Autor: Fer GuimaraesRosa
Monday Monday, [not] so good to me
Não bastasse eu estar soterrada de trabalho há meses, sem tempo para muitas leituras durante o dia, fazendo malabarismos e correrias para poder manter esse Chucrute ativo durante a semana, agora temos a noite chegando às 5 horas e a cesta orgânica abarrotada de folhas verdes. Infelizmente eu preciso dormir oito horas por noite, para poder funcionar e produzir no dia seguinte, senão poderia usar essas horas pra fazer outras trocentas mil coisinhas que eu quero fazer e não consigo.
Segundas são sempre punk pra mim, mas se durante o verão eu pegava a cesta e lavava rapidamente os legumes e frutas, ainda me sobrava tempo e luz para bolar fotos, pensar em receitas. Agora, com a noite chegando tão cedo e a cesta praticamente monocromática, com uma abóbora para destoar do vasto espectro de tonalidades de verde, não é mais a mesma coisa. Fico muito mais cansada e com a impressão de que já é muito mais tarde do que parece.
E como usar esse monte de verde? Chegou outra acelga do tamanho de uma melancia. E mais mações de espinafre, alface, rúcula, boc choi, red russian kale e cebolinhas verdes de tamanho descomunal. Com as sobras da geladeira, que incluiam outros verdes de alho poró e salsão, mais alguns nabos, fiz um caldo. Usei todos os verdes possíveis e ainda sobrou muita coisa. Enquanto fazia o caldo e lavava as mil e uma folhas verdes, coloquei uma abóbora cortada ao meio e sem as sementes para assar no forno—sim, eu tenho mania de assar tudo nessa época do ano.
A abóbora assada virou uma sopa, que ficou realmente boa. Refoguei a parte branca e picada de um alho-poró num pouco de azeite. Quando a abóbora ficou molinha, removi a polpa com uma colher e coloquei no copo do liquidificador, onde bati com um pouco de caldo de legumes—não usei muito, pois quis uma sopa bem cremosa e que não precisasse cozinhar mais. Juntei ao creme de abóbora, uma xícara de um queijo branco cremoso, russian style. Joguei esse creme de abóbora, queijo e caldo de legumes sobre o refogado de alho-poró. Temperei com sal, deixei ferver, desliguei o fogo e servi.
caramelos
vinagre, cravo, bravo, rosa, rangpur
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Eu digo que eles são os limões que ninguém quer porque se eu não for lá pegar, eles apodrecem no pé. Este ano uma das árvores não deu nenhum fruto. O Uriel disse que isso é normal. Aconteceu com o nosso pé de nectarinas no ano passado. Mas o menorzinho está até envergado de tanto limão. Chamados de Rosa, Cravo, Bravo, China, Vinagre ou rangpur, eu simplesmente adoro esse limão! E mesmo estando com o meu limoeiro lotado de limões amarelos no quintal, fui catar os limõeszinhos alaranjados num ataque de pura ganância. Como a sogra do Gabe já está fazendo os planos pro Thanksgiving e eu sempre levo uma sobremesa pra esse evento, já decidi que este ano será a vez dos citrus.
Putah Creek Cafe
Desde que chegamos em Davis que o café da manhã do Putah* Creek Cafe na cidade de Winters** nos tinha sido recomendado. Mas em todos esses anos nós nunca fomos lá. Frequentamos muitas vezes o restaurante em frente, uma steak house chamada Buckhorn, de onde víamos o pequeno café da esquina com fachada cor-de-rosa. Na semana passada eu estava folheando um número da Sacramento Magazine quando vi uma reportagem intitulada restaurants worth the drive—um deles, o Putah Creek Cafe. Decidi que tinha finalmente chegado a hora de irmos checar se o lugar era bom mesmo.
O que eu tinha ouvido falar é que o café era um lugar bem simples, com comida também simples, tipo cardápio de diner, só que feito pela família, com ingredientes fresquinhos e locais. A descrição bateu perfeitamente com a realidade. O restaurante é bem simples, serve café da manhã e almoço. Tem também um cardápio de tortas e biscoitos. Eu poderia descrevê-lo como a versão caseira e ultra-melhorada de um Denny’s ou um Baker’s Square. Chegamos um pouco depois da uma da tarde e eles não estavam mais servindo o café da manhã. Pedimos o almoço. Para beber, limonadas feitas de limão fresco espremido—coisa rara em diners de hoje em dia. O Gabriel pediu chá e veio uma variedade enorme do Tazo, realmente bem diferente do menu de chás de um diner comum. Pedimos nosso rango, que chegou prontamente. De onde estávamos podíamos ver o cozinheiro, muito compenetrado. Pedimos sanduíches, que vieram com sopa ou salada. O Uriel elogiou a sopa, onde se via os legumes e pedaços de carne. Nada a ver com as sopas enlatadas que são servidas abundantemente por aí. Eu pedi uma torta de milho feito com roasted chiles, milho fresco e cornmeal, servido com sour cream que estava simplesmente perfeita—úmida, macia e ultra-saborosa. Pedimos batatas fritas e eu mal pude acreditar naquilo: elas vieram super pelando, do jeito que eu adoro, crocantes por fora, macias por dentro e sequinhas! Batatas fritas simplesmente perfeitas. Tudo que saia da janela da pequena cozinha tinha uma cara simples, mas parecia delicioso. Quando chegou a hora da sobremesa estávamos tão cheios, mas eu quis pedir uma torta pra experimentar. Elas são todas feitas com frutas da estação, dos pomares da região. O Uriel escolheu a torta de damasco, que estava muito interessante, diferente e deliciosa. Vou querer voltar lá outras vezes para provar as outras tortas. E pra compensar todos esses anos que deixei de ir—vale mesmo a pena pegar a estrada!
