DNNO

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Este foi o terceiro ano do Davis Neighbors Night Out organizado pela prefeitura da cidade e neste ano a nossa vizinhanca participou. Não foi nada que não pudessemos ter feito sozinhos, como já fizemos em 2002 num churrasco comunitário. Mas com o apoio da cidade, que ofereceu descontos e brindes, enviou convites e fez a promocão, ficou realmente mais fácil. Este ano, com as comemorações dos 100 anos da cidade e do campus da Universidade da Califórnia, o objetivo era conseguir cem vizinhanças participando.
Nossa vila foi construída pela UC Davis em 1996 para abrigar professores da universidade. São trinta e duas casas agrupadas num circulo e uma linha reta que faz a fachada da vila. As casas no círculo são para os professors e têm uma casinha de hóspede no fundo, também chamada de graduate cottage, pois foram construídas para abrigar estudantes de pós-graduacão. Na linha reta ficam casas geminadas [town houses] onde moram funcionários da universidade. É uma comunidade bem estruturada e forma um grupo grande de vizinhos.
Eu conheco meus vizinhos do lado, da frente e umas amigas que vivem numa das casas geminadas e numa casa de hóspedes. Fora esses, não conheco mais ninguém. Como temos uma mailing list da vila, conheço alguns outros de nome, mas é só. Então participar dessa festa de vizinhos me animou, pelo menos para dar uma olhada na cara das pessoas que vivem do outro lado.
Como eu já tinha marcado um outro compromisso com umas amigas e o papo estava pra lá de bom, acabei chegando atrasada na festa dos vizinhos. Chegar atrasada aqui muitas vezes significa perder a parte principal da festa, E foi o que aconteceu com o casal atrasanildo da casa 273. Cheguei com a minha saladona quando a maioria já tinha comido. E não havia mais name tags para escrevermos nossos nomes. Além de que todo mundo já estava no papo animado em grupinhos e alguns já estavam quase indo embora. Mesmo assim nos enturmamos, eu conheci pelo menos uma pessoa super legal e o Uriel ficou de papo com um professor aposentado. Não prestei atencão na comida, mas vi de relance que tinha cachorro-quente feito com salsichas assadas numa churrasqueira e uma mesa de saladas, outra de doces, snacks espalhados por todo canto. Também havia vinho, cerveja, refrigerante e suco. Logo anoiteceu e ninguém mais conseguia ver a comida. Um cara chegou com lanternas. As criancas correram e brincaram muito e dançaram—porque também tinha um som na caixa tocando. Estava uma festa agradável, apesar que alguns vizinhos eu simplesmente não me importo de encontrar novamente, pois eles são uns chatos de longa data. Outros são muito legais. Pessoas diversas, como em toda comunidade.

mesa para um jantar

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As minhas arrumações de mesa refletem muito bem a minha libra influenciada por uma rigorosa vênus em virgem, que exige hamonia e beleza mas de-tes-ta emperequetação. Minhas mesas são sempre assim, simples. Raramente uso toalha, porque no caso dessa minha mesa de jantar de quase cem anos, eu gosto de mostrar a história de vida que ela tem impressa na madeira. Gosto de misturar estampas e cores e de guardanapos coloridos contrastando com a rigidez das cores sobrias. Nessa mesa eu usei uma mistura de pratos—uns vintage americanos estampadinhos de cor cinza claro e outros de design escandinavo cinza escuro. Os guardanapos deram o toque final de cores. Ficou uma mesa muito legal, onde sentaram-se cinco pessoas para comer pizza e beber vinho!

strawberry trifle

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Os trifles são facílimos de fazer, ficam deliciosos e sempre resultam num visual bacanoso, impressionando os convivas em festas e jantares. Eles também são o fino da bossa porque sempre levam um tipo de fruta, fresca ou até mesmo congelada. Nesse eu usei morangos frescos e orgânicos. As camadas ficaram assim:

  • Fatias finíssimas de um butter pound cake [*comprei pronto] regadas com licor Grand Marnier
  • Morangos fatiados e salpicados com um pouquinho de açúcar baunilhado
  • Chantily feito com creme de leite fresco da melhor qualidade [* eu uso o da Strauss Family Creamery], adoçado com um pouquinho de açúcar de confeiteiro e um pingo de extrato puro de baunilha

