rotina

6:30pm: trimtrim, alô, e aí vem jantar, só estou terminando um negócio, ihh, não, é sério, em meia hora eu te ligo e vamos comer em algum lugar, tá, tchau, um beijo, outro.
7pm: resolve fazer uma sopa de milho, vê que tem pão fresquinho e queijo suiço pra acompanhar, refoga cebola, milho, caldo de galinha, salsinha picada, vrumvrumvrum tritura a mistura, creme de leite, desliga o fogo.
7:30pm: cd da Motown, dança, dança, assusta o gato, lê um caderno do jornal, outro caderno, senta, levanta.
7:45pm: música, música, pega uma revista, senta, lê, morre de rir, levanta, dança, assusta o gato de novo, termina de ler a revista.
8:15pm: trimtrim, alô, assim não tem condições, o que foi, você sabe que horas são, ew, não.., vou jantar sozinha mesmo, mas não íamos sair pra comer fora juntos, ah, deu até tempo de fazer uma sopa, mas que horas são, você não disse que iria ligar em meia hora, é.., já se passaram quase duas, oh…, eu li o jornal, a revista, agora chega, então quando eu chegar, cheguei, é, quando você chegar, chegou, tchau, um beijo, tchau, outro.
* post reciclado do The Chatterbox de novembro de 2004 – certas rotinas não mudam nunca!

the best cupcake, and a wonderful party!

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A receita do delicioso Earl Grey & Murcott Cupcakes do Garret.

Nem preciso dizer que fiquei desde ontem em função do potluck dos food bloggers de Sacramento organizado pelo Garrett. Corri para o supermercado atrás do bacalhau. Só achei uma caixinha de meio quilo, o que agora eu acho que até teria dado para todo mundo ter um taste da receita de Bacalhoada a Gomes de Sá. Mas a exagerilda não ficou convencida que daria e comprou então uma tonelada de salmão selvagem, e decidiu preparar a tal Moqueca da Paula que sempre agrada gringos e troianos. Comprado o salmão, nem preciso dizer que sonhei com panelas e que acordei cedo e passei a manhã voando com a capa da wonder woman, fazendo mil coisas como uma enlouquecida. Fui até ao Farmers Market no último minuto, porque na minha opinião de excessivilda acho que nunca tenho ingredientes suficientes, fico sempre encucada que não vai dar para todos, essas coisas de gente obcecada. Fiz um panelão de moqueca e outro de arroz, ainda levei limões, vinho e um liquidificador pro Garrett, pois ele disse que não tinha um. Uns minutos antes de sair de casa me deu um pequeno pânico, pois na verdade eu não conhecia ninguém, só o Garrett e o Brendon, mas também só conhecia de ler os blogs. Daí fico com aquela paura nerviosa de não conseguir me enturmar, de só falar besteira, de ficar purfa dos assuntos, das pessoas não irem com a minha cara, de me sentir um peixão fora d’água, de tropeçar bem na entrada e derrubar o panelão de moqueca no carpete, ou de salgar muito, ou de esquecer de por sal, ou de ninguém comer minha comida, ou de alguém achar um cabelão boiando no molho, ou da moqueca dar caganeira nos convivas, tudo isso, ou nada, deu pra dar uma abalada geral e até passar pela cabeça – por um segundo – de me fingir de morta e não ir. Mas fui, porque disse que iria e porque queria muito conhecer o Garrett, que eu acho um cara super legal e divertido.
Cheguei lá carregando os panelões, tentando não suar, nem descabelar, e fui tão bem recebida, conversei com quase todo mundo, falei pelos cotovelos, fiz mil perguntas, falei altão na frente de todo mundo – coisa raríssima de alguém me ver fazer calmamente, sem quase desmaiar de nervoso – falei do Chucrute com Salsicha, dei os ingredientes da moqueca, que todo mundo comeu e gostou. Eu também comi muito, e bebi um tantinho além do que devia, fui fotografada rindo com todos os meus dentões à mostra – forçada pela Elise, que é uma simpatia, muito diferente da figura séria que eu achava que ela era. Mike Dunne, o crítico de vinhos do jornal de Sacramento também estava no nosso potluck, e eu adorei a esposa dele com quem conversei muito, e a salada de agrião com pêra que eles levaram, que apesar deles avisarem que tinha alho, eu comi. Ouvi algumas histórias legais, como a da Madeline que escreve sobre a Rachel Ray, da Jennifer e seu Sacotomato e da fethiye e seu Yogurt Land. Acho que eu não peguei o nome de todo mundo, minhas fotos ficaram uma droga porque eu bebi e a bateria acabou antes da comilança começar – isso sempre acontece comigo! Acho que vamos ter um encontro desses duas vezes por ano, no outono e na primavera. Eu adorei participar desse, mesmo sendo o único blog numa lingua estrangeira, que quase ninguém lê, embora alguns desejem ler. Eu me desculpei e expliquei que sou lazy, sou teimosa, e só consigo chucrutar em português, I just can’t help it!

