salada de cenoura ao curry

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Mais uma salada de cenoura, porque elas ainda estão chegando e vão se acumulando na gaveta da geladeira. Essa receita saiu da revista Bon Appétit de maio/09 e não só ficou ótima no dia, como ficou boa também no dia seguinte. Nem toda salada aguenta ser servida num repeteco.

3/4 de iogurte natural
1 cebolinha grande picada *usei chives-ciboulettes
2 colheres de sopa de folhas de hortelã fresco
1 1/2 colher de chá de suco de limão
1 colher de chá de curry
500 gr de cenouras raladas
1/4 xícara de passas currant *a uva-passa micro-minúscula

Bata bem com um batedor de arame os cinco primeiros ingredientes numa vasilha, adicione as cenouras e as currants, tempere com sal a gosto e misture bem.

uma horta conceitual

Minha vizinhança é quase homogênea em termos de status profissional dos proprietários das trinta casas coloridas que formam o círculo batizado de Aggie Village. A maioria dos meus vizinhos são professores da UC Davis. A real ocupação de um deles—o da casa do nosso lado da calçada, na esquina que desemboca para o Arboretum—foi no inicio uma incógnita. Nós víamos a mulher sair pela manhã, provavelmente para ir trabalhar, mas o marido ficava por lá, cavando uns buracos, arrancando uns matos e carregando umas pedras que ele amontoava aqui e ali. Concluímos pela aparência da coisa que a mulher devia ser professora e que o cara devia estar desempregado e por isso fazia penitência da vida ociosa trabalhando em reformas necessárias na casa. A varanda desses vizinhos estava sempre cheia de cacarecos, cadeiras, vasos, pedras, bicicletas e até uns quadrados de feno. A cerca tinha sido derrubada, deixando à mostra uma paisagem desolada, sem grama, sem flores, só um imenso terreno desnudo.

Não demorou muito para descobrirmos que o nosso vizinho carregador de pedras e fazedor de buracos não estava desempregado, muito pelo contrário. Estava muito bem empregado como professor do departamento de artes da Universidade da Califórnia.

Descobrimos também que a casa dele não estava passando por nenhuma reforma. Ela é na verdade o palco para uma constante e dinâmica instalação de arte conceitual, que eu ainda não pesquei o significado, apesar de ter certeza absoluta de que há um, ou vários.
Com o passar dos anos pude perceber claramente que meu vizinho é obcecado por pedras. Há centenas delas, empilhadas ou espalhadas, ao redor da casa. No último verão ele fez uma pilha em formato triangular debaixo de uma árvore, que me fazia pensar naqueles altares que se vê em estradas, para relembrar as pessoas que foram atropeladas. Mas as instalações com pedras não permanecem, pois logo as pedras somem, são relocadas e reaparecem em outra forma, num outro canto.

Embora tudo na casa do meu vizinho seja interessante, o mais peculiar é realmente o seu trabalho de jardinagem. O quintal não tem cerca, então quando caminho pela calçada ao lado posso ver claramente o imenso poeirão, com estradinhas desenhadas com pedras [claro!] e às vezes uns panos brancos imensos pendurados em arames estendidos e cruzados pelo espaço do terrão. Uma vez vi cadeiras num arranjo íntimo, para logo em seguida presenciar o vizinho com a esposa e um amigo bebendo chá, sentados no meio do jardim árido de terra e pedras. No quintal não tem nenhuma planta. Mas ao redor da casa, numa espécie de barranco, o vizinho planta uma horta. E expande a plantação para uma área comum, que separa a nossa vila do caminho das bicicletas do Arboretum. Ali, num espaço de uns 10 X 200 metros, o vizinho planta flores—california poppies e girassóis—e legumes e verduras—milho, abóbora, pimentões, berinjelas, tomates.

Todo ano o jardim que ele planta, no barranco que circunda a casa e no canteiro separatório, vira um horrível matagal. As plantas crescem alucinadamente e se espalham pela calçada. Muitas vezes no final do verão, já não é possível caminhar por ali e temos que dar uma volta para evitar ter que desbravar a selva. Nunca entendi muito bem o propósito daquilo, até que o Uriel ficou sabendo pelo próprio vizinho, que a horta que ele planta anualmente é comunitária, para qualquer um pegar o que quiser. Pelo jeito ele não divulgou muito bem a mensagem, pois nunca vi ninguém pegando nada. O que acontece todo ano é um grande e escandaloso exercício de desperdício.