Vai alternando as camadas até não caber mais. Manter na geladeira por muitas horas, quanto mais tempo melhor. Servir gelado.

sopa de fungo de milho

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Eu nunca tinha colocado nenhuma atenção nesse fungo até ler sobre ele no Come-se da Neide. Foi uma surpresa, porque já tinha passado o olho por uns tumores acinzentados quando atualizei páginas das pragas do milho no meu trabalho, mas nunca imaginei que aquela coisa de aparência monstruosa fosse algo comestível. Temos que admitir, sem provocar engasgos, que muita coisa que se come por aí não tem aparência apetitosa apesar de muitas vezes ser. E esse fungo, conhecido aqui nos EUA como smut e no México como huitlacoche, é uma dessas iguarias com cara de monstro de Halloween.

Outro dia chegaram algumas espigas de milho muito feias de fim de estação na cesta orgânica. Quando desfolhei uma delas, encontrei duas ocorrências do fungo. Guardei na geladeira, pensando em fazer alguma coisa com eles. Coincidentemente fazendo compras no Co-op vi os huitlacoche pra vender e comprei um punhadinho. Nem pisquei pra decidir fazer a receita da sopa que a Neide publicou. Fiz no olhômetro e usei mais huitlacoche que batata, adicionei uma pimenta jalapeño e substituí o caldo galinha pelo de legumes. Decorei somente com salsinha na falta da epazote. Esqueci de salpicar com queijo, mas devorei um pratão. Me lembrou um pouco a sopa de feijão, com uma cor acinzentada bem escura. Um pouco assustadora, concordo, mas muito saborosa.

sopa de batatas com huitlacoche
2 colheres sopa de azeite de oliva
1 cebola roxa picada
40 g de huitlacoche picado
6 batatas médias descascadas e fatiadas
1 litro de caldo de frango caseiro quente
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes cortada
2 colheres (sopa) de salsa com epazote* picado
[*erva-de-santa-maria, mastruz/ mentruz-de-arbusto]
Sal a gosto

Aqueça o azeite de oliva numa panela grande, fogo alto, junte a cebola e refogue até amolecer. Acrescente o huitlacoche e as batatas e mexa por mais um minuto. Coloque o caldo de frango, a pimenta dedo-de-moça e salgue a gosto. Com a panela tampada e fogo baixo, cozinhe por cerca de 30 minutos ou até a batata estar bem macia. Se preferir mais suave, tire a pimenta. Se não, passe tudo pelo mixer ou liquidificador [neste caso, espere antes amornar um pouco]. Volte ao fogo, deixe ferver. Se estiver muito densa, junte mais água fervente para deixar a sopa com consistência cremosa e fluida. Junte as rodelinhas de pimenta e as ervas e sirva. Se quiser, espalhe sobre a sopa queijo fresco ralado.

tarte tatin de tomates

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Acho que esta será a última receita com tomates que eu vou publicar aqui este ano. Eles ainda continuam chegando, mas eu já quero começar a dar vazão às receitas outonais. Até o próximo ano, tomates! Ponto final. E essa tarte tatin de tomates teve uma história. Primeiro eu fiz exatamente como estava explicado numa receita que vi no The New York Times e achei o resultado detestável. Os tomates estão extremamente maduros e doces, e o processo de caramelização deixou a torta açucarada demais pro meu gosto. Eu comi, mas não achei que iria vingar algo blogável. Passaram-se muitos dias e dezenas de tomatinhos já estavam acumulados novamente, empilhados na bancada da minha cozinha. Resolvi dar mais uma chance para esta receita, mas desta vez resolvi mudar os detalhes que não gostei e fazer do meu jeito, eliminando a caramelização com açúcar. Usei apenas o azeite e o vinagre e ficou muito melhor. Também não usei cebola. Se alguém quiser testar a receita original, ela está AQUI.
1 circulo de massa folhada [* usei a Puff Pastry]
Muitos tomatinhos maduros
Um punhado de azeitonas pretas
Folhas de tomilho fresco
Sal grosso e pimenta do reino branca moída a gosto
Azeite e vinagre Jerez [Sherry vinegar]
Pré-aqueça o forno em 425 ºF/ 220ºC. Numa frigideira que possa ir a forno coloque um pouco de azeite, ajeite os tomatinhos cortados ao meio e frite em fogo médio, até eles começarem a caramelar. Tempere com sal e pimenta a gosto. Quando os tomates estiverem borbulhantes e soltando um liquido caramelizado, coloque as azeitonas, espalhe as folhas de tomilho e regue tudo com algumas gotas de vinagre Jerez. Não exagere, senão fica muito ácido. Deixe refogar mais uns minutos, remova a massa folhada da geladeira e cubra os tomates com ela, cuidando para que a borda fique bem fechada. Coloque no forno pré-aquecido e asse por mais ou menos 20 minutos ou até a massa ficar crocante e dourada. Retire do forno, deixe esfriar um pouco, passé uma faca pela borda e vire a torta num prato. Sirva morna ou fria.

