torta de nectarina e queijo mascarpone

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Uma das grandes frustrações da minha carreira na cozinha é não ser boa fazendo sobremesas. Mas sou persistente, não desisto nunca e estou sempre tentando melhorar. Só que muitas vezes sinto um desânimo enorme. Quando a empreitada termina em êxito, é motivo para comemoração. Mas raramente eu celebro a boniteza do resultado. Minhas sobremesas, apesar de ficarem comíveis, nunca ficam bonitas como eu desejaria. Então fui fazer essa sobremesa linda da Deb do Smitten Kitchen e quando olhei a minha e olhei a dela, fiquei irritada com a minha total falta de jeito. Mas tudo bem, me conformei porque todo mundo que comeu a torta gostou. É uma sobremesa bem refrescante, pois é servida gelada e com a fruta fresca, só a massa que é ligeiramente assada. Ótima também porque economiza forno nos dias quentes. E deve ficar muito boa com outros tipos de frutas.

Torta de nectarina com queijo mascarpone [minha versão]
Para a massa:
37 gingersnap cookies ou outro tipo de bolachinha interessante. Eu usei umas suecas com sabor de capuccino que estavam encalhadas. São mais ou menos 9 ounces ou 250 gr ou 3 2/4 de xícaras de bolacha.
6 colheres de sopa de manteiga sem sal derretida.
Para o recheio
1 porção de 8 ounces ou 230gr de queijo mascarpone
6 ounces ou 170 gr de cream cheese em temperatura ambiente
1/4 xícara de sour cream
1/4 xícara de açúcar
1 colher de chá de raspas de casca de limão [amarelo]
1/4 colher de chá de extrato de baunilha
Para a cobertura
4 ou 5 nectarinas descaroçadas e cortadas em fatias
1/4 xícara de geléia de pêssego * eu não usei

Faça a massa: Pré-aqueça o forno em 350°F / 176ºC. No processador coloque as bolachas e moa bem. Vá acrescentando a manteiga derretida até formar uma massa bem úmida. Forre uma forma de fundo removível com essa farofa. Asse por uns 8 minutos, ou até a massa ficar mais escura e mais firme. Remova do forno e deixe esfriar completamente.

Faça o recheio: Bata todos os ingredientes vigorosamente até obter um creme bem liso. Espalhe sobre a massa já assada na forma. Leve para gelar por pelo menos 2 horas.
Faça a cobertura: Espalhe as fatias de nectarina sobre o recheio, pincele com a geléia aquecida. Sirva ou refrigere por até 6 horas.

artesania de Chile

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Minha amiga foi visitar a família no Chile e me trouxe de presente essa peça feita por artesões chilenos, usando fibras naturais e técnicas ancestrais. Fiquei encantada com a proposta do projeto Artesanias de Chile, que preserva e divulga o artesanato tradicional do país. Achei a textura dessa fibra muito parecida com o nosso lindo capim dourado. Só que a chilena é bem verdinha.

pesto pedaçudo

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Há noites em que não se cozinha nada em especial, apesar de que se cozinha muito para tentar usar ingredientes acumulados. Ontem foi uma dessas noites em que não fiz nada, mas fiz muita coisa. Primeiro o frogurt de nectarina, para usar parte das frutas que colhi e que já estão bem maduras. Depois tive que dar um jeito numa grande quantidade de tomates já virando a esquina da madureira, caminhando rapidamente para o precipício da podridão. Fiz um molho, pra guardar e usar em outros dias. E aquele super maço de manjericão—no verão é uma abundância exagerada dessa erva, os maços que eu recebo semanalmente na cesta parecem vindos diretamente da Terra dos Gigantes. Nem sempre eu consigo usar tudo. Meu truque para mantê-los frescos o mais longo possível aprendi com a Martha Helena: embrulha as folhas lavadas e ainda molhadas em papel toalha e coloca num plástico bem fechado na geladeira. Às vezes eu seco as folhas, mas se eu contar o tanto de manjericão seco que eu tenho guardado ainda de outros anos.

Fiz então um pesto, que é uma ótima maneira de usar o manjericão fresco. A idéia desse pesto pedaçudo eu peguei na revista Country Living. Achei bem legal, pois não fica aquele pesto de sempre.

