A editora Phaidon já tinha traduzido a biblia da cozinha italiana—The Silver Spoon que me deixou um pouco decepcionada, já que as duas primeiras receitas que fiz do livro falharam. Mas tudo bem, não estou aqui só por causa das receitas. Gosto das histórias, fotos e ilustrações, que são sempre uma inspiração. Por isso comprei a tradução que a Phaidon fez da biblia espanhola—1080 Recipes, toda decorada por esses desenhos maravilhosos do designer Javier Mariscal, de Barcelona. Se essa biblia também me desapontar não vou ficar chateada. Só o prazer de folhear as receitas decoradas por essas ilustrações fofíssimas já valeu o investimento.
Thanksgiving is just around the corner
E eu num suplício porque ainda não decidi que sobremesa vou fazer para o nosso almoço de família. Pelo menos já decidi que será algo com limão, por causa do meu surplus de frutas citricas. É de conhecimento geral que meu nome do meio é desastre quando se trata de fazer sobremesa. Mas eu estou me esforçando pra mudar isso.
Todo ano comemoramos o Thanksgiving na casa da sogra do Gabriel, que geralmente também convida amigos e é sempre uma reunião muito agradável, com comida simples e boa. A Marianne é a encarregada do peru. Eu sempre levo vinho e sobremesa. Antes eu costumava passar o feriado inteiro lá, fazendo compras no Marin county, mas agora eu prefiro voltar pra casa. O Thanksgiving é um dos meus feriados favoritos, deixando o Natal bem lá pra trás. Pra mim o Thanksgiving faz muito mais sentido, pois é uma festa de agradecer o que temos, comer, beber, passar o dia com a família. Nada de dar presentes, que é o que—na minha opinião, faz o Natal uma festa cansativa e irritante.
Quixote
Mais uma vez a Elise organizou um evento fantástico para os food bloggers de Sacramento, turma batuta na qual eu me incluo. Passamos o domingo na vinícola Quixote, recebidos com todos os salamaleques pelos simpáticos proprietários Pam Hunter e Carl Doumani. A vinícola fica um pouco afastada do circuitão do Napa Valley e só recebe visitantes que ligam e fazem reserva ou que são convidados, como nós fomos.
O que primeiro impressiona na Quixote é a sua arquitetura. Carl Doumani explicou em minúcias como ele e Pam contactaram o artista austriaco Frederick Hundertwasser para fazer o design da vinícola. Carl nos contou que foram anos de negociações, pois Hundertwasser tinha horror à cidade de San Francisco e não queria vir para os EUA. No final, o carismático Carl Doumani venceu e trouxe o artista para o Napa Valley, onde ele colocou suas idéias mais uma vez em prática. Tudo na Quixote parece ser encantado. O casal Carl e Pam é amante das artes e pra onde quer que se olhe, vê-se pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, objetos de arte de todos os estilos. A Quixote é um lugar realmente especial, escolhido para ser a casa de Pam e Carl, e que ainda produz um vinho orgânico delicioso e de altíssima qualidade.
Fomos recebidos com um tour pela vinícola, com explicações detalhadas sobre a cultura das vinhas orgânicas e depois fizemos uma experimentação de vinho e queijos, organizada pela chef Janet Fletcher, que foi treinada no Culinary Institute of America e no Chez Panisse. Ela escreve uma coluna sobre queijos no jornal San Francisco Chronicle e publicou vários livros. Um deles nós recebemos de presente. Nosso grupo era formado dos blogueiros e de três colunistas de revistas em Sacramento. Fizemos o tasting na casa de Pam e Carl, que é simplesmente uma formosura. Pam é apaixonada pela cultura japonesa, então a casa toda tem inúmeros elementos asiáticos na arquitetura e no decoração. Nosso tasting incluiu a variedade Cabernet Savignon e Petit Syrah combinados com queijos Zamorano, Pecorino di Grotta e Erhaki. O Pecorino foi o meu favorito. Também gostei muito do Petit Syrah, que era um vinho que eu nunca tinha experimentado
Depois do wine tasting tivemos um almoço, preparado pelo chef Raul Steven Salinas III, que estava simples, porém magnífico. Uma salada de folhas verdes com caqui Otow e nozes foi servida. Todos os ingredientes usados pelo chef eram locais e orgânicos. Depois nos servimos de Short Ribs assadas—que o chef nos contou ter assado por muitas horas no molho de vinho Petit Syrah e caldo de galinha. A carne estava desmanchando, delicada e e saborozissima. Acompanhou um refogado de cevada com legumes de outono assados—abóbora e nabo. A sobremesa foi um Apple Cobbler morninho, com chantily de baunilha.
Depois do almoço nos despedimos de Pam e Carl na Quixote e rumamos para uma visita à outra vinícola espetacular, a Quintessa que eu já tinha visitado no verão. No outono a paisagem é estupendamente linda! Na Quintessa fizemos mais um tasting da produção deles de 1993 e 2004—a Quintessa só produz um tipo de vinho, que é um blend. Mais queijos deliciosos, pasta de marmelo e bolachas integrais. Foi um dia cheio de delicias, excelente vinho, comida maravilhosa, companhia de pessoas incríveis com o melhor papo do mundo—comida! Pra mim, que nem me considero uma boa cozinheira, é um grande privilégio poder fazer parte desse grupo.
