Stranger than Fiction

O filme estava em cima da minha cômoda há mais de um mês. O babado é que eu ando completamente bitolada em filmes antigos—numa paixão especial pelos da década de trinta. E por isso Stranger than Fiction ficou acumulando empoeira por tanto tempo. Eu sou fã do Will Ferrell, não tanto quanto sou do Jim Carrey, mas quase lá. Tenho uma imensa admiração pelos atores cômicos. Acho que são eles os melhores, pois dominam a arte mais difícil, que é a de fazer rir.
Stranger than Fiction não é bem uma comédia. Aliás, não é comédia. É um filme muito bem escrito, bem dirigido e muitissimo bem interpretado, que aborda temas como a rotina, a solidão, a morte, o destino e literatura. Tudo muito bacana, não vou entrar em detalhes, pois quem já viu sabe, e quem não viu tem que ver pra saber. Mas o filme tem uma particularidade que nos remete diretamente para um papo-comida. Maggie Gyllenhaal faz a ex-aluna da Harvard Law School que abandona tudo para abrir um café e passar os dias fazendo a vida das pessoas mais feliz, com seus cookies, tortas e bolos. Ela será o objeto da paixão de Will Ferrell, o funcionário imaculável do imposto de renda, que vai fazer uma auditoria no café. Depois de tornar o dia dele miserável, ela o obriga a comer um dos seus cookies saído do forno acompanhado de um copo de leite. Para ela isso reabilita qualquer um de um dia ruim. Ele precisa ser forçado a comer o cookie, porque afirma não gostar deles. Conta que a mãe nunca fez nada em casa, nem bolo, nem cookies, ela realmente nunca cozinhou. Um cookie industrializado não é a mesma coisa que um feito em casa, ela provou o seu ponto.

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Ele aparece de repente na frente do café, quando ela já está fechando e indo pra casa. Trouxe um presente pra ela, pra retribuir o cookie e também para se declarar de uma maneira bem incomum—I want you!. O presente, vários sacos de farinha. Ele diz I brought you flours, mas se não olharmos para a caixa cheia de pacotinhos com fitas crepes coloridas marcando o tipo das farinhas, podemos nos confundir poeticamente com o som similar das palavras e ouvir ele dizer I brought you flowers.

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O café da personagem de Maggie tem uma clientela eclética. Entre os assíduos, um maluquete. Já repararou como em todo café tem sempre um tipo maluquete que é frequentador assíduo? O Garrett, um lindo, um fofo e um amoreco que além de fazer os mais inventivos e saborosos cupcakes, ainda tem um ótimo senso de humor, escreve bem pacas e me faz rir de chorar com suas histórias, tem uma de um maluquete total, passada num café em Sacramento. A história é simplesmente hilária e poderia com certeza ser uma cena saída de um filme.
Quem já não presenciou uma cena ou outra de maluquete em cafés? Eu já vi algumas. Numa delas, há muitos anos, uma mulher bizarrissima estava em pé junto às cafeteiras, vestindo um casaco longo cor-de-rosa sujo e rasgado, com muitos anéis enormes nos dedos, óculos escuros, sombrinha e botinas de Mary Poppins, tomando o seu café numa xícara verde de cerâmica, com o mindinho empinado e rindo muito, falando alto e gesticulando sozinha. Essa foi uma visão, mas não representou realmente nenhum perigo eminente. Como o louquinho do café de Stranger than Fiction, essa era da turma dos mansos.

Crawdad Festival

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Fazia muitos anos que nós não íamos à um desses festivais muito comuns por aqui—do morango, do alho, da alcachofra, do jazz, da corrida do ouro, eteceterá. Motivados pelo post da Ann do Sacatomato, resolvemos nos aventurar no festival do Crawdad, um tipo de lagostin de rio, numa minúscula cidade chamada Isleton. Desorganizados e desprevenidos, fomos sem pensar em nada. Fiquei animada com a possibilidade de ouvir música cajun a zydeco, que eu realmente gosto.

