Autor: Fer GuimaraesRosa
thank you, miss carousel
Estava lendo um thread no forum do chowhound sobre um outro assunto quando alguém comentou um procedimento adotado pela rede de supermercados Safeway um tempo atrás. Esse supermercado já irritava com algumas chatices. Primeiro na explícita cara de saco cheio dos empacotadores quando você pedia sacolas de papel. A pergunta vinha em forma de uma quase imposição—is plastic okay? Não, não é okay, eu quero papel. E lá vinha o carão. Hoje melhorou e eles aceitam bem as sacolas reusáveis que os clientes por ventura tragam de casa e até tentam vender as deles.
O segundo caso é a dos funcionários chatonildos que interrompem a sua concentração pelos corredores pra perguntar—are you finding everything okay? Grrr! Se eu não estivesse, iria tomar a iniciativa de perguntar, né? Não sei de onde esse pessoal de marketing tira essas idéias geniais de integração com o cliente.
Mas o que se comentava no chowhound era outra coisa irritante, que felizmente eles pararam de fazer. Na hora de entregar a nota fiscal, o caixa olhava o seu nome, que vem impresso nela porque todo mundo usa o cartão de descontos onde registra nome e telefone, e lascava o forçado—thank you Mr.fulano, have a nice day! Esse negócio de falar o nome das pessoas numa cidade super multicultural deu xabú, pois muitos nomes são difíceis de pronunciar e ninguém tem a obrigação de saber como dizer perfeitamente Mr. Bruschtscosvisk, ou Ms. Uphadayaya, ou Mrs. Arroyo-López-Ramirez. No meu caso virava e mexia dava uma confusão porque Rosa parece ser primeiro nome, Guimarães forgetabouit ninguém consegue pronunciar, então às vezes eles me chamavam de miss Fernanda.
Mas parece que os clientes reclamaram tanto dessa estratégia pseudo simpática intimista, que o gerenciamento da rede resolveu voltar atrás e desobrigar os caixas desse lero-lero. Eu vou pouquíssimo ao Safeway, mas bem que da última vez que estive lá reparei na ausência daquele titubeamento final—ahn, thank you miss, miss, miss… Fernanda?
Tower Cafe
Quando Davis ainda não tinha o Varsity, o seu cinema independente, nós íamos muito à um dos cinemas independentes de Sacramente. Éramos fãs do Tower Theater, que frequentávamos muito, quase sempre parando no café ao lado do teatro, o Tower Cafe. Fazia muito tempo que não íamos lá e pra mim foi um pouquinho decepcionante. Eu tinha essa idéia do Tower Cafe ser um lugar super cool—e ainda é, sem dúvida. Mas o caso é que eu mudei, tenho outros interesses, tenho outras ambições e o Tower Cafe parece ter parado no tempo. O menu deles é bem legal, pois eles têm essa proposta étnica de global village, com rangos inspirados em outras culturas. O resturante é todo decorado com knick knacks de todos os cantos exóticos do mundo. Parece a coleção de um mochileiro que andou pelo Tibete, pela Africa, pela India. E o staff é todo moderninho, garotas e garotos alternativos. A comida nunca foi ruim, mas infelizmente não me impressiona mais. Talvez tenha impressionado no passado. Fiquei um pouco chocada em encontrar no menu o mesmo Brazilian Chicken Salad que eu comi uma vez há uns seis anos pra ver o que ela tinha de Brazilian, que na minha conclusão foi absolutmente NADA. Nós chegamos durante a transição do menu do brunch para o menu do jantar, então não tivemos um leque muito grande de opções. Eu pedi um frango desfiado e temperado com um pesto de coentro e jalapeños ajeitado numa focaccia, com rúcula, cebola roxa e uma maionese de pimentão vermelho. Veio acompanhado de batatas fritas. O Uriel pediu um hamburguer vegetariano, que quando chegou pensamos que a garçonete tinha se enganado com o pedido dele, pois parecia um hamburgão de carne. Não era! As batatas fritas estavam pateticamente tristes. Depois da minha experiencia das batatas do Putah Creek Cafe, vai ser dificil engolir qualquer outra. O Tower Cafe sempre teve e ainda tem uma variedade enorme de sobremesas super criativas, além dos acompanhamentos para chá e café—muffins, cookies, bolos, scones, biscuits, etc. Mas eu pedi uns profiteroles recheados com creme de café e com cobertura de chocolate com jalapeño, que eu achei que tinham sido preparados na semana anterior. Estava bom, mas não estava fresco, se isso pode ser possível. Estava apenas comível. O Uriel pediu um creme brulée de amaretto, que não estava ruim, mas também não arrasou Paris em chamas. Acho que o meu problema com essa visita ao Tower Cafe foi tentar sentir o mesmo frisson que sentíamos lá na década de 90. São outros tempos e eu estou em outro caminho.