No processador bata um dente de alho [mais, se gostar mais alhudo], sal grosso e queijo parmesão. Acrescente azeite a gosto, jogue as folhas de manjericão e pulse, não deixe moer. No final acrescente os pinoles torrados e dê mais uma pulsada. Não deixe moer, os pinoles devem ficar quase inteiros. Adicione mais azeite a gosto e use.

frogurt de nectarina

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Só pra constar. Ninguém achou que eu não iria fazer, né? Não tem como deixar passar um balde de nectarinas frescas e não fazer—tchanrannnn—sorvete!

Só pra constar também que o primeiro sorvete que eu fiz, para estrear minha sorveteira, foi—tchanrannnn—de iogurte e nectarina!

Esse foi simples demais: coloque no liquidificador várias nectarinas maduras descaroçadas e cortadas ao meio, uma xícara de iogurte natural integral, néctar de agave ou mel a gosto e 1/2 colher de sopa de licor Grand Marnier. Bater tudo, colocar na sorveteira e bau.

choque cultural & feijão preto

Meus anos no Canadá foram um laboratório que me preparou para adotar um novo país. Lá eu não era imigrante, estava somente de passagem, mas mesmo assim inicialmente passei por todos os processos de adaptação necessários para me integrar a uma vida nova, com clima novo, língua nova, elementos culturais novos. Acontece com todo mundo, aconteceu comigo. O surto maior durantes todos os meus anos canadenses foi não poder lavar o banheiro. Onde está o maldito ralo?? Era a pergunta que eu não conseguia fazer calar, até aceitar o fato inexorável de que naquele país não se lava banheiro e pronto. Não foi fácil, mas todos os choques culturais que enfrentei lá me ajudaram numa adaptação mais tranquila aqui. Eu já cheguei nos EUA ajustada.

Um dos processos pelo qual passei foi o da aceitação dos novos ingredientes gastronômicos locais e o da autenticação da cultura gastronômica que eu trazia comigo. Você quer mostrar de onde veio, não só através da língua, música, costumes e comportamento, mas também através da comida.

A universidade que engoliu meu marido num programa de PhD promovia todo inicio de ano letivo sessões de orientação para os novos estudantes internacionais. Tendo participado do evento na condição de esposa do estudante internacional, percebi o quanto era importante tudo aquilo. Me inscrevi como voluntária para trabalhar nos anos seguintes. Havia posições em diversos pontos estratégicos, você podia ser guia de tours, dar palestras, ajudar na organizacão dos eventos acadêmicos ou culturais e também poderia ajudar na cozinha. Serviam-se lanchinhos para os participantes, que eram preparados e empacotados pelos voluntários da cozinha. Nem preciso dizer que a cozinha era o lugar menos atrativo, pois todos queriam voluntariar em posições mais bacanudas, demonstrando suas habilidades intelectuais e interagindo mais intensamente com o grupo de organizadores e os novos estudantes. Ser voluntário na cozinha não tinha concorrência, muito pelo contrário, nem sempre conseguíamos um número necessário de pessoas. Mas todo ano eu estava la, junto com os sempre presentes usual suspects. Era uma turma legal, com estrangeiros e nativos, que devido ao confinamento e as horas passadas juntos cortando cenouras em tiras ou tomates em rodelas, formou algumas boas amizades.

Mas o bacana desse voluntariado na cozinha era que no último dia da orientação rolava um banquete organizado por nós. Tínhamos que trazer pratos típicos de diferentes países, geralmente doados ou feitos pelos próprios voluntários. Essa era a parte que eu mais gostava, pois chegava a hora daquela gente bronzeada mostrar o seu valor, abafando com um belo e saboroso prato tradicional brasileiro. Desde o primeiro ano, a feijoada tinha sido eleita por mim o prato fino da bossa para representar o Brasil no banquete. Porque era bem típico, tinha uma história legal pra se contar se precisasse entreter a galera curiosa e era fácil de fazer em quantidade. Eu adaptava as linguiças, usava as polonesas e russas que abundavam por lá e adicionava beef jerk no lugar da carne seca. O resto eu fazia igual, feijão preto, bacon, alho, azeite, folhas de louro, panelão que cozinhava por longas horas até o caldo ficar grossão. Quando eu finalmente levava a panela de feijão para a festa era um êxtase coletivo. A minha feijoada era o prato mais esperado da noite, seguido pelas samosas preparadas por uma senhora indiana e que eram, sem dúvida nenhuma, as melhores que já comi na minha vida. No dia do banquete os voluntários da cozinha saiam do ostracismo do confinamento e viravam estrelas, protagonistas da festa.