Chegamos na pequena cidade ribeirinha e já percebemos que não somos os únicos seres desorganizados do mundo, certamente há gente pior. A festança estava armada, mas a infra-estrutura deixou deveras a desejar. Primeiro foi um parto estacionar—achar onde se podia pagar pra estacionar, já que não havia a menor sinalização além dos ameaçadores no parking – tow away zone. Entramos na festa e nos misturamos a um mundaréu de gente. Embora não estivesse terrivelmente quente, não havia uma parca sombra e tivemos que comprar chapéus, pois o sol rachava inclemente as nossas cacholas. Fila pra tudo, nenhum lugar pra sentar e comer decentemente a comida de festival, que era aquela abundância de coisas pesadas e oleosas. Não quisemos arriscar comer os crawdads, porque teríamos que abrir com as mãos e chupar a carnita dos bichos ali em pé no meio da multidão. Lembrei de um filme chamado No Mercy onde a Kim Basinger e o Richard Gere fogem para um pântano em New Orleans e comem os lagostins, a única comida que puderam arrumar no esconderijo à beira do rio. Bom, se você viu o filme, sabe porque uma pessoa minimamente civilizada não pode comer um balde dessas mini-lagostas sentada no chão de uma rua entulhada de gente. Escolhemos comer um peixe frito [catfish] com batata, que estava lotada de alho. O horrore dos horrores!

A festa estava boa para quem estava lá para encher a cara e dançar. E gente enchendo a cara era o que não faltava. Muitos bikers e rock ‘n’ rollers, muitas famílias barulhentas, muita gente esbaforida, mal educada e estranha. Pra nós valeu ter ouvido um pouco da música da Louisiana, mas a hora de ir embora chegou rápido, e fomos!

Duas palavras sumarizam o tal festival: muvuca e farofa.
Uma única conclusão final: maior furada!

* todas as fotos do colorido evento AQUI. A volta para casa, no relato impagagável de como o casal barata-tonta foi parar em Nowhereland guiados pelo GPS do carro, AQUI.

This I Believe

Conversando com a minha mãe, ela me contou que encontrou com a dona da loja macrô onde eu trabalhei em mil novecentos e oitenta, e me disse que sempre que vai à lojinha de produtos naturais que ela frequenta há mais de vinte anos em Campinas, ela diz pra dona do entreposto que todo esse estilo de vida natureba e saudável que ela adotou, deve-se à mim, a filha que fazia tudo diferente. Por causa da minha ojeriza à carnes, aos dezoito anos eu encontrei a minha turma—o pessoal natureba, que não comia animais e mastigava o arroz integral de acordo com as instruções de Michio Kushi. Passei por montes de fases e hoje acho que estou mais próxima de encontrar o meu equilibrio.
Pensando nisso e no fato de que entrei no ITunes e comprei sem piscar o álbum Instant Karma, da campanha da Anistia Internacional para ajudar a crise em Darfur, concluí que devo ter mesmo uma alma hiponga que dança emaconhada e descalça sob a luz do luar. Porque eu queria dizer pras pessoas não “baixarem” esse álbum ilegalmente, mas por favor, comprarem. Eu acredito em ajudar e praticar a caridade, e que gentileza gera gentileza. Eu acredito em adotar e não comprar animais. Eu acredito em tanta coisa, não faço download ilegal de música e filme, não quero comer ovo da galinha torturada, uso casacos com pele falsa, choro quando vejo um bicho enjaulado ou maltratado, sinto um bocado de culpa por todos os meus privilégios, fico com o coração destroçado quando jogo comida fora, acredito nos orgânicos e em ajudar os comerciantes locais. Tanta coisa, é assim que eu sempre fui. E ainda sou.

salada de beterraba, pecans, queijo e rúcula

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Como já tinha umas beterrabas que assei na churrasqueira, resolvi fazer essa salada que comi no restaurante Il Fornaio de Sacramento. Fica refrescante e alimenta bem. Minhas rúculas estão ficando extremamente amargas, porque eu não estou colhendo—mas quanta folha verde um ser humano consegue devorar por dia? Mesmo assim ficou bom. Tenho que escolher as folhas mais jovens e tenras. Usei nozes pecans e queijo asiago. Foi o que comemos em mais uma tarde quente.

o vinho estava bem gelado

Com o calor de 37ºC 38ºC que fez ontem, achei que poucos se arriscariam ir a um picnic. Engano meu. A vida corre normal. Na hora hora do almoço fiz correndinho a receita de panzanella italiana. Quando cheguei em casa às cinco da tarde arrumei as cestas cuidadosamente, as toalhas, a gear toda, mais água e vinho gelado, que coloquei estratégicamente num saco plástico cheio de gelo. Não tem nada pior que beber coisa sem gelo num dia quente. Fui para o parque de bicicleta, com o vinho e àgua no gelo, mais toalhas nas cestinhas, a cesta de palha enganchada no guidão. Quando eu chego e estendo as toalhonas na grama, as pessoas à minha volta olham como que pensando—mas que nega espalhada! Mas logo vão chegando os amigos e o espaço é todo tomado por bundas e pernas. Muita gente apareceu, com comida, frutas frescas e vinho e ficamos no parque até nove e meia da noite, quando a brisa fresquinha já estava soprando. O parque não estava lotado, mas estava bem cheio. Tem cabimento perder um precioso dia de picnic só porque está um bafão?