TAZO – herbal
Estou completamente *in love* com esse chá—o sabor mais pronunciado de fruta que eu já provei. Azedinho, pra beber sem açúcar. Simplesmente delicioso. Viciei!
figo seco com sementes de damasco
o livro da vez
Depois de ler o capítulo dedicado à Alice Waters no The United States of Arugula, fiquei tão impressionada com as idéias dessa mulher que no meu velho estilo de obcecada, fui atrás de mais informação. Esse é o meu modus operandi—se eu gosto de um ator ou diretor vejo TODOs os seus filmes, se gosto de um autor leio TODOS os seus livros, se me interesso por um assunto preciso exaurir, achar todas as informações, histórias, fotos, documentação. E pra se aprofundar na história da Alice Waters e seu fabuloso empreendimento gastrônomico, que incluí o restaurante Chez Panisse e o projeto educacional dos Edible Schoolyards, nenhuma fonte seria mais completa do que esse livro do Thomas McNamee—Alice Waters and Chez Panisse: The Romantic, Impractical, Often Eccentric, Ultimately Brilliant Making of a Food Revolution. Estou devorando esse livro há semanas. Marcando as páginas com receitas simplérrimas e deliciosas, marcando histórias que achei bacanas e que quero contar aqui, divagando e comentando com o Uriel sobre um monte de coisas com que me identifiquei e me apaixonei. Estou esperando acabar de ler o livro pra finalmente fazer uma reserva no restaurante. Dá até um medinho de me decepcionar, porque o livro do McNamee me fez sentir amigona próxima da Alice. Me fez até delirar na possibilidade de largar meu emprego na Universidade da Califórnia e ir me oferecer pra começar do zero lá no CP, lavando pratos! Por causa desse livro vão pintar ainda muitas histórias sobre a Alice e o seu restaurante por aqui. Muita paciência, pois eu tenho esse jeito bitolado e quando eu encasqueto com algo, fico batendo na mesma tecla até a obsessão passar. I just can’t help it!
sopa de lentilhas com pancetta
Cozinhe a lentilha com bastante água até que elas fiquem bem molinhas. Desta vez eu usei lentilhas espanholas Pardina. Numa panela separada frite a pancetta cortada em micro-cubinhos até elas ficaram tostadinhas. No meio tempo acrescente um dentão de alho picadinho. Jogue a pancetta frita com o alho na lentilha cozida, acresente sal a gosto e deixe cozinhar mais uns minutos. Antes de servir jogue um punhado de salsinha fresca picadinha.
mais vinho verde
é uma boa vinícola? |
cranberry, caramel and almond tart
Só de ler as explicações micro-detalhadas da Deb do lindo blog Smitten Kitchen sobre a torta de cranberry, caramelo e amendoa, já percebi que se eu me metesse a fazer essa torta iria ser a maior fria. Eu, que tenho problemas com massas. Eu, que sempre faço uma coisa errada. Se a experiente cozinheira teve problemas, imagina eu! Mas teimosia às vezes é qualidade de caráter, então coloquei os pés de pato, ajustei os goggles, coloquei um prendedor de roupa fechando o nariz e me joguei….
