
Foi a minha amiga carioca-norueguesa Eli quem colocou a batata sob uma nova perspectiva, quando me contou anos atrás sobre a importância, as mil e uma variedades e maneiras de prepará-las. As batatas que eu recebo na cesta orgânica são como as batatas dos noruegueses—não se pode desperdiçar um naco, uma casca, nada! São preciosas, deliciosas e chegam em diferentes variedades e cores. Eu sempre cozinho com casca, às vezes preparo também com casca, que são bem lavadas e, se precisar, levemente escovadas. Nessas batatas não é necessário usar muitos ingredientes ou temperos, pois elas já são saborosas o suficiente. Para essa salada foi só cozinhar as batatinhas em água, depois remover a casca que sai facilmente, picar e juntar uns ovos cozidos, depois um punhado de chives, essas colhidas no meu quintal. Temperei com um vinagrete feito com vinagre de champagne e laranja, azeite, sal marinho, pimenta do reino moída e mostarda amarela preparada. Bati tudo muito bem com um batedor de arame, derramei e envolvi nas batatas.
frutas no pomar do Copia




Um passeio pelo Edible Gardens do COPIA é um deleite. Os legumes, verduras, ervas e frutas orgânicas colhidos lá são usados na preparação dos pratos do singelo Bistrô e do sofisticado Julia’s Kitchen. Visitamos o COPIA no inicio do mês. Em cada visita, novas surpresas deliciosas!




salada de pepino

Salada tirada do capítulo do verão do The Taste of Country Cooking da Edna Lewis. Bem fácil de fazer, refrescante e diferente apesar de não ter nada de especial. Use pepinos orgânicos para poder fatiar com a casca.
Rale dois pepinos médios com casca e tudo no mandoline. Salpique com 1 colher de chá de sal marinho grosso e revolva bem com as mãos. Coloque uma vasilha pesada em cima dos pepinos e coloque na geladeira por uma hora, para soltar bastante água. Remova da geladeira depois de uma hora, coe bem todo o líquido que o pepino vai soltar. Reserve. Numa saladeira bata com o batedor de arame 1/3 xícara de vinagre de vinho branco [eu usei de maçã] com 1/4 de xícara de açúcar, até o açúcar dissolver. Junte o pepino escorrido, misture bem para incorporar e salpique com bastante chives/ciboulette picadinha. Sirva imediatamente ou leve à geladeira até a hora de servir.
café do Brasil



Quando estivemos no Oxbow Public Market em Napa no mês passado, o Uriel bebeu o café da fazenda São João vendido no Ritual Coffee Roasters e não gostou. Veredito—onde já se viu um café brasileiro vir num canecão desses?
vamos tentar, então?
Eu subestimei um bocado essa operação-procedimento-tratamento que fiz. Achei que a recuperação iria ser muito fácil, assim num estalar de dedos, mas não está sendo. Pelo menos já estou fora da caverna, i.e., quarto. Não aguento mais ficar sem fazer nada, vendo e pensando em tanta coisa pra fazer. Resolvi que, conforme anteriomente planejado, amanhã estarei de volta ao trabalho. O único porém é que não posso pedalar a bicicleta e estou caminhando como uma anciã, então vou ter que planejar muito bem o meu dia e certamente almoçar no trabalho. Essa é a parte mais chata de tudo, pois gosto de vir almoçar em casa, de quebrar a rotina, sair da frente do computador, ver os gatos, às vezes até tomar um banho nos dias quentes. E dias quentes serão. Gastei algumas das minhas horas inertes fazendo planos—será que levo uma toalha pra estender na grama mais próxima, fazer da minha hora de amoço um picnic time e ainda poder deitar e relaxar? Mas isso involve carregar a toalha e todos os cacarecos na minha caminhada pela manhã. E se estiver muito quente, não vou querer lagartixar na grama. Levo um chapéu? Levo minha sombrinha portátil? E a parte de higiene, escova de dente, fio dental, preciso levar também. Não quero fazer como os meus colegas, que comem sopa de lata, bolinhos microondáveis ou gororobas compradas prontas em frente ao computador. Mas não quero ficar na toca nem mais um dia. Ainda estou pensando como vou fazer, mas já decidi que vou fazer. E pronto!
sabão feito em casa

