Categoria: Brasil
dei um pulo [no hemisfério sul]
Saímos de uma onda de calor fenomenal e embarcamos rumo ao inverno no hemisfério sul para ver toda a família e participar do casamento da nossa sobrinha. Foi uma viagem rápida e a agenda ficou lotada, com muitos eventos com as duas famílias e alguns reencontros de amigos. Não fiz muito, além de comer e conversar. Minha mãe achou muitos desenhos e rascunhos de pinturas do meu pai e eu trouxe alguns comigo. Me apego à coisas que me lembram da presença dele. Ele tinha muitas câmeras fotográficas e de filmagem, equipamento de imagem, muitas fotos, slides, filmes, CDS, K7s, livros, discos, um mundo de coisas, tudo muito bem organizadas. Trouxe comigo uma das maletas de fotógrafo dele, com câmera, lentes, flash, geringonça de fazer fotos com timer. Tudo muito bem arranjado dentro da maletinha de couro. Revi minha amiga de infância, que não via há 20 anos. Revi outra amiga de longa data. E o resto foi só família e comilança. Me esbaldei e comi tudo o que vi pela frente. Ganhei três quilos, mas valeu a pena! Comi maracujá, atemoia, muita banana, goiaba, carambolas docinhas, uva Niágara [fora de época, mas mesmo assim boa!], bala de coco, bananinha, beliscão, biscoito de polvilho, sequilhos, pipoca doce, bolo de fubá, pamonha, bolinho de bacalhau, mandioca frita, coxinha feita em casa, pudim, manjar, picanha, bacalhau, tutu de feijão, pão de queijo, palmito, empadinha, esfirra, nhoque de mandioca, macarronada e feijoada! Cheguei cansada e detonada por uma gripe. De volta para o verão tórrido, pros pêssegos e tomates, vamos retomar de onde parei.
[setembro] passou tão rápido
De repente me toco que este blog está quase virando um arquivo morto, um balaio de gato com coisas velhas, visitado apenas por paraquedistas dos mecanismos de buscas. Foi apenas um hiato ou é pra valer? Quero explicar que foi apenas um intervalo, causado por toneladas de trabalho e uma viagem ao Brasil. Fui, voltei e nem tive tempo de respirar pois mais trabalho me aguardava na volta. Minha visita foi, com sempre, rápida e intensa. Fui ver meus pais e passar um pouquinho de tempo com eles. Não fiz muitas coisas por lá, mas encontrei amigos e família, comi coisas gostosas e até vi televisão [pra matar o tempo durante a semana]. No meu último final de semana por lá fui pra São Paulo levando a minha mãe para assistir a palestra da Neide Rigo no evento do Paladar Cozinha do Brasil. Até pra ir lá foi tudo na correria, chegamos no local, batemos um rango rápido no mercado, entramos na palestra e tivemos que sair antes do término porque minha mãe precisava pegar o ônibus de volta pra Campinas. Mas foi muito legal poder participar de um evento grande, ver a Neide em ação e aprender um monte de coisas legais. E ainda tive a oportunidade de conhecer a simpaticíssima e fofa Maria Capai, autora do blog Diga Maria. Que pena que foi tudo tão rápido e não tive tempo pra bater mais papo e conhecer mais gente. Mas aproveitei muito meu último dia no Brasil na companhia das queridas amigas Roberta F, Maria Rê & Lilian T. Muito obrigada pela amizade, hospedagem, risadas e pelas comidas gostosas que dividimos. Até breve! Agora acho que finalmente regressei, né? E vamos em frente!
pãezinhos de maçã e passas
Mais de 40 anos se passaram desde a última vez que devorei um desses pãezinhos. Era uma alegria quando minha mãe pedia pra cozinheira fazê-los. Eu adorava a maçã assada com as passas e sempre removia a casquinha de açúcar, porque essas doçuras nunca foram minha predileção. Lógico que na minha casa havia livros publicados pelo Açúcar União. Que casa que não tinha? Era desse volume que os deliciosos pãezinhos se materializavam pelas mãos da cozinheira Cida. Mas esse livro que eu tenho não é herança de família. Pelo menos não da minha família. Há alguns anos várias caixas de papelão com doação de livros chegaram na minha garagem e esse estava entre eles. Foi o único que eu peguei pra mim, só por causa dessa receita. Deixei o livro por anos aberto na página dela e finalmente decidi fazê-la pela primeira vez. A minha versão ganhou o toque especial do açúcar de grapefruit na massa, mas ficaram igualzinhos aos que eu comia na minha infância. Devorei muitos, removendo a casquinha de açúcar, e matei aquelas lombrigas que estavam me atormentando há mais de 40 anos!
