O lugar mais bagunçado da casa, porém o meu favorito. E o favorito dos gatos também. Clique na foto para ampliar e ache o gato Roux nessa confusão toda!
Autor: Fer GuimaraesRosa
potage parmentier
Realmente, as batatas eram gigantes—gigantes! Não conseguimos comer tudo e eu guardei as sobras para pensar no que fazer com elas no dia seguinte. Era quase certeza que seria uma sopa. Foi só olhar pra geladeira e ver outro gigante, desta vez um imenso alho-poró, pra decidir que eu faria uma potage parmentier, ou em bom francês uma sopa de batata com alho-poró. Fiz tudo muito simples, porque tem dias que simplesmente não dá pra ficar inventando trelelês e rococós.
Refoguei o alho-poró gigante cortado em pedacinhos em três colheres de manteiga. Acrescentei a batata que já tinha sido assada no dia anterior, também picada em pedacinhos. Deu mais ou menos 1 1/2 xícara de alho-poró e 1 xícara de batata. Acrescentei um litro de caldo de legumes, mais uma xícara de água, salguei a gosto e deixei a mistura ferver. Bati tudo muito bem com o mixer de mão para formar um creme. Deixei encorpar e desliguei o fogo. Na hora de servir, polvilhei com salsinha fresca picada.
Adeus batata! Adeus alho-poró! Adeus fome! Até o Roux ficou animado com essa sopa e quando o Uriel levantou da cadeira pra ir pegar uma fatia de pão, questão de segundos, o bichonildo danado deu um super salto de felino ninja e enfiou o nariz na sopa que estava dando sopa. Jogamos aquela porção fora e o Uriel se serviu de outra, sem contaminação de nariz de gato enxerido.
Greens – San Francisco – II
Greens – San Francisco – I
No final da década de 60, a estudante de Zen Budismo Deborah Madison voluntariava na cozinha do San Francisco Zen Center. Filha de um professor de botânica na UC Davis, Deborah cresceu em Davis e em meio à fazendas. Nos anos em que praticava suas habilidades culinárias no mosteiro, Deborah conheceu Alice Waters e depois de jantar algumas vezes no Chez Panisse, acabou indo fazer um estágio na cozinha do já afamado restaurante em Berkeley. Depois da experiência em Berkeley, Deborah decidiu propor ao monge chefe do Zen Center, que abrisse um restaurante anexado ao monastério budista. Assim começou o Greens, o restaurante vegetariano que abriu suas portas em 1979. Hoje Deborah Madison não é mais a chef lá, mas o lugar virou sinônimo de vegetariano high-end.
Eu já tinha o Greens na lista de must-go-places há muito tempo, sendo ele o restaurante favorito da minha amiga Helô, que vez em quando me falava dele. Nem preciso dizer que o Greens segue a mesma linha de produtos orgânicos, super frescos, locais, sazonais e de alta qualidade do Chez Panisse. Só que o Greens não serve nenhum tipo de carne de animal. Mas garanto que ninguém vai nem reparar nesse detalhe. O lugar é lindo, instalado numa seção do Fort Mason em San Francisco, ao lado da Marina, com vista para o mar azul da baia e para o símbolo da cidade, a ponte Golden Gate. O restaurante é todo cheio de luz e de gente sorridente, tudo com um astral muito zen. Fomos almoçar um brunch de domingo com a Maryanne e o Paulo e passamos uma tarde muito agradável, com ótima companhia e ótima comida. Nós todos pedimos uma sopa de cenoura com gengibre de entrada, que ganhou nota dez. O Uriel foi de pappardelle com aspargos, pinoles e manteiga de meyer lemon. Eu pedi uma torta de alcachofra com polenta e cebolinha. A Maryanne comeu ovos e o Paulo pediu o prato mais cobiçado e invejado por todos—um sampler de gostosuras árabes. Bebemos vinho, chá de menta e suco de uva natural. De sobremesa eu me deliciei com uma fatia de torta de nozes e mel com sorvete de lavanda, e os outros foram de tarte tartin de maça. Ficamos numa mesa privativa numa salinha separada, com um janelão com vista para o mar ao nosso lado e uma luz maravilhosa de uma tarde de primavera.
