Roux só no ronco.. |
um tradicional picnic
Só porque todo feriado do Labor Day eu desejo ser Kim Novak dançando com William Holden, escrevi sobre uma tradição norte-americana e dou duas receitas que não podem faltar no seu picnic do 4 de setembro. Onde? Ah, na Sal a Gosto, a minha coluna semanal na Revista Paradoxo!
ice cream dream
Confesso que comprei esses sorvetes no Co-op puramente baseada no rótulo de nutrição. Quando li 10% total fat, zero de trans fat e 5g de açúcar, coloquei os potinhos imediatamente no carrinho. Comparado com os 50% total fat de um Haagen Dazs da vida, peloamordedeus, é uma diferença brutal! Só depois que vi que o sorvete, fabricado pela Celestial Seasonings, tinha os mesmos sabores de alguns dos seus chás e era feito com leite de arroz. Como eu adoro leite de arroz, fiquei toda sorridente. E o sorvete é simplesmente uma delícia – leve e delicado, e vem sem motivos para culpa.
quem não arrisca não petisca
Cansada e esgotada, fui à Sacramento depois do trabalho para uma shopping therapy. Nada exagerado, mas eu queria ir à uma loja especifica comprar umas roupitchas. Eu vou rarissimamente à malls, porque não temos nenhum aqui em Davis. Tenho que ir até Sacramento e não gosto muito do ambiente dos malls. Faço minhas compras em outlets, lojas de fábrica, pontas de estoque e lojinhas da cidade. Sou super thrifty com roupas, porque enjôo delas facinho, além de ser uma desastrada e manchar tudo, rasgar tudo. E gosto de ter MUITA roupa, então não pago preço regular. Mas ontem fui no de downtown Sacramento, que é o mais próximo pra mim. Ele é um típico mall californiano, todo aberto, até que bonito. Mas por que, perguntam-se vocês, eu estaria escrevendo sobre isso? Outra vez um post off topic? Nãnanina! É que eu preciso dizer o quanto eu ABOMINO comida de shopping. Eu tenho nojo, asco, revolta. Não consigo comer aquelas porcarias fast-food, simplesmente. Então camelei onde queria, comprei o que queria e dirigi correndo, faminta, de volta para Davis.
Atrás da minha casa tem uma pequena área de comércio, com algumas lojas, alguns restaurantes com mesinhas na área externa, um imenso gramado onde as crianças correm, os adultos se esparramam deitados, e um jardim de plantas típicas da região, que faz parte do Arboretum da UC Davis, com mesinhas, cadeiras e bancos para o pessoal se aconchegar. Nem preciso fazer a comparação desse shoppingzinho vizinho com um mall qualquer em outro lugar… Mil vezes aqui! Então voltei decidida que iria jantar – sozinha mesmo – num dos restaurantes dali. É só atravessar a rua, super tranquilo.
Fui ao Fuzio um franchise que abunda aqui na Califórnia. Uma mistura de cozinha italiana com oriental. É esquisito mesmo… O ambiente é modernex, o serviço é simpático e atencioso, mas a comida deixa um tanto a desejar. Sentei no bar, porque assim não me sinto tão deslocada por estar sozinha. Pedi um ravioli recheado com tomate seco e queijo, com molho de cogumelos grelhados, que não estava totalmente ruim, só a massa que estava um pouquinho dura. E bebi uma taça de Chardonnay [sempre californianos] que supostamente teria um leve sabor de melão. Não estava mau, mas também não impressionou. Se o Fuzio fosse um bom restaurante, com um menu mais variado, eu seria uma frequentadora mais assídua nos meus dias solitários de final de verão. Mas nem tudo pode ser perfeito….
uma história que não tem nada a ver com comida
Cheguei do trabalho ontem com uma lista de intenções para o meu final de tarde e início de noite – ia tirar umas fotos, escrever uns textos, tentar fazer algo na cozinha e, principalmente, sair do quarto de hóspedes e me mudar de volta para o meu querido quarto. É uma longa história, que se arrastou por cinco meses e que finalmente vai ter um fim. Mas porque o fim não aconteceu quando deveria acontecer fui engolfada por um ziriguidum total e não fiz nada do que planejava fazer.