O menu sazonal

Muita gente deve achar um tédio comer apenas os produtos de temporada. Eu não acho. Muito pelo contrário, pois descobri que comendo verduras, legumes e frutas da temporada você ganha em sabor. Não tem como comparar uma fruta ou um legume colhido naquela manhã, ou naquela semana, ali numa fazenda na sua região, trazida madurinha e fresquinha pra feira, sem precisar percorrer zilhometros de trem, avião, caminhão, tudo sob refrigeração. Um tomate de época—delicioso! Um tomate fora de época, colhido verde num outro lugar do mundo e refrigerado para aguentar o longo caminho até as gôndolas do supermercado—gosto de nada!

Sabemos que as fruitas frescas são uma tradição do nosso Natal brasileiro e que nessa época sempre achamos cerejas vindas do Chile para completar o nosso lindo arranjo natalino. Eu demorei pra me acostumar a um Natal sem pêssegos, abacaxis, nectarinas, cerejas, mangas—o que mais? Meu primeiro Natal no Canadá foi traumatico. Mas acostuma-se, adapta-se, tudo tem seu lado bom. No primeiro Natal do meu irmão aqui nos EUA, fomos a Los Angeles para festejar com ele e sua família. No arranjo da mesa da ceia havia uma linda bandeja com frutas—uma delas, cerejas. Estamos na Califórnia, alright, mas isso ñao quer dizer que vamos encontrar cerejas fresquinhas year-round. No verão as cerejas são abundantes, carnudas, suculentas, dulcíssimas! No inverno, elas vem também lá do Chile, como as das mesas brasileiras, só que aqui elas chegam com gosto de NADA, além de custarem uma fortuna. As cerejas do Natal na casa do meu irmão foram uma decepção….

Fiz a mesma burrice quando uma vez fui atacada por um sentimento de nostalgia e comprei damascos, vindos de sei lá onde, em pleno inverno. Nossa senhora, não tinha nem comparação com o sabor dos nossos damascos californianos, as frutinhas douradas que iluminam o nosso verão!

Então hoje me abstenho de consumir produtos fora de estação—fico com o que vem na minha cesta orgânica—que é totalmente sazonal, e o que vejo pelo Farmers Market. Eu aproveito a frescura e o sabor dos alimentos e ainda contribuo para uma agricultura local sustentável, apoiando e consumindo dos produtores da minha região. Portanto, se quer meu conselho, não invente moda e não insista em querer fazer aquela receita de torta de tomate nesta época do ano, pois agora a Inês já é morta!. Tomates bons, só no próximo verão!

Aproveitando dois produtos de outono – butternut squash e sweet potato [abóbora e batata-doce], fiz uma sopa improvisada que ficou surpreendentemente deliciosa.

Sopa cremosa de abóbora e batata-doce
Cortei meia abóbora em cubinhos. Usei três batatas-doces pequenas, que já estava cozidas, mas podem ser usadas cruas também, cortadas em cubinhos. Refoguei no azeite meia cebola picadinha e um dente de alho. Acrescentei a abóbora e a batata. Refoguei mais uns minutos. Joguei um litro de caldo de galinha e uma xícara de vinho branco. Sal e pimenta moída a gosto. Deixei cozinhar por uma meia hora. Triturei tudo com o processador manual – pode ser no liquidificador também. Acrescentei meia xícara de crème fraîche—pode substituir por creme de leite—bati bem com o batedor manual. Desliguei o fogo e antes de servir acrescentei bastante salsinha fresca picada e láminas de amêndoas torradas.

