, que era um jogador do Guarani Futebol Clube chamado Banana. Apelido Banana, pois acredito que ele deveria ter um nome normal como Sérgio Wanderlei ou Márcio Roberto. Pois naquele ano o Guarani estava na crista da onda e o Banana estava deslumbradão e pimpão com a possibilidade de “make it big”, ganhar muitos milhares de Cruzeiros, ficar famoso, sair na capa da revista Contigo. Enquanto eu cozinhava minhas gororobas destinadas ao lixo, as papinhas do Gabriel ou lavava as louçinhas, ouvia o Banana bradar lá do outro lado do edifício, pra mulher dele que cozinhava, o que ele iria fazer com a grana que estava entrando. Abraçava a mulher, olhando de soslaio pra ver se eu estava ali na minha cozinha para poder ouví-lo—MULHER, PREPARE-SE POIS VOU TE COMPRAR UM ANEL DE DIAMANTES! Um diamante é para sempre, mas a onda de sorte e prosperidade do Guarani e do Banana não parece ter durado muito.

cold soba noodles

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Super simples: cozinhe o soba em bastante água. Quando cozido, escorra numa peneira e enxague bem com água corrente fria. Reserve. Prepare o molho, que pode ter muitas variações. O meu só teve shoyo, um pouquinho de água, dois pingos de óleo de gergelim e gengibre ralado. Misture e salpique com sementes de gergelim tostadas.

Vivendo sobre as ondas

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Tenho essa impressão fatalista com relação à certos feriados, por exemplo, eu tinha certeza absoluta que sempre iria chover no dia de finados e normalmente sempre chovia. Tá certo que essas “fatalidades” têm uma ligação bem forte com as estações do ano, que costumavam ser invariáveis. Tenho, de qualquer maneira, essas idéias pré-estabelecidas sobre a atmosfera de um feriado. Não tenho mais experiência de dia de finados, felizmente! Mas agora agreguei minhas premonições aos feriados que vivencio aqui na América do Norte. E pra mim não existe fourth of july que não seja tórrido. Todos os quatro de julho que vivenciei, desde que cheguei em Davis há dez anos, foram tórridos. Em alguns deles eu escapei para a praia, onde invariávelmente, verão, outono, inverno ou primavera, faz sempre frio. Já saímos de Davis aos quarenta graus, e tive que vestir um suéter e um casaco chegando na praia. Essas idas à praia são de fato um refresco. Aquele tal Lulu que disse que iria levar a vida sobre as ondas, certamente nunca cogitou mudar-se para o Central Valley do norte da Califórnia, que é a região onde estou, bem no limite do fresquinho da Bay Area. Aqui, as únicas ondas que pegamos são as de calor, e estamos surfando sobre uma neste exato momento.

Como não fugimos nem pra praia, nem pro lago, resolvemos enfrentar o quatro de julho enfurnados em casa. Nunquinha que eu vou fazer picnic de feriadão em parque sob um solão de 40ºC! Imaginei a cidade em massa acampada no parque onde acontecem os fogos no final do dia. Eu fui à esse evento uma vez e bastou. A base desse feriado é o picnic. E quando anoitece tem aquela queima de fogos, que dependendo da cidade pode ser uma experiência estimulante ou broxante. Aqui em Davis acho que atingimos um meio termo. Mas com bafão, ficar no parque a tarde toda? Nem pensar!

Fui nadar pela manhã, depois demos um pulo ao supermercado onde adquirimos um filézão de salmão selvagem, frutas frescas e ingredientes para uma bela salada, além de pão e bebidas. Não usei o fogão. O Uriel fez o peixe na churrasqueira e almoçamos bem tarde. Eu bebi vinho verde acompanhando o salmão que foi temperado somente com sal marinho e pimenta do reino e assado no papel alumínio sobre uma caminha de batata, para não grudar.

Passamos o resto da tarde esticados no sofá, lendo e cochilando na companhia dos gatos. Fizemos um lanche às oito da noite e subi às nove para abrir as janelas da casa. Ainda estava um pouco abafado. Às nove e meia começaram os fogos no parque e os cachorros do meu vizinho latiram sem parar por mais de meia hora, enquanto eu tentava ouvir os diálogos de Rope, do Hitchcock na tevê.

Hoje, cinco de julho, temperatura de 41ºC, seco como um árido deserto. Mas como sempre, estamos preparados com todas as técnicas e gears, surfando normalmente a nossa onda.

F   O   R   N   O  : parece que essa ondaça de calor engolfou não só o norte da Califórnia, mas todo o oeste norte-americano. muita calma neste momento! permaneçam indoors, não se abanem nem se afobem e bebam muita água!

vanilla beans

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Além de ter a delicadeza de dividir com os outros bloggers as centenas de favas de baunilha que recebeu do beanilla para serem testadas, ele ainda fez a gentileza de trazê-las aqui em casa. Special delivery! Que amoreco!
Agora tenho essas favas vindas do Tahiti, Madagascar e Tonga. Preciso de receitas urgente. A primeira coisa que me veio à cabeça foi um creme brulée, ou mais óbvio, um leite ou açúcar infusos com as baunilhas. Idéias? Idéias?
*acho que vou comprar uma geringonça de fazer sorvete…

Ratatouille – o filme e o rato

Quando vi o Roux naquela posição tensa e rígida no patamar da janela, imediatamente corri pra tentar ver o que ele estava vendo. Um coelho? Um passarinho? Ou, argh, um rato? Fixei meus olhos na direção do focinho do felino e vi, galgando ligeirinho pelo tronco do meu limoeiro, uma IMENSA RATAZANA CINZA!!

