massa para pizza

Não iria ser uma simples massinha de pizza a me passar a perna, não senhoures! Sábado passado deu tudo errado, mas neste sábado eu retomei a receita e jurei pra mim mesma—desta vez VAI dar certo. E deu!

A receita deu para duas pizzas, a massa bem fininha e crocante. Fiz na batedeira elétrica, que é como a receita ensina. Mas pra quem não tem uma batedeira robusta com acessório para sovar massa, a única solução é arregaçar as mangas e botar as mãos na massa pra sovar—e muito!

Receita tirada da edição de Junho de 2006, da revista Martha Stewart Living

Massa para Pizza
1 xícara de água morna
1/2 colher de chá de açúcar
1 envelope de fermento biológico seco – 2 1/2 colheres de chá]
1 colher de sopa de azeite
1 1/2 xícara de farinha de trigo
1 xícara de semolina
2 colheres de chá de sal grosso

Coloque a água na vasilha da batedeira. Adicione o açúcar e o fermento, mexa bem com uma espátula até o fermento e o açúcar dissolverem. Deixe descansar por 5 minutos, até formar uma espuminha. Adicione então o azeite, o sal e as farinhas. Coloque a pá na batedeira e misture bem os ingredientes. Troque a pá pelo acessório de bater massa e deixe a massa batendo por 5 minutos. A receita pede que se sove na mão depois disso, então eu deixei sovando na batedeira por mais tempo, só pra não precisar suar a camisa. Quando a massa estiver bem elástica e e macia, coloque numa vasilha untada com azeite, cubra com filme plástico e deixe crescer num lugar quentinho por 3 horas. A minha massa não precisou de três horas pra crescer, em 1 e meia ela já estava o dobro. Fico macia, bem fácil de abrir com o rolo. Deu duas pizzas.

o objeto da reportagem

Eu estava um pouco nervosa. Por duas razões: primeiro por não entender por que o meu – um blog escrito em outra língua, indecifrável para a maioria da população de Davis, foi convidado para ser objeto de uma reportagem; segundo porque tenho esse constrangimento que toma conta de mim, quando viro o centro das atenções, por qualquer motivo que seja. Quando Claire, a reporter do jornal local, The Davis Enterprise, me contactou para uma entrevista, eu disse sim, claro. Mas quando ela marcou o nosso encontro e disse que o fotógrafo iria também, eu desmontei. Tudo bem, catei os pedaços com o orgulho que me mantém em pé e disse – vamos lá! Que mal pode haver em ser fotografada para uma matéria sobre food blogs para o único jornal da sua cidade. Nenhum….. ahn.
Marcamos de nos encontrar no Farmers Market às onze da manhã. Logo na entrada do mercado encontrei o Brendon, que me contou do encontro com a repórter e de como ele cozinhou simples e falou pelos cotovelos. Nossa, me senti aliviada, pois li toda aquela descrição da comida do jantar que ele fez e fiquei nervosa pensando o que eu iria cozinhar. Também tem o problema de eu ser uma matraca incorrigível e falar mais que a boca mesmo e apesar do meu maravilhoso sotaque. Eu e Brendon encontramos o fotógrafo, um cara muito simpático e depois chegou a Claire, super charmosa, também extremamente simpática e fui ficando mais à vontade.
Já comecei a falação – com a repórter e com o coitado do fotógrafo, que foi me seguindo pelo mercado, tirando fotos enquanto eu comprava verduras, legumes e frutas. Tentei muito ficar o mais natural possível, mas o contrangimento de saber que tinha um fotógrafo tirando fotos minhas enquanto eu pagava pela rúcula foi um estresse terrível.
Depois da sessão pública de fotos – vergonha, vergonha – seguimos eu e a Claire para a minha casa, onde conversaríamos e eu faria a minha comfort food predileta para ela provar – macarrão alho & óleo! Falei o tempo todo, enquanto cozinhei o macarrão e descasquei os alhos. Ela anotava tudo num caderninho. Confio que ela faça bom uso de toda essa informação top secret.

