uma jarra antiga?

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Acho muito legal quando estou assistindo um filme e reconheço um objeto em alguma cena. No encantador Eternal Sunshine of the Spotless Mind, reconheci a pulseira de metal no pulso da atriz Kirsten Dunst, pois eu tenho uma igualzinha. Também já reconheci um abajour que tenho na sala de tevê num outro filme, que infelizmente não lembro qual. E outro dia reconheci num filme uma jarra que comprei no ano passado na lojinha de segunda mão do SPCA. Uso muito essa jarra, que acho linda, para colocar flores. Ela é enorme e deve servir pelo menos uns quatro litros de liquido. Nunca usei para servir, pois raramente preciso de uma jarra desse tamanho. Mas ela está sempre em uso com as flores da semana.

O filme é Sounder de 1972. Uma linda história de um família de lavradores negros vivendo na Louisiana em 1933. Eles plantam cana e fazem melado num pequeno sítio e enfrentam as durezas da depressão e as injustiças da discriminação racial. Um dia, o pai rouba um frango pra alimentar a família e é preso, condenado e enviado para um campo de trabalho. A mãe e os três filhos ficam sozinhos e ainda precisam descobrir pra que campo de trabalho o pai foi enviado. O menino mais velho e o cachorro [Sounder] saem juntos numa viagem pra descobrir o paradeiro do pai. E a viagem transforma o menino. O filme é lindo, emocionante, delicado e foi indicado para quatro Oscars—melhor filme, melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado. Assistam!

Vi uma réplica da minha jarra comprada de segunda mão numa cena na cozinha da casa humilde da família numa tarde de domingo. Um casal de amigos está tocando violão e dançando, todos batendo palmas e se divertindo. Até que o pastor da igreja chega com a notícia de que o pai foi enviado para um campo de trabalho e ninguém sabe exatamente onde. A alegria acaba e a mãe serve um copo de limonada para o pastor. Na jarra linda, exatamente igual a minha!

bolo de maracujá

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Outra vez transformei uma simples receita numa verdadeira saga, porque meu estilo é assim—se há uma maneira difícil de se fazer algo, por que escolher a mais fácil? Tinha comprado um purê super concentrado de maracujá no Co-op, procurava receitas diferentes e que, peloamordedeus, não tivesse leite condensado entre os ingredientes. A Maria Rê me passou a deste bolo lindo e ficou decidido que ele seria o escolhido. Descongelei o purê, que ficou muitos e muitos dias na geladeira esperando até que eu tivesse tempo para executar a receita. Quando finalmente consegui por a ideia em pratica, inventei de colocar a massa em forminhas bundt, que acabaram não desenformando bem. Foi o primeiro erro. O segundo erro foi usar um purê super concentrado da fruta, no lugar do suco, o que deixou o bolo muito mais denso do que deveria [eu suponho]. E finalmente, o terceiro erro foi a temperatura do forno, que acho que deveria ser um pouco mais baixa. Na hora de adaptar uma receita de um país para o outro, cada detalhe faz uma enorme diferença.

Os primeiros bolinhos desenformados eram um cenário desolador, lembravam qualquer coisa pos-terremoto. Nem com muito esforço sairia alguma foto decente dali. O sabor, entretanto, me nocauteou. Simplesmente delicioso! Bom, eu adoro maracujá. Sempre achei que o suco dessa fruta era o mais refrescante que existia, perfeito para matar qualquer sede de calorão muito bem matada. Suco de maracujá sempre foi o meu favorito, assim como eu também adorava comer a polpa pura de colher, direto da fruta, sementes e tudo, com um pouquinho de nada de açúcar.

O bolo ficou ótimo de sabor, mas a aparência estava deprimente. O Uriel ficou tentando cortar fatias em diagonal, o que só piorou a situação. Depois sugeriu que eu cobrisse tudo com uma camada de chocolate para esconder a tragédia. Resolvi então fazer outra receita e desta vez colocar numa forma comum. Repeti porem os erros dois e três, que só percebi que eram erros a partir da segunda tentativa. Mas desta vez o bolo ficou normal, apesar do bronzeado um tanto exagerado. Continuou massudo, mas a esta altura eu já estava chutando latas, nao conseguir repensar nada. Levei o bolo extra para os meus colegas de trabalho no dia seguinte. Não sei se você é assim, mas eu entro numa paranóia total quando ofereço algo feito por mim para pessoas que não são da minha família. Fico pensando que ninguém vai gostar, nem comer, ou pior, vão encontrar uma casca de ovo ou um fio de cabelo caídos acidentalmente na massa. Nem passo pela cozinha para não sofrer. Mas no final da manhã meu chefe veio me avisar que 2/3 do bolo já tinha sido devorado, afinal, ninguém ali e bobo de deixar passar um bolo de maracujá sem provar, né?