Minha casa tem uma guest house no fundo. Meu filho e a namorada moraram lá, até comprarem a casinha deles. Depois disso nós só tivemos problemas. Primeiro alugamos o lugar para o casal geek orgânico, que fez da casa um cortiço, nunca limparam nada, deixaram tudo um lixo e ainda não pagaram o último aluguel. Daí contratamos o serviço de uma imobiliária, pois não temos tempo, nem saco pra lidar com essas chatices. A casa foi alugada para a mulher mais rude e sem consideração que eu já tive o desprazer de lidar. Ela ligou o ar condicionado da casinha – que dá para o meu quintal e fica diretamente em frente às janelas do meu quarto – em março e não desligou mais – dia e noite, dia e noite, dia e noite. O aparelho é enorme e faz um barulho dos diabos. Pedir por favor para ela desligar o treco pelo menos à noite não adiantou, então tivemos que esperar o contrato vencer pra ela se mudar. E o dia dela se mudar era ontem. Cheguei em casa depois das cinco e o a/c estava ligado, as janelas abertas – como ela andava fazendo ultimamente – o cachorro dela correndo pela calçada, ela visitando a vizinha, tudo no seu devido lugar, como se nada fosse acontecer! A casa deveria estar vazia. Tive um treco! Meu marido ficou ligando pra imobiliária lá da fazenda, avisando que eu iria desligar a eletricidade e o gás da casa. A figura da imobiliária – cujo serviço vai ser dispensado – barganhando mais dois dias pra fulana grossa e sem consideração se mudar, porque é lógico que ela quer mudar sossegada no final de semana. No way, José! Meu filho e minha nora ficaram comigo, conversando até as dez da noite, porque eu estava muito louca da vida. A incompetente da funcionária da imobiliária foi ajudar a lacraia a empacotar as tralhas e ficou pelo telefone pedindo por favor pra gente não desligar a eletricidade à noite porque a geladeira da figura estava cheia de comida. Hoje de manhã já desliguei o gás – ninguém vai tomar banho quente às nossas custas. E hoje na hora do almoço eu e o meu filho vamos desligar a eletricidade. Tão gostando da novelona mexicana??
Ao menos a lambisgóia finalmente desligou o a/c e eu pude dormir na minha cama, em silêncio, pela primeira vez em cinco meses! Agora vou pensar o que fazer com a minha guest house. Durante o mês de setembro ela vai ficar vazia, preciso me recuperar dessa experiência traumática. Talvez eu mobilie e alugue para estudantes ou pesquisadores estrangeiros que vem pra ficar apenas alguns meses. Minha casa fica a dois blocos da universidade, e o mercado imobiliário aqui em Davis está super aquecido, é muito difícil arrumar lugar pra morar – e nós com essa total falta de sorte com a nossa casinha!
* adendo explicativo – como não tem como medir os gastos de água, gás e eletricidade da casinha, e separar dos gastos da nossa casa, quem aluga não paga por essas utilidades. então além de aturar a barulheira, nós que pagamos a conta do arzinho night and day da inquilina dos infernios…
folga na cozinha e outros papos
Todo final de agosto, início de setembro, meu marido some na fazenda de pistacho ou em congressos pelo mundo afora. Então eu fico meio desorganizada na cozinha, porque não tenho muito ânimo de cozinhar só pra mim. Improviso muito, também porque não gosto de comer em restaurantes sozinha. Faço coisas simples e práticas. Sandubas e saladas são a base do menu. Ontem fiz uma coisa horrêver… Jantei uma salada Caprese – tomate, mussarella fresca e basilicão – com uma fatia de pão preto, em pé na cozinha, enquanto telefonava para as minhas amigas e combinava um cinema.
Fomos ao Varsity Theater, o cinema independente da minha cidade, ver o documentário Who Killed the Electric Car. Logo na entrada, notei uma janelinha que eu não tinha visto antes, no lado esquerdo do hall principal e fui lá xeretar. O teatro tem o seu balcãozinho estilo anos 50 vendendo pipoca, refrigerante, mas aquela janelinha vendia café e sorvete – gelatto e regular. Me encantei por um sabor de berries com cabernet. Achei uma ótima idéia, só que senti um pouco de dificuldade para terminar o sorvete quando a sala ficou escura.
a trilha sonora do capítulo de hoje é Dylan
Ele está na fazenda de pistacho no sul da Califórnia. Não fui nadar, porque estava ansiosa para ir até a Borders com um cupom comprar o novo cd do Bob Dylan. Comprei também mais um livro de culinária francesa, desses com fotos bonitas, e postais pro meu amigo Guto. Na volta passei ao lado da inquilina da minha guest house e seu cachorro de três pernas conversando com o meu vizinho cinqüentão tri-atleta na calçada. Essa foi uma história traumatizante que felizmente acaba depois de amanhã.