*Putah pronuncia-se pheutá, caso alguém tenha ficado confuso.
** Winters fica a dez minutos de Davis é uma cidadezinha rodeada por todos os lados de pomares de amêndoas e pêssegos.
torta de figo fresco com creme de flor de laranjeira
Eu sou desorganizada, atrapalhada e distraída. Mas não sou uma pessoa que desiste fácil. Isso pode ser uma coisa boa, pois nem pensem que eu joguei a toalha com relação à aquela torta de figos esturricada. Vi novamente figos frescos pra vender no Farmers Market e pensei—desta vez vai ou racha! Decidi tentar de novo. E por que não?
Na minha opinião de palpiteira, a receita original tem algo errado nas medidas. A massa quase que não dá pra cobrir a forma de 9 inch/22 cm. E o recheio simplesmente não cobre a forma desse tamanho. Então eu dobrei o recheio. E cuidado com a massa, não faça antecipadamente e deixe na geladeira como uma típica paté brisée. Se deixar na geladeira muito tempo antes de abrir, ela vira uma pedra. Faça e use imediatamente.
Fresh Fig Tart with Orange Flower Custard
Massa:
1-1/4 xícara de farinha de trigo
1/4 colher de chá de sal
1 colher de chá de açúcar
4 oz/ 1 xícara/ 8 colheres de sopa de manteiga gelada em cubinhos
1 colher de chá de água gelada — ou o quanto baste para dar formato na massa
Misture todos os ingredientes com dos dedos ou no processador até ficar uma farofa. Acrescente a água para formar uma massa uniforme. Forme uma bola, cubra com plástico e deixe na geladeira por 15 minutos ou use imediatamente. Abra e forre uma forma de 9 inch/22cm com ela. Ponha a forma no congelador por 20 minutos. Asse em forno pré-aquecido em 400ºF/205ºC até a massa ficar levemente dourada.
Recheio:
2 gemas de ovos
1 xícara de creme fraiche ou sour cream – usei o creme fraiche
3 colheres de sopa de açúcar mascavo
4 colheres de chá de água de flor de laranjeira
Misture todos os ingredientes com um batedor de arame. Coloque os figos frescos cortados ao meio na forma com a massa assada. Despeje o creme entre os figos. Salpique com lâminas de amendôa torradas [minha idéia, não estava na receita] e asse por uns 20 minutos no forno em 400ºF/205ºC, até o creme ficar dourado e meio firme. Retire do forno, deixe esfriar e desenforme, se usou uma forma de fundo removível. Sirva morna ou fria. Não fica uma torta muito doce.
outra noite na Bodega Española
Mais uma visita à Aioli Bodega Española, desta vez guiados pelos nossos amigos através do menu dos tapas. Da última vez que fomos lá, pedimos tapas, mas depois fizemos a tolice de pedir uma paella vegetariana. Pra quem nunca visitou a Califórnia pode ficar difícil de entender que tranca de paella vegetariana é essa! Mas aqui, meus amigos, tem versão vegetariana de absolutamente tudo, até de bacon. E como eu não como animais com mais de quatro pernas e que vivem em conchas, a maioria dos frutos do mar está fora do meu cardápio. Uma paella seria um desperdício, portanto optamos pela vegetariana, o que foi obviamente um erro de estratégia.
Desta vez, porém, nossos amigos nos recomendaram ficarmos somente nos tapas. Foi bem interessante, pois provamos muitas coisas diferentes—eu pulando os pratos com mariscos, lulas, polvos, eteceterá. Estava tudo ótimo, e eu gostei particularmente de um carneiro com um molho de tomate picante e os cogumelos com molho de jerez. No final decidi pedir uma sopa de tomate com trigo que foi a única decepção. Não consegui comer.
A nossa noite de tapas foi muito boa por causa da comida, mas muito mais por causa da companhia. Com amigos, bom papo e bom vinho, até pão com manteiga vira um manjar, não é mesmo?
