e vai se empilhando

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Mais ou menos quatro vezes por ano me dá o ziriguidum da arrumação e eu tento organizar papeladas, armários, gavetas. Desta vez não foi a movimentação sazonal, mas sim uma necessidade derivada do acúmulo exagerado de utilitários de cozinha. Meus armários já não dão mais. Fiz uma avaliação do espaço e concluí que a única e última solução seria rearranjar tudo e adicionar umas prateleiras extras. Mas como ainda não fiz esse reajuste e devidas instalações, um remendo se fazia extremamente necessário e mais que urgente!
Isso se deu quando percebi que tinha até esquecido que louças eu tinha lá no fundo dos armários por falta de visão e acesso. Se você não vê ou não consegue acessar, não pode usar. Estava tudo muito amontoado e desorganizado. Não que tenha ficado perfeito, mas pelo menos agora consigo ver melhor as milhares de tralhas que tenho. E fiz uma boa limpa, separando muita coisa para doação e outras para reciclagem. Reorganizei todos os armários da casa que guardam coisas de cozinha. É uma infinidade de prato, pratão, pratinho, pote, potão, potinho, jarra, vasilha, copo, xícara, pires, cumbuca, bandeja, panela, panelão, panelinha, frigideira, refratário, travessa, chaleira, sopeira, talheres, taça, forma, saladeira, assadeira, coisas, coisonas e coisinhas que não acabam mais.

um dia em fotos

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Lembro que naquele dia eu acordei com a macaca e com mil idéias na cabeça. Com a câmera fotográfica já preparada, rolos de filmes extras, fui avisando—Gabriel, vamos registrar o seu dia em fotos! E ele, como o menino mais lindo do mundo que ele sempre foi, topou. Quem tem um avô que te fotografa em todas as poses possíveis e uma mãe engraçadona que te pega no flagra quando VOCÊ ESTÄ MEDITANDO NO DÁBLIUCÊ, não estranha quando recebe a proposta de ser modelo da própria vida. Então fomos lá, eu passei o dia atrás dele, clicando. Só não tirei fotos dele tomando banho, porque ele não quis e tive que respeitar. Mas começamos com o acordar, que obviamente na foto está todo encenado, já que a janela está escancarada, o quarto cheio de luz, ele está de óculos e com a boca suja de leite com chocolate, que era o que ele sempre bebia no café da manhã. Depois continuamos com ele estudando, ou melhor, fazendo as tarefas da escola, depois almoçando a comidinha natureba com aquela cara de alegria que ele sempre fazia em frente ao prato cheio de arroz integral e agrião refogado, depois escovando os dentes na frente do espelho—que ficou uma foto criativa, admito. Fizemos o set do cotidiano, que depois eu colei em sequência num pequeno álbum, para guardar para todo o sempre, afinal a gente esquece detalhes com o tempo, e naquele tempo não havia blog nem foto digital, era tudo muito mais dependente da sua memória, boa ou ruim, natural ou ginkobilobada.

fatos da foto:
Estava friozinho, pois ele estava dormindo com o acolchoado de lã de carneiro da minha infância. Minha mãe mandou fazer um pra cada filho, os dos meninos azul, os das meninas vermelho. O Gabriel herdou o meu.

Tinhamos voltado da Bahia fazia pouco tempo, pois o Gabriel está com as fitinhas do Bonfim no pulso e atrás da cama dá pra ver um pedaço do berimbau que ele veio carregando paulistamente no avião.

Filho de peixe. Ele dormia de camiseta, como o pai e a mãe. Somos uma família que nunca teve pijamas. E ele fazia o que eu faço até hoje, dormia com o cabelo molhado e com uma toalha no travesseiro e depois acordava com aquela cabeleira do zezé, com tufos super ondulantes só de um lado da cabeça.

prove aqui o novo sabor

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Não sei como é no resto do mundo, mas aqui os distribuídores de amostra de comida e bebida estão por todos os cantos. Acho que deve fazer parte da cultura essa satisfação de poder provar, sem precisar pagar, antes de decidir se vai ou não comprar. E eu acho isso ótimo, muito justo, nada mais prático, afinal não tem nada pior do que se decepcionar com aquele produto pelo qual você pagou uma baba. Mas eu nunca me senti à vontade com esse hábito. Vou ao Farmers Market e tem amostra de tudo, das frutas, dos pães, dos queijos, do azeite. E alguns até oferecem seus produtos de uma maneira um pouco agressiva, como na barraca de bolanis onde os moçoilos bonitos e simpáticos do Afeganistão usam aquelas manjadas técnicas machistas para conquistar as clientes do sexo feminino. E em qualquer supermercado estão lá as senhorazinhas sorridentes, e até as não muito sorridentes, te oferecendo pedaços de linguiça frita, bolachinhas com patê, quiches e tortas, cremes, queijos, sorvetes, sucos, leites, refrigerantes, gororobas variadas, numa lista interminável de produtos novos ou já conhecidos, tentando te convencer a comprar, ali mesmo ou num futuro bem próximo.