Não vou dizer que foi fácil, nem que ficou perfeito. Fiz uma torta grande e três pequenas, porque sobrou massa—e sim, a massa ENCOLHE depois de assada. Fiz duas receitas do recheio. Na primeira deixei queimar o caramelo. E foi justo a torta com o caramelo queimado que levei para um jantar na casa de amigos. Foi um vexame! Meu marido simplesmente declarou—está horrível, nãoo dá pra comer. Os anfitriões do jantar, amigos gentilíssimos, comeram uma fatia, tentando elogiar. Mas realmente não ficou bom. O recheio de caramelo ficou amargo e um pouco mole demais. No dia seguinte a situação estava muito mais encarável. Então, se alguém quiser arriscar fazer essa torta, tome muito cuidado na hora de fazer o caramelo e faça um dia antes.
Eu estava realmente chateada por ter protagonizado mais um fiasco, dessa vez com testemulhas. Mas tinha esquecido das tortinhas, que fiz com a mesma massa e com uma segunda receita de recheio. Nesse recheio o caramelo ficou perfeito e—suprise, surprise, as tortinhas ficaram uma delicia, com o caramelo bem consistente. Talvez o segredo seja mesmo servir no dia seguinte. Mas aviso, essa tortinha é robusta, isto é, um pouco enjoativa, mesmo com a presença das refrescantes cranberries.
Pra fazer a receita como está no blog da Deb, eu precisaria ter começado de manhã cedo. Tem tanto tempo de espera, tempo de geladeira, mas realmente time is not on my side, então otimizei as 3 horas de geladeira.
Massa:
13 colheres de sopa (1 tablete de 4oz mais 5 colheres de sopa) de manteiga sem sal cortada em cubinhos – deixe fora da geladeira uns 15 minutos ou ponha no microondas por 10 segundos
1/3 xícara de açúcar de confeiteiro
1 gema de ovo
1½ xícaras de farinha de trigo
1 colher de sopa de creme de leite fresco
Na batedeira com o gancho de massa – paddle, coloque a manteiga e o açúcar e bata até o acúcar desaparecer e se incorporar à manteiga. Acrescente a gema, depois a farinha de trigo dividida ao meio. Por último o creme de leite. Forme uma panqueca com a massa, cubra com plástico e leve a geladeira—a receita pede 2 horas, mas eu deixei somente 30 minutos.
Abra a massa com o rolo e forre a forma grande ou as forminhas. Coloque a forma no freezer por 1 hora, mas eu diminui esse tempo também pra 30 minutos. Asse a massa em forno pré-aquecido em 350ºF/176ºC por 25 minutos. Remova do forno e deixe esfriar.
Recheio:
1¼ xícara de creme de leite fresco
½ xícara (1 tablete de 4 oz) de manteiga sem sal cortada em pedaços
1 xícara de açúcar
1¾ xícara de cranberries congeladas
2 xícaras de amêndoas em lascas
Cooloque o creme de leite e a manteiga numa panela e aqueça, até que a manteiga derreta totalmente. Numa outra panela, larga e funda, coloque o açúcar e derreta em fogo médio, até formar o caramelo—cuidado aqui pra não deixar passar do ponto e ficar muito escuro, pois fica com um gosto amargo de queimado! Quando o caramelo estiver pronto, coloque COM MUITO CUIDADO a mistura de creme de leite e manteiga. Use luvas, pois vai espirrar. Eu fiz esse procedimento dentro da pia. Continue mexendo e volte a mistura ao fogo, mexendo sempre até dar uma engrossada. Deixe esfriar, acrescente as amendoas e as cranberries, misture bem e recheie a torta. Asse por mais 20 minutos em forno a 350ºF/176ºC. Remova, deixe esfriar.