domingo
Gourmet – 1971
Depois de um ano, voltei na biblioteca para pegar mais uns volumes da revista Gourmet. Desta vez quis folhear os anos de 1971 e 1972. Foi uma diferença brutal com as singelas edições de 1941, cheias de ilustrações e textos. Inaugurando a década de 70, a Gourmet estava totalmente funkadelic—muitas fotos, a maioria muito feia, escuras e não muito apetitosas, algumas propagandas de carro, outras poucas diversificadas e uma imensidão de anuncios de bebida alcoólica. Não apenas bebida alcoólica, mas destilados. Fiquei realmente impressionada. Noventa por cento das propagandas das edições de 1971 e 1972 era de bebida destilada. E algumas com teor incrívelmente machista. Eram outros tempos. Fiquei tão impressionada que mostrei as revistas para a jornalista que trabalha comigo no IPM. Nós duas comentamos o quanto essa situação das drogas legais mudou aqui nos EUA. Além de outras coisas, como a etnicidade das propagandas. Hoje não se vê esse tipo de pose machista com um casal branco, tudo tem que ser multicultural e indiscriminado, o que eu acho maravilhoso. Fui folheando a revista pra jornalista ver e era UM anúncio de bebida POR página. Eu folheava e ela exclamava—holy shit! Realmente, a revista mudou, o país mudou, o mundo mudou.
*alguns shots mequetrefes das páginas da Gourmet 71 estão AQUI.
bolinho de atum
Um bolinho que se originou de um inicio de noite com muita fome, muita fome. Tive a idéia de fazer um tipo de cupcake salgado, mas não tive tempo nem paciência de ir atrás de uma receita infalível. Tive que confiar nos meus instintos culinários e arriscar, sabendo da minha susceptibilidade para o desastre. Cheguei em casa já decidida que o bolinho seria de atum. Daí lembrei que tinha uma sobra da quinoa com limão do outro dia. Tava tudo na mão:
1 lata do melhor atum que seu $$ puder comprar, dos conservados no azeite
1 1/2 xícara de quinoa cozida [arrisco dizer que couscous também daria certo]
1/2 xícara de leite integral
1 xícara de farinha de trigo
2 ovos
1 colher chá de fermento em pó
sal a gosto
Azeite
Uma pontinha de uma pimenta vermelha super picante picadinha
Bastante chives-ciboulettes picadinha
Bastante coentro fresco picado
Numa vasilha tempere o atum escorrido e esmigalhado com as ervas frescas, a pimenta picada [cuidado, hein!], sal e azeite. Numa outra vasilha bata os ovos, acrescente a quinoa cozida, misture bem, acrescente o leite, a farinha de trigo e o fermento em pó. Mexa bem e junte o atum temperado. Misture até ficar bem incorporado e coloque a colheradas numa forma de muffins untada. Asse em forno pré-aquecido em 385ºF/196ºC por uns 20 minutos ou até que os bolinhos fiquem firmes e assados por dentro. Deu 9 bolinhos, que eu servi com uma salada simples de alface.
sopa de feijão branco com berinjela
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Num comentário sobre uma das minhas sopas, a Valéria mencionou uma receita do Jamie Oliver de sopa de berinjela com feijão branco. Fiquei realmente entusiasmada com essa mistura, sem falar que ainda tinha umas berinjês pra gastar, frutos dos últimos suspiros do verão. Ela me passou a receita e eu fiz. Foi um sucesso com o fanzoco das berinjelas, que repetiu dois pratos. Eu também gostei muito da mistura dos dois legumes. Dei umas modificadas na maneira de fazer, mas mantive os ingredientes. Assei as berinjelinhas [usei 4 bem pequenas] no dia anterior. Usei feijão em lata, porque tem dias que simplesmente não dá tempo de cozinhar feijão. Usei os butter beans, uns feijões grandões. E inverti a maneira de fazer—primeiro passei os feijões e a polpa assada das berinjelas no food mill, depois acrescentei caldo de legumes caseiro. Refoguei bastante cebolinhas, a parte branca e a verde e joguei o caldo lá. Não usei alho nem cebola, mas usei a páprica doce e a cayenne seca. Servi com uma bolota de creme fraiche.
A receita, como a Valéria me enviou:
sopa de feijão branco com berinjela
2 berinjelas
2 xícaras de feijão branco (eu meço as duas xícaras quando tiro o feijão do pacote, ainda seco, antes de cozinhar)
1 litro de caldo de legumes ou galinha
1 tantinho de chilli seco picado, sem as sementes (tem que ser um tantinho mesmo porque, na primeira vez em que fiz, usei uma pimenta inteira, como mandava a receita, e quase morri afogada na primeira colherada de sopa)
azeite
cebola
alho
cebolinha
outros temperos que você gostar – eu ponho uma pitada de páprica doce e uma de páprica picante em tudo que eu faço, seguindo os conselhos de uma velha amiga da minha mãe, que dizia que é a melhor maneira de prender o marido pelo estômago (ela ficou casada mais de 50 anos… rsrsrs…)
Asse as berinjelas em forno alto por uns 40 minutos, até ficarem bem chamuscadas. Quando esfriarem um pouquinho, raspe toda a carninha de dentro delas e reserve. Eu tiro um pouco das sementes, porque tenho uma certa aflição, mas não precisa. Cozinhe os feijões na panela de pressão por uns 20 minutos. Eu uso a água do cozimento para fazer o caldo de legumes. Refogue os feijões e a massa de berinjela no azeite com os temperos. Acrescente o caldo, bata tudo no liquidificador e pronto! A receita original manda colocar um pouquinho de ricota esfarelada por cima na hora de servir, mas acho que qualquer queijo ou uma colherada de creme azedo servem.
soy rice crackers
the food mill
O food mill já estava na minha wish list desde que vi o do Daniel, que ele herdou da sua avó Marieta. Mas foi a leitura de uma receita maravilhosa de sopa de cenoura que fez com que finalmente eu comprasse a engenhoca. Já usei pela primeira vez, fazendo uma outra sopa, e posso garantir que vou usar muito mais. O meu querido liquidificador Kitchenaid vermelhinho está contemplando seriamente uma aposentadoria antecipada.