para a massa
2 tabletes de fermento biológico fresco [*usei dois envelopes]
4 colheres de sopa de manteiga
1 xícara de água morna
2 ovos caipiras
1 xícara de açúcar [*usei um açúcar de grapefruit feito exatamente como este de limão]
7 xícaras de farinha de trigo
1 colher chá de sal
3 colheres de sopa de manteiga derretida
1 xícara de uvas passas
2 e 1/2 xícaras de maçãs descascadas e fatiadas finas
para o glacê
2 xícaras de açúcar de confeiteiro
4 colheres de sopa de leite
Numa vasilha grande dissolva o fermento na água, junte o açúcar, o sal, a manteiga, os ovos e aos poucos a farinha. Sove bem, cubra com um pano e deixe crescer em lugar escuro por uma hora ou até a massa dobrar de volume. Abra a massa com um rolo , pincele com a manteiga derretida, cubra com as maçãs e salpique as passas. Corte a massa em quadrados e enrole cada um de ponta a ponta. Coloque os pãezinhos numa assadeira forrada com papel vegetal, leve ao forno desligado e deixe crescer novamente por mais uma hora.
Pré-aqueça o forno em 365ºF/ 185ºC. Coloque as assadeiras com os pãezinhos e asse até ficarem levemente dourados. Remova do forno, deixe esfriar uns minutos e cubra com o glacê, que é apenas o açúcar misturado com o leite.
[ r e s u m o ]
Ficou tudo meio paradão por aqui, espero que ninguém tenha reparado, porque já estou empenhada limpando a poeira e as teias de aranha. Tivemos um pequeno hiato porque decidimos ir para o Brasil no ultimo minuto antes do Natal e poder passar os feriados com a família depois que meu pai adoeceu. Foi uma decisão correta, mas a viagem foi expressa, somente para cuidar de assuntos familiares. Aproveitei também para ver meu filho que já estava lá e passar uns dias com ele, antes dele embarcar para outra parte da sua aventura brasileira. Graças à disposição dessas meninas de dirigirem até Campinas para nos ver, tivemos um encontro ultra auspicioso com as queridas amigas Roberta e Maria Rê no dia seguinte da minha chegada. Depois disso só consegui ver membros da família. Tivemos um Natal tropical mega improvisado e atribulado, partimos no último dia do ano com tempo de chegar na Califórnia antes do inicio de 2014 e passar a virada dormindo. O ano começou diferente e apesar de eu estar ainda um pouco cansada, outro tanto emocionada, tenho certeza absoluta que este novo ano será muito bom. Estou positiva e antecipando muitas coisas bacanas que estarão vindo em nossa direção!
fui & voltei
Na ida o tormento é não dormir e ficar rolando na cama até 2am. Na volta o tormento é o cansaço que me deixa pesada e me leva pra cama às 7pm. O jet lag é sempre brutal nessa época, por causa das 6 horas de diferença entre a Califórnia e São Paulo. Mas logo estarei recuperada da minha rápida passagem pelo Brasil, quando fui para o aniversário de 80 anos da minha mãe. Infelizmente desta vez não consegui me organizar para fazer quase nada, não arranjei quase encontros, nem vi muitas pessoas. Mas fiz algumas coisas legais e vi algumas pessoas muito importantes que eu não via há décadas. Não comi churrasco, nem quibe, nem esfirra, nem mandioca, nem bebi caipirinha. Mas comi pastel, farofa, carne seca, torta de bacalhau, pão de queijo, arroz & feijão, me enchi de banana prata e maracujá doce, chupei laranja lima e bebi tubaína. Minha mãe dividiu comigo todas as manhãs um magnifico suco verde que ela faz com legumes, frutas, raízes, castanhas e brotos—um pingo de azeite para ajudar na absorção dos nutrientes. Foi isso que me manteve saudável nos primeiros dias, quando o jet lag me fez perder até o apetite. Sem falar no calorão, que conseguiu me nocautear num dos piores dias. Foi uma visita rápida, mas em breve estarei de volta. Só não garanto que será durante os meses de verão.