Fiquei descabelada! Liguei para a empresa de controle de pestes que nós contratamos ratatouille_littlechefremypara lidar com as formigas e que chamamos para outros casos quando precisamos. Deixei um recado extremamente nervoso. No dia seguinte na hora do almoço chega o rapazinho da empresa.

—estou respondendo a um chamado sobre roedores…
—sim, e eu quero ver esses ratos todos MORTOS!

Pegamos a sessão das dez para ver o novo filme de animação da Pixar. Nem pensem que eu sou do tipo que vejo esse tipo de filme. Os poucos que vi até hoje foram puro acidente, normalmente assistidos no avião, durante uma viagem longa, quando acabam todas as outras opções. Acho tudo muito lindinho, mas esses filmes não são bem a minha praia. Nunca sairia de casa de livre e espontânea vontade para ver no cinema uma animação da Pixar. Mas ontem eu fiz, porque o filme era Ratatouille, a história do ratinho cujo sonho é se tornar um chef em Paris.

Andei lendo que essa é a melhor e mais perfeita animação feita pela Pixar. É realmente impressionante a riqueza dos detalhes e pormenores. Muitas vezes quase juramos que as cenas são reais. O ratinho, little chef Remy, é a coisinha mais fofa e encantadora do mundo! Os ratos do filme não são estilizado nem embelezados, para se tornarem fofinhos. São ratos mesmo, vivendo em sótãos ou esgotos, roubando comida. Mas Remy tem o paladar e o olfato super desenvolvidos e refinados e é fã de Gusteau, um chef parisiense famoso. O filme vai agradar toda a blogosfera culinária. É impossível não se identificar um pouco com Remy e não ficar balançando a cabeça e rindo com cara de bobo em certas cenas. Uma em especial, quando o temível crítico Anton Ego [dublado por Peter O’Toole] coloca a primeira garfada do ratatouille feito por Remy na boca—é de rolar lágrimas bolotudas pelo rosto. O filme é simplesmente um primor.

Ficamos com aquele riso nervoso enquanto víamos o bando de ratazanas do filme. O que vamos fazer com o rato invasor do nosso quintal, que está comendo nossas nectarinas e tomates? Meu marido disse que mesmo glamourizados em filminhos, ratos continuam ratos. Mas como eu sou uma pessoa abobalhada, fiquei com a imagem do Remy misturada com a visão da ratazana descendo do meu limoeiro. Ratos de animação, ratos de verdade: amem e odeiem.

a Sofia Loren gostou

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Depois da experiência na Quintessa, todo o resto que fizemos no Napa ficou meio mixuruca. Paramos para almoçar no Bistro Don Giovanni e eu estava completamente blasé. Não fiquei impressionada com nada e talvez nem tivesse motivos pra ficar. O garçon, daquele tipo afetado com senso de humor que poderiamos classificar de simpático passivo-agressivo, até que se esforçou pra deixar tudo mais interessante. Mas como eu disse, depois da Quintessa o resto perdeu um pouco a graça.
Pedimos uma sopa de tomate com pão, que estava bem gostosa e depois atacamos de massas. Pra acompanhar, fomos na sugestão do nosso amigo Andres e optamos por um Zinfandel do Napa Cellars. Eu nunca bebi um Zinfandel que eu não gostasse. Tenho uma preferência descarada por essa variedade. E o do Napa Cellars não decepcionou. Estava realmente saboroso e eu bebi dois copos! Já a massa, optei pelo Fettuccine alla Lina, com molho de porcini, linguiça e parmesão regiano. Talvez tenha sido a sopa, aliada aos dois copos de vinho, mas eu estava devagar na degustação do fettuccine. Não achei aquela maravilha. O nosso extravagante garçon me informou gaiatamente que Lina, a esposa do proprietário do Bistro Don Giovanni, tinha criado essa receita de fettuccine especialmente para a Sofia Loren.
—e a Sofia Loren gostou?
—o fettuccine está no menu, não está?
—aaahhhh, sim, está!!
Bom, parece que a Sofia Loren gostou do Fettuccine alla Lina. Mas pra falar a verdade… shiu… vem cá, vou te falar… [eu não gostei muito não….]

bolo de milho verde

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Uma receita brasileira tirada do livro 1000 Receitas da Culinária Brasileira da Editora Girassol, sem autor. Eu comprei esse livro quando estive no Brasil em dezembro e ele ainda estava “virgem”. Como os milhos não param de chegar, foi a hora de procurar uma receita por lá. Essa me fisgou por ser extremamente fácil, quase um bolo de liquidificador.

4 espigas de milho
1/2 xícara de óleo
1 lata de leite condensado
3 ovos
1 1/2 xícara de farinha de trigo
1 colher de sopa de fermento em pó
açúcar de confeiteiro e canela a gosto

Debulhe os grãos de milho com uma faca, cortando rente ao sabugo. Bater o milho debulhado no liquidificador com 1/2 xícara de água. Passe por uma peneira. Jogue o resíduo fora e ponha o creme de milho de volta ao liquidificador. Junte o óleo, o leite condensado e os ovos e bata bem. Coloque a mistura numa vasilha e acrescente a farinha, batendo bem com o batedor de arame. Por último acrescente o fermento em pó batendo bem. Despeje tudo numa forma redonda com um furo no meio untada e enfarinhada e asse em forno pré-aquecido a 200ºC/400ºF por uns 30/ 40 minutos. Retire do forno e quando esfriar retire da forma e decore se quiser com açúcar de confeiteiro e canela.