37ºC

O verão me provoca muitos sentimentos contraditórios, pois apesar de eu adorar certas coisas que acontecem nessa época do ano, eu de-te-sss-to-o outras. Eu gosto das manhãs frescas, da luz, da abundância de frutas, legumes e verduras, de poder colher nectarinas e pêssegos nas árvores do meu quintal, e tomates na horta, de achar figos no Farmers Market, almoçar e jantar na mesa do quintal, de poder nadar sem ficar parecendo um ET arroxeado, de usar sandálias, fazer picnics e tais. Mas abomino os dias tórridos. Os dias em que não se consegue sair na rua, em que a respiração fica difícil, a água da piscina fica quente e xoxa, as casas ficam fechadas, as pessoas se enclausuram nos ambientes com temperatura controlada. E desses dias, que chegam em ondas de dois, três, quatro, não há escapatória. Hoje e amanhã já teremos um aperitivo. Entre meio de julho e meio de agosto vamos estar implorando por dias como hoje. Sim, piora, e muito. Felizmente o verão é curto e os dias agradáveis deixam boas lembranças.
Quando começa a onda de dias quentes e extremamente secos, temos que fazer alguns rearranjos na nossa rotina. Eu fecho todas as janelas e cortinas antes de sair de casa pela manhã e só reabro quando a brisa da noite chegando começar a soprar. As casas têm um bom isolamento térmico e o segredo é não deixar o calor entrar, nem prodizir calor dentro delas. Eu já desliguei a geladeira extra da garagem, lavo e seco roupa à noite e paro de usar o forno. Na cozinha é onde mais se produz calor. Assar muffins num dia baforento, nem pensar! Meus jantares são reestruturados e reorganizados de uma maneira que se faça menos cozinhamentos possíveis. Os menus giram em torno de saladas e coisas feitas na churrasqueira. Nos dias realmente quentes—e temos alguns de lascar, nem a chama do fogão pode ser acesa. Meu jantar brejeiro de ontem foi todo feito na churrasqueira: uma carnita, pimentões vermelhos e beterrabas assadas. Acompanhou uma salada de alface bem fresca.

de Minas para o mundo

Fomos beber um suquinho natural dos trópicos lá no Tucos e o dono do restaurante nos avisou que iria colocar feijoada brasileira no cardápio. Nos disse também que queria introduzir pão de queijo na lista de appetizers. Pois eu tenho uma receita fabulosa e infalível—já fui avisando. Trocamos alguns e-mails, ele perguntando as medidas exatas, porque venhamos e convenhamos, 1 copo americano de leite e 1/2 queijo de Minas curado ralado não são medidas universais. Depois de tudo clarificado e explicado, ele me avisou que o pão de queijo já está no menu do restaurante, assim como a feijoada. A feijuca eu não garanto, mas o pãozinho é o fabuloso Pão de queijo da Pat. Sucesso garantido e absoluto!

salada de batata e salmão

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O calor chegou. Já teremos temperaturas em torno dos 40ºC no meio da semana. Entrei no mood verão e só de cozinhar umas batatas no fogão ja me deu um suadouro e achei que esquentou a cozinha. Vou ter que começar a planejar os cozimentos ultra-rápidos e agilizar o uso da churrasqueira no quintal. Mas quis cozinhar as batatas que chegaram na cesta orgânica, pois elas são divinas e achei que combinariam numa salada com as sobras de salmão do domingo. Busquei na geladeira por ingredientes que valorizassem essa mistura básica. Ralei fininho meia cebola branca e deixei de molho na água e vinagre. Cortei dois pepinos japoneses pequenos em cubinhos e um bulbo bem pequeno de erva-doce em fatias finas. Misturei as batatas cozidas, o salmão em pedaços, a cebola escorrida, o pepino, a erva-doce, joguei umas folhas frescas de manjericão e um punhado de azeitonas verdes cortadas em rodelas. Temperei com um molho de mostarda e dill—maionese, creme fraiche [iogurte ou sour cream], suco de limão, vinagre de maçã, mostarda escura, sal, pimenta, dill seco.