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restaurante Tordesilhas
Demorei tanto pra escrever sobre a minha visita ao restaurante Tordesilhas em São Paulo, que agora vou ter que espremer a memória e torcer pra não ter esquecido nenhum detalhe. O plano inicial, sugerido pela Neide Rigo e acatado alegremente por mim, era ir conhecer o famoso restaurante Mocotó que conquistou a cidade com seus quitutes nordestinos. Mas o dia em que me encontrei com a Neide era o meu último em São Paulo e no Brasil. Naquele mesmo dia eu iria direto pro aeroporto e fiquei um pouco nervosa com a localização meio distante do Mocotó. Quando a Neide sugeriu o Tordesilhas como segunda opção, escolhi fazer a troca na hora. Não me arrependi. O Mocotó ficou para a próxima.
Voltando no tempo um pouco, tenho que registrar aqui o meu nervoso e a minha caipirice com o tamanho da cidade e as distâncias dentro de São Paulo e como é meu costume fazer, esquentei a moringa à beça pensando e planejando como eu iria me locomover de um lugar pro outro por lá. Eu não contava com a generosidade e gentileza das queridas amigas com quem me encontrei e que se ofereceram de me dirigir pra lá e prá cá. Assim acabei chegando na casa da Neide antes das oito da manhã, sem nenhum esforço, só no papo gourmet com a minha amiga Daniela, que bondosamente me dirigiu do Itaim-Bibi até a Lapa numa piscada.
Com a Neide então, nem vi por onde estava indo nem onde estava pisando, porque só queria saber de ouvir ela falar e papear. Fomos de trem até o Mercado da Lapa e depois de ônibus até o centro da cidade, onde fui conhecer o Marcos, marido dela e depois fomos caminhando até o Tordesilhas.
O ambiente do restaurante é uma delícia, com uma decoração cheia de detalhes folclóricos, uma bancada com frutas e legumes logo na entrada, tudo colorido, super fotogênico e aconchegante. Chegamos cedo e o lugar ainda estava bem vazio. O serviço foi extremamente cortês e teve uns salamaleques extras, por conta da presença da Neide na mesa. Então toda hora passava um e parava para cumprimentá-la. Andar com gente famosa é assim mesmo, né?
Pedimos a comida, que pra mim foi um processo de extrema dificuldade, pois eu queria provar TUDO! Escolhemos um caldinho de feijão com torresminho e uma renda de couve frita, cubinhos de queijo de coalho fresco com mel de rapadura e uma saladinha caipira, feita com almeirão, tomate, cebola e farelo de torresmo. Eu pedi um medalhão de carne de sol com risoto de pupunha e a Neide um galeto assado com curau de milho verde e arroz de abobrinha com pequi [provei o pequi pela primeira vez na vida e ele tem gosto de perfume!]. De sobremesa pedimos os três sorvetes de frutas amazônicas [açaí, cupuaçú e tapioca] sobre bandeira de jambu com biju. Só bebemos água, porque eu ainda tinha que arrumar mala, ir pro aeroporto, pegar aquele avião.
A comida do Tordesilhas estava deliciosa, mas o fato de eu estar lá almoçando com a querida Neide me trouxe um presente extra, que foi conhecer a chefe Mara Salles e a mãe dela, dona Dega. A Mara chegou na mesa e conversou muito, especialmente sobre um evento de gastronomia e sustentabilidade que estava acontecendo na cidade naquela semana. Um dos meus assuntos favoritos. Fiquei ouvindo tudo o que ela falava e só balançando a cabeça em concordância. Ela fez algumas criticas ultra sensatas e falou muita coisa legal. Adorei ouvir de uma chefe brasileira o que ela pensa sobre culinária sustentável num país tão rico de ingredientes e com estações climáticas tão produtivas, como o Brasil. Depois a dona Dega juntou-se à nós e bebericamos um licor de Baru—uma castanha do cerrado e conversamos sobre muitas coisas. A mais interessante e que me deixou boquiaberta foi sobre a abobrinha brasileira. Comi essa abobrinha verde e amarela por tantos e tantos anos e nunca soube que ela é a versão jovem da butternut squash tão abundante por essas terras onde vivo agora. Essa informação de que a abobrinha que refogamos no Brasil é a versão imatura da butternut squash que assamos aqui, me pegou realmente de surpresa. A Mara serviu um acepipe que ela faz com a abobrinha e trouxe uma abobrinha inteira até a mesa, que ela cortou no meio e me mostrou a polpa e sementes. Fiquei boba! Tão boba que até posei pra uma foto com a Mara e segurando a abobrinha na mão [foto da Neide]. Foi uma experiência ímpar e um privilégio passar umas horas naquele restaurante, papeando com pessoas tão bacanas e com tanto conhecimento. Queria ter ficado pro jantar, mas eu tinha que tomar banho, arrumar mala, rumar para o aeroporto e pegar aquele avião.