Eu vejo a aglomeração de pessoas e carrinhos e passo reto, às vezes dou até uma desviada. Obrigada, não quero. Não consegui ainda adquirir esse hábito de pegar pedacinhos disso ou daquilo em publico e comer equilibrando o copinho e o garfinho ao mesmo tempo que empurro o carrinho de compras. Não gosto de comer assim, andando, beliscando, comida oferecida com o único propósito de te convencer a comprar o produto.

Alguns eventos servem comida e bebida de graça. Eu curto beber uma taça de vinho ou mesmo provar algo comestível, desde que não tenha que enfrentar uma muvuca, me acotovelar pra pegar um pedaço de queijo, driblar a malta para agarrar uma lasca de pão e depois passar o resto do tempo preocupada se não fiquei uma semente de gergelim no meio dos dentes, ou com aquela sensação de dedos engordurados sem opção de poder lavá-los.

Além dos entusiasmadinhos e famintos de sempre, quem realmente curte esses eventos distribuidores de comida são as crianças. No Copia, a voluntária dando amostras de um sorvete sabor morango fazia um sucesso incrível com a gurizada. Sem nem um segundo sequer de descanso, ela só conseguia suspirar, respirar fundo e continuar firme. No copinho ou na casquinha? Na casquinha, of course!

litros, litros e mais litros

Acho que nunca bebi tanta água na minha vida, nem nos meus tempos de nadadora assídua. Com esse calor seco, reidratar é imprescindível e eu acordo e durmo bebendo água. Durante minhas horas de labuta isso irrita um pouco, pois provoca mais idas ao wanderley. Hoje, além dos quarenta e um graus celsius, está um fumacê horrível provocado pelos incêndios que, como todos já devem ter visto nos noticiários, estão castigando o norte da Califórnia. Nós estamos sentindo a calamidade pela névoa amarela e ardida que envolveu o nosso céu. É um cheiro tão forte de madeira queimada, que me faz ter vontade de chorar.

Ontem, jantando sozinha na mesa da sala, olhei para o quintal e vi através da porta de vidro a criaturinha delicada ali perto dos arbustos de lavanda. As perninhas finas, como as do Pernalonga, as orelhonas pontudas esticadas, os olhinhos meigos e o focinho mexendo pra lá e pra cá. O gato Roux já começou a bufar com a visão da lebrezinha, que permaneceu impávida, sem perceber que uma humana e um felino a observavam com diferentes intenções. O Roux mudou até de posição, depois de janela, para poder ver melhor. Eu parei de comer, parei de ler a revista que estava me acompanhando na saladinha de pepino com queijo feta e fiquei olhando com uma cara de parva sorridente apatetada até a lebrezinha dar um pulinho e desaparecer da minha vista tão rapidamente que nem vi pra onde.

Com esse calor miserável, senti muita pena da lebre pernalonga e orelhuda lá fora. Parei tudo que estava fazendo e fui até o quintal onde arrumei uma vasilha bem no meio do piso de tijolinhos e enchi de água fresca. O bichinho vai desidratar, ele precisa de água!

Mais tarde, contando o episódio pro Uriel, ele me disse que esses animais se viram muito bem e que chupam a água dos matinhos e plantinhas. De sede eles não morrem. Especialmente naquela selva que é o meu quintal.

if you believed they put a man on the moon

Foi um dia de temperatura amena que até nos permitiu um almoço na mesa do quintal. O rango não ficou uma maravilha, mas deu pra comer. Quase deixei torrar a sobremesa e exclamei irritada que devo estar com uma praga rogada, porque não é possível o tanto que eu me atrapalho.

Notícias fresquinhas e felizes do Brasil. A horta está bonita, com alguns tomates verdes pendurados nos pés. O manjericão está radiante. Estou de olhão nos pêssegos e nectarinas. Preciso investir muito tempo e trabalho no meu quintal. Farei.