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O macarrão ficou pronto, um pouco oleoso demais pro meu gosto – foi a distração do convercê. E eu não tinha queijo parmesão pra ralar fresquinho, então usei uma mistura de parmesão, pecorino pré-ralado, que eu tinha na geladeira. Mas o vinho estava simplesmente delicioso – um vinho verde português que estava guardado desde o final do ano, esperando uma ocasião especial pra ser aberto.
A conversa rolou fácil. Eu só preciso de um ouvinte dedicado para falar até a língua secar e a Claire estava ali pra isso. Gostei muito dela, do nosso papo, encontro, entrevista, e agora vou esperar na maior ansiedade pela matéria, que vai sair na próxima edição de domingo do jornal sobre os Food Bloggers da Davis – Brendon, Garrett e Sher e eu, a gringa entrona.

guess who’s [not] coming to dinner?

Quando vi a receita dos pãezinhos assados da Cris, fiquei animadíssima, pois ela especificava um importante detalhe: a massa não precisava ser sovada, nem esperar crescer. Ah, tava pra mim! Cheguei em casa e fiquei uma meia hora zanzando pra lá e pra cá na cozinha—como eu SEMPRE faço—abrindo e fechando a geladeira, os armários e murmurando palavras sem nexo como, e agora, o que vou fazer, será o benedito? Felizmente me lembrei a tempo da receita da Cris e resolvi mandar bala. Parecia facílima, sem erro.
Separei os ingredientes e estava misturando tudo com cuidado para não esquecer nada quando ouvi um toctoctoc na porta de vidro do quintal. Era a minha inqulina, que às vezes aparece pra dizer oi. Abri a porta correndo e ela foi entrando, já tirando o casaco e ficando à vontade – percebi que iria ter uma auto-convidada para o jantar. Consegui ainda misturar outros ingredientes quando o telefone tocou—era o Uriel avisando que não viria jantar. Tive então certeza que teria uma convidada pro jantar…
Resolvi que os pãezinhos iriam ser recheados com salame e queijo. Pensei que a massa seria de enrolar, mas acho que fiz alguma coisa errada pois a massa ficou mole e acabei colocando na forma de muffins com uma colher. Apesar de feinhos, eles assaram bem e cresceram. Minha inquilina já estava quase roubando um, quando eu sugeri que comessemos decentemente na mesa.

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Arrumei a mesa e sentamos para comer os pãezinhos recheados, que não rechearam muito bem, acho que seria melhor misturar o recheio na massa. Mas eles ficaram com uma textura de bolinho bem fofinhos. Comemos acompanhados de uma salada simples, temperada com a maravilhosa Flor de Sal. Como acho que não acertei fazer esses pãezinhos desta vez, decidi que vou tentar de novo!

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Minha inquilina adorou tudo, disse que estava delicioso, maravilhoso, fora do comum – ela é assim exagerada! Comeu um pãozinho de queijo com marmelade e outro de salame, mesmo não gostando de salame. Outstanding.

Flor de Sal

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Li tanto sobre a Flor de Sal, que minhas lombrigas consumistas não aguentaram e tiveram que comprar dois pacotinhos da comentada especiaria. As lombrigas adquiriram na amazon.com a Flor de Sal portuguesa vinda do Algarve, que disseram elas depois de pesquisarem exaustivamente no google.com, ser a melhor. Como adoro os portugueses e as coisas portuguesas, aprovei e forneci o apoio financeiro. Hoje chegaram as caixinhas da preciosidade branca, que já foi usada para temperar uma simples salada de folhas verdes com tomates. A salada ganhou um upgrade de sabor fantástico – a flor de sal realmente realça o sabor dos alimentos. Fiquei satisfeita e as lombrigas ficaram felizes e sossegaram.

uma grandona simpática

Vi no The Amateur Gourmet um link para uma compilação de frases da Julia Child, feita pela revista Esquire em 2000. Adorei as tiradas da espirituosa cozinheira. Vou listar aqui as que fizeram a minha cabeça e com as quais concordei.

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Julia Child aos 88 anos
Foto do NY Times
  • Being tall is an advantage, especially in business. People will always remember you. And if you’re in a crowd, you’ll always have some clean air to breathe. [*Julia tinha quase 1,90m!]
  • I’m awfully sorry for people who are taken in by all of today’s dietary mumbo jumbo. They are not getting any enjoyment out of their food.
  • Moderation. Small helpings. Sample a little bit of everything. These are the secrets of happiness and good health.
  • Drama is very important in life: You have to come on with a bang. You never want to go out with a whimper. Everything can have drama if it’s done right. Even a pancake.
  • I don’t think about whether people will remember me or not. I’ve been an okay person. I’ve learned a lot. I’ve taught people a thing or two. That’s what’s important. Sooner or later the public will forget you, the memory of you will fade. What’s important are the individuals you’ve influenced along the way.
  • Always remember: If you’re alone in the kitchen and you drop the lamb, you can always just pick it up. Who’s going to know?

