um dia de inverno

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Roux no melhor lugar da casa

Depois de dias de chuva gelada, abriu o sol, fez um dia azul de inverno que eu adoro. Frioooo, um ventooooo. Meu irmão, minha cunhada e minhas sobrinhas foram esquiar em Lake Tahoe. Eu fiquei pra organizar mil coisas na casa, ir ao correio, fazer umas compras [mais! afe!]. O Uriel está trabalhando, preparando o material pra classe que ele vai ensinar neste quarter de inverno, que começa dia três. Eu estou de folga do trabalho, iaruuu! Está sendo bom pra fazer coisas com minha família e também pra fazer outras coisas que normalmente não faço. Tenho cozinhado uma vez por dia. Hoje estou fazendo um minestrone. Ando usando muito o meu panelão de ferro que comprei em novembro, porque ele dá conta de quantidade para mais de seis pessoas. Essa é a primeira vez em anos que eu curto o break de final de ano. Já estou pensando no rango da virada do ano!

Natal? Que Natal?

À noite consegui ir ao supermercado comprar umas coisinhas, pois minha geladeira estava vazia de itens frescos. Fui capengando. Chega quatro da tarde meus olhos começam a arder. Mas considerando que eu mudei de hemisfério e voltei seis horas no tempo, até que estou super bem, funcionando.

Hoje é a festinha de Natal do meu trabalho. Vamos a um lodge, cada um leva seus próprios utensílios e um prato de comida, eu peguei carona no último bonde e vou levar bebidas. Nada de álcool, nem preciso dizer. Comprei umas falsas champagnes de maçã e cranberry – sparkling cider. Não sei como vou levar cinco garrafas na bicicleta, mais minhas coisas, mais eu. Está difícil pedalar de manhã cedo, com temperaturas negativas. Como sempre diz um dos meus colegas, se continuar frio assim vou me mudar pra Califórnia! Ha ha ha!

Tentando ler todos os blogs que não li nas duas últimas semanas, dou de frente com o fato de que não fiz absolutamente nada referente ao Natal ainda. Nem tirei meus velhos enfeites do storage. Vai ter árvore? Não sei. Minhas sobrinhas vãoo curtir uma, o Roux também—that’s the problem! E a comida? Vou ter que ir até o Corti Brothers em Sacramento comprar meus peitos de peru borboleta, então o Uriel que tem o dom de simplificar tudo sugeriu que eu comprasse qualquer peru, ali mesmo no Safeway. Vou pensar. A cesta orgânica está de férias até começo de janeiro. Terei tempo de passar no Farmers Market? Comprarei e prepararei gostosuras? A casa ficará com cara de Natal? O espírito natalino descenderá sobre nós? To jingle bells, or not to jingle bells, that’s the ho ho ho question.

home sweet home

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Está um frio absolutamente lasqueira por aqui, mas eu estou com um sorriso congelado na cara, pois estou feliz de voltar pra minha casinha e cozinha. Ainda não coloquei as mãos na massa, só estou fazendo um misto quente pro almoço. Nada como férias da cozinha para voltarmos a todo vapor. Eu comi muito no Brasil. Comi bem e fiquei satisfeita!

Outono ou inverno?

Muita gente diz brincando que Davis tem duas estações—verão e inverno. A primavera até que é longuinha, mas o outono, não sei, passa voando. Um dia estamos com uma jaqueta leve, um xale ou uma echarpe esvoaçante e de repente – pumba – já estamos embrulhados em mil camadas, casacos, luvas, cachecol, touca. Hoje vesti uma touca de lã voltando do almoço, pois estava duro de bicicletar no chuvisco gelado. O cara que cantou que iria pra Califórnia viver a vida sobre as ondas certamente rumou para o sul e não aqui para o norte, onde não dá pra pegar praia nem no verão e o inverno é chuvoso e cheio de nevoeiros. Mas temos San Francisco, Napa Valley e Lake Tahoe pra compensar!

