Eu encho as paçocas dos meus amigos, pois tudo o que preparo e sirvo tenho que frisar antes: é orgânico! Como se alguém se importasse. Mas eu me importo. E compro cada vez mais produtos orgânicos, já que agora até o Safeway tem a sua linha certificada pelo USDA.
Ontem e hoje a minha cidade está sendo pulverizada com um produto químico para matar os mosquitos infectados com o vírus West Nilo. Os verdes da cidade protestaram, mas o protesto foi em vão, pois a decisão foi feita pelo distrito e não pela cidade. Anunciou-se que os produtos usados na pulverização têm efeito zero nos humanos e animais. Seria o mesmo que pulverizar a cidade com um repelente. Vai matar os insetos e evitar que muita gente morra ou fique incapacitada. Esse vírus, segundo o que eu li, atinge o sistema neurológico e os menos resistentes morrem, outros mais fortes podem ficar paralisados. Bom, a horta orgânica da fazenda da universidade, por ser certificada, não vai ser pulverizada. Perguntei pro administrador como que funcionava isso, ele me disse – será tudo feito por GPS.
A minha amiga que fez a sopa de pepino fria também cozinha num forno solar. É a tendência! Realmente, com os verões que temos aqui, mais essa perspectiva de acabarmos torrando no aquecimento global, um forno solar é a pedida. Preciso pensar nisso e começar a olhar um pra comprar.
Meu papo natureba é velho. Quando eu conto pras pessoas como eu alimentei meu filho, todo mundo faz cara de pena – dele, é claro. Mas chega uma hora que eles fogem do nosso controle e das dietas déspotas. Então num belo dia, quando ele tinha dez anos nós fomos morar no Canadá e o guri arrumou um desses empreguinhos de entregar jornal. Trabalhava somente nos finais de semana e fazia uma boa graninha. Por um ano ele despirocou e bateu ponto numa lojinha de conveniência que tinha perto de casa, onde gastou todo o seu salarinho experimentando absolutamente TUUUUUUUUU-DOOOOOOOO que ele nunca havia comido. Balas, doces, chicletes, refrigerante, porcaria de saquinho, com corante, com sabor artificial, you name it! Hoje, aos 24 anos acho que ele tem uma dieta saudável – eu imagino, pois ele tenta cozinhar em casa.
Nos anos 80, quando os microondas viraram moda, eu me dobrei à praticidade do uso do trambolhão. Mas fui logo arranjando uma maneira de usar o meu naturebamente, adaptando o esquemão para cozinhar comidas mais saudáveis, seu usar óleo, por exemplo. Dai eu fazia ovo frito no microondas, que era um verdadeiro horror, mas meu marido comia, assim como comia as carnes de soja, tofu, agrião cozido, cevada e tais. Um amigo dele ficou sabendo desse tal ovo frito e declarou:
—precisa MUITO AMOR pra fazer alguém comer um ovo frito que não é frito!
Hoje só usamos o microondas pra esquentar água e comida. Mas eu e o meu marido pegamos uma mania irritante de ficar lendo rótulo de todos os produtos. Checamos a porcentagem de açúcar, de gordura, de trans-fat, de carboidratos, de sódio, e deixamos de comprar coisas dependendo do que lemos. Tem vezes que até eu me irrito, pois deveríamos simplesmente comprar por gosto, e pronto! Bom, ás vezes fazemos…
Não bastando isso, ainda reciclamos neuroticamente todas as embalagens da cozinha – caixas de leite, jarras de suco, caixas de waffles, invólucros de iogurte, etiquetas, latas, tudo, tudo. Então todos já devem imaginar que sou meio chata na cozinha. Eu sou super exigente com a qualidade dos ingredientes. Bato o pé no orgânico, mesmo ninguém dando bola. E quero saber o que eu estou comprando. Uso muito azeite, alguma lataria, mas sou bem escassa nos congelados e uma coisa que eu nunca consegui usar na minha cozinha são aqueles cubos ou pó de caldo de carne/galinha/legumes. Tudo tem um limite!