fagioli toscano

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Comigo acontece assim: eu leio uma receita, muitas vezes sem ilustração e fico encantada! Pode ser pela maneira de preparar ou pelos ingredientes, ou até talvez pela inovação ou pela simplicidade. E foi isso que aconteceu com essa receita de feijões toscanos, quando eu lia distraidamente o Is There A Nutmeg In The House?, da Elizabeth David. Fui fisgada e já marquei a receita com um post-it roxo, trouxe o livro para a cozinha e me preparei para fazê-la.

A receita chama-se Fagioli alla fagiolara toscana porque é feito numa jarra especial, onde se cozinha os feijões. Procurei imagens dessa jarra, mas não achei. Fiquei extremamente curiosa. Os feijões indicados pela David são os brancos—haricots, cannellini ou pink borlotti. Mas eu queria usar um feijão norueguês que comprei no final do ano passado, bem interessante de uma cor marrom completamente incomum. Mandei bala com o feijão escuro mesmo. E na falta da jarra toscana, fiz na panela de ferro.

Deixei uma xícara dos feijões de molho durante a noite. No dia seguinte, coloquei na panela os feijões com mais água, um ramo de sálvia, um talo de salsão, meia cebola e dois dentes de alho. Cozinhei em fogo baixo até os feijões ficarem bem molinhos. Salguei e deixei descansar. Na hora de servir fervi mais um pouco, tirei o salsão, sálvia e cebola [o alho derreteu] e escorri o feijão com uma escumadeira. Coloquei numa vasilha funda, temperei com bastante pimenta do reino moída na hora, com bastante azeite, umas gotas de vinagre de vinho e salpiquei com cebola em fatias fininhas – usei a roxa, mas a David recomenda qualquer cebola suave. Esse prato pode ser comido quente ou frio, com a colher e fatias de pão frito no azeite e alho [eu omiti o alho, vocês sabem..].

Eu devorei um potão, sozinha, com uma taça de vinho tinto. Ninguém viu, tá limpo!

nº5

Minha amiga Eli e eu temos muitas coisas em comum, começando pelo dia do nosso aniversário. Duas librianas porretas, estamos sempre encontrando mais coisas em comum entre nós. A primeira delas, que descobrimos logo no início da nossa amizade e da qual nunca me esqueço, é a nossa paúra por estar/ficar cheirando a comida – roupa, pele, cabelo. Eu e a Eli temos uns rituais, umas maneiras de fazer as coisas na cozinha, de modo a estarmos sempre cheirosas. Acho que a maioria é como nós – uns mais obcecados, outros mais relax.

Com o meu olfato super apurado, eu sinto e cheiro de tudo e fico incrivelmente preocupada em não ser eu a figura com o cabelo fedendo a bife com cebola. Como a Eli, eu primeiro faço o rango e por último tomo um banho e lavo o cabelo. Faço verdadeiros contorcionismos e desenvolvo complicadas estratégias, pra não receber convivas cheirando a alho, ir a uma festa rescendendo a fritura, voltar pro trabalho denunciando que comi um misto quente, ou mesmo ir dormir com o cabelo cheirando a qualquer coisa que não seja shampoo e sabonete.

Já repararam que tem uns restaurantes de onde você sai fedendo? No inverno é pior, pois o casaco impregna, sem falar que nessa época os ambientes fechados abundam. Eu odeio sair de um lugar cheirando a comida. Quando faço o meu voluntariado no Mondavi Center – o teatro da Universidade – percebo quem chega vindo de um restaurante fumacê. Quando as pessoas entram no teatro e passam por você para serem levadas até as suas cadeiras numeradas, alguns cheiram a perfume, tem gente que capricha, uns cheiram muito bem, mas tem sempre aqueles que chegam parecendo que estão vindo do chinês da esquina, com um cheiro de fritura e molho de carne.

Hoje fiz um tofu frito pro jantar, dai pensei em dar uma passadinha no Co-op para pegar um pão. Cheirei e re-cheirei meu sueter de lã e decidi – no way, josé que eu vou dar esse bafão, aparecer em público cheirando a tofu frito. Fiquei em casa e fui tomar um banho – lavar bem o cabelo, que é como deve ser depois de lidar com uma frigideira!