O sabão feito em casa pela Osmarina chegou na semana passada na mala do Gabriel. Ela me mandou um tablete, porque sabe como eu sou atrapalhada, mancho todas as minhas roupas com respingos de comida e esse sabão é famoso por ser tiro e queda na eliminação de manchas. E a Osmarina é expert nessas tarefas de desencardir. Eu aqui, com todos os produtos sofisticados pra espirrar, nem sempre consigo os resultados que ela consegue com uma simples barra de sabão em pedra. Além de tudo esse sabão é feito com sobras de óleo usado de cozinha, aquelas que você não deve jogar no ralo da pia nunca.
Para quem quiser experimentar fazer esse poderoso sabão em casa, aqui vai a receita, enviada pela minha mãe:
5 litros de óleo de cozinha usado e coado, 1 copo de sabão em pó, 1 copo de pinho sol, 1 copo de detergente, 1 quilo de soda cáustica Yara, 1 litro de água fervendo, bem fervendo. Colocar a soda no balde com a água fervente, tomar cuidado porque borbulha*, colocar o sabão, o pinho sol, o detergente e por último o óleo. Bater por 40 minutos com o cabo de uma vassoura—só que a Osmarina bateu com as colheres da batedeira por 20 minutos e ela achou que ficou melhor. Colocar numa vasilha retangular e deixar até o dia seguinte. Cortar em pedaços.
* Minha sugestão é que você use luvas e, se possível, também óculos de proteção para fazer o sabão, afinal estará mexendo com soda cáustica e o seguro morreu de velho, num é?
A paciente orgânica
Enfermeira—você pode ficar para o jantar, se quiser. servimos às 6pm.
Fer—eu realmente não quero desperdiçar a sua comida…
Enfermeira—ha ha ha! mas se quiser, fique à vontade!
Fer—acho que prefiro beber um copo de leite em casa [e sonhar com um curau de milho que deixei na geladeira]
Eu entendo que hospitais em geral aceitam requisição para dietas especiais, kosher, vegetariana, mas nunca ouvi falar que houvesse opção para os naturebas como eu. Portanto já fui consciente de que qualquer rango que me servissem lá iria ser abominável. Felizmente casquei fora a tempo, antes que eles viessem me empurrar o jantar sem sólidos, que prometia ser monstruoso. Não comi realmente nada lá. No dia seguinte o Uriel me serviu de colher um potinho de suco de cranberry e uva e outro com uma gelatina cor de xixi de alienígena. Algumas horas depois já estava tudo devolvido, já que as náuseas me atacaram ferozmente no primeiro dia. No segundo dia me trouxeram um chá preto com açúcar, outro suco de cranberry, outra gelatina fluorescente [passa, passa!], água com gelo, soda limonada horrivelmente doce, um caldo de carne e crackers salgadas. Nada entrou, nada desceu, simplesmente não deu. Pior é que quando me vejo assim frágil, como no caso de uma estadia num hospital, eu fico extremamente franca e portanto não escondi o meu desprezo por aquela comida sem criatividade, sem nada especial.
Se eu fosse a Alice Waters, delirei, teria um grupo de chefs na cozinha do hospital, cozinhando só pra mim—a paciente orgânica. Mas como sou uma simples ninguém, não posso exigir na bandeja um copo de suco de cenoura fresquinho ou gelatina feita com frutas sazonais, ou mesmo umas bolachinhas de farinha de centeio. Isso eu só posso ter em casa. Por isso não via a hora de ser liberada daquelas quatro paredes verdes, onde eu só dormi, dormi, dormi e dormi, alem de apertar o botão dos narcóticos que me faziam vomitar, e dormir mais e mais.
No segundo dia, quando acordei totalmente desgastada e descabelada, depois de uma noite de náuseas e vômitos constantes entre as dormidas impostas pelos narcóticos que me fizeram sonhar sonhos muitos estranhos, a enfermeira veio fazer o exame dos sinais vitais, que são feitos a cada hora, eu presumo. Eram sempre duas, a enfermeira registrada e a assistente. Sempre extremamente gentis, essa em particular olhou o bracelete com meu nome e idade e exclamou—nossa, mas você não aparenta ter quarenta e seis anos! Eu e o Uriel nos entreolhamos com um sorriso sem graça e eu com aquela cara amarfanhada e torturada respondi—nas atuais circunstâncias, ouvir isso é muito lisonjeiro. Acho que essa é uma das profissões mais honoráveis que existem, porque essas mulheres e homens lidam com a miséria humana, histórias tristes passam pelas mãos desses profissionais todos os dias. E muitas vezes eles vão até o final, até a morte do paciente, cuidando, sorrindo, sendo gentis e falando coisas pra te animar e te colocar mais alegre. No meu caso não foi nada dramático, mas ser tratada com carinho e atenção ajudou bastante no processo.
Ainda estou tendo muitas dores e ontem tive uma febre que só baixou de madrugada e que me assustou um pouco. Estou descansando bastante, vendo muitos filmes na tevê e comendo os ranguinhos brejeiros que o Uriel tem trazido dos meus restaurantes favoritos. Estou alimentando esperanças de que meu corpo vai colaborar e ficar bom logo, e fazendo planos de voltar à minha rotina na segunda-feira. Bicicleta, porém, só no final de agosto. Muito, muito, muitíssimo obrigada à todos que deixaram uma palavrinha aqui, desejando boa sorte e boa recuperação. Senti ondas confortantes de extremely good vibrations, que vieram em ótima hora!
dias de jejum forçado
A primeira e última vez que dormi num hospital foi quando meu filho nasceu, há vinte e seis anos. Portanto não posso me considerar uma pessoa experiente em estadias hospitalares e nem me sinto muito animada com a perspectiva de tubos, macas, enfermeiros, monitores. But a woman’s gotta do what a woman’s gotta go, então hoje pela manhã me internarei no hospital para fazer um tratamento chamado EMBOLIZAÇÃO UTERINA.
No ano passado uns exames detectaram entidades invasoras residindo no meu útero. O aparecimento dos famigerados fibromas parece ser uma coisa normal em mulheres de mais de quarenta anos. Eles são considerados tumores benignos e não causam nenhum risco, mas se desenvolvem e se multiplicam, evoluindo rapidamente para um quadro de sintomas realmente duros na queda. Eu já estou hospedando muitos, inúmeros, incontáveis fibromas e eles já estão fazendo a minha vida bem miserável. Na busca por uma solução fui colocada frente a frente com a possibilidade de fazer uma histerectomia, que é o procedimento de remoção do útero. Fiquei muito perturbada com a idéia de remover uma parte do meu corpo e eu e o Uriel fomos atrás de mais informação. Descobrimos que noventa por cento das operações de remoção do útero relacionadas à problemas com fibromas são totalmente desnecessárias e que há tratamentos alternativos. Tive várias consultas com minha ginecologista e, depois que optei pela embolização, também com a radiologista que vai comandar a ação e que me explicou todos os micro-detalhes desse procedimento muito menos traumático e agressivo.
Vou pro hospital em jejum, levando comigo minha malinha com alguns objetos pessoais e meu indefectível e robusto mau humor matinal. Estou ciente de todos os pormenores e de como meu corpo deverá reagir a esse tratamento. Já sei que vou ter que ficar uns dias de molho, sem poder cozinhar ou inventar muita moda. Tirei uma semana de licença saúde, que é o tempo que me disseram que vou precisar para me recuperar. Mas estou na expectativa de estar boa antes disso. Até breve então!
Bolo de pêssego

