as laranjas

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Se eu não estivesse tão cansada das minhas longas camelanças sob o impiedoso sol mediterrâneo, iria ficar rabiscando mil e dois adjetivos para descrever essas laranjas—que se chamam naranjos e não são comestíveis cruas, por serem amargas. Elas ficam boas somente cozidas em forma de marmelade ou como parte de receitas. Córdoba e Sevilla têm essas laranjeiras por toda a parte, é uma coisa impressionante, pois elas são praticamente onipresentes. Para mim elas são a epítome da beleza e muito mais originais do que qualquer outra planta ornamental. Também se vê muitas árvores de limão amarelo, mas as laranjas dominam. Eu dei muita sorte de chegar no inicio da primavera, quando elas começam a florir e impregnam a cidade com o cheiro delicioso da flor da laranjeira.

en la casa de Sergio & Esther

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Nossos anfitriões aqui na Espanha nos prepararam um jantarzinho com tapas bem tarde da noite. O orgulho da gastronomia espanhola é esse presunto ibérico. Segundo o Sérgio, o porco vive uma vida maravilhosa, comendo somente nozes e se refastelando ao sol. O pernil leva 18 meses de preparação e descanso, até poder ser consumido. Em todo canto se vê esse apetrecho de apoiar o presunto, que é cortado em fatias finíssimas com uma super faca afiada e por mãos habilidosas. Achei tudo muito bacana, mesmo frente àquela visão tenebrosa da pernoca com casco e tudo sendo dissecada. Só me assustei mesmo quando vi o ossão que sobra quanto de consome toda a carne—té-tri-co! Os espanhóis amam esse presunto, mas eu achei muito forte. Preferi comer a tortllla de patatas, os pimientos com atún, as croquetas de cosido, o queso manchego e as maravilhosas acetunas. O Sérgio também preparou um delicioso peixe grelhado, temperado somente com sal e o azeite especial feito pelo irmão dele. Bebemos um vinho branco andaluz.

los dulces

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Todos já devem saber que eu não sou a maior fanzoca dos dulces e que dou preferência para os que têm fruita. Por isso, entre as inúmeras opções açúcarada oferecidas pela padaria San Pedro, escolhi um recheado com doce de cidra, que não consegui terminar de comer. Bebi um chá de menta. O Uriel comeu um doce com maçãs, que ele elogiou por não estar muito doce, e bebeu um café con leche. Os outros comeram diversos tipos de tortas e bolos. Ninguém quis o flan, nem a crema catalana.

La Cazuela de la Espartería

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No dia em que chegamos, fomos comer tapas numa taberna típica de Córdoba com nossos amigos. São dezenas de tapas, eu não iria saber escolher, um por não saber o que era o que, e dois por estar uma zumbi depois de tantas horas de viagem—entra em avião, sai de avião, aquela via crucis de sempre pra gente viajar do fim do mundo [Califórnia] até o planeta Terra. Tudo o que comemos estava uma delícia. Era quase tudo fritura—talvez por isso tão delicia! Só não comi um tapa de lula, porque não gosto desses bichos do mar. Mas o resto eu comi tudo—berinjela frita, peixe frito, croquetes de carne, um enrolado com presunto que parecia uma alheira portuguesa, um salmão com molho bechamel e berinjelas, que a primeira vista pode parecer uma mistura esdrúxula, mas é uma delicia. Eu bebi um vinho branco frutado delicioso que o Sérgio escolheu pra mim e depois fui na indicação da Esther e bebi um tinto de verano, que é vinho tinto misturado com soda de limao, que eu adorei e vou fazer em casa. A taberna fica cheia, todo mundo mandando bala nos tapas, sentados ou em pé, em bancadas. A Angela me contou que por causa das tabernas os espanhóis são considerados o segundo povo mais barulhento do mundo, perdendo o primeiro lugar para os japoneses e seus divertidos karaokês. Realmente, estava animado. O Uriel ainda pediu um azeite pra gente molhar o pão. Tudo estava uma delícia. Depois dessa verdadeira comilança, fomos a uma padaria comer doces! Aguardem o próximo capítulo.

hola de España!

