difícil não gostar dela!

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Nigella Lawson na capa do suplemento Life desta semana, onde ela dá uma receita facílima de costelas assadas e algumas dicas para receber em casa, começando por – NUNCA tente uma receita nova para uma festa grande, fique sempre com o que você já sabe fazer e que tem certeza que dá certo. Ela também afirma que acredita em trabalho infantil e sempre coloca as crianças para arrumar as mesas. E os amigos são sempre convocados para ajudar, misturando os cocktails ou abrindo os vinhos. Nigella também adverte: a anfitriã nunca deve usar sapatos novos no dia da festa – uma metáfora para o fato de que a anfitriã não deve exagerar na roupa, nem fazer seus convidados se sentirem mal vestidos perto dela. Ela conta que nas festividades do ano passado, recebeu amigos e família com os pés descalços. “Vista-se e aja da maneira mais confortável e seus convidados vão seguir o seu exemplo e se sentirão confortáveis também.”
A receita das costelas assadas:
4 ou 5 quilos de costela
1 colher de sopa de azeite
2 colheres de sopa de sal
1 colher de sopa de pimenta do reino moída na hora
Aqueça o forno em 450ºF [220ºC]. Passe o azeite nas costelas, salpique com sal e pimenta, ponha numa forma larga e coloque no forno. São quinze minutos de forno para cada meio quilo de carne. Deixe assando por uma hora e 45 minutos. Retire a costela do forno e deixe descansar por uns minutos. Transfira para uma travessa e cubra com papel alumínio. Deixe descansar por no mínimo 15 minutos. 35 minutos é o tempo ideal de descanso. Retire o papel alumínio, corte e sirva.

Limonada Suiça

Todo ano, nessa época, eu tenho a minha ‘safra’ de limões verdes no limoeiro do meu quintal. É quando eu começo a fazer jarras e jarras de limonada suíça. É uma bebida refrescante, cremosa, deliciosa e nostálgica da minha infância.

Descasque os limões com uma faca afiada. Tire tudo, a casca verde e pele branca. Deixe só a polpa. Bata no liquidificador com água gelada. Passe por uma peneira. Acrescente açúcar e gelo à gosto. Sirva em copos altos!

* o que nós chamamos de limão no Brasil, não é o mesmo limão dos americanos. o limão deles é o amarelo. o verde eles chamam de lime. portanto essa bebida pra eles é uma limeade e não lemonade.

hum, yummy!

Todos os chefs celebridades do Food Network não economizam humns e ohs enquanto preparam suas gororobas – simples ou sofisticadas – em seus shows diários. São auto-elogios incessantes, tudo é lindo, maravilhoso, uma delícia, fantástico, saborosissimo, incrível, sensacional, espetacular, yummy!!!
Como na minha cozinha de dona de casa comum, muita coisa queima, fica salgada, incomível, muito apimentada, com um gosto estranho, engororobada, insípido, amargo, aguado, duro demais, mole demais, encaroçado, azedo, torrado, começo a pensar se a propaganda não é mesmo a alma do negócio.
Resolvi mudar a minha estratégia derrotista, que está sempre pedindo desculpa pelos meus erros culinários. Sentamos para jantar e na primeira garfada fiz uma cara de prazer intenso e comecei a murmurar – hmmmm, hmmmmmmm, que delícia de comida, nossa, muito bom, muito bom mesmo!
Não mudou o sabor da gororoba, mas certamente impressionou o Ursão, que comeu com muito mais entusiasmo.

I summon the Iron Chefs!

De vez em quando – ou melhor, deixa eu ser honesta, quase sempre – eu vicio em algum canal ou programa de televisão. Nos últimos meses minha atenção anda colada nos Iron Chefs do programa japonês retransmitido pelo Food Network. The Iron Chef começa às onze da noite e eu nem sempre vejo até o final, pois às vezes acabo dormindo antes. Mas nem por isso a experiência de assistir à batalha dos chefs japoneses deixa de ser interessante. No kitchen stadium, dois chefs se confrontam todas as noites. Um dos quatro Iron Chefs – Iron Chef Japonese, Chinese, Italian e French – e um desafiante. Há um moderador, um comentarista e dois convidados, entre eles sempre uma atriz ou um cantor famosos no Japão. A competição é acirrada, com um ingrediente secreto que vai ter que ser utilizado em todos os pratos. Os chefs têm uma hora para preparar no mínimo três pratos, que serão analisados, provados e julgados. O chef que vencer ganha todas as honras. O mais legal desse programa, além das comidas estranhíssimas, é o estilo desportivo que eles dão à competição, que parece uma mistura de luta de boxe com jogo de baseball. O comentarista analisa os movimentos dos chefs e câmeras espalhadas pela kitchen stadium filmam todos os detalhes. Ontem, por exemplo, se via pingos de suor cair da testa do desafiante [eca!]. Os ingredientes, animais ou vegetais, são sempre da melhor qualidade. Quando eles são peixes ou frutos do mar, geralmente ainda estão vivos – e eu fico em total horror vendo os chefs decepando-os ou cozinhando-os vivos! O resultado final é sempre pratos que agradam mais ao gosto oriental, nem sempre muito atraentes para a minha maneira ocidental de me alimentar. Muitas vezes eu fico enojada por pratos com melecas cruas tiradas da barriga de um peixe raro ou com a textura ou cor das comidas. Mas nessa batalha de chefs o que interessa mesmo é ver como eles trabalham na cozinha. E para mim é interessantíssimo observar a seriedade e o respeito, tão comuns na cultura japonesa e que ficam bem expostos durante a batalha dos chefs.