Essa é a sobremesa do mês na edição de agosto da revista Martha Stewart Living. Adorei tudo nela, a massa de cornmeal com lavanda e, é claro, os pêssegos que estão entrando com tudo na estação. Gostamos imensamente do resultado, que pode ser comparado à um bolo de fubá sofisticado com a lavanda no lugar da erva-doce, e os pêssegos caramelados combinando muito bem com todo o resto. Comentário do crítico enquanto se servia de mais uma fatia—mas essa Martha Stewart é fogo, hein? Nem fala, nem fala, êta sujeita fogueta! Tudo o que ela publica dá certo e fica bom.
peach and cornmeal upside-down cake
170 gr/ 1 tablete e meio de manteiga sem sal amolecida
1 xícara de açúcar
6 pêssegos cortado em fatias grossas
1 xícara de cornmeal ou polenta
3/4 de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
2 colheres de sopa de flores de lavanda secas
1 1/4 colher de chá de sal grosso
3 ovos caipiras grandes
1/2 colher de chá de extrato de baunilha
1/2 xícara de creme de leite fresco
Numa frigideira larga de ferro, ou outro tipo de panela que possa ir ao fogo e ao forno, derreta 56 gr/ 4 colheres de sopa de manteiga e espalhe bem pela superfície. Deixe dourar. Polvilhe 1/4 xícara do açúcar sobre a manteiga e deixe derreter, formando um caramelo. Coloque sobre esse caramelo as fatias de pêssegos formando um circulo em aspiral como numa flor. Deixe cozinhar um fogo baixo por uns 10 minutos, até que os pêssegos fiquem macios. Tire do fogo e reserve.
Numa vasilha misture a farinha, o cornmeal, o fermento, o sal e a lavanda. Reserve, Na batedeira, bata em velocidade média a manteiga restante [113 gr] com o açúcar restante [3/4 xícara] até formar um creme liso. Acrescente os ovos um por um, batendo sempre, Junte a baunilha e o creme de leite. Diminua a velocidade e vá jogando a mistura seca, até tudo ficar bem incorporado. Coloque essa massa sobre os pêssegos caramelizados na frigideira, espalhe bem com uma espátula e coloque em forno pré-aquecido em 350ºF/ 176ºC por 22 minutos, até a massa ficar firme e dourada. Retire do forno, deixe esfriar. Quando estiver frio, passe uma faca pela borda e vire o bolo sobre uma travessa.
bouquet