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Chegamos em Madrid no domingo e pegamos o trem bala para Córdoba, onde fomos recebidos pelos nossos amigos espanhóis, que nos levaram para uma farra da tapas e vinhos. Hoje o Uriel vai trabalhar e eu vou sair pela cidade. Estamos nos alojamentos da Universidade de Córdoba. Estou encantada com as árvores carregadas de laranjas que enfeitam as ruas da cidade.

Imperial Hotel

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Para compensar o show de horrores que foi o nosso almoço no buteco da Susan, tivemos um jantar delicioso e elegante no Imperial Hotel em Amador City. A minúscula cidade de 150 habitantes abriga um restaurante realmente impressionável, pela qualidade da comida e serviço. O prédio construído em 1879 era um hotel para os mineiros, que infestavam a região durante a corrida do ouro. Hoje restaurado, o local ainda oferece hospedagem com seis quartos na parte de cima e o restaurante no andar de baixo. Tudo muito lindo, sem exageros, decoração e luz delicada, eu e o Uriel ríamos como bobos alegres, comparando as duas experiências do dia.

De entrada o Uriel pediu em roasted garlic and warm brie with olives, mixed greens and baguette, que foi o único prato que eu fotografei. Eu pedi uma salada com organic baby romaine with parmesan, crostini and creamy lemon dressing que estava leve e saborosa. Depois o Uriel foi de penne pasta with artichoke hearts and sun roasted tomatoes in a light cream sauce e eu de pork chop chili-rubbed pork chop with mango wine sauce served with basmati rice. Eu bebi um blend muito saboroso de uma vinícola que a garçonete disse ficar just across the street. A sobremesa foi cheesecake de café para o Uriel e bolo de maçã com calvados e sorvete de baunilha pra mim. O sorvete era feito em casa, nada de lata, nada de pacote, nada de vidro, nada semi-pronto e processado. Ufaaaa!

desperately forgetting Susan

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Eu detesto escrever pra esculhambar, mas muitas vezes é impossível evitar. E a Susan pediu pra levar chibatadas. Desculpa, Susan, mas você merece todas as palavras duras e todo o escracho, sinto muito.
Chegamos em Sutter Creek já passado do horário do almoço. Caminhamos pela rua principal até o information center, onde pegamos folhetos e conversamos com uma senhora que nos deu algumas dicas de visitas às minas, que era o passeio que o Uriel estava doido pra fazer. Sutter Creek e Jackson são as cidades principais naquela área do condado de Amador, que é famoso pela intensa corrida do ouro que trouxe gente à beça para a Califórnia em 1849.

Olhamos o panfleto dos restaurantes e enquanto eu fui encaroçar numa lojinha de antiguidades, o Uriel ficou analisando as possibilidades. Finalmente decidimos que deveríamos tentar um lugar chamado Susan’s Place, que servia Mediterranean/California cuisine. Ficamos animados. O restaurante fica num beco bem charmoso, numa construção antiga que nos pareceu ser um pequeno hotel. A entrada, apesar de emperequetada demais pro meu gosto, não nos assustou. Muitos comensais almoçavam no páteo, mas fomos levados para uma das partes internas do restaurante. Sentamos e fomos muito bem atendidos por uma garçonete gentil que me trouxe diversos samples de vinho até eu decidir por um Zinfandel da região. O condado do Amador tem muitas vinícolas e produz vinho de excelente qualidade. Eu quis beber o vinho da região. O Zinfandel não decepcionou. Mas o resto…..

Quando olhamos o cardápio percebemos que o rango californiano mediterrâneo era bem fraquinho. Pedimos juntos uma entrada de bruschettas, eu uma saladona e o Uriel um prato com frango. Dai começamos a observar a decoração do lugar. Sintetizando, tudo ali era OVER THE TOP. Muita luzinha, muitas plantas e flores falsas, um guarda-sol em cada mesa na parte interna, uma cafonice total com cortininha, abajour e livros antigos—realmente, um restaurante-biblioteca com livros de matemática de 1942 era tudo o que queríamos da vida. Havia também muitos quadros cafonildos nas paredes pintadas de roxo-lilás. As portas eram também pintadas de roxo e deu logo pra perceber que a Susan tinha uma preferência exagerada por essa cor, que abundava por todo o restaurante, entremeada pelo verde e o dourado, numa mistura extremamente cansativa. Pra completar, a cereja no topo do bolo, o fundo musical tocando no restaurante era música de elevador cantada, tipo Berry Manilow. Eu já estava quase chorando de arrependimento e antecipando o pior quando a comida chegou…