O único porém do Greens é que o serviço é desorganizado. A Maryanne já tinha me avisado que seria assim e assim foi. Primeiro eles trouxeram uma bebida pra nossa mesa que não era nossa. Depois chegaram com os pratos antes da sopa, levaram tudo de volta. Depois trouxeram o café da Maryanne antes das sobremesas, que chegaram faltando uma. Dai pedimos uma extra e vieram duas, que foi oferecida como cortesia. Tudo bem, num restaurante zen, com uma comida deliciosa de de qualidade excepcional, dá perfeitamente pra desculpar esses tropecinhos.
duetos
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Uma das coisas mais gostosas da vida é dividir a cozinha com alguém que você ama, fazer o rango juntos, ou apenas colaborar. Meu marido não cozinha, mas esse pequeno detalhe não impede que dancemos juntos um Blues culinário. Normalmente a tarefa fica dividida entre eu cozinhar e ele limpar. Quando terminamos de jantar, ele coloca a louça na máquina de lavar, esfrega as panelas e outros objetos que eu não gosto que coloque na máquina. Quando estou exausta, depois de um dia de trabalho, bicicletagem, cozinhação e comilança, só pensando em subir para o meu quarto, tomar um banho e me enfiar na cama, a visão dele na frente da pia todo compenetrado e deixando tudo arrumadinho me dá uma grande sensação de conforto. Quando temos festa é a mesma coisa, os preparos ficam todos por minha conta, a limpeza é toda dele. Essa é a nossa colaboração, já que ele não é nem de longe um cozinheiro. Essa minha relação na cozinha com o Uriel me faz pensar no Paul e na Julia Child, quando ela começou o seu programa na tevê pública com um orçamento mísero, e ele lavava a sujeirada que ela fazia durante a gravação numa bacia improvisada, agachado no chão. Amor maior que esse não há!
Coloquei umas batatas gigantes pra assar e quando o Uriel chegou dizendo que iria jantar e voltar pro trabalho, avisei que o rango iria demorar. Admito que sou meio possessiva e territorial quando estou na minha cozinha. Quero controlar tudo, fazer tudo, e tudo tem que estar do meu jeito, que é o jeito que eu gosto. Ele sempre oferece ajuda e eu sempre recuso, argumentando que a melhor ajuda que ele poderia me dar é sair da frente e tentar não atrapalhar. Mas como a situação estava meio caótica, sugeri que ele lavasse a alface que já estava de molho na água. Enquanto eu desmembrava a couve-flor em raminhos, cortava a cenoura e os aspargos para cozinhar tudo em etapas no vapor e fazer uma salada, ele começou o processo de lavar a alface. Foi realmente um processo, pois ele desinfetou folha por folha, esfregando cada uma como se estivesse lavando uma peça de roupa. Removeu cuidadosamente duas lesmas e também lavou os ramos de alho verde, as cebolinhas, o alho poró e um macinho de espinafre. No final do processo de lavação, a salada já estava pronta, a batata ainda não estava assada e a pia da cozinha estava uma catástrofe, além de água respingada pelo chão e tapetes. Eu reclamei, mas não muito, pois valorizo cada minuto dessas poucas horas que passamos juntos, colaborando na cozinha, esperando nossa batata assar, conversando sobre o dia, sobre as pequenas e grandes coisas das nossas vidas.
Bella vineyards
Bella vineyards foi a última vinícola que visitamos, já no Dry Creek Valley. Nos embrenhamos numa estradinha que cortava vários morros e vimos muitas pequenas vinícolas, umas que eram apenas a casa da família e os vinhedos ao redor. Num cantinho escondido estava a Bella, cujo nome já diz tudo. É uma pequena área que só produz a variedade Zinfandel. Ficamos encantados com o bom gosto e a beleza do lugar, com suas oliveiras centenárias e a caverna encravada sob os campos de uvas. Na caverna fizemos o tasting. Experimentei quatro tipos de Zinfandel, dois que gostei muito e um, muito adocicado para sobremesa, que não fez o meu estilo. Comprei uma garrafa do que eu mais gostei para levar para o sogro da minha irmã em Portugal. Tivemos que apressar o passo, pois tínhamos um compromisso de almoço com amigos em San Francisco. Se tívessemos tido mais tempo, o jardim da Bella teria sido o lugar ideal para fazermos um delicioso picnic.
*esse post é para a minha querida amiga Brisa Carter, que também tem uma Bella, porém muito mais linda, um verdadeiro tesouro.