Comida, comida! Nao quis comer no restaurante italiano, nem no bistrô das saladas. Peguei o carro e fui até o Co-op, nosso supermercado cooperativa. Enchi o carrinho de coisas tolas – sorvete de frutas, wrappings com hummus e falafel, marmelada, pão preto, duas bananas, polenta corn chips, hamburger vegetal. Ouvi pela terceira vez neste dia um elogio à minha roupa – your top is awesome! Sim, é mesmo!
Uma taça de vinho branco de Cadiz na Andaluzia, salsa de vidro com coentro e azeitonas, figos verdes e roxos, iogurte grego com mel. Bob Dylan tocando no cd player me leva quase às lágrimas. Meu vizinho recebe uma visita, um cabeludo hipongo. Será o George da esquina? Eu achava que o George era desempregado e até sentia pena da mulher sorridente dele, quando fiquei sabendo que ele é um professor do departamento de Artes. Quanta diferença do departamento de Engenharia agrícola, onde ninguém tem tempo pra nada e ainda viaja. Todos os meus vizinhos são acadêmicos.
Vou ler A Little Taste of France, vou escrever postais, de óculos que eu odeio, vou terminar de mastigar os figos, que eu adoro, e sentir as sementes estourando entre os meus dentes, vou terminar de ouvir Dylan e seu Modern Times, tentando não sair dançando pela cozinha, evitando que o meu vizinho me veja pelas janelas e me pegue no flagra comendo, bebendo, cantando.
pança cheia
* post reciclado de agosto de 2005, do The Chatterbox.
Uma amiga mencionou um prato típico do norte ou nordeste chamado baião de dois e eu fiquei com as bichas. Então hoje resolvi fazer o tal prato, mas num esquema muito do improvisado. Procurei a receita no cybercook e ia tanto ingrediente regional – manteiga de garrafa, feijão não sei das quantas, farinha de não sei o que. Pensei, vixe maria, acho que vou ficar só na vontade. Mas a capacidade de improvisação do ser humano é uma coisa impressionante. Fiz o tal baião com um bacon americano que eu descongelei no microondas, um feijão italiano e um arroz basmati indiano que eram sobras de outro dia, adicionei pimentão e tomate, salpiquei com queijo ralado e servi acompanhado de um refogado de quiabo. Nem sei se combina, nem se esse baião fajuto pode ser chamado de baião. Mas que ficou muito bom e eu enchi a pança é a mais pura verdade!
arroz amarillo
Fiquei encantada com muitas das receitas do livro Recipe of Memory, do americano, descendente de mexicanos Victor M. Valle. Muitas receitas são trabalhosas ou levam ingredientes típicos, como nepales [cacto], tomatillos, queijo cotija ou panela, lingüiça longaniza e muitas, mas muitas mesmo, variedades de pimentas. Escolhi uma receita simples e doce, com ingredientes que podem ser comprados em qualquer lugar do mundo. Sem falar na beleza do prato, com sua cor amarelada.
1/3 xícara de arroz jasmine tailandês ou qualquer outra variedade de grão longo
1 xícara de açúcar
6 xícaras de leite integral
3 gemas de ovos grandes
2 paus de canela
4 folhas frescas de laranja ou 1 colher de chá de essência de laranja
1 laranja descascada e cortada em fatias para decorar
Bata o arroz no liquidificador e moa bem fininho.
Misture o arroz moído com o leite, açúcar e as gemas numa panela grande.
Misture bem com um batedor de ovos. Adicione os paus de canela e as folhas de laranja e cozinhe em fogo baixo, mexendo sempre com um batedor por 25 a 30 minutos, para prevenir que o arroz grude. Retire a canela e as folhas de laranja. Coloque numa vasilha ou em taças individuais e deixe esfriar. Polvilhe com canela em pó e decore com as fatias de laranja.
»esta receita de arroz doce mexicano também está na minha coluna desta semana na Revista Paradoxo.