Para a massa:
2 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de açúcar
5 ovos caipiras separados
1 xícara de polpa de maracujá – uns 2 ou 3, dependendo do tamanho
100 gramas de manteiga
1 colher de sopa de fermento em pó
Bater o maracujá no liquidificador. Bater as claras em neve. Reservar os dois.
Bater as gemas com o açúcar e a manteiga. Juntar o maracujá batido, depois a farinha e mexer bem. Misturar o fermento e por fim as claras. Despejar em forma untada e enfarinhada. Assar em forno pré-aquecido [*chutei a temperatura em 375ºF/ 190ºC, mas acho que pode ser um pouco mais baixo, em 365ºF/ 185ºC]
[*não fiz a calda]
Para a calda:
1 xícara de polpa de maracujá, batido no liquidificador
1 xícara de açúcar
Ferver até chegar numa consistência de geleia. Despejar sobre o bolo ainda quente.

[ohmydarling] clementine

Sou uma pessoa gastronomicamente feliz em todas as estações do ano. Até no apogeu do nosso verão tórrido e seco, fico feliz pois o bafão vai nos proporcionar os mais saborosos tomates. Não consigo desassociar as estações do ano citrus-clementinesdos ingredientes que chegam à minha cozinha. Minha maior alegria é experienciar essa sazonalidade, comer diferente em diferentes épocas do ano. Disse adeus aos pêssegos, damascos, morangos e figos sem nenhum sentimento de nostalgia, pois aproveitei tudo o que pude durante a temporada do calor. A chegada do outono já me deixou empolgadíssima com a invasão de romãs, caquis e peras nas feiras e mercados. As primeiras peras chegam tímidas e de repente inúmeras outras variedades começam a se instalar nas cestas e balcões. As maças também têm seu período mais popular no outono. Assim como o marmelo. Mas com as temperaturas caindo, aguardo com absoluta excitação e deleite a chegada dos citrus. Laranjas, limões, kumquats, os diferentes tipos de tangerinas, que guardo as cascas pra jogar no fogo da lareira. As primeiras que comprei este ano foram as clementines—pequenas, dulcíssimas, adoráveis—já devoramos um montão, como sobremesa. Gosto muito de encerrar a refeição com uma fruta. As tangerinas fazem uma excelente sobremesa fresca e são muito práticas, uma das nossas favoritas.

um Pequeno Livro de Cozinha

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Estou totalmente garbosa e pimpona, pois agora também tenho um exemplar do fofurésimo Pequeno Livro De Cozinha, enviado e autografado pelas próprias autoras, as Rainhas do Lar. O livro-guia-oráculo foi escrito pelas queridas e talentosas Faby e Katita e aborda absolutamente tudo o que você sempre quis saber ou apenas confirmar, sobre o mundo maravilhoso da cozinha. Já li e reli todas as dicas super valiosas. E o livro é realmente pequeno, vejam que prático, cabe aqui no bolso do avental, pra ficar sempre às mãos.

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Eu tenho zilhões de livros, livrões e livrinhos de culinária, mas o Pequeno Livro de Cozinha da Faby e da Katita é sem dúvida o mais especial para mim. Por quê? Oras, porque essas gurias me convidaram para escrever o prefácio neste primeiro livro delas. Adorei poder adicionar algumas linhas da minha prosa singela na abertura do livro e assim poder estender o tapete vermelho e fazer uns salamaleques de recepção para todos os leitores.

O que escrevi sobre o livro e sobre as meninas? Compre o seu exemplar e descubra. Boas leituras!

muffins de palmito

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Outra noite de atrapalhamento mental e ausência total de inspiração, acabou produzindo esses muffins salgados. Juro que ziguizaguiei pela cozinha por muito tempo, abri e fechei porta de geladeira e armários não sei quantas mil vezes, folheei revistas, livros, quase chorei! A única imagem de comida que pipocava insistentemente na minha cabeça era uma sopa robusta de tomates. Mas tomates não haviam. Pensei então numa torta de palmito e até cogitei me aventurar a fazer esta receita que fica excelente. Me imaginei gastando preciosas horas preparando a tal torta e desisti. A idéia do palmito persistiu, mas eu queria uma receita mais rápida. Apelei então para o rei das idéias, o senhor Mark Bittman. No seu livro How to Cook Everything Vegetarian, achei uma receita chamada Muffins, infinite ways. Era uma receita doce, com zil adaptações, uma delas salgadas. Fiz então e o jantar ficou pronto num pisque. Os muffins ficam muito fofinhos. Use o recheio que quiser, mas não coloque muito. O equivalente à uma xícara é a medida.