Korbel – tour
Sempre achei a champanhe Korbel super cafona. Preconceito meu, eu sei. Mas sempre olhei para as garrafas de Korbel com um certo ar de superioridade. Nunca comprei essa champanhe californiana, nem mesmo pra fazer Mimosas. Então quando passamos pela Korbel Winery, numa região lindíssima do Russian River Valley no meio de uma floresta de red woods, eu dei uma risada, tipo, que deboche hein, parar justamente nessa vinícola. Nos juntamos correndo à uma tour, que o Uriel não queria fazer, mas que eu achei legal. Ouvimos a história da vinícola e até tivemos que aturar um vídeo horrorildo de dez minutos com uma música de missa no background. Mas valeu à pena. Os prédios onde estão instalados os cellars sobreviveram à um incêndio ainda no século 19 e depois ao grande terremoto de 1906 que destruiu San Francisco. Aprendi como se faz champanhe, que é um processo diferente do vinho, uma informação óbvia sobre a qual eu nunca tinha refletido. Um grupo de franco canadenses que também estava fazendo a tour perguntou o que estava na ponta da minha língua—vocês podem chamar essa bebida de champanhe? A resposta foi, sim podemos. Por dois motivos: porque a Korbel tem um acordo com a França e porque essa champanhe californiana é feita usando exatamente o mesmo processo das champanhes da região de Champagne, na França. Visitamos a vinícola de cabo a rabo, depois fomos fazer um private tasting. O guia nos serviu quatro tipos de champanhe, todas exclusivas da vinícola, que não se acha pra comprar em supermercados. Eu gostei de todas elas. Saí da Korbel com uma impressão menos negativa da champanhe. Mas vou confessar que continuei achando tudo extremamente cafona—os jardins, os lustres, a mobília. Num dos pontos estava instalada num pódio uma garrafa gigante e uma taça de vidro acompanhando, ao lado de um anuncio em letras douradas que a champanhe Korbel foi a champanhe oficial do novo milênio. Realmente…..
Korbel – tasting
Hop Kiln winery
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A Hop Kiln é uma vinícola linda, bem na saída de Healdsburg. Paramos para dar uma olhada e ficamos encantados com os jardins na beira do rio, com muitas mesas de madeira para picnic—e alguns visitantes aproveitando, como deve ser feito. A vinícola também tinha uma vendinha na área de tasting, com uma variedade de mostardas, vinagres, óleos, pestos, vinagretes e molhos doces. Eu não provei nenhum, porque tinha acabado de almoçar. Mas marquei touca, não comprando nada para trazer comigo.
Sentamos ao sol para olhar o mapa e decidir qual seria o nosso destino. Nisso o Uriel viu uma blogueira celebridade e fez ela sentar se equilibrando no murinho e tirou essa foto dela toda descabelada, só para provar que blogueiras famosas são pessoas comuns. Pisc! Seguimos em frente.
Restaurant Charcuterie
Chegou a hora do rango, com os nossos estômagos dando aqueles sinais típicos, e nós ainda não tínhamos decidido onde comer. Passamos por vários lugares interessantes no centro de Healdsburg, alguns cheios de gente, outros nem tanto. Demos aquela vistoria geral, também olhamos os menus. Tínhamos passado por esse pequeno restaurante chamado Charcuterie. Ele ainda estava fechado, mas um pessoal bacana já esperava na porta. Olhei o menu—saladas, pastas, sandubas. Seguimos em frente, mas o fato de ter gente na calçada esperando o restaurante abrir impressionou o Uriel demasiadamente. Ele não parou de falar no tal Charcuterie. Eu já tinha até escolhido o meu favorito, quando ele mencionou mais uma vez o lugar com gente esperando na porta. Deve ser bom. Só tinha um jeito do meu marido sossegar o facho: vamos lá no tal Charcuterie então! O restaurante bem pequeno estava lotado. E tinha gente esperando na porta. Nós tivemos sorte e fomos colocados rapidamente numa mesinha que fazia dupla com uma mesa maior, onde sentaram um trio de meninas asiáticas. Pedimos nosso rango—eu pedi um sanduiche de portobello e pimentão e o Uriel uma pasta putanesca. Bebemos água com gas e eu pedi uma taça do Pinot Noir 2006 da vinícola Hook and Ladder no Russian River Valley. Já que estavamos ali, queria beber o vinho da região. Esse Pinot Noir não decepcionou. A comida também, apesar de super simples, não decepcionou, muito pelo contrário. Meu marido até sugeriu que os preços estava muito módicos para a qualidade e sabor da comida. As mocinhas asiáticas curiosas da mesa ao lado perguntaram—what’s that? para absolutamente tudo que estávamos comendo. Na hora da sobremesa, eu pedi um floating island e o Uriel um strawberry shortcake e ficamos chocados com o tamanho dos pratos. Um baita exagero, ninguém precisa de uma sobremesa daquele tamanho.