A bruschetta veio quente e com uma camada de pesto por cima da torrada. Comemos meio assim, achando que aquilo era muita invencionice e já começamos a ficar preocupados com o que viria dali pra frente. O prato do Uriel era uma coisa indecífravel. Eu perguntei umas dez vezes—mas você não pediu frango? Porque o que víamos ali era uma carne moída muito estranha por cima de um arroz, uma visão tenebrosa. A cara do Uriel demonstrava um horrível descontentamento. E a minha salada era a coisa mais buffet do Fresh Choice que eu já vi na vida! Tudo sem graça e coroado com muitas azeitonas DE LATA! Azeitona de lata é o fundo do poço, o fim da picada da baixa qualidade e total ausência de sabor. Fiquei revoltada, só conseguia balbuciar inconformada—AZEITONA DE LATA, AZEITONA DE LATA, AZEITONA DE LATA! E o molho da salada era ardido de tanto alho, daquele que deixa um gosto ruim na boca por 48 horas. Tudo horrípilesco, grotesco, monstruoso, pra combinar com a decoração. Só salvou-se o vinho e a delicadeza da garçonete, que no final me levou até a adega do restaurante para eu ver a garrafa do vinho que havia bebido. Lá estava, debruçada no balcão do bar, a Susan, uma loiraça de meia idade com um suéter beige de cashmere. Au revoir, Susan! Só queremos desesperadamente te esquecer.

Duarte’s Tavern

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Depois de colher os morangos na Swanton Berry Farm o GPS nos levou até Pescadero para um almoço na Duarte’s Tavern. Chegamos na minúscula cidade e fomos direto para o restaurante, que estava lotado, com muita gente esperando na porta. Colocamos o nosso nome na lista de espera e recebemos o aviso de que teríamos que esperar por 45 minutos. Achei que valeria a pena e para passar o tempo fomos visitar as lojinhas de antiguidades e de artes da rua principal da cidade. A história do restaurante é interessante e começou em 1894 quando o patriarca Frank Duarte trouxe um barril de whiskey de Santa Cruz até Pescadero e vendia as doses em cima do balcão do bar, que ainda é o mesmo. A família Duarte tem tocado o local desde então. Hoje eles têm muitos funcionários, mas os membros da família continuam trabalhando lá. Vimos alguns deles, apressados, servindo pratos, conversando com os comensais.

Nós sentamos no balcão, o que nos poupou alguns minutos de espera. Eu confesso que adoro sentar nos balcões de restaurante! Acho o atendimento mais cuidadoso, não sei o que é. No Duarte’s não foi diferente. Eu levei um tempão pra decidir o que pedir, pois as opções eram imensas, com muito peixe e frutos do mar. Acabei optando por uma sopa de chili verde, que pedi com um pouco de medo, pois as pimentas ainda me assustam. A sopa acabou sendo a melhor escolha, um creme suave e delicado, com uma deliciosa surpresa picante no final. Também pedi um sanduíche de caranguejo, que estava recheadão de carne macia e bem temperada. O Uriel pediu um ravioli de alcachofra. Os pratos com alcachofra são a assinatura do restaurante. Muita gente pedia a sopa de alcachofra, que é bem famosa. Eu bebi um vinho espumante da Mumm Napa, que veio na garrafinha super charmosa. Até o pão estava especial, vindo semi-assado da padaria da outra esquina e terminado de assar nos fornos do restaurante, chegou à mesa quentinho e crocante. De sobremesa dividimos uma torta de morango com ruibarbo que chegou quentinha e derretia na boca. O restaurante é bem simples, mas a comida é de primeira, como também o atendimento extremamente simpático. Saímos de Pescadero felizes da vida e rumamos para Half Moon Bay pela Highway 1, que tem uma das mais belas paisagens daqui do norte da Califórnia.