faz 12 muffins
3 colheres de sopa de manteiga derretida ou óleo neutro, como de sementes de uva ou milho [*usei o óleo de sementes de uva]
2 xícaras de farinha de trigo
1/2 colher de sopa de açúcar
1 colher de chá de sao marinho
3 colheres de chá de fermento em pó
1 ovo
1 xícara de leite
Para o recheio usei 1 xícara com:
Palmito picado
Azeitona preta picada
Salsinha picada

Pré-aqueça o forno em 400ºF/ 205ºC. Unte doze formas de muffin com óleo, ou forre com forminhas de papel.

Misture os ingredientes secos numa vasilha. Numa outra vasilha bata os ovos, o óleo ou manteiga e o leite. Faça um buraco no meio dos ingredientes secos e despeje lá a mistura de leite, óleo e ovo. Mexa com uma espátula ou colher de pau para misturar. Vá remexendo com cuidado até os ingredientes se incorporarem. A massa vai ficar meio empelotada.

Adicione 1 xícara de recheio. O meu foi palmito picado, azeitona preta picada e salsinha picada. Mexa rapidamente e coloque a massa nas forminhas usando uma colher. Asse por mais ou menos de 20 a 30 minutos. Remova do forno e deixe descansar por 5 minutos antes de remover das forminhas.

um prato de lentilhas
[com cebola caramelizada]

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Tenho andado sem inspiração, admito. Me propus fazer um menu da semana no domingo, para não ficar zanzando feito barata tonta pela cozinha nos dias em que tenho que preparar o jantar. Não sei se essa idéia irá pra frente, mas não custa tentar. Numa dessas noites sem inspiração, preparei um prato de lentilha bem simples, que não era sopa, nem salada. Um rango quente, pra comer com garfo ou colher. Usei uma idéia da Anna Thomas que gostei, de temperar os pratos com cebolas caramelizadas. Como tinha um alho-poró na geladeira, usei ele também. Então simplesmente cozinhei um alho-poró e uma cebola grande cortados bem fininho no azeite e em fogo baixo, até eles ficarem bem dourados. Enquanto isso cozinhei uma xícara de lentilha comum em bastante caldo de legumes até os grãos ficarem macios e o liquido quase todo absorvido. Depois foi só juntar o refogado de cebola e alho-poró, temperar com sal marinho e pimenta do reino e servir. Embora não seja uma receita inovadora ou brilhante, ficou muito reconfortante.

[tomando um fôlego]

Aterrisamos em Sacramento às dez da noite do domingo, depois de cinco horas confinados num avião e um final de semana realmente emotivo, visitando família, pessoas queridas que não víamos há anos. Avançamos e depois retrocedemos três horas de fuso, além da coincidência de sair do nosso horário de verão justamente neste final de semana, o que só contribuiu para nos deixar ainda mais cansados e atrapalhados. Na segunda-feira regressamos à vida normal, acordando às seis da manhã, enfrentando muito trabalho acumulado, alguns pepinos espinhudos e todos os quetals. Em casa o cenário desolador mostrava uma geladeira vazia e dois os gatos confusos com a mudança súbita de rotina.
Antes da viagem eu já não tinha cozinhado muito, pois passei o final de semana fazendo compras e me dividindo entre a maratona normal da semana e a arrumação de malas. Só fiz rangos rápidos e brejeiros, nada digno de menção. Depois da viagem não tive tempo de pensar no que fazer e pra completar nem tenho muito com o que improvisar. Faz-se urgente uma visita ao supermercado. Estou me sentindo como se estivesse há meses sem fazer nada legal, sem testar receitas bacanas, sem sentir aquele entusiasmo tão bom de preparar algo diferente na cozinha.
Fui enrolando como podia, colocando umas flores bonitas na janela, contando um daqueles meus causos engraçadinhos, desencalhando receitas que estavam empoeiradas e esquecidas lá no fundo da gaveta—só faltou colocar uma foto do gato, que é sempre um ótimo recurso para encheção de linguiça. Ainda teve a singela festinha de aniversário, que confesso já estava engatilhada, tudo devidamente preparado com antecedência. Nessa altura a melhor e mais rápida explicação pra falta de assunto e, principalmente, de receitas, é que me distraí. Daqui a pouco tudo voltará ao normal. Assim espero.