não tô mais podendo

roux-chegadisso_2S.jpg

[ chuvendô? travêis? ]

Olha, eu sou apenas um gato e nem saio na rua, nem mesmo no quintal. Mas não tô mais aguentando nem ver nem ouvir através dos vidros das janelas esse pinga pinga, molha molha e encharca encharca. E a ventania? Outro dia deu uma tempestade de chuva enviezada e vi galhos de árvores galore voando pela rua, além daquela poça ameaçadora que se alargava perigosamente lá no quintal. E esse céu sempre cinza? Nem dando muitos pulinhos espinoteados pela casa pra elevar o astral. Cansei a beleza de ver tanta água jorrando. Eu nem deveria me preocupar, já que nem saio de casa. Mas quando vejo a Fezoca chegando toda molhada e esbaforida, empunhando um guarda-chuvão cafona, dá uma certa pena. Mesmo pra mim tá tudo muito chato. Não aguento mais essa choveção. Dá pra começar logo essa tal de primavera?

adoro as manhãs de domingo

pi-masters.jpg
Tenho a impressão de que os coaches do masters onde eu nado me desprezam profundamente, porque eu não estou interessada nos treinos, nas competições, em quebrar recordes ou ganhar medalhas. Eles me ignoram solenemente, mas pra mim tá muito bom assim. Eu sempre nadei contra a corrente ou sozinha numa raia sem me enturmar. Sou assim desde sempre, não consigo fazer parte de grupos, partidos, andar em turma, fazer o que os outros fazem, me vestir na moda, seguir regras, participar de eventos coletivos, jogar joguinhos, passar correntes pra frente, fazer parte de um time, me integrar na onda do momento. Sou a que corre por fora, do meu jeito, com as minhas regras e etiquetas que me orientam e determinam o meu caminho.
Acordamos com o gato faminto espancando a porta do quarto. Eu levantei e desci para dar comida ao desesperado. A relação do Misty com os humanos é completamente baseada em comida. É uma coisa que me incomoda, pois parece não existir outro elo de ligação. Li outro dia que gatos são muito mais leais aos humanos do que os cachorros, só que eles fazem a conexão de uma maneira diferente e muito mais rigorosa. Eles se conectam com apenas um humano, à quem vão ser leais para sempre. Se acontecer dele ser abandonado, o gato nunca mais vai se conectar à humano algum e todos os relacionamentos dali em diante serão baseados em comida. E esse é exatamente o caso do meu gato velhinho, o Misty.
Domingo de manhã, quatro graus, névoa baixa e frio, vejo pela janela da cozinha muitos passantes indo caminhar pelo Arboretum. E daqui a pouco eu tô indo nadar.