Vestidos com nossas roupetas mais bacanas e ostentando os nossos sorrisos mais amigáveis, servíamos os rangos internacionais, explicando fatos de cada país, tradição e ingredientes. No meu caso, quando eu me prostrava em frente ao panelão segurando a concha que eu mergulhava sem parar na deliciosa feijoada, era só dizer—Brazilian black beans para provocar um excitamento geral na malta, que às vezes se recolocava novamente na fila para, timidamente, pedir para repetir. Nem sempre sobrava para os voluntários, então adotamos o hábito de separar porções individuais da feijoada antecipadamente. Claro que todo ano durante o banquete tinha sempre um ou outro que fazia aquela cara de fuínha quando eu pronunciava as palavras mágicas—Brazilian black beans. Se a cara entortava em sinal de nojo ou medo, eu já dizia sorrindo—acho que você vai se arrepender, e não vai poder voltar atrás, porque os feijões brasileiros NUNCA sobram pra contar a história!

making ravioli

É praticamente uma vergonha que eu, neta de italianos, passei minha vida inteira vendo minha mãe fazer todo tipo de pasta em casa e nunca tenha feito raviolis. Mas minha amiga Alison mudou o destino da minha história, iluminando o meu caminho com um convite para fazermos raviolis juntas. Foi uma experiência enriquecedora, que eu quero com certeza repetir em casa. Fizemos um ajuntamento de idéias, ingredientes e habilidades. Eu fiz um recheio de nozes e ricota, a Alison fez outro recheio de abóbora assada e também fez a massa, com ovos das galinhas da Mary, a vizinha que também participou do evento. Os ovos fizeram toda a diferença. Nós passamos a massa na máquina numa ação conjunta, se revezando na manivela. A Alison colocou o recheio caprichadamente sobre as tiras de massa e nós nos revezamos mais uma vez no corte dos raviolis. A Mary produziu os quadradinhos mais perfeitos. Fizemos primeiro o com recheio de nozes e ricota, que foi o nosso jantar. A Alison preparou um molho rápido com azeite, alho e manjericão colhido na hora na imensa horta que ela mantém. Quando sentamos para comer, acompanhadas também da Theresa e do Allan, só ouviam-se os murmuros—hmmhmmm!

Eu levei um melão e a Mary levou blueberries e uma melancia. Ela pegou umas nectarinas na árvore carregada de frutos em frente da casa e fez, vapt-vupt, uma salada de frutas perfeita. O melão se sobressaiu, pois tive a sorte de receber um verdadeiro pingo de mel nesta semana na cesta orgânica.

Eu fui embora, já atacada pela exaustão, antes da finalização dos raviolis recheados com a abóbora assada. A Alison usou uma butternut squash da horta dela, que ela assou no forno solar. O aroma dessa abóbora assada estava impressionante. Fiquei triste de ter perdido a segunda rodada.

Meu recheio de nozes com ricota foi simplérrimo de fazer. Preparei na noite anterior, colocando no processador:
1 1/2 xícara de nozes tostadas na frigideira
1 xícara de ricota
Um punhado de salsinha
Sal marinho a gosto

Bater tudo e guardar na geladeira. Fica um recheio bem pedaçudo, com o sabor dominante e extraordinário das nozes.

sorvete de estragão

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A idéia veio daqui, via the kitchn. Eu só mantive mesmo a presença do estragão no sorvete, o resto fiz do meu jeito.
Deixei um punhado de estragão de molho em 1 xícara de creme de leite fresco de um dia para o outro, na geladeira. No dia seguinte bati tudo no liquidificador com mais 1/2 xícara de leite integral e nectar de agave [ou mel] a gosto. Coei bem e coloquei na sorveteira. O estragão é uma erva muito delicada e aromática, tem um sabor que lembra muito o do anis. Mas esse sorvete é claramente um acompanhamento para frutas, porque sozinho ele fica um pouco enjoativo. A combinação da fruta assada ou grelhada com um sorvete de ervas é prá lá de interessante. Eu usei nectarinas colhidas no meu quintal, fresquíssimas, que cortei ao meio e coloquei na grelha da churrasqueira por uns minutos, somente até elas ficarem um pouquinho moles, mas sem exagero. Servi as metades das nectarinas grelhadas com o sorvete de estragão. Décadence, avec élégance!