mais livros

Browseando na Borders anos atrás, vi por acaso num cantinho da prateleira de baixo da banca de ofertas um livrão vermelho. Bastou dar uma folheada para decidir comprá-lo. Simplesmente maravilhoso! Southeast Asian Specialties – A Culinary Journey Through Singapore, Malaysia and Indonesia [editora Könemann]. Fotos lindas, receitas incríveis, um livro pra inspirar. Muita coisa exótica. Algumas coisas assustadoras, como um stir-fry de sago worms… argh!! Gostei de encontrar tradução para algumas frutas e legumes comuns no Brasil. Fiz uma pequena listinha, porque nunca se sabe quando se vai precisar comprar uma jaca ou uma mandioca aqui pelo hemisfério norte, né? Algumas traduções são conhecidas, mas eu coloquei na lista, just in case!
» Fruta do conde – Scaly Annona
» Cajú – Cashew Tree
» Jaca – Jack Fruit
» Goiaba – Guava
» Romã – Pomegranate
» Mandioca – Cassava, Manioc
» Inhame – Yam, Yuka
» Quiabo – Okra
» Nabo – Daikon
» Acelga – Chinese Cabbage
» Castanha Portuguesa – Water Chestnut
» Pitanga- Surinam Cheery [comes from Brazil, reaching Indonesia via India]

um jantar sem inspiração

Quem já não sofreu de bloqueio de cozinheiro, debatendo-se sem idéias do que fazer para o jantar? Comigo isso acontece bem frequentemente e nem sempre eu apelo para o macarrão, que é o melhor quebra galho nessas horas agonizantes. Ontem foi um desses dias. Voltando para casa às cinco da tarde [que já era noite] me deu um desespero total, pois eu não tinha a mínima idéia do que iria cozinhar. Pensei em passar num dos três supermercados que eu gosto e comprar algo, mas nem imaginação para ingredientes eu estava tendo. Fui pra casa quase decidida à preparar um macarrão alho e óleo – que eu adoro, mas convenhamos, não é a comida mais saudável e nutritiva que existe.
Em casa comecei a abrir e fechar portas de armários e geladeira. O que tenho aqui? Hmmm. Lentilhas pretas Beluga. Sopa! Lata de cogumelos, rolinho de massa de biscuit da Pillsbury. Cheiro verde, azeitonas pretas. Cerveja. Voilá!
O menu sem inspiração de ontem:
sopa de lentilhas pretas beluga com cerveja. refogar três dentes de alho no azeite, acrescentar a lentilha lavada e escorrida, fritar por uns minutos, juntar água, cozinhar até as lentilhas ficarem bem macias. Salgar à gosto. Acrescentar cerveja, cozinhar por mais uns minutos. Servir super quente.
pasteis de forno recheados de cogumelos. para o recheio colocar no food processor uma lata de cogumelos, salsinha à gosto, meia cebola picada e azeitonas pretas [das gregas, please!] picadas. não pôr sal, pois o cogumelo já vem na salmora. abrir as massinhas pra biscuit com o rolo e rechear. apertar as bordas com o garfo, pincelar com um ovo batido com um pingo de leite [ou heavy cream]. assar em forno médio até ficarem dourados. servir acompanhado de uma bela salada de alface.
Eu geralmente cozinho ouvindo música. Ontem era Dylan, que eu sempre acompanho cantando e até dançando – imaginem se alguém resolve parar na rua pra olhar através da janela essa cena contrangedora? Quando resolvo usar cerveja numa receita, sempre bebo um pouco e cozinho muito mais animada. Prefiro beber enquanto cozinho do que acompanhando a refeição.

Thoreau fazendo pão

Foi numa viagem que fiz anos atrás, durante a minha adolescência, ao Rio de Janeiro. Eu estava num daqueles Cometões noturnos saindo de Campinas às onze horas e levava comigo o livro Walden de Henry Thoreau . Dentro do ônibus, enquanto todo mundo dormia, eu lia. Nunca consegui dormir em viagens. Sempre sofri de enjôos, ansiedade, tédio. E durante essa viagem eu li uma passagem no livro do Thoreau que me proporcionou uma pequena epifânia. Era uma cena onde ele fazia pão. Nunca me esqueci daquilo e até hoje visualizo o homem numa pequena cabana na clareira, durante o inverno, assando pães. O livro que eu carreguei comigo naquela viagem já não sei onde está. Mas eu tenho uma coleção de três volumes do Thoreau em inglês, que incluí Walden e apesar de não ter mais disposição para reler o livro, procurei frenéticamente por essa passagem, usando minha técnica pessoal de leitura ultra-rápida, scaneando as páginas com os olhos e olhando as palavras como se pulasse de quatro em quatro degraus de uma longa escada. O texto, onde Thoreau escreve sobre comida e como fazer pão está AQUI e é simplesmente magnífico!