Fizemos muitas coisas em casa. Tive um papo longo e interessante pelo telefone. Pizza de queijo. Já estava anoitecendo quando fomos dar comida, água e atenção para o Tim e o Sequel, os gatos do Gabriel e da Marianne. Eles não são como os nossos gatos, que se aprochegam de qualquer um e que até incomodam, como o Roux que sobe em cima mesmo das pessoas que não gostam dele. Os gatos do Gabriel são anti-sociais e desconfiados. Um deles parece um lord inglês, comprido, magro e sempre com uma cara de empáfia. Ele nunca chegou perto de mim, mas nesses dias tem tido um comportamento incomum, chegando em nós ronronando alto. Aos poucos conquistaremos a amizade desses dois felinos.

Estávamos voltando pra casa, quando vimos os fogos de artificio pipocando no painel gigante do céu cor de azul marinho. Imaginamos o parque lotado de gente, os ohs e ahs da multidão, esticamos o nosso pescoço para ver as luzes. Já em casa ouvimos o retumbante estouro do encerramento dos fogos. Na tevê, 1776, um musical histórico sobre a declaração da independência. Enfim, era o quatro de julho.

sorry for the inconvenience

Foi mais ou menos como decidir alegremente pregar um prego na parede para pendurar um lindo quadro e de repente ver que a parede tinha furos e precisava de massa pra remendar aqui e ali, e depois perceber que precisava de pintura e logo em seguida sacar que a situação estava muito pior do que se imaginava, que seria necessário realmente derrubar paredes, trocar os canos, o teto, e os fios elétricos, e no final das contas ver que a situação era realmente dramática e que iria precisar mesmo derrubar a casa toda e construir tudo novo, do zero.
Desde 2001 que eu uso nos meus blogs o publicador Movable Type, do qual sempre gostei muito e como sou fiel, nunca nem cogitei trocá-lo pelo programa mais usado do momento, o WordPress. Só que a minha versão do MT estava completamente obsoleta. Eu realmente precisava fazer uma atualização, mas nem pensava muito no assunto, pois afinal de contas estava tudo funcionando muito bem. A única questão que me importunava era a da segurança. As versões atualizadas de qualquer programa lidam melhor com problemas e ninguém quer arriscar ter um furacão destruindo a casa. Melhor construir uma boa estrutura e de quebra ainda fazer um bom seguro, né?
Com a ajuda do meu filho, que é um excelente programador, finalmente atualizei minha versão do MT. Só que a mudança foi profunda e mexeu com toda a estrutura de todos os meus blogs. De repente, oito anos de escrevinhações ficaram ilegíveis. Gabriel colocou suas habilidades em ação, e eu e ele ficamos todos esses dias tentando consertar os mil furos, até eu sacar que vou ter mesmo é que reajustar e refazer aos poucos todos os códigos de todos os blogs. Os comentários ficaram inacessíveis e agora já funcionam, mas não abrem mais na caixinha. Não entendi ainda se é o esquema dessa versão do MT [como é no WordPress], ou se eu ainda não pesquei como é que a caixinha funciona. Nesse meio tempo o Uriel viajou, naquele esquema descabelado, correndo com a roupa amarfanhada e com papéis voando pra fora da pasta, uma visão de desenho animado que descreve exatamente como tudo acontece com ele. O Gabriel também viajou. E amigos viajaram, mas antes ficaram hospedados comigo. Além daquelas coisas da vida normal que urgem, reclamam e correm—trabalhar, dormir, comer. Comer comida? Mas que comida? Tenho devorado toneladas de frutas e feito alguns rangos improvisados. Receitas seguirão.