Lá da Venda
Ainda queria escrever sobre dois lugares bacanas que conheci quando estive no Brasil em outubro e um deles é o Lá da Venda da chefe Heloisa Bacellar. Já tinha lido tanto sobre esse lugar e me senti realmente feliz por ter conseguido dar um pulinho lá e provar a comidinha super deliciosa e brejeira que é servida no restaurante. O espaço tenta reproduzir a atmosfera de uma vendinha antiga, cheia de badulaques para vender. Me falaram que o pão de queijo deles é o melhor que existe—feito com queijo da Serra da Canastra. Mas infelizmente não provei. Comi os pasteizinhos caipiras feitos com massa de milho e bebi a nostalgica Tubaína. Também provei a picanha com purê de banana da terra, simplesmente deliciosa e depois duas bolotas de sorvete de pintanga. Tudo estava uma delícia e o ambiente é acolhedor, mas o mais gostoso mesmo foi ter dividido a minha mesa com duas queridas—minhas amigas Roberta Fabbri e Maria Rê. E ainda de lambuja conheci a Heloisa Bacellar, cuja simpatia foi capaz de desarmar minha horrível timidez e me fazer pedir pra sair numa foto com ela. [olha lá—XIS—click!]
uma quitanda em Sousas
No meu Farmers Market nem todos os produtores são certificados orgânicos, mas os que não são declaram não usar nenhum tipo de spray ou pesticidas e passam na triagem que permite que eles vendam seus produtos para o público. Confiança é a palavra chave.
Eu entendi que no Brasil a certificação é um troço um pouco mais complexo, que ainda não é oferecida formalmente por um orgão governamental. Isso faz da confiança algo muito mais importante. Você saber de onde vem os produtos que consome. Confiar no produtor, na fazenda, no dono da horta e dos animais.
Essa quitandinha de beira de estrada com a horta e galinhas no fundo exemplificou tudo o que eu tento explicar sobre consumo e confiança. Indo da casa da minha irmã em Sousas para a casa da minha cunhada em Joaquim Egídio, paramos nessa quitandinha no meio do caminho para nos abastecer de frutas e legumes. Quando vi a horta lá atrás, despiroquei. Me explicaram que nem tudo que é vendido lá vem da horta, alguns produtos chegam de outros cantos e nem todos são orgânicos, mas é tudo de lugares de confiança. Conversei um pouquinho com a Isabel, a mocinha que atende o público na vendinha. E depois pedi licença para entrar na horta, onde bati um papinho com a Marlene, a moça que cuida dos legumes, verduras e das galinhas. Ela me falou que não usa nada quimico, que utiliza apenas esterco, uma outra substância para equilibrar [não me lembro se ela falou cal ou cálcio], casca de ovos das galinhas e deixa o mato crescer entre os canteiros, assim os insetos não atacam as verduras. Me encantei com a simplicidade de tudo aquilo. A Marlene também me contou que da horta também saem as bananas que elas vendem na quintanda. Cheguei até o galinheiro e provoquei um alvoroço nas penosas, que provalvelmente acharam que eu iria jogar lá uns milhos pra elas. Também acabei alvoroçando os cachorros e concluí que estava causando muito forfé, resolvi me retirar. Foi o tempo da minha cunhada fazer as comprinhas. Ela e a Isabel se conhecem, trocam sempre um dedo de prosa. Ela me contou que lá também você pode encomendar uma galinha pra comer. Eles esperam o tempo natural de amadurecimento do bicho e só então matam. E uma vez por ano rola o sacrificio de um porquinho—que se você quiser para o Natal precisa encomendar com antecedência, porque é tudo feito seguindo o ciclo natural das coisas. Como tudo realmente deveria ser.