Todo ano eu demoro mesmo é pra acostumar com a noite chegando às 4:30 da tarde, como hoje. Vou buscar a minha cesta orgânica à noite! É demais. Parece que já é muito tarde e dá um desânimo ter que lavar aquele monte de verduras—porque com o frio chegam as folhas verdes—swiss chard, espinafre, alface lisa e crespa, rúcula, red russian kale, bok choy, acelga, repolhos, collards, chicória. E aí é um tal de lava, lava, lava, lava, lava, lava….

rotina

6:30pm: trimtrim, alô, e aí vem jantar, só estou terminando um negócio, ihh, não, é sério, em meia hora eu te ligo e vamos comer em algum lugar, tá, tchau, um beijo, outro.
7pm: resolve fazer uma sopa de milho, vê que tem pão fresquinho e queijo suiço pra acompanhar, refoga cebola, milho, caldo de galinha, salsinha picada, vrumvrumvrum tritura a mistura, creme de leite, desliga o fogo.
7:30pm: cd da Motown, dança, dança, assusta o gato, lê um caderno do jornal, outro caderno, senta, levanta.
7:45pm: música, música, pega uma revista, senta, lê, morre de rir, levanta, dança, assusta o gato de novo, termina de ler a revista.
8:15pm: trimtrim, alô, assim não tem condições, o que foi, você sabe que horas são, ew, não.., vou jantar sozinha mesmo, mas não íamos sair pra comer fora juntos, ah, deu até tempo de fazer uma sopa, mas que horas são, você não disse que iria ligar em meia hora, é.., já se passaram quase duas, oh…, eu li o jornal, a revista, agora chega, então quando eu chegar, cheguei, é, quando você chegar, chegou, tchau, um beijo, tchau, outro.
* post reciclado do The Chatterbox de novembro de 2004 – certas rotinas não mudam nunca!

todo dia eles fazem tudo sempre igual

Meus dias se iniciam às seis e meia da manhã, que nem consigo dizer ‘manhã’, pois ainda está escuro. Vou para a cozinha com dois gatos pulando entre as minhas pernas. Ponho uma xícara com água no microondas pra fazer meu café com leite e um waffle na tostadeira. Vou até a laundry e pego os potinhos e a lata de rango felino. É um excitamento, uma coisa tão dramática que dá a impressão que os bichos ficaram uma semana sem ver comida. Eles correm pra laundry quando me vem caminhando pela cozinha com os potes e se arranjam no tapetinho, sempre na mesma posição: Roux pra direita, Misty pra esquerda. Volto pra cozinha, termino de preparar meu café, que é minguado, pois todos já sabem que não tenho apetite logo que acordo. Sento e bebo o café com leite enquanto leio e-mails, bloglines. Enquanto isso os mortos de fome devoram o rango, o Roux tudo de uma vez só, o Misty fazendo pausas de lord pra lavar as patas, como quem usa um guardanapo de linho. Eu ainda estou na cozinha lendo quando começa a função do banheiro. Todo dia é a mesma coisa e todo dia eu fico rindo alto, considerando o meu permanente mau humor matinal. Primeiro vai o Roux, que faz tudo escandalosamente. Esse gato não faz nada discretamente – come fazendo barulho, caga e mija fazendo barulho, até para andar pela casa ele faz barulho. No banheiro dá a impressão que ele vai virar a caixa de cabeça para baixo. Finalizado a aliviação geral da fome e dos intestinos, ficam os dois caminhando pela casa, como que procurando coisas pra fazer. Se encaram, o Roux dá pulinhos, tenta dar um bote no Misty, que sai correndo injuriado. Um tédio de vida…. Nessa altura já são sete e alguma coisa e eu subo pra tomar banho, me arrumar. Rotina de gato é divertida de se observar, mesmo com um humor azedo, às seis da madrugada.

cooking for one

Finalmente acabou a colheita da azeitona e do pistacho, e meu marido volta para Davis e para suas atividades normais – que não exclui correria, mas pelo menos é por aqui! Foram algumas semanas de omeletes, saladas, sanduíche de queijo com tomate, macarrão e outras improvisações. Eu não tenho motivação para cozinhar só para mim. Ontem fui pintar minha cabeleira mariabetânica descabelada, que estava lindamente multicolorida. Fiquei no salão, lendo revistas da Oprah até tarde. Saí de lá com tanta fome! Já tinha me decidido parar num restaurante no caminho de casa – eu faço tudo à pé aqui em downtown, mas depois que me vi no espelho com uma kanekalon NEGRA, parecendo um corvo corcunda gigante, resolvi só passar no lugar das saladas e pegar uma to-go. Mas da esquina já vi a fila dentro do lugar e desanimei total. Corri pra casa e preparei o famigerado alho e óleo com uma massa integral, e temperei uma salada de rúcula com tomates secos. Um copo de vinho e voalá – melhor do que qualquer restaurante. Mas com a volta do Uriel, vou poder retomar às minhas excursões culinárias, sem falar que ele está trazendo da fazenda uma tonelada de azeitonas fresquinhas, e já falou – procura uma receita para prepará-las. Azeitonas verders virgens, alguém sabe como processar as ditas?

alguns dias são segundas-feiras

Fiquei tentando arranjar uma desculpa para todo o desastre do jantar – é que segunda-feira é um dia atrapalhado, viu, chego em casa e ainda tenho que pegar o carro e ir até a fazenda buscar a cesta orgânica, e depois tenho que separar tudo, lavar, guardar. já chego em casa super cansada, você sabe, não me sobra muito ânimo depois de um dia cheio. quando o Gabe morava aqui ele colocava as louças na máquina, deixava a pia limpa, tudo prontinho. e tirava o lixo. mas eu não entendo por que eu sou assim tão atrapalhada. Você quer que eu cozinhe? Foi a resposta em forma de pergunta que ele deu à minha lenga-lenga explicatória. Todos os meus desastres ainda são melhores do que ele tentando fritar um ovo. Ficamos do jeito que estamos, combinados então, e ele até tomou a sopa arriscando me dar um conselho – só não bebe o caldo, que o resto está comível.

sambando com o crioulo doido

Cozinhar? Como? Quando? Não consegui nem fazer umas comprinhas de supermercado ainda. Não fui ao Farmers Market. Não tenho a menor idéia de menu ou planos para assuntos culinários. É que às vezes o bicho pega.
Sexta-feira abriu a temporada de outono do Mondavi Center e eu trabalhei no show do fantástico Bo Diddley. Reencontrei muita gente conhecida, foi bem legal. O show foi excelente, Diddley fez a platéia levantar e dançar. Até o chancellor da UC Davis, que assistia ao show do seu camarote, deu umas reboladas, batendo palmas e tal. Quando eu tenho show no Mondavi, não dá tempo de cozinhar. Tenho que comer algo improvisado e sair, pois tenho que estar no saguão do teatro, de uniforme, às seis e meia.

Sábado tivemos uma garage sale da Brazil in Davis na minha casa de hóspedes, para arrecadar uma graninha para mandarmos para uma entidade assistencial no Brasil. Eu passei a semana em função dessa garage sale. No sábado acordei às seis e meia da manhã e fiquei no meu estado clássico de estressadinha, até que tudo ficou em ordem e a coisa engrenou. Fazer a garage dentro da casa foi legal, pois não ficamos expostas na rua, tínhamos banheiro e cozinha, onde deixei um pote de café para os visitantes se servirem. Fizemos uma graninha boa e no final do dia aconteceu o inesperado – aluguei a minha casa de hóspedes!! Minha nova inquilina é uma pessoa que eu já conheço há uns dois anos, uma menina muito meiga, estudante da UC Davis, que aprende português com a Brazil in Davis e ama o Brasil. Eu a conheci quando alguém me indicou para ajudá-la a fazer uns telefonemas para uma comunidade no Rio Grande do Norte, onde ela tinha passado uns meses e estava doando uma grana do bolso dela pro pessoal lá comprar sementes e alugar um trator para arar a terra e fazer uma roça de feijão e milho comunitária. O currículo dela é dez, vamos ver como ela vai se sair como minha inquilina!

Depois da garage eu e minhas amigas fomos almoçar num restaurante gostosinho aqui em downtown. Bebemos vinho e relaxamos! Eu comi um prato bem interessante chamado Fazzoletti: uma massa fininha como de lasanha recheada com milho, cogumelos e queijo de cabra, dobrada como um pacotinho e temperada com molho de tomate e tomates cerejas frescos. Estava muitíssimo bom. Além da companhia, da conversa e do vinho!

folga na cozinha e outros papos

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Todo final de agosto, início de setembro, meu marido some na fazenda de pistacho ou em congressos pelo mundo afora. Então eu fico meio desorganizada na cozinha, porque não tenho muito ânimo de cozinhar só pra mim. Improviso muito, também porque não gosto de comer em restaurantes sozinha. Faço coisas simples e práticas. Sandubas e saladas são a base do menu. Ontem fiz uma coisa horrêver… Jantei uma salada Caprese – tomate, mussarella fresca e basilicão – com uma fatia de pão preto, em pé na cozinha, enquanto telefonava para as minhas amigas e combinava um cinema.

Fomos ao Varsity Theater, o cinema independente da minha cidade, ver o documentário Who Killed the Electric Car. Logo na entrada, notei uma janelinha que eu não tinha visto antes, no lado esquerdo do hall principal e fui lá xeretar. O teatro tem o seu balcãozinho estilo anos 50 vendendo pipoca, refrigerante, mas aquela janelinha vendia café e sorvete – gelatto e regular. Me encantei por um sabor de berries com cabernet. Achei uma ótima idéia, só que senti um pouco de dificuldade para terminar o sorvete quando a sala ficou escura.