esse papo já tá qualquer coisa

Minha rotina depois do jantar é subir pro meu quarto, ligar a tevê sempre no mesmo canal e clicar no guia pra ver o que está passando ou o que vai passar e assim poder planejar se vou assistir algo no canal ou colocar um dvd. Depois entrar no banheiro, sempre acompanhada por um dos gatos—se for o Misty eu tenho que abrir a água de uma das pias, se for o Roux vou ter que ficar conversando um pouco com ele, que vai miar com uma voz esganiçada que nos faz dobrar em riso. Tomo o meu banho, faço toda a rotina de escovação de dentões e hidratação de corpão, volto para o quarto e vou ler meus livros e ver meus filmes. Ontem já tinha decidido que não iria ver o filme que estava passando no TCM, o meu canal vitalício—The Joy Luck Club. Eu já vi e revi esse filme, inteiro ou em partes, inúmeras vezes. E todas as vezes eu me debulho em lágrimas. Não tem jeito, o filme é um clássico tearjerker pra desopilar o fígado e lavar a alma. Então quando saí do banho, já pensando qual seria o dvd que iria escolher pra assistir e de olho no livro que estou lendo, sentei na cama ajeitando as costas nas muitas almofadas e pow—não consegui mais descravar o olho do filme, que já estava pra lá da metade. E lá fui eu outra vez, chorar de dar bafão, de assustar os gatos, daqueles choros com gemidos, dolorido, que parece que os dentes vão cair e a cara vai estourar, que me deixou esbugalhada, cansada, fungando e de olhos ardendo. Quando o filme terminou com o encontro das irmãs, meimei! meimei!, eu já estava um farrapo humano, suspirando com uma cara aparvalhada. Fui dormir.

O resultado do chororô da noite foi uma cara matinal de pinguça, agravada por uma dor de cabeça que veio galopante e me deu um baita de um coice no crânio. Estou acordada há quase quatro horas e ainda sinto as sequelas da miserável. Somente o Blues poderá salvar este famigerado dia. Escrever também ajuda.

Estou pensando no futuro, no que vou fazer amanhã e em novembro. O dia vai ser quente, mas está nublado e esfumaçado, um ar pesado e poluído devido aos incêndios que se alastram pelo norte do estado. Isso tudo desanima, até de cozinhar e comer. Tenho me dedicado às receitas simples, rápidas e fáceis. Minha cozinha está cheia de produtos fresquinhos de verão, mas eu não ando entusiasmada. Os deliciosos tomates maduríssimos viram uma simples salada ou são combinados com alho e manjericão numa panela de pasta de rodelinha. Chegou um maço tão gigante de manjericão na cesta orgânica, que fui obrigada a fazer um pesto. Usei uma mistura de nozes e pecans, que era o que eu tinha, Torrei as nozes e as pecans e fiz como manda a receita clássica. Usei um pouco da água do cozimento da pasta pra diluir o pesto, dica da Marcella Hazan que já adotei. No outro dia fui às compras e fiz couscous com cranberries secas e pinoles. Mais um rango simples, servido com salada, porque não ando muito inspirada. E há muitas batatas. Batatas amarelas, brancas e roxas, que chegam toda semana, junto com as folhas verdes, que eu decidi impôr férias, então retiro da cesta lá mesmo na fazenda e coloco numa cesta onde acredito as pessoas doam o que não querem pra uma tal de Kara. A cesta de verão é realmente colorida, com muitos tipos de abobrinha, tomates e algumas frutas. Nesta semana chegaram figos, roxos e verdes, que foram devorados em minutos.

O website da UC Davis traz uma reportagem bacana sobre sustentabilidade e nela vocês poderão ver um pouquinho da fazenda orgânica dos estudantes, de onde vem a minha cesta semanal. Em Planting the Seeds of Change, clique no audio slideshow da direita, Student Farm lessons.

necas de pitibiriba

Eu cheguei, mas ainda não estou realmente aqui.
O negócio é que ando sem a menor vontade de cozinhar. Durante a semana tenho feito um rangabofe simples, porque precisamos comer e gastar os produtos frescos que já se aboletam nas gavetas da geladeira. Mas pra falar a verdade, ando sem inspiração e sem ânimo. Olho as receitas nas revistas do mês que se empilharam durante a minha ausência e tenho ganas de jogar tudo pra cima, depois pisotear as folhas coloridas e impressas com fotos bacanas bem pisoteadas e sair correndo pela rua, braços estendidos em direção à qualquer restaurante ou birosca que venda batata frita. Esse é o meu estado de espírito atual. Não tenho nenhuma pretensão de me explicar, só quero registrar esse fato singular de que não ando querendo cozinhar.
Tenho planejado tentar replicar alguns dos rangos bacanas que experienciei em Portugal. Naquele dia da semana passada fiz numa piscada de olho a sopa de tomate alentejana que tanto encanta a minha irmã e que me deixou realmente abismada pela sua simplicidade. Cebola, tomates pelados e picados, azeite e um ovo pochê acomodado no caldo, ajeitado numa cumbuca forrada por uma fatia de pão rústico. Naquele dia eu jantei sozinha às 5:30 da tarde, porque não consegui esperar pelo Uriel, tamanha era a minha fome e o meu sono. Quando a sopa ficou pronta eu pensei em tirar fotos e esse pensamento me fez curvar de tanto cansaço. Simplesmente não consegui tirar foto nenhuma, só consegui comer, comer e pronto.
Não estou querendo cozinhar, não ando querendo tirar fotos das minhas comidas, por isso vou sentar e esperar essa vontade de fazer nada na cozinha passar. Porque vai passar, eu tenho certeza que vai.