Como gerenciar uma casa vitoriana

Isabella Beeton é um ícone inglês. A Martha Stewart da era vitoriana. Uma moça fina, que casou e morreu cedo, e na sua breve carreira como a mistress de uma grande casa na Inglaterra do século 19, ela foi a dona de casa perfeita, ou quase perfeita. Não só fez tudo que era exigido de uma senhora de classe, como escrerveu um dos livros mais completos de economia doméstica. Mrs Beeton’s Book of Household Management é considerado a biblia das donas de casa inglesas do seu tempo. O que essa mulher fez em tão pouco tempo foi incrível. Casou-se aos 20 anos, teve vários filhos, escreveu o calhamaço de mais de mil páginas e morreu de infeçcão pós-parto aos 29 anos. No livro de Mrs Beeton você pode encontrar informação para tudo – receitas de comida, de produtos de limpeza, descrição minuciosa de todos os itens necessários para se gerenciar uma casa – funções individuais, tanto da mistress quando dos empregados, custos, despesas, como montar uma cozinha eficiente, descrição detalhada dos alimentos, como receber, como visitar, trabalhos manuais, cuidados com a higiene, cuidados na gravidez, com os bebês e crianças, descrição de doenças e tratamentos, e o que mais você conseguir imaginar. As receitas de Isabella são um caso à parte. Ela não só listava os ingredientes em quantidades exatas – a precursora das receitas com medidas – como explicava tudo muitro bem explicadinho, para senhoras jovens recém-casadas, ainda na fase de aprendizado, poder entender. E ainda dava o tempo que levava para preparar o prato, mais a disponibilidade dos ingredientes nas diferentes épocas do ano, a quantidade de pessoas que o prato poderia servir e, pasme, o custo do preparo da receita! Martha Stewart não nasceu ontem! Um pequeno detalhe, que só foi descoberto anos mais tarde, é que a rainha do lar vitoriano era na realidade uma plagiadora. Ela simplesmente copiava informações de outras fontes e compilava como se fosse de sua autoria no seu livro. Apesar dela merecer o mérito pela reorganização e esmiuçamento da informação, ficou explicado como ela pôde fazer tanto com tão pouco tempo e experiência. Não disse? Martha Stewart não nasceu mesmo ontem!
* O livro de Isabella Beeton está hoje no domínio público e pode ser lido na integra AQUI e AQUI. As fotos, tiradas da Wikipedia , são também do domínio público.

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celebrate, yeah!

Recebi um e-mail do meu host pela manhã, avisando da renovação do domínio chucrutecomsalsicha.com. Como eu escolhi não colocar datas nos meus posts neste blog, não estava nem lembrando que há exatamente um ano me deu um faniquito, comprei o dominio e passei o dia montando o meu mais novo blog – finalmente, um espaço para eu escrever só sobre culinária. Os primeiros textos no Chucrute com Salsicha foram publicados no dia primeiro de novembro e até hoje eu não entendo como demorei tanto para abrir essa cozinha ao público.
Escrevi muito sobre todos os assuntos no blog mãe, até que em 2002 eu passei os assuntos de cinema e tevê para o Cinefilia, o blog que eu divido com o meu querido amigo Moa. Mas continuei escrevendo sobre comida e publicando minhas fotos food porn no The Chatterbox. Foi somente em novembro de 2005 que finalmente vi a luz, e separei os assuntos culinários definitivamente. Foi a melhor coisa que eu fiz! Adoro esse espaço e as novas possibilidades, assuntos e relacionamentos que ele me proporcionou. Viva!

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Esse bolo eu fiz pro aniversário do Gabriel em 2005. Ele pode exemplificar perfeitamente o meu estilo Chucrute com Salsicha, que se empenha com determinação, mas nem sempre alcança os melhores resultados e o visual mais charmoso. Um bolo tortinho, uma torrada queimada, os legumes cortados desiguais, uma salada sem azeite, uma sopa muito salgada, um tropeço aqui, outro lá, mas eu nunca desisto. E vamos sempre em frente!