E aqui estou eu novamente, com mais uma batelada de fotos, mas desta vez de qualidade super duvidosa—fotos de celular. O registro era o mais importante neste caso e foi isso que eu fiz. Nos e-mails da organização do evento BlogHer Food as instruções mandavam levar laptop, câmera, eteceterá, que eu até levei, mas sinceramente foi apenas uma carregação de peso inútil. Num acontecimento como este, a gente quer ficar alerta, prestando atenção em tudo, com as mãos razoavelmente livres. A câmera me pareceu um empecilho e portanto nem saiu da sacola, que acabou voltando rapidíssimo para o carro. Fotografei quando deu, usando o iPhone, como fizeram muitos outros participantes do evento.
Mobilidade era essencial. Eu queria ver tudo, provar tudo, participar de tudo. Só fui para o segundo dia do evento, que aconteceu no sábado 8 de outubro em San Francisco, portanto perdi muitos buxixos do primeiro dia, na sexta-feira. Mesmo assim valeu cada minuto. Uma conferência de food bloggers é basicamente imperdível. No ano passado dormi com a touca da procrastinação e entrei pelo cano. Os ingressos esgotam rapidamente, não pode ficar olhando pro horizonte, porque acaba-se comendo mosca. Neste ano fui mais esperta e garanti meu ingresso ainda em março. Valeu a pena a espera de tantos meses.
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Por ter escolhido manter meu blog apenas em português, me coloquei numa posição muito desvantajosa no mundo blogueiro. Apesar de viver aqui e escrever sobre a cultura e culinária daqui, realmente não consigo me enturmar completamente com os locais pelo simples fato de não escrever numa língua que todos entendem. E para o resto do mundo luso parlante, ofereço minhas receitas, textos, pensamentos e reflexões sem estar fisicamente presente e participante. Em resumo, sinto que estou entre dois mundos, num universo virtual paralelo sem pertencer completamente à lugar nenhum. Isso faz a minha interação parecer difícil em eventos, como este, pois vou chegar com o blog numa língua que ninguém entende, um blog que ninguém lê e com certeza nunca irão ler.
Mas a comunidade de food bloggers de língua inglesa é algo realmente especial. Ou são especiais as pessoas que foram pioneiras, se destacaram e hoje comandam a boiada, integrando as pessoas e dividindo conhecimento e experiência. Não conhecer quase ninguém numa conferência lotada de blogueiros vindos de todos os cantos dos EUA e ser recebida com um abraço entusiasmado pela minha amiga Elise Bauer é realmente confortante. E ela não só me recebeu, como me apresentou para o charmoso Michael Ruhlman, que coincidentemente tinha sentado ao meu lado na primeira palestra que assisti. Conheci outros blogueiros celebridades e proeminentes, outros nem tanto, alguns apenas iniciantes, outros amadores como eu, e percebi que uma grande parte deles está trabalhando duro em direção da profissionalização. É uma comunidade profundamente eclética e incrívelmente séria.
No buxixo entre palestras decidi criar coragem e me apresentar para o chef David Leite, de descendência portuguesa, que é o grande divulgador da cozinha lusitana aqui na América do Norte. Só vou dizer uma coisa—somos muito bem representados, que cara simpático, adorei muito conhecê-lo pessoalmente!
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No meio do dia todos os congressistas se aboletaram em ônibus fretados pela organização e fomos levados ao Farmers Market do Ferry Building Market no antigo Porto de San Francisco. Para mim o passeio não me apresentou nenhuma novidade, mas pra muitos blogueiros vindos de outros estados foi um super treat. Esse mercado é o meu lugar favorito na cidade e dou uma passadinha por lá sempre que posso. O mais divertido pra mim foi estar dentro de um ônibus lotado de blogueiros e poder interagir com alguns deles.
Quanto as palestras, só consegui participar de duas: food styling com os talentosos Adam Pearson, Delores Custer e Tami Hardeman e uma palestra super emocionante com a fantástica fotógrafa Penny De Los Santos, com quem eu já tinha feito um workshop anteriormente. Não canso de ouvir a Penny falar da sua paixão, da visão orgânica que ela dá para suas fotos. Depois de conhecer o trabalho dela, tudo muda. Não tem como continuar pensando da maneira antiga.
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No fechamento do congresso, teve uma conversa muito legal com três blogueiros experientes, cada um com um estilo completamente diferente—Shauna James Ahern, a Gluten Free Girl, o chef Michael Ruhlman e a fofissima Molly Wizenberg do blog Orangette. Mesmo não estando tão enturmada por causa da barreira da lingua do meu blog, me senti super em casa nesse evento. Apesar de ser uma blogueira com muitos anos de experiência, continuo aprendendo todos os dias. As lições nem sempre são sobre como escrever, como fotografar, mas sim como se portar e se posicionar dentro dessa comunidade. Nunca serei uma blogueira profissional, porque não carrego essa ambição comigo. Mas tenho muito bem solidificado o meu próprio estilo, que combina minha personalidade, meus principios e minha maneira de ver o mundo. E assim me posiciono. Escrevendo em português, pra quem lê em português poder ler, sem sentir que pertenço, mas pertencendo muito mais do que eu mesma consigo admitir. No final da palestra a Shauna James Ahern citou uma frase da Virginia Woolf que pode ser o meu motto e o de muitos outros que escrevem em blogs—“we write to taste life twice, in the moment and in retrospect.”






























































Se não for assim é porque alguma coisa está muito errada. Me importo sim, às vezes, de não ter mais a pele tão fresca, de ter minhas marcas, dos cabelitos brancos ali na testa insistindo em ficar aparecidos, de não ser mais tão esbelta, tão energética e dos probleminhas que fatalmente aparecem. Mas não poderia estar mais feliz, com minhas chatices, minhas manias, meu apetite e meu sono, minha paciência, meu humor, minha persistência, minha resistência e, principalmente, com a minha capacidade de contar até dez, vinte, cinquenta, cento e setenta, mil.














mas ele não passou pelo nosso controle de qualidade. Não estava ruim, não estava sem gosto, não estava verde, nem podre, estava apenas mediano.