Noutro dia emergi no morro, vinda de uma caminhada pelo Arboretum, para uma visão do vizinho numa reinterpretação californiana do guru indiano dos Beatles. Vestido numa túnica longa e calças cor-de-rosa, ostentando óculos escuros, com o cabelo desgrenhado e grisalho preso num rabo de cavalo e a barba branca longuíssima apontando em direção ao sol poente, ele regava caprichosamente o vasto canteiro, que já tinha sido limpo, redecorado com pedras [claro!] e a terra preparada para o plantio. O caso é que só vamos saber o que o vizinho decidiu plantar daqui a alguns meses. Se bem que ele avisou, no dia que contou que a horta era self-service, que também aceita pedidos e plantaria o que você quisesse colher: pepinos, batatas, melancias, beterraba, morangos? Arriscaríamos, pois então, pedindo, quem sabe, se fosse possível ele plantar umas mandiocas, uns chuchus e um pé de maracujá?

o melhor lugar, aqui e agora!

Gatos são animais fofinhos, que ficam lindos deitados sobre uma almofada no sofá ou enrolados no tapete em frente à lareira, dormindo aos pés da cama, rolando e desenrolando novelos de lã. Gatos não têm absolutamente nada o que fazer na cozinha. Mas é na cozinha que meus dois gatos passam um bocado de tempo, muito mais tempo do que deveriam.

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O gato mais novo é um espevitado que chamamos de Roux—embora estejamos inclinados a acreditar que ele não sabe que se chama Roux, pois nunca responde quando solicitado pelo nome. Esse faz da cozinha o seu lugar de gastar tempo de bicho entediado. Quando ele não está dormindo e fica naquele trancetê sem ter o que fazer, a cozinha vira um parque de diversão. Ele corre para lá e para cá aos pinotes, dando botes em qualquer coisa que se movimente, real ou imaginária. Ele come as flores e as ervas nos vasos, tenta abrir as portas dos armários para ver o que tem dentro e se eu abrir gaveta ou porta e ele estiver pelos arredores, vai vir correndo para bizoiar curiosamente. Não sabemos exatamente o que ele faz na cozinha quando não estamos em casa ou quando as luzes se apagam e nós vamos dormir, mas temos suspeitas que ele dorme em cima da mesa e desfila pelas as bancadas da pia, xeretando em absolutamente tudo.

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O outro gato é um senhor austero e obcecado por comida chamado Misty Gray. Esse nunca sai da cozinha. Se eu estou lá, ele está lá. Se eu não estou, ele continua lá. Ele dorme nos tapetes da cozinha, especialmente nos tapetes por onde eu circulo. Tenho que ter um cuidado enorme para não pisar no rabo e não tropeçar no animal. Criamos o hábito de dar uma comidinha especial para ele num canto da cozinha. Então toda noite temos o que chamamos de “o ritual do snack”. O gato fica esperando, fica pedindo, se coloca em posição estratégica de frente para a parede e enquanto você não abre o pacote e ele não vê os biscoitinhos ali no chão, não há condições de se fazer muito na cozinha, porque ele não dá sossego. Se eu pego o abridor de latas, abro um saquinho de algo ou destampo qualquer coisa, ele olha para cima com aquele carão de pidão, na esperança de que vá sobrar algo para ele. É de comer—é pra mim? Pelo menos este não dorme na mesa, nem deixa marcas de patas na bancada da pia. Ou assim acreditamos.

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Meus gatos ficam à vontade na cozinha, como se ali fosse o ambiente natural deles. Assistem a vida passar pelas janelas e fazem a festa quando estão sozinhos. Mas pensando bem, não poderia ser diferente, pois é na cozinha que se concentra toda a ação da casa. Eu que o diga, pois apesar de não ser um gato, também não saio de lá.

são rosas

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O legal de viajar durante mudança de estação, é que quando você volta encontra muitas diferenças na paisagem. Eu cheguei para encontrar as rosas já pipocando, no jardim da frente e no quintal da casa. Minhas rosas não são muito bonitas, daquela beleza clássica que as rosas costumam ter. Elas abrem de uma maneira deselegante, se despetalam fácil, são espinhudas, sempre infestadas com pulgões, mas são rosas de fato. E já estão enchendo os vasos e trazendo alegria pra vida do gato Roux.

sopa de aspargos & arroz

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A edição de maio da revista Country Living traz um amor de reportagem, com vários famosos comentando as comidinhas favoritas feitas pelas suas mães. Essa sopa era preparada na Itália pela Erminia, mãe da Lídia Bastianich— cozinheira que comanda um programa de culinária italiana na rede PBS.

Como aqui os arpasgos já estão no seu esplendor, era essa justamente a receita que eu precisava! Tinha todos os ingredientes, menos o alho, que substituí por shallots—enchalotas.

Faz 8 porções — fiz metade
4 dentes de alho grandes
1/2 xícara, mais 2 colheres de sopa de azeite
2 xícaras de batata cortada em cubinhos
3 xícaras de alho-poró picadinho, parte branca e verde
1 folha grande de louro
1 colher de sopa de sal marinho ou kosher
800 gr de aspargos frescos cortados em pedaços
1 xícara de arroz arborio
Pimenta do reino moída a gosto
1/2 xícara de queijo Grana Padano ou Parmigiano-Reggiano ralado na hora

Numa panela funda refogue o alho picado em 1/2 xícara de azeite. Adicione as batatas e refogue por 5 minutos. Então adicione o alho-poró e cozinhe por mais 3 minutos. Junte 4 litros de água, a folha de louro e o sal. Misture bem, tampe e deixe ferver. Baixe o fogo, adicione os aspargos—eu separei as pontas, que só coloquei na sopa quase no final. Cozinhe por mais ou menos 1 hora, ou até que o liquido esteja reduzido em 1/3. Adicione o arroz, deixe ferver e cozinhe por 10 minutos. Coloque pimenta a gosto e ajuste o sal. Junte 2 colheres de sopa de azeite e o queijo ralado. Sirva imediatamente, ainda bem quente.

rocambole de omelete com espinafre

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Passei o dia em casa, deitada, tentando me recuperar da gripe morfelêntica que eu trouxe como souvenir de viagem. Por isso tive tempo de ler uma parte das revistas que chegaram durante a minha ausência. Numa delas, a Everyday Food, encontrei a receita que eu precisava para acabar com os ovos caipiras que tinham ficado na geladeira—e eu tenho uma certa aversão à guardar ovos por muito tempo. Ela ainda ajudou a detonar uns queijos remanescentes e um pacote de espinafre que estava esquecido no fundo do congelador.

1 xícara de leite
1/2 xícara de farinha de trigo
Azeite para untar
8 ovos
1 colher de sopa de mostarda Dijon
Sal grosso e pimenta do reino moída
2 pacotes de espinafre congelado picado [descongelar e espremer antes]
1 1/2 xícara de queijo cheddar [*usei uma mistura de provolone e fontina defumado]

Pré-aqueça o forno em 350ºF/ 176ºC. Unte uma forma retangular e rasa com azeite e cubra com papel vegetal, deixando papel extra nas duas beiradas do lado mais curto da forma. Unte o papel vegetal também com azeite e reserve. Misture o leite com a farinha e bata bem com um batedor de arame. Numa outra vasilha bata os ovos, a mostarda, o sal e a pimenta. Junte a mistura de farinha com a mistura de ovos e coloque na forma forrada e untada. Salpique com o espinafre e leve ao forno por 15 minutos ou até as beiradas da omelete ficarem firmes. Salpique o queijo sobre a omelete e deixe no forno por mais uns 5 minutos, até ficar derretido. Remova do forno e segurando a parte extra do papel vegetal, vá enrolando a omelete firmemente, até formar um rocambole. Corte em fatias e sirva.

»para duas pessoas essa receita é um exagero e pode muito bem ser reduzida pela metade.

mercado de abastos

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Em Sevilla visitei o mercado de abastos de Triana. Ele é no mesmo estilo do mercadão de Campinas, porém um pouco menor e tinha muitas lojas fechadas naquele dia. Uma senhorazinha que estava comprando peixes me disse que o movimento é mesmo aos sábados, quando todas as lojas abrem e o povo baixa no mercado para as compras da semana. Lá se vende frutas, legumes e hortaliças, peixes, frutos do mar, carnes, aves, ovos, queijos, embutidos, grãos, latarias, pães e bolachas, roupas, sapatos, eteceterá. Não me surpreendi com muita coisa, somente com a variedade de peixes e frutos do mar e com a visão chocante da cabeça do boi pendurada na parede do açougue e as aves ainda com penas e os coelhinhos com pele e tudo pendurados num gancho da venda de aves… Mais fotos AQUI.

back to my sweet home

Carro, avião, avião, trem, carro, ônibus, trem, trem, taxi, carro, trem, taxi, avião, carro, taxi, trem, barco, barco, carro, trem, ônibus, avião, taxi, taxi, avião, avião, carro.
Acho que nunca fiz uma viagem que envolveu tantos meios de transportes diferentes. Desta vez só faltou andar de bonde, de carroça e no lombo do camelo. Pra quem detesta ficar confinada em ambientes fechados, foi um festival de lamúrias. Mas em duas semanas visitamos dois países lindos e conhecemos sete cidades. Adorei a Espanha e preciso voltar à Itália, por onde passeamos meio desorganizadamente. O roteiro na Itália foi na verdade uma excursão pessoal do meu marido, buscando pelo ponto de partida, o local de origem da sua família.
O jet lag me derruba sempre na volta, quando regressamos nas horas. E ainda peguei uma gripe, com certeza dentro de um dos aviões que me carregou de lá pra acolá. Hoje estou na bolha, mas amanhã recomeça a minha rotinazinha, com a adição de que fui convocada para servir como jurada na Superior Court of California do meu condado.
Ainda tenho muitas fotos e histórias da viagem. Mas logo voltaremos à programação normal.