vinte e quatro horas

Jantei um cachorro-quente e meio, algumas batatas chips naturebas e meia taça de um Sauvignon Blanc neozelandês. Li feliz a cartinha da Jean e o e-mail do Moa, arrumei a cozinha, coloquei meus keds fedorentos de molho na máquina de lavar, coloquei a roupa lavada para secar. Subi, liguei a tevê e chorei muito vendo o filme da Lassie enquanto dobrava roupas de cama lavadas. Tomei banho, terminei de ver Mata Hari com a Greta Garbo, revi Meet John Doe do Frank Capra pela enésima vez enquanto comprava meu novo IMac na loja da Apple da UC Davis. Comecei a ler Simca’s Cuisine, o Uriel ligou e disse que terminaram os testes na fazenda. Tomei remédio para dor de cabeça, comecei a ver Shall We Dance e enquanto Fred Astaire sapateava e cantava sorrindo, virei de costas e dormi.
Acordei, tomei café com leite com bolo de milho, li feliz muitos e-mails, tomei banho, vesti uma blusa que eu adoro e uma saia longa jeans que me dá sorte, arrumei a lancheira e fui pedalando devagar com medo da saia enroscar na corrente da bike. Cheguei no trabalho, disse bom-dia para a jornalista, meu chefe veio conversar comigo e falamos sobre envelhecer e sobre politica. Li feliz mais e-mails, trabalhei, bebi água, ouvi música, comi sementes de romã, fui ao banheiro com o celular no bolso da saia. Trabalhei mais um pouco, meus pais ligaram no celular, falamos sobre envelhecer e sobre politica. Trabalhei ainda mais um pouco, deixei o computador ligado para a técnica instalar o Panther e fui pra casa pedalando devagar com medo da saia enroscar na corrente da bike. Liguei pro Mustard Seed e fiz reserva para uma party of four, fui a pé até o Fuzio onde pedi um sanduíche com salada sem molho para levar para casa, enquanto esperei olhei as roupas na loja da GAP ao lado. Voltei pra casa, o Gabriel ligou. Não gostei muito do sanduíche, mas comi toda a salada. Fiz cortes em cruz e coloquei as castanhas portuguesas para cozinhar numa panela com água, fiz uma receita da panna cotta clássica da Alice Waters. Arrumei a cozinha, subi para ler e ver filmes. Vi dois filmes da década de 30 com a Anne Harding. Tomei comprimidos pra dor de cabeça. Li feliz mais um tanto de e-mails e comi castanhas. O Misty veio me fazer companhia. Minha amiga ligou. Meu irmão ligou, dai desligou e religou no Skype. Minha irmã ligou e ficamos, eu, meu irmão no Skype e minha irmã no telefone. Meu irmão quase dormiu de tédio com o nosso papo. Me despedi, tomei banho, coloquei meu colar super funky, liguei pro Uriel e ouvi o telefone tocando na cozinha—ele já estava em casa. Ele tomou banho. O Gabriel e a Marianne chegaram, fomos à pé ao Mustard Seed. Bebemos vinho, água com gás e suco de uva Pinot Noir. Eu e o Gabriel comemos um hallibut com crosta de macadâmia, o Uriel pediu steak e a Marianne comeu pato. Pedimos entradas, mas não pedimos sobremesa. Comemos e conversamos muito. Voltamos para casa, onde devoramos as panna cottas, conversamos mais um tanto, nos despedimos. Subi, desliguei o laptop que estava em cima da cama, tomei outro banho, liguei a tevê, deitei, começou a passar King Kong de 1933 com a Fay Wray, um clássico que já vi muitas vezes. Pisquei, pisquei, virei de costas e dormi.