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** O tempo que tenho economizado não cozinhando está sendo usado pra fazer outras mil coisas, como capinar novamente a horta que foi tomada por um matagal durante a minha ausência. Finalmente plantei meus pés de tomate. Desta vez apenas quatro, pois quero experimentar dar bastante espaço para os arbustos. Plantei vários tipos de manjericão e orégano, mais cibouletes, sálvia e lemon verbena, pra fazer par com o lemon balm [melissa] que está crescendo lindamente. Replantei também as ervas dos vasos. No interim tomei conhecimento de um novo morador no meu quintal—um esquilo, que se divide entre a minha casa e a do vizinho. No ano passado foi um filhote de lebre muito fofinho que detonou com metade das minhas ervas. Neste ano é o senhor esquilo, que está prestes a fazer um belo estrago, talvez nas frutinhas de pêssego e nectarina.
*** Também aproveitei para fazer um remanejamento das roupas no closet, armários e gavetas. Saí de cena artigos de lã, veludo, mangas compridas, casacos, cachecóis. A previsão do tempo para esta semana está arrepiante. Ainda estamos em meio de maio e já teremos uma ondaça de calor temporã. Quinta-feira, mínima de 16ºC, máxima de 38ºC. ARGH!!!

duetos

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Uma das coisas mais gostosas da vida é dividir a cozinha com alguém que você ama, fazer o rango juntos, ou apenas colaborar. Meu marido não cozinha, mas esse pequeno detalhe não impede que dancemos juntos um Blues culinário. Normalmente a tarefa fica dividida entre eu cozinhar e ele limpar. Quando terminamos de jantar, ele coloca a louça na máquina de lavar, esfrega as panelas e outros objetos que eu não gosto que coloque na máquina. Quando estou exausta, depois de um dia de trabalho, bicicletagem, cozinhação e comilança, só pensando em subir para o meu quarto, tomar um banho e me enfiar na cama, a visão dele na frente da pia todo compenetrado e deixando tudo arrumadinho me dá uma grande sensação de conforto. Quando temos festa é a mesma coisa, os preparos ficam todos por minha conta, a limpeza é toda dele. Essa é a nossa colaboração, já que ele não é nem de longe um cozinheiro. Essa minha relação na cozinha com o Uriel me faz pensar no Paul e na Julia Child, quando ela começou o seu programa na tevê pública com um orçamento mísero, e ele lavava a sujeirada que ela fazia durante a gravação numa bacia improvisada, agachado no chão. Amor maior que esse não há!

Coloquei umas batatas gigantes pra assar e quando o Uriel chegou dizendo que iria jantar e voltar pro trabalho, avisei que o rango iria demorar. Admito que sou meio possessiva e territorial quando estou na minha cozinha. Quero controlar tudo, fazer tudo, e tudo tem que estar do meu jeito, que é o jeito que eu gosto. Ele sempre oferece ajuda e eu sempre recuso, argumentando que a melhor ajuda que ele poderia me dar é sair da frente e tentar não atrapalhar. Mas como a situação estava meio caótica, sugeri que ele lavasse a alface que já estava de molho na água. Enquanto eu desmembrava a couve-flor em raminhos, cortava a cenoura e os aspargos para cozinhar tudo em etapas no vapor e fazer uma salada, ele começou o processo de lavar a alface. Foi realmente um processo, pois ele desinfetou folha por folha, esfregando cada uma como se estivesse lavando uma peça de roupa. Removeu cuidadosamente duas lesmas e também lavou os ramos de alho verde, as cebolinhas, o alho poró e um macinho de espinafre. No final do processo de lavação, a salada já estava pronta, a batata ainda não estava assada e a pia da cozinha estava uma catástrofe, além de água respingada pelo chão e tapetes. Eu reclamei, mas não muito, pois valorizo cada minuto dessas poucas horas que passamos juntos, colaborando na cozinha, esperando nossa batata assar, conversando sobre o dia, sobre as pequenas e